Nos discursos, as idéias de Lauro Campos



A seguir, alguns trechos de discursos proferidos por Lauro Campos da tribuna do Senado:

-O capitalismo só encontrou uma saída para o excedente: colocá-lo ou na forma de cactos, ou na forma de guerra, ou na forma de tanque, ou na forma de espaço, ou na forma de dissipação e de poluição, em escala mundial. Esses recursos são o futuro incrustado e prisioneiro distorcido pelas relações capitalistas. Se as relações de consumo, se as relações sociais fossem outras, esse excedente produzido pelo trabalho humano não precisaria ser transformado em desemprego, em guerras, ou em atividades destrutivas, wholly wasteful, completamente dissipadoras- (16/06/2001).

-O que devemos fazer, hoje, diante de 800 milhões de pessoas desempregadas, é vislumbrarmos pontes para o futuro, uma vez que o lucro já não pode ser sustentado pelo Estado, o lucro que se transformou em eficiência marginal do capital, nome dado por Keynes ao lucro, que chamo de eficiência fictícia; um lucro sustentado pelo governo e não mais extraído apenas do trabalho humano- (16/06/2001).

-Inúmeros autores e inúmeros gênios da economia afirmaram e provaram que o capitalismo é eivado de vícios. Um desses vícios é, justamente, a insuficiência de demanda. O capitalismo não gera uma demanda suficiente e esse fato pode ser observado em diversos níveis. No nível da aparência: se o sistema capitalista tem que reduzir custo, tem que reduzir salário. Então, ao reduzir salário, os trabalhadores criam um excedente e esse excedente não pode ser consumido por eles porque, se o for, o lucro desaparece. O capitalismo, então, cria desigualdade distributiva necessária e uma insuficiência de demanda- (10/05/2002).

-Realmente, eu não fui feito para ser senador. O meu lugar é outro e tenho que reconhecer isso com a verdade que sempre me acompanhou. Sou mesmo é professor. Os meus alunos não eram obrigados a me escutar. Nunca fiz uma chamada na minha vida e nunca preparei uma aula. Estudo sem parar e, na universidade, só me ouve quem quer- (10/05/2002).

-Em seu livro Capitalismo e Escravidão, (Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República) disse que a escravidão no Brasil foi abolida porque ela não conseguia explorar tanto os trabalhadores quanto o capitalismo. De acordo com Fernando Henrique Cardoso, o capitalismo veio porque o desenvolvimento da economia brasileira e da indústria exigia mais exploração dos trabalhadores do que a escravidão podia fazê-lo. Isso está na tese de doutorado do presidente, que a está provando, porque Sua Excelência está arrochando o povo como ninguém jamais arrochou e retirando os direitos sociais como ninguém jamais retirou- (10/05/2002).

-Os Estados Unidos, que já foram o centro de construção da democracia mundial, estão destruindo o sistema democrático, usando o medo e a repressão como formas de governo e jogando os direitos humanos no lixo- (14/03/2002).

-O compromisso mais importante dos Estados Unidos é preservar seu poderio, gastar mais no escudo nuclear, gastar mais em guerra e, ao fazer isso, aumentar seu poderio. (...) Ainda assim, diante de um poder atômico capaz de explodir 28 vezes o globo terrestre, os Estados Unidos consideram-se ameaçados. Ameaçados por quem, por qual ideologia, se as ideologias já foram pulverizadas e destruídas?- (14/03/2002).

-A questão não é de onde tirar recursos para aumentar o salário mínimo, mas como devolver aos trabalhadores aquilo que lhes foi retirado por um sistema injusto, concentrador de renda, de poder, de terra, de capital e, obviamente, excludente cada vez mais da massa da população trabalhadora- (06/11/2000).

-Ouvi o meu ex-colega Pedro Malan dizer aqui que é impossível qualquer país viver muito tempo com dívida pública. É impossível sustentar a dívida pública por muito tempo. Mas os Estados Unidos têm uma dívida pública de US$ 5 trilhões e 400 bilhões, que é o somatório, desde 1830, quando houve o primeiro déficit e o surgimento da dívida pública norte-americana, até hoje- (06/11/2000).

-No âmago da mais prolongada crise que o capitalismo conheceu, nasceu o neoliberalismo, que, desde sua origem, sempre desconheceu o homem. Não há homens nesse universo de análise neoliberal. Não há homens! Há um tal homo oeconomicus, uma invenção robotizada de economistas- (11/09/2000).

-Um dos precursores neoliberais foi um alemão chamado Herman Gossen, (...) o verdadeiro e envergonhado fundador da Escola Neoliberal ficou decepcionado com a reação fria do leitor (...) e se surpreendeu com a pouca vendagem dos seus livros (...). Ficou desesperado, pôs fogo nos livros que havia publicado e se suicidou ao lado de suas obras. Gostaria que alguns neoliberais de hoje seguissem o exemplo corajoso do fundador dessa chamada ciência, que constrói um mundo abstrato, completamente desgravitado- (11/09/2000).

-Para o Brasil ficar competitivo no mundo globalizado, é absolutamente necessário, de acordo com os ensinamentos neoliberais, que cada trabalhador brasileiro ganhe, por mês, cerca de US$ 30, como ganha o trabalhador de Bangladesh ou da China- (11/09/2000).

-Esse pecado de juros de 49% ao ano nem na Idade Média se cometia! São Tomás de Aquino deve estar revoltado em seu túmulo, porque já dizia, no seu tempo, que pecunia pecuniam parere non potest, dinheiro não pode parir dinheiro. Esse negócio de juros é contra a natureza das coisas e contra a natureza de Deus- (11/09/2000).

-E o que o FMI deseja do Brasil? Reduzir o custo Brasil. Assim como em Bangladesh um trabalhador ganha US$ 1,00 por dia, o brasileiro chegou, no ano passado, a receber US$ 2,00 por dia. Ninguém acreditava que isso fosse possível, mas isso aconteceu. E agora, obviamente, não querem que o Brasil eleve o salário da massa de trabalhadores- (22/03/2002).

-As revoluções burguesas, a começar pela da Inglaterra, conquistam o direito de organizar o orçamento da nação, de determinar os gastos prioritários da nação, de retirar do poder real, imperial, esse direito. E o que vemos é que o nosso orçamento é, cada vez mais, um orçamento elaborado, determinado pelos tecnocratas deste país- (04/12/1998).

-De modo que não tenho o menor constrangimento de dizer que não ofereci, nem este ano nem nos anos anteriores, nenhuma proposta para obter recursos a que temos ou tínhamos direito no Orçamento federal. Penso que deveríamos deixar ao despotismo do Executivo o direito pleno e completo de determinar esse Orçamento perverso- (04/12/1998).

-Lamentamos e nos emocionamos pelos heróis tombados na luta de Eldorado dos Carajás. Por eles os sinos dobram, dobram por todos nós, órfãos da justiça, órfãos da eqüidade, órfãos da proteção social e igualitária do direito à vida, ao trabalho, à terra, à casa, à saúde e ao ensino- (20/04/1998).

-De acordo com Galbraith, como explicar o vôo desse besouro que voa contra as leis da física? Como explicar o vôo desse besouro capitalismo? (...) Uma das explicações possível de ser encontrada é a de que a tecnologia capitalista, altamente dinâmica, transformadora do homem e da natureza, adquiriu as determinações do capitalismo. Essa tecnologia é sociomórfica, não é neutra, adquire as formas e só realmente se incrusta na realidade e a transforma na medida em que serve à reprodução do capitalismo- (22/09/1997).

-Portanto, é necessário, para o capitalismo, que haja a escassez, sem a qual não existe renda capitalista alguma: nem juros, nem lucros, nem salário, nem renda da terra- (22/09/1997).

-A perda de Betinho é uma perda para nó s que ficamos. A perda de Betinho é uma perda para as crianças brasileiras, que não encontrarão mais aquela mão magra e fria, alimentada por um coração quente, que lhes estendia o alimento e o remédio- (11/08/1997).

-Eu vi suas batinas desbotadas, marrons umas, pretas outras, movidas pelos pés enfiados em sandálias, irmãs das usadas pelos trabalhadores sem terra. Solidários, marcharam unidos, sacerdotes da humildade e profetas da rebelião, todos agentes do inconformismo. Os antigos vínculos que os unem são os eternos laços constituintes da sociedade humana e, por isto, de cada ser humano particular, animal político essencialmente social- (22/04/1997, comentando o apoio de religiosos à Marcha dos Sem Terra).

-Nesta sociedade narcisista, que é principalmente a sociedade brasileira, dos bonitos, dos que têm tratamento médico, dos cidadãos de primeira classe, dos narcisistas cujas imagens são produzidas por indústrias de fabricação de imagem, que transformaram o narcisismo bucólico, do Narciso olhando a sua imagem no fundo da água, nessa grande indústria de produção de falsas imagens para enganar os eleitores, para enganar os ouvintes, para enganar os telespectadores com essa produção fantástica de imagens falsas. Nesta sociedade narcisista, os narcisos não se julgam deficientes e desprezam a deficiência, sem saber que todos nós somos deficientes- (22/09/1995).



13/01/2003

Agência Senado


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