Lauro Campos, um professor na tribuna



Lauro Álvares da Silva Campos, nascido em 14 de dezembro de 1928, na cidade de Belo Horizonte (MG), era casado com Oraida Policena e pai de quatro filhos. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais, com mestrado em Economia e dois doutorados - um em Ciências Jurídicas, na Universidade Federal de Goiás, e outro em Economia do Desenvolvimento, na Universidade Pro Deu, em Roma, iniciou sua carreira de professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, em 1965, transferiu-se para a Universidade de Brasília (UnB).

Lauro Campos não se intimidou diante do arbítrio do regime militar instalado no país a partir de 1964. Colocou-se em defesa da universidade, em momentos de grande tensão política. Perseguido por suas convicções, se exilou em Sussex, na Inglaterra, em 1975, onde continuou a ministrar aulas.

Após a anistia, em 1979, retornou ao Brasil e voltou a lecionar Economia na UnB. Durante todo esse período, jamais deixou de lado a produção acadêmica. Escreveu diversos livros e artigos, entre eles A Crise da Ideologia Keynesiana, de 1980, em que demonstra o esgotamento do modelo do economista John Maynard Keynes, que norteou as políticas de Estado após a Grande Depressão de 1929; e A Crise Completa - A Economia Política do Não, de 2001, que aponta as contradições do capitalismo e foi indicado para o Prêmio Jabuti na área de Economia, ano passado. Lauro Campos procurou expor, em seus diversos estudos, o processo de crises cíclicas e de guerras provocadas pelo sistema capitalista, que, a seu ver, tem a sina de provocar desemprego e exclusão. O livro O PT Frente à Crise do Capitalismo, de 1991, foi organizado especialmente para I Congresso do Partido dos Trabalhadores, em São Bernardo do Campo (SP).

Em 1994 candidatou-se pelo PT do Distrito Federal a uma das duas vagas abertas para o Senado. Obteve mais de 352 mil votos, conquistando o primeiro lugar, à frente do ex-senador José Roberto Arruda. Prometeu cumprir o mandato de oito anos integralmente, mesmo com sua saúde debilitada. Era, em 2002, o único dos três representantes eleitos do Distrito Federal no Senado a manter seu mandato, com postura ética incontestável e elogiada por colegas de todos os partidos. O senador acabou recebendo o título de Cidadão Honorário de Brasília, em cerimônia que reuniu representantes de várias legendas partidárias. Na ocasião, emocionado, Lauro Campos relembrou sua chegada a Brasília, há 41 anos, quando -só havia poeira e umas poucas luzes-.

O mandato de Lauro Campos foi marcado pelo contínuo debate de idéias, em tom ao mesmo tempo professoral e veemente. Da tribuna do Senado, proferiu discursos contundentes, com críticas ao capitalismo internacional e às políticas liberais. O senador empenhou-se no combate à política econômica implementada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. A seu ver, a equipe econômica do governo era de orientação neoliberal e aprofundou a dependência do país junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Ferrenho opositor, Lauro Campos procurava demonstrar as contradições entre as idéias do sociólogo Fernando Henrique e sua prática no exercício da Presidência da República.

Suas críticas, porém, não se limitaram ao ex-presidente. Alegando discordâncias ideológicas, Lauro Campos acabou por deixar o PT e ingressou no PDT, de Leonel Brizola. Nem assim perdeu o respeito e a admiração de seus colegas, tanto do antigo partido quanto das demais legendas, pela coerência de suas convicções. -É triste expressar a verdade. Mas só tenho essa e não a troco por mentiras ou espertezas da cabeça-, proferiu Lauro Campos no Plenário, em setembro de 2002, ao lamentar o baixo nível da campanha eleitoral de 2002, onde, a seu ver, jingles substituíam o debate de idéias.

Defensor da democracia, tida, por ele, como -uma planta muito frágil-, Lauro Campos tinha como outra de suas bandeiras a luta em favor dos interesses do Brasil ante a possibilidade de instalação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). -Precisamos defender a nossa vida, a nossa economia, a nossa atividade produtiva, para que não sejamos destruídos, sucateados por esse excedente norte-americano que invade necessariamente os quatro cantos do mundo e quer fincar na América Latina as suas relações de dominação, a fim de transplantar para nós o problema deles-, alertou, ainda em setembro do ano passado, em um de seus últimos discursos.




13/01/2003

Agência Senado


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