Jungmann diz que fraudes vão além da área de saúde e envolvem pelo menos 60 parlamentares
O vice-presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Sanguessugas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), disse, em entrevista à imprensa nesta terça-feira (4), ao deixar a sala onde está sendo realizada a reunião reservada da comissão, que essa é "a maior tragédia que já se abateu sobre o Congresso Nacional", referindo-se às informações obtidas nos depoimentos do delegado da divisão do crime organizado da Polícia Federal, Tardelli Boaventura, e do procurador regional da República Mário Lúcio Avelar.
De acordo com Jungmann, ambos afirmaram que a fraude com recursos do Orçamento da União resultantes de emendas parlamentares não se limitaram à área da saúde, envolvendo também o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), especificamente o Programa de Inclusão Digital, e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), nas licitações para compra de ônibus destinados ao transporte escolar.
Jungmann explicou que o esquema de desvio de recursos do FNDE e da Ciência e Tecnologia seria idêntico ao utilizado pela "máfia dos sanguessugas" para fraudar a compra de ambulâncias. Haveria, segundo ele, uma base política, uma "lavanderia de recursos" de emendas parlamentares, uma base jurídico-legal para dar cobertura ao esquema, bem como um braço da quadrilha nas prefeituras.
- O que resta claro é que o esquema de emendas do orçamento entrou em colapso, é uma peneira onde quadrilhas se incrustram no orçamento utilizando a captura de pessoas dentro do Executivo e parlamentares - destacou Jungmann.
Para o vice-presidente da CPI, diante do surgimento de fatos novos,é possível que o escopo da comissão seja ampliado. Outra hipótese levantada por Jungmann foi de a comissão recomendar ao Ministério Público e à Justiça que dêem continuidade às investigações.
Segundo os depoentes, acrescentou Jungmann, pelo menos 60 parlamentares estariam envolvidos nos desvios de recursos do orçamento por meio de emendas parlamentares destinadas a esses fins. Os depoentes, ainda de acordo com o vice-presidente da comissão, também apontaram o envolvimento de pelo menos três membros da Mesa da Câmara dos Deputados na fraude da "máfia dos sanguessugas".
Na avaliação de Jungmann, a CPI deveria sugerir afastamento desses parlamentares até que as investigações sejam concluídas. Para o deputado, que no início da reunião havia se posicionado contrariamente à manutenção do sigilo sobre os investigados, os parlamentares devem ter tratamento único. Alguns teriam tido seu nome divulgado e "sido execrados pela opinião pública", enquanto outros, que estão "claramente envolvidos com seus nomes constando nas planilhas" do delegado Boaventura e do procurador Avelar, não estariam incluídos na lista de nomes divulgados como tendo participação na fraude.
Jungmann disse ainda que na próxima reunião administrativa será votado requerimento para que a CPI funcione durante o recesso parlamentar, entre 18 e 31 de julho.04/07/2006
Agência Senado
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