JUIZ DO CASO ENCOL REBATE ACUSAÇÕES DE ADVOGADOS



No depoimento que prestou nesta quarta-feira (dia 18) à CPI do Judiciário, o juiz Avenir Passo de Oliveira, titular da Vara de Falências e Concordatas de Goiânia, rebateu, uma a uma, as acusações feitas contra ele por quatro advogados da Encol e ainda denunciou que, durante a concordata que durou de dezembro de 1997 a março deste ano, seus acusadores transferiram, irregularmente, R$ 62 milhões em bens da empresa para seus nomes.O juiz afirmou aos senadores que aceitou o pedido de concordata da empresa "com base na grave situação social" que a falência da Encol causaria, já que a construtora empregava cerca de dez mil pessoas e deixaria cerca de 42 mil famílias sem a esperada casa própria. Para o juiz, a concordata, se administrada seriamente, poderia salvar os bens das famílias, enquanto que a falência seria o "caos" e poderia até mesmo aumentar o prejuízo dos mutuários e dos trabalhadores.Porém, continuou, em um ano de concordata, diversas fraudes foram cometidas pelos advogados da empresa, como a transferência irregular da participação da Encol no Shopping Bougainville, no valor de R$ 22 milhões, para os advogados Sérgio Mello e Paulo Viana, que depuseram à CPI no último dia 4. A transação, disse Avenir, foi detectada pelo então comissário da concordata, advogado Habib Badião, levando o juiz a anular as transferências.O juiz explicou ainda que a Encol não depositou parcela da dívida no prazo legal, levando-o a decretar, em 16 de março passado, a falência da empresa, a prisão do seu proprietário, Pedro Paulo de Sousa, além da indisponibilidade dos bens dos seus diretores durante o período de crise, como medida cautelar.Defendendo-se das acusações dos advogados, Avenir disse que todos os habeas corpus e agravos de instrumento impetrados contra seu despacho tiveram decisão liminar contrária. "Se a decisão legal estava equivocada, o caminho legal eram os recursos, que foram usados", afirmou o juiz, rebatendo acusações de que o Tribunal de Justiça de Goiás, por corporativismo, teria sido omisso no caso.Avenir também negou que a nomeação do síndico da concordata e, mais tarde, da massa falida, não tenha obedecido as determinações legais. Segundo ele, o banco BBC, maior credor da Encol em Goiânia, não quis nomear um de seus diretores nem advogados de seu quadro e contratou Habib Badião para acompanhar o processo de concordata. Foi assim, disse, que aceitou a escolha do banco e nomeou o advogado."O trabalho que o advogado vinha desenvolvendo era digno de respeito, mas tive que aceitar sua decisão de se afastar do caso", disse Avenir, ao explicar que Badião alegou problemas de saúde e o recebimento de ameaças para sair da administração da massa falida da Encol 14 dias depois de decretada a falência.O sucessor de Badião como síndico da falência, o ex-procurador de Justiça Roldão Casemiro, informou o juiz, acabou a arrecadação dos bens da Encol há uma semana e, segundo suas informações, também teria pedido para abandonar o processo. A nomeação de Roldão estava sub judice por força de recurso do Ministério Público.Contradizendo os advogados, o magistrado afirmou que a Encol não tinha uma situação financeira recuperável. Apesar de Paulo Viana ter dito à CPI que juntou documentos desnecessários ao processo para assegurar que o juiz iria analisar e aceitar o pedido de concordata, Avenir disse que os documentos eram necessários, mas não eram verdadeiros, por informarem que a Encol era proprietária de bens que não possuía. "A empresa não tinha bens suficientes para cobrir o passivo. Um exame feito pelo síndico não encontrou os bens", disse o juiz.O magistrado informou ainda que não tinha porque suspeitar que a Encol não tinha sede em Goiânia. Segundo ele, todos os documentos necessários para comprovar a sede da empresa foram entregues e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheu seus argumentos nesse sentido."Os advogados devem ter motivos para não gostar de quem anulou a transferência de R$ 62 milhões", afirmou Avenir, destacando que os seus atos contrariaram os seus acusadores.

18/08/1999

Agência Senado


Artigos Relacionados


ADVOGADOS QUE ACUSAM JUIZ DO CASO ENCOL SERÃO OUVIDOS NO INÍCIO DE AGOSTO

ADVOGADOS DENUNCIAM MÁ CONDUTA DE JUIZ RESPONSÁVEL PELA FALÊNCIA DA ENCOL

CPI DO JUDICIÁRIO OUVE JUIZ SOBRE CASO ENCOL

JUIZ DO CASO ENCOL ABRIU MÃO DE SIGILO BANCÁRIO E FISCAL

JUIZ ENVOLVIDO NO CASO ENCOL DEPÕE QUARTA-FEIRA NA CPI

CASO ENCOL ENVOLVE JUIZ DE GOIÂNIA EM DENÚNCIAS DE FAVORECIMENTO ILÍCITO