Lauro Campos diz que contágio argentino é inevitável



Não vai ser possível ao Brasil evitar completamente o contágio argentino, impedindo que haja uma piora nas avaliações de risco sobre o país e uma redução nos fluxos de capitais externos. A opinião é do senador Lauro Campos (PDT-DF), para quem o caso argentino tende a causar repercussões econômicas em praticamente todos os países da América Latina, principalmente os que compõem, com ela, o Mercosul (Brasil, Uruguai e Paraguai).

Para Lauro Campos, são fortes os laços construídos entre Brasil e Argentina nos últimos anos, quando os países elevaram em muito sua integração econômica, e fica muito difícil, aos olhos de investidores internacionais, acreditar que o caso argentino é isolado e que em nada repercutirá no Brasil.

Lauro Campos acha que os argentinos estão num "beco sem saída", principalmente porque não dispõem de dólares para bancar o jogo da nova política cambial, similar à brasileira, na qual o Banco Central intervém no mercado comprando ou principalmente vendendo dólares para evitar danos à moeda nacional.

Mesmo que os argentinos consigam um empréstimo de US$ 20 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país terá muitas dificuldades para encontrar um novo ponto de equilíbrio econômico, que permita a retomada do crescimento e a recuperação dos níveis de emprego. A fórmula brasileira, de atrelar à política cambial uma taxa de juros elevada, de pouco adiantará ao caso argentino, já que o país precisa criar condições de custos menores para as empresas, estimulando assim a produção e os níveis de emprego.

Lauro Campos diz que a América Latina vive hoje tão-somente um reflexo do desastre que tem sido as políticas econômicas neoliberais no continente. O pior, na opinião do senador, é que a contraface dessas políticas é a ditadura, que surge como forma de conter, à força, a revolta da população, alimentada pela degradação das condições sociais.

jjOs espaços de manobra para a alteração dessas políticas vão se estreitando e hoje, para Lauro Campos, são muito pequenos e, em alguns países, praticamente inexistentes. No caso argentino, ainda é preciso levar em conta a impaciência da população e sua capacidade de resposta, que aumenta os conflitos.

O senador Lauro Campos entende que a situação argentina vai contribuir para aumentar o temor de direcionar investimentos para os países em desenvolvimento, em geral, e, especificamente, para o Brasil. Aliás, diz ele, esse medo vem se intensificando nos últimos dez anos, já que os capitais não fluem mais como antes.

O que acontece hoje nos países periféricos é reflexo da crise do próprio sistema capitalista, que não consegue resolver o seu intrínseco problema de necessidade crescente de acumulação. Em 1949, exemplifica Lauro Campos, os Estados Unidos produziam 700 mil automóveis. Esse número saltou para 7 milhões em 1957. Não tendo mais como expandir essa produção, a saída foi exportar as indústrias para a Coréia do Sul, Brasil, Argentina e Canadá.

- Assim, tudo o que acontece na periferia é resultado de decisões tomadas nos países centrais, na tentativa de minimizar os efeitos das suas crises. A situação agora não é diferente - comenta Lauro Campos.



15/01/2002

Agência Senado


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