Lula começa a bater em Ciro
Lula começa a bater em Ciro
Diante da hipótese mais concreta de um segundo turno com o candidato da Frente Trabalhista, a estratégia dos petistas, que se concentrava em Serra, muda de alvo
O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, começa a abandonar a cordialidade que mantinha até agora com relação ao candidato do PPS, Ciro Gomes. Na última reunião do comando de campanha, os estrategistas de Lula mudaram a avaliação que faziam até agora. O PT ainda acreditava que a ascensão de Ciro era passageira. Por isso, mantinha a sua aposta na polarização com o candidato do PSDB, José Serra. Agora, o comando da campanha petista avalia que Ciro ainda deverá cair, pelo desgaste provocado pelos problemas com seus aliados — especialmente o presidente do PTB, José Carlos Martinez, o candidato a vice, Paulo Pereira da Silva, e a adesão do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Mas dificilmente será ultrapassado por Serra. Assim, os petistas trabalharam com a hipótese de um segundo turno entre Lula e Ciro.
O efeito prático dessa análise é que Lula começou ontem a ter Ciro como comentário de algumas das suas críticas. São ataques bem mais leves que os feitos por Serra. A estratégia de Lula é igualar seus dois principais adversários. ‘‘Ciro e Serra são frutos da mesma árvore. Só que o Ciro se desgarrou e o governo quer provar por A mais B que o Ciro está errado. Eu não entro nessa briga, estou tranqüilo’’, disse o candidato do PT.
Para Lula, seus dois adversários apostam numa falsa polarização. ‘‘Não é possível que uma pessoa que tem 29% (das intenções de voto) polarize com alguém com 13%’’, disse Lula, referindo-se a Ciro e Serra. Lula acha que a briga dos dois acaba por beneficiá-lo. ‘‘Se eles continuarem desse jeito, a gente pode até ganhar a eleição no primeiro turno’’, avaliou.
A tática que Lula começou a esboçar já era defendida por alguns no comando da campanha, como o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Lula, porém, continuará atacando seus adversários de leve. Não quer criar uma situação que impeça a construção de apoios para o segundo turno.
Governo planeja arrecadar mais
O governo federal pretende aumentar a estimativa de arrecadação de impostos no próximo ano. A equipe econômica estuda a edição de uma medida provisória, pela qual podem ser mantidas nos patamares atuais a alíquota máxima de Imposto de Renda — de 27,5% — e a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) em 9%. Essas alíquotas, que vigoram atualmente, são provisórias. Deveriam terminar no próximo ano, com a redução do IR para 25% no máximo e da CSLL para 8%.
A preocupação é que o novo governo, a ser empossado em janeiro de 2003, não tenha recursos suficientes para manter as metas de superávit primário acertadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O acordo anunciado ontem estabelece que o superávit primário seja mantido em 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB). E no próximo ano, teme-se que a arrecadação tributária seja inferior à deste ano, em que entraram recursos excepcionais: parcelas de dívidas atrasadas de empresas e o IR dos Fundos de Pensão.
Não há previsão de que a MP inclua também as alterações do Plano de Integração Social (PIS), que tramita na Câmara. O PIS é um tributo com alíquota de 0,65% sobre o faturamento das empresas.
O problema é que um mesmo produto passa por diferentes empresas em sua fabricação e o PIS pode aumentar em até 3% os custos. De acordo com a proposta em discussão, a alíquota aumentaria para 1,65%, mas cada empresa pague uma parcela disso. Produtos manufaturados ficariam mais baratos, aumentando as exportações brasileiras.
Ninguém bateu no acordo
Presidenciáveis preferem não criticar o empréstimo de US$ 30 bilhões do FMI para o Brasil. José Serra foi o único a fazer uma defesa mais entusiasmada, e espera se beneficiar eleitoralmente com a queda na cotação do dólar
Apesar das reações diferenciadas, nenhum dos candidatos à Presidência da República criticou o novo acordo do governo brasileiro com o Fundo Monetário Internacional. Por razões óbvias, a defesa mais enfática coube ao presidenciável governista, José Serra (PSDB-PMDB). Ciro Gomes (PPS-PTB-PDT) chegou a dizer, durante debate na Universidade de Brasília (UnB), que a inflação poderia voltar sem o apoio do FMI. No PT, a defesa do acordo coube ao candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, o senador José Alencar (PL-MG). E Anthony Garotinho (PSB) foi o único a não fazer qualquer declaração sobre o assunto.
O tom dos candidatos pode ser explicado pelas articulações feitas ontem pelo governo, assim que o acordo foi oficialmente anunciado. Pelo telefone, o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso conversou com Lula. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, trocou informações com Serra e, também pelo telefone, o presidente do Banco Central, Arminio Fraga, falou com Ciro Gomes.
‘‘Acho o acordo positivo. Ele não trará nenhum sacrifício para a economia e reduzirá as turbulências econômicas’’, disse Serra, durante o lançamento do seu programa de governo. O candidato poderá ser beneficiado eleitoralmente pelo acordo, que deverá reduzir as pressões do dólar sobre o real e trazer uma certa tranqüilidade ao mercado financeiro durante o período eleitoral.
Principal adversário de Serra na disputa presidencial, Ciro Gomes abandonou mais uma vez suas críticas ao FMI e defendeu as negociações com Fundo na manhã de ontem, durante debate na UnB, quando o acordo ainda não havia sido anunciado. ‘‘Com atitudes de joão valentão, de ‘abaixo FMI’ e ‘fora FHC’, teremos de volta a inflação’’, argumentou, sendo vaiado pelos estudantes (leia mais na página 18). No final do dia, ele afirmou que só comentará o acordo hoje. Mas o presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PE), disse que o candidato poderá endossar o acordo, desde que concorde com seu conteúdo. O principal assessor econômico de Ciro, Mauro Benevides Filho, completou dizendo que o acordo será bem-vindo, se servir para reorientar a política econômica brasileira.
O vice de Lula, senador José Alencar, declarou que o novo acordo com o FMI não é um compromisso de Fernando Henrique, mas ‘‘um compromisso nacional’’. Dessa forma, ele disse que um eventual governo petista honrará os compromissos herdados do presidente. Segundo ele, os recursos do Fundo para o Brasil darão ‘‘um fôlego’’ à economia nacional. O economista Guido Mantega, assessor de Lula, também evitou críticas ao Fundo. ‘‘De um lado queremos o dinheiro do FMI. Por outro lado, queremos ver qual é a conta que nos vai ser apresentada’’, disse.
Na campanha de Garotinho, uma pequena crítica foi esboçada por seu assessor econômico, Tito Ryff. ‘‘Se FMI quiser determinar a política de juros do país, que é fundamental para definir nossa capacidade de crescer, acho que isso seria uma ingerência excessiva.’’ O candidato, segundo sua assessoria, deverá se pronunciar sobre o acordo hoje.
Fora do circuito eleitoral, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horacio Lafer Piva, pediu aos presidenciáveis que apóiem o empréstimo de US$ 30 bilhões acordado ontem com o FMI. ‘‘O acordo permitirá uma transição mais suave e um primeiro ano de mandato menos vulnerável às condições do mercado internacional’’, disse ele, por meio de nota oficial.
Torcida pela queda do dólar
O empresário Romeu José de Oliveira pensa em aproveitar a possível queda do dólar motivada pelo repasse do Fundo Monetário Internacional (FMI) para se livrar de uma dívida em moeda estrangeira. ‘‘Se o dólar baixar a R$ 2, 20, vale mais a pena pegar um empréstimo no Brasil e quitar toda a dívida. É melhor fazer isso do que viver inseguro por causa do sobe e desce do dólar’’, avalia.
Dono da Gráfica Brasil, Oliveira comprou uma máquina impressora por 1,2 milhão de euros no ano passado, quando a moeda estava cotada a R$ 2,07. À época, seriam quatro prestações de aproximadamente R$ 415 mil. A realidade, porém, modificou as contas. Como a valorização do euro acompanha a do dólar, as parcelas ficariam na verdade em R$ 600 mil, com base na cotação de ontem. Devido ao acordo com o FMI, porém, ele já refaz os cálculos de quanto custará a máquina pela qual começa a pagar nos próximos dias.
A compra de máquinas no exterior é considerada uma bom negócio por causa dos juros baixos. No caso de equipamentos gráficos, as taxas no mercado internacional variam de 6% a 8% ao ano — enquanto no Brasil não ficam abaixo de 15% anuais. Essa vantagem, porém, desaparece no momento em que o real sofre grandes desvalorizações.
Com a disparidade cambial, é mais vantajoso pegar empréstimos internos e fugir dos financiamentos em dólares. Em 1999, muitos compradores de carro apostaram na estabilidade do real e contrataram operações de leasing em moeda americana. Acabaram surpreendidos pela alta do dólar em janeiro daquele ano.
‘‘Não há como fazer planos com o dólar variando tanto. É muito arriscado’’, concorda o empresário Eronides Batalha, da Dupligráfica. Ele também pretende aproveitar a queda do dólar para acabar com uma dívida contraída em moeda estrangeira para a aquisição de equipamento gráfico. ‘‘Vou vender algum patrimônio para conseguir os R$ 125 mil que faltam para quitar a dívida. Não dá para confiar nesse dólar’’, diz. Em 2000, ele comprou uma máquina alemã na esperança de pagar um total de R$ 520 mil. Quando quitar a última parcela da dívida, em novembro deste ano, esse valor deverá ficar em torno de R$ 750 mil, especialmente por causa das desvalorizações do real em 2001.
Sensível às variações da moeda americana devido ao alto índice de produtos importados, o setor de informática também sairá ganhando com a queda do dólar. ‘‘Se o dólar baixar e permanecer estável, teremos um cenário muito mais favorável que o das últimas semanas’’, avalia Fernando Coelho, diretor de Varejo da CTIS Informática. Ele diz que suspendeu todas as compras na semana passada para não ser obrigado a pagar mercadoria com um dólar valendo até R$ 3,60 — ontem, o dólar fechou a R$ 3,02, com queda de 3,05%.
O mesmo comportamento foi adotado pelos clientes da CTIS. ‘‘Observamos uma queda de 15% nas nossas vendas na semana passada, embora quase todos os produtos em loja não tivessem sofrido qualquer reajuste porque haviam sido comprados antes da alta’’, afirma Coelho. Com a provável redução do valor do dólar, a CTIS retomará sua rotina de compras. ‘‘Caso o dólar chegue a R$ 2,70, poderemos negociar com fornecedores até redução de preços para beneficiar o consumidor’’, diz.
Há empresários, porém, que estão cautelosos quando o assunto é dólar e não pretendem depender demais de produtos estrangeiros. É o caso de Gilvan Pires, dono da delicatessen Papa Fina, que desde 1999 vem reduzindo a participação de mercadorias importadas ao mínimo necessário. ‘‘Não posso deixar de comprar licores e uísques estrangeiros, mas na parte de vinhos já consegui um equilíbrio: 50% são nacionais e 50% são estrangeiros’’, comemora.
Um socorro de Us$ 30 bi
Dólar teve queda de 3,05% e fechou cotado a R$ 3,02 depois do anúncio da liberação do empréstimo. Fernando Henrique desabafou e disse que os países não podem ficar à mercê do mercado. Mesmo assim, a ajuda foi um alívio para o governo, que está liberado a gastar de imediato outros US$ 10 bilhões das reservas cambiais para conter o avanço da moeda norte-americana
Antes mesmo de o Fundo Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciar o fechamento do acordo com o Brasil, no final da tarde de ontem, totalizando US$ 30 bilhões, o mercado financeiro dava provas de que venceu a batalha com o governo. Já no início da manhã, os operadores tinham detalhes do pacote de ajuda ao país, fechado na madrugada, o que levou o dólar a abrir as negociações em baixa e a fechar o dia a R$ 3,02, com recuo de 3,05% em relação à véspera.
A pressão do mercado sobre o governo foi tamanha nas últimas duas semanas, que, logo depois de aprovar a assinatura do empréstimo com o Fundo, o presidente Fernando Henrique Cardoso desabafou: ‘‘Os mercados não podem continuar tendo vozes fortes e as instituições políticas e internacionais, uma voz rouca. Quem resolve os problemas da população são as instituições políticas (e não o mercado)’’. Lamentos à parte, Fernando Henrique disse que, a partir de agora, o Brasil poderá respirar mais aliviado.
O novo acordo com o FMI vai durar 15 meses. Dos US$ 30 bilhões em dinheiro que serão disponibilizados ao Brasil, US$ 6 bilhões (20%) serão desembolsados no início de setembro, tão logo o empréstimo seja aprovado pela direção do Fundo. Os outros US$ 24 bilhões (80%) poderão ser sacados pelo próximo presidente. ‘‘Estamos convencidos de que esse acordo serve aos interesses do país e confiamos que ele será apoiado pelos principais candidatos à Presidência do Brasil’’, afirmou, em nota oficial, o diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler. Ele disse, ainda, que todos os candidatos estão sendo consultados sobre o acordo. Desde novembro de 1998, quando o Brasil foi à bancarrota por causa da crise da Rússia, Fernando Henrique recorreu quatro vezes ao FMI. Tomou emprestados US$ 86,5 bilhões.
Poder de fogo
Com o novo acordo, o FMI também aumentou o poder de fogo do governo brasileiro para retomar as rédeas da economia e evitar o ocaso de Fernando Henrique. O FMI autorizou o Banco Central a reduzir o piso líquido de suas reservas de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões. Os US$ 10 bilhões extras serão usados para intervenções diárias no mercado. O objetivo é derrubar a cotação do dólar e atender a empresas brasileiras com dificuldades para pagar dívidas no exterior e obter linhas de crédito para comércio exterior (importação e exportação). O mercado internacional praticamente fechou as portas ao país, alegando alto risco nas operações.
Segundo melhor aluno do FMI — o primeiro da lista era a Argentina, que quebrou em dezembro do ano passado — o Brasil praticamente nada ofereceu ao FMI. Köhler informou apenas que o próximo presidente terá de manter, entre 2003 e 2005, superávit primário de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB). É o mesmo percentual que as receitas terão que superar as despesas (sem incluir os gastos com juros da dívida) neste último ano de governo.
Para Roberto Padovani, da Consultoria Tendências, o pacote traz duas leituras. ‘‘Primeiro, tira o sufoco de curto prazo, porque estava faltando dólar e agora tem de sobra. Segundo, porque o mercado sabe o que vai acontecer em 2003’’, afirmou. Ele acredita que o dólar poderá cair hoje de R$ 3,02 para R$ 2,80. Na avaliação do economista-chefe do Banco Tokyo-Mitsubishi, Masaru Nakayasu, a principal razão da ajuda do FMI ao Brasil foi evitar que os bancos e empresas norte-americanas e européias tivessem que lançar grandes prejuízos com o país em seus balanços.
Ciro tenta ganhar o apoio de Jarbas
Preferido de José Serra para a vaga de vice-presidente, governador de Pernambuco aproxima-se do PPS e alimenta ansiedade no PSDB
O PSDB anda como marido traído. Recebeu a notícia de que o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), abrirá seu palanque para o candidato da Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT), Ciro Gomes, mas não acredita que possa ser verdade. ‘‘Estou tranqüilo. Ele (Jarbas) só terá Serra’’, disse o deputado P imenta da Veiga (PSDB-MG), coordenador-geral da campanha tucana. ‘‘Tenho toda a confiança em Jarbas’’, reforçou o líder do partido na Câmara, Jutahy Magalhães Jr. (BA). O que importa, segundo Magalhães, é o palanque eletrônico, a propaganda gratuita na TV. ‘‘Na televisão, Jarbas só pedirá votos para Serra’’, acredita o parlamentar. Os programas na TV começam no dia 20 de agosto.
A pulada de cerca do governador de Pernambuco é emblemática. Jarbas foi a primeira opção de Serra para figurar ao seu lado como candidato a vice-presidente. O tucano queria temperar a própria candidatura com o passado esquerdista e o capital moral do grupo de autênticos do PMDB, do qual Jarbas é um dos remanescentes. O projeto não vingou porque o pernambucano preferiu disputar a reeleição. Mas seu apoio sempre foi tido como uma referência na aliança entre os tucanos e o PMDB.
Na semana passada, no entanto, Jarbas Vasconcelos participou de eventos promovidos pelo PPS em Pernambuco. O que não chega a ser um escândalo, já que o senador Roberto Freire (PPS-PE), candidato a deputado federal na eleição de outubro, é amigo de longa data do governador. Inclusive o apóia e recebe ajuda para conquistar o mandato na Câmara.
Ao lado de Freire, Jarbas chegou a dizer que não se opunha à presença de Ciro Gomes em seu palanque. A atitude foi interpretada como um passo na direção da Frente Trabalhista — como é chamada a aliança nacional do PPS com PTB e PDT. Há mais indícios de que isso seja verdade.
Um deles é o anúncio de adesão à Frente Trabalhista feito pelo líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE). Como o PFL de Pernambuco é aliado de Jarbas, os marechais da campanha presidencial tucana desconfiam que Inocêncio recebeu sinal verde do governador antes de migrar para o palanque adversário. Desconfiam. Não têm certeza.
No sertão
O flagrante está armado para a próxima semana. É para quando está marcado um encontro entre Ciro e Inocêncio, em que a união de ambos será anunciada com pompa. O evento aconteceria ontem, no Congresso Nacional. Mas numa conversa de vinte minutos, pelo telefone, os dois decidiram transferí-lo de data e de lugar. Marcaram-no para Serra Talhada, no sertão pernambucano, tradicional base eleitoral do líder pefelista.
Na passagem por Pernambuco, Ciro pretende subir pela primeira vez no palanque de Jarbas Vasconcelos. Roberto Freire foi encarregado de preparar o terreno. Isso porque ainda não há combinação a respeito. Embora a relação esteja na boca do povo, o presidenciável e o governador sequer flertaram publicamente. No máximo trocaram recados por intermédio de Freire, o que não chega a configurar traição.
Jarbas, avisado de que está sob observação dos parceiros tucanos, tratou de providenciar um álibi. Concedeu uma entrevista à Agência Estado podando o noticiário a respeito de sua aproximação com o PPS. Disse que vem sendo mal interpretado pela imprensa. E que continua leal a Serra. Sobre Ciro, deixou a porta entreaberta. Falou que recebeu o apoio do PPS e que o PPS tem a intenção de levar seu presidenciável ao estado. Sendo assim, subirão ao mesmo palanque. Mas Jarbas diz que não pedirá votos para o adversário de Serra.
Além da referência política, o que está em jogo são milhares de votos do oitavo colégio eleitoral do país. Jarbas ostenta 65% das intenções de voto para governador, segundo a última pesquisa do Ibope. Ele, entretanto, não consegue transferir seu capital ao presidenciável tucano. Serra aparece em quarto lugar nas pesquisas para presidente feitas em Pernambuco. Perde até para Antonhy Garotinho, do PSB. Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Ciro disputam a preferência no estado.
Aliados de Roriz ameaçados no PPB
Advogados do partido de Benedito Domingos vão pedir ao TRE que cancele os registros dos candidatos que declararem apoio ao governador. Entre eles, dois deputados federais e um distrital
Os partidos que apóiam o vice-governador Benedito Domingos, candidato do PPB ao GDF, querem cancelar os registros de candidatura dos 23 integrantes da coligação que declararam apoio ao governador Joaquim Roriz (PMDB). Os advogados da coligação, incumbidos pelo vice-governador de tomar providências para punir os dissidentes, decidiram pedir ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que abra processo de cassação das candidaturas — além de notificar os membros dos partidos a prestar esclarecimentos em juízo.
Na segunda-feira, 23 candidatos da coligação que apóia Benedito resolveram aderir à campanha de Roriz. ‘‘Os candidatos têm que obedecer a coligação que foi feita e faltaram com a ética partidária. Vamos pedir que eles sejam notificados para confirmar a decisão deles e, ao mesmo tempo, pedir a cassação dos registros’’, informou o advogado Pedro Barbosa, representante da coligação na Justiça Eleitoral. A entrega dos pedidos estava prevista para ontem, mas foi adiada porque os advogados da coligação não concluíram as ações.
Se confirmarem o pedido, porém, os partidos aliados de Benedito enfrentarão dificuldades para cancelar as candidaturas dos dissidentes. Na avaliação do procurador eleitoral Franklin da Costa, questões partidárias não são motivo para cassação de registros. Segundo ele, os candidatos que declararam apoio a Roriz só perderiam o registro se fossem expulsos pelos partidos. ‘‘A filiação partidária é uma exigência para a candidatura. Se um partido comunica à Justiça Eleitoral que um candidato não é mais filiado, o registro é cancelado’’, informou.
Benedito não foi localizado para comentar o assunto. Mas, na terça-feira, depois da reunião dos partidos — na qual se decidiu punir os dissidentes —, o vice-governador descartou a possibilidade de expulsar os candidatos que declararam apoio a Roriz.
Artigos
Um governo de oposição
Luís Costa Pinto
Taxa de juro na lua, descontrole no preço do gás de cozinha, as demais tarifas públicas pela hora da morte, salários do funcionalismo sob congelamento e desvalorização cambial. Em conseqüência de tal salada catastrófica, o horizonte econômico do país é um desalento e nós tivemos de bater às portas do Fundo Monetário Internacional (FMI) pela terceira vez em oito anos. A soma de todos esses fatores resulta na equação que explica o péssimo desempenho do candidato oficial, José Serra, nas pesquisas de intenção de voto. E o péssimo desempenho de Serra realimenta a onda de boatos que ferem os indicadores econômicos criando uma ciranda esdrúxula e alucinante.
Serra, o presidente Fernando Henrique Cardoso e todo o PSDB haviam traçado um cenário cor-de-rosa para 2002. Setores majoritários da legenda governista apostaram no rompimento com o PFL porque, acreditavam, a presença considerada desconfortável dos conservadores era desnecessária. No raciocínio deles, seria compensada pela adesão do PMDB, mesmo que um bom naco do partido de resistência de outrora tenha emporcalhado a biografia peemedebista como galinhas fazem em paus de galinheiro (para usar uma expressão em voga). Com os pefelistas lançados para escanteio, FHC daria um verniz social em sua gestão no último ano de mandato e passaria à História como o presidente que domou a inflação e deu um rumo social à Presidência. Na prática, como testemunhamos, a teoria revela-se outra. Tudo parece conspirar para alimentar o potencial de votos da oposição — tenha ela a barba de Lula, o pomo-de-adão de Ciro ou a careca do próprio Serra, que não gosta de se vender como governista.
Com tamanha incompetência para administrar seu derradeiro ano de mandato, Fernando Henrique inaugurou uma nova família de estadistas: aqueles que pilotam governos de oposição. O legado que ele deixará para o sucessor, qualquer que seja ele, está sendo tragado pelo cenário sufoca nte de um país cujo futuro escorre pelo ralo do cofre do Banco Central e depois se espreme no torniquete de programas do FMI. Agindo assim, empurrando o próprio candidato oficial a ter de criticá-lo e definir a linha limítrofe entre ele e a administração, o governo caminha célere para não ter herdeiros.
Editorial
TEMPORADA DE CAÇA
Mal começou a vigorar o prazo estipulado por lei para o início da campanha eleitoral nas ruas, o que se vê, em todo o Distrito Federal, é desolador. Cartazes colados em locais públicos, postes de iluminação desfigurados, faixas por todo canto e carros de som a todo volume são apenas alguns exemplos de convivência forçada dos brasilienses com a poluição eleitoral.
As pessoas perderam o direito ao descanso quando chegam do trabalho, atormentadas pela música alta de showmícios intermináveis. E se revoltam ao ver gramados e outros tipos de bens públicos, mantidos com o dinheiro de seu imposto, servirem de palco para infrações, como a pintura de nomes e números de candidatos. A poluição eleitoral deixa no ar uma questão crucial: o que candidatos que desrespeitam o cidadão podem oferecer aos eleitores? Que tipo de contribuição pode dar alguém que danifica os bens públicos e contraria a legislação em vigor? Ou que agride pactos sociais básicos, como manter a cidade limpa e respeitar o sossego alheio?
A poluição eleitoral é crime punido em lei. Além de desoladora, expõe o atraso nas relações sociais e a petulância dos que se acreditam acima dos direitos dos demais cidadãos. E mais: torna evidente o despreparo dos que se lançam à disputa por um mandato político. Um jovem que dribla o desemprego — ganhando um salário mínimo mensal para colar cartazes em postes públicos — pode se escudar no desconhecimento da lei. O mesmo não é válido para um pretendente a parlamentar. Quem se julga capaz de fazer as leis que regem a vida em sociedade não pode ignorar e desrespeitar o código legal vigente.
A sociedade exige o fim da poluição eleitoral. Atitudes de desrespeito às normas de conduta civilizadas atraem o repúdio da população. O Correio Braziliense comprova esta verdade todos os dias ao tomar conhecimento do conteúdo das cartas de dezenas de leitores indignados e agredidos por toneladas de lixo de campanha. O abuso da propaganda política é um dos últimos resquícios de uma era onde todos queriam levar vantagem em tudo. Boa parte dos problemas nacionais surgiu dessa atitude inconseqüente. Onde o individualismo se coloca acima do social.
Do homem público espera-se o respeito à lei. Sem isso, que futuro teremos? Os eleitores devem se mobilizar contra a poluição eleitoral, negando o voto a seus autores. A sociedade possui uma arma adequada para enfrentar o problema. Contra os abusos, o poder da resposta está nas urnas. Não nos esqueçamos disso.
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08/08/2002
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