Lula consolida liderança









Lula consolida liderança
Se continuar a crescer, candidato petista pode vencer eleição no primeiro turno

BRASÍLIA - Duas pesquisas de opinião pública divulgadas ontem mostram que Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, aumentou a diferença para os outros candidatos a presidente e está próximo de chegar à maioria absoluta dos votos válidos, o que lhe daria a vitória no primeiro turno da eleição.

No levantamento do Ibope, divulgado ontem pelo Jornal Nacional da TV Globo, Lula aparece com 41% das intenções de votos. Os outros candidatos, somados, chegam a 45%. Na pesquisa do Vox Populi para o jornal Correio Braziliense, o resultado é semelhante. Lula tem 42%. A soma dos adversários, 45%. Para vencer no primeiro turno, é preciso que o candidato tenha pelo menos um voto a mais do que a soma dos outros concorrentes. A contagem desconsidera os votos nulos ou em branco.

Segundo o Ibope, Lula ganhou dois pontos na última semana. Passou de 39% para 41% das intenções de voto. O tucano José Serra continua em segundo lugar, com os mesmo 19% da pesquisa anterior. Anthony Garotinho (PSB) subiu de 12% para 13% e aparece à frente de Ciro Gomes (PPS), que caiu de 15% para 12%. Os dois estão tecnicamente empatados em terceiro lugar, uma vez que a margem de erro da pesquisa é de 1,8 ponto percentual. José Maria, do PSTU, tem 1% das preferências.

A grande mudança está na possibilidade de uma vitória de Lula já no primeiro turno. Na pesquisa anterior, o petista tinha 39%, oito pontos percentuais a menos que a soma de todos os adversários. Agora, a distância caiu para quatro pontos percentuais.

O Ibope mostra vitória de Lula em todas as simulações de segundo turno. Os resultados variam pouco, independentemente do adversário. Lula teria 55% contra 36% de Serra. Contra Garotinho, o placar seria 55% a 33%. Se o adversário for Ciro, Lula teria 55% a 32%.

A pesquisa Vox também aponta a possibilidade de uma decisão em primeiro turno. Segundo o instituto, Lula tem 42%, contra 45% da soma dos outros candidatos. Serra é o segundo colocado, com 17%, dois pontos a menos que a pesquisa anterior.

Ciro Gomes aparece com 15% das intenções de voto, dois pontos a menos do que na pesquisa anterior. Como a margem de erro é de 1,9 ponto percentual, Ciro se encontra em uma situação curiosa. Está tecnicamente empatado com Serra, mas também com Garotinho. O candidato do PSB tem 12%, o mesmo índice da pesquisa anterior. Também no Vox Populi, o candidato do PSTU, José Maria de Almeida, tem 1%.

Também no Vox Populi, Lula ganhou espaço sobre os adversários. Na semana passada, ele tinha nove pontos a menos que a soma dos concorrentes. Agora, a distância caiu para apenas três pontos percentuais.

Nas simulações de segundo turno, Lula tem 53% contra 31% de Serra; 55% contra 28% de Ciro e 54% contra 27% de Garotinho.


Na pauta da Câmara do DF a CPI da Grilagem
Políticos são suspeitos de legalizar lotes em troca de terrenos

BRASÍLIA - A Câmara Legislativa do Distrito Federal começou a analisar, ontem, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar denúncias de corrupção na regularização de condomínios, realizada pelos próprios deputados distritais, no ano passado. Deputados são acusados de receber terrenos para facilitar a legalização de lotes irregulares.

Uma fita de vídeo divulgada na semana passada pelo empresário Márcio Passos deu início à pressão pela investigação. Ele e o irmão, Pedro Passos, foram condenados pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal por parcelamento irregular de terras. Estão foragidos desde então. Ambos são amigos do governador Joaquim Roriz (PMDB). Pedro Passos é candidato a deputado distrital na coligação do governador. Ontem, o tribunal negou o pedido de habeas-corpus apresentado pelos advogados dos irmãos Passos.

Na gravação, divulgada por Márcio Passos antes da condenação, o deputado governista Odilon Aires (PMDB) - ex-secretário de Assuntos Fundiários do governo - reclama por ter recebido menos lotes do que outros deputados para regularizar condomínios no DF.

- Todo mundo leva cem, trezentos, e eu levo cinqüenta. Está cheio de ladrão na Câmara - afirma ele.

Ontem, em plenário, Odilon pediu desculpas a seus colegas. Desde a última sexta-feira, a Corregedoria da Câmara abriu contra ele processo por quebra de decoro parlamentar. Em dez dias, o corregedor, deputado João de Deus (PMDB), enviará um parecer em que poderá sugerir a cassação do colega. Em manifestação contra as declarações de Odilon, os parlamentares de oposição compareceram à sessão, ontem, com uma camiseta preta, com os dizeres: ''Não sou ladrão.''

Para desviar a atenção, a bancada governista da Câmara aprovou a instalação de uma outra CPI, aprovada em 1998, a fim de investigar o antigo governo petista. A expectativa é de que, ainda que seja aprovada, a investigação sobre os lotes não seja instalada antes das eleições.


Ciro sofre derrota no TSE
BRASÍLIA - O ministro José Gerardo Grossi, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), proibiu a veiculação, em inserções da propaganda gratuita do candidato Ciro Gomes (PPS-PDT-PTB), do trecho de uma antiga declaração do atual ministro do Superior Tribunal Militar (STM), Flávio Bierrenbach, desafeto do presidenciável do PSDB, José Serra. O texto vetado diz que o candidato do governo ''entrou pobre na Secretaria de Planejamento do governo Franco Montoro, e saiu rico''.

Ao acolher a representação do candidato José Serra, o ministro do TSE afirmou que a mensagem tem características mais do que injuriosas:
- Entrar pobre e sair rico de um governo equivale, quando nada, à insinuação de prática de peculato, e usar o poder de forma corrupta, mais que insinua a prática de corrupção - salientou Grossi.

No entanto, José Serra não obteve direitos de resposta requeridos ao mesmo ministro, por ter Ciro Gomes a ele se referido, em dois programas eleitorais da Frente Trabalhista, como ''o candidato dos poderosos''.

O ministro considerou a crítica ''contundente'', mas ''comum na reta final da campanha''. E acrescentou:
- Refere-se (a expressão), obviamente, a todos aqueles que recebem apoio dos que detenham poder econômico, social, político ou religioso, não podendo, portanto, ser classificada como injuriosa ou inverídica - explicou o ministro.


Fogo pesado contra o PT
Campanha de Serra quer fixar no eleitorado imagem do partido 'baderneiro'

BRASÍLIA - O comando da campanha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra (PSDB), mudou de tática e deslocou sua artilharia pesada para atacar diretamente o candidato que lidera a corrida pela sucessão, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Na propaganda eleitoral exibida ontem, os tucanos procuraram reforçar alguns motes antigos, como o fato de Lula não ter diploma universitário, além de recuperar a imagem de partido ''baderneiro'' que o PT tinha perante o eleitorado conservador.

O programa exibiu a imagem de um discurso do presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, feito durante a última campanha para a prefeitura de São Paulo, em 2000. Antes de mostrar o discurso, no qual Dirceu conclama os militantes petistas a irem às ruas e fazer ''mais e mais mobilização, mais e mais greves'', o apresentador adverte:

- O PT que você tem visto na TV é um PT maquiado, bonzinho, equilibrado - observa, frisando que as imagens que serão apresentadas foram gravadas ''há apenas dois anos''.

- Eles têm que apanhar, nas ruas e nas urnas - afirma Dirceu, no discurso.

As palavras do presidente do PT já tinham sido exploradas pelos adversários do partido na última campanha para a prefeitura da capital paulista. No programa de Serra, os marqueteiros relacionaram o discurso de José Dirceu com o enfrentamento, na semana seguinte, protagonizado pelo então governador de São Paulo, Mário Covas, e professores grevistas. Covas, que morreu meses depois, vítima de um câncer, saiu sangrando, com um ferimento na cabeça.

- Uma semana depois, o deputado foi atendido. Covas foi agredido - diz o apresentador, ao mesmo tempo que as imagens do conflito são expostas no vídeo.

O PT fez um recurso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a proibição dessas imagens.
O programa de Serra começou com uma apresentadora mostrando um edital da prefeitura de São Paulo que exige diploma universitário para concurso de fiscal de rua. Logo depois, o eleitor é lembrado que Lula afirmou ser desnecessário ser formado para ser presidente. E um alerta final é lançado:
- Atenção! Este PT você não vê na TV.

A tática da campanha tucana é semelhante à que abalou a candidatura de Ciro Gomes (PPS), identificando-o como mentiroso e desequilibrado, na propaganda eleitoral. Com o candidato do PPS, o slogan foi outro: ''Ciro: mudança ou problema?''

Para o candidato do PT, os tucanos criaram outra frase com a intenção de abalar a convicção de seus eleitores: ''Lula: ou ele esconde o que pensa, ou não sabe o que diz''.

O publicitário da campanha tucana, Nizan Guanaes, afirmou ontem que o ataque foi uma reação ao que considerou uma ''instrumentalização'' do procurador da República Luiz Francisco de Souza, que citou Serra em uma ação.

- Agora me sinto à vontade para contra-atacar - disse Nizan.

- Eles estão perdendo o rumo. Se baixarem o nível, não haverá debate. Vamos deixar Serra brigando sozinho - reagiu o secretário de Organização do PT, Silvio Pereira.


Serra não emociona militares
Reação da platéia foi mais fria do que com Lula e Ciro

Diante de uma platéia reduzida e fria, composta por militares da reserva e associados da Fundação de Altos Estudos e Política Estratégica , o candidato da Coligação Grande Aliança à Presidência, José Serra, frisou por duas vezes que não tem ''duas caras''. Da mesma forma, insistiu que não quer construir a bomba atômica brasileira. Tanto no primeiro caso quanto no segundo, atacou o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva ao afirmar que o adversário ''tem pelo menos fases''.

- Tem o Lula e o Lulinha Paz e Amor. Eu espero que os dois rapidamente convirjam. Eu não tenho duas fases. Tenho uma vida coerente. Apresento minhas idéias, não há um novo estilo. Discuto os pontos, digo com clareza o que estou de acordo ou não. E o que espero é que o Lula faça essa convergência também, ou seja o PT real e o PT na TV - afirmou, logo após a palestra para os militares.

Durante a sabatina a que se submeteu para a mesma instituição a que Lula respondeu a argüição semelhante, semana passada, Serra pronunciou-se favoravelmente ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, do qual o Brasil é signatário. Enquanto o candidato petista foi aplaudido por ser contra a assinatura brasileira no documento, o presidente da Fundação, general Leônidas Pires Gonçalves, interrompeu o candidato do PSDB para esclarecer que a instituição que preside não está de acordo com os termos do acordo internacional.

Na opinião do ex-ministro do Exército, o tratado não atinge seus dois objetivos, ''seja a promoção da paz, seja a transferência de tecnologia''. Opinião semelhante à de Lula, segundo entrevista concedida logo após a sua participação naquele fórum. Serra, porém, faz outra leitura da atitude do concorrente.

- Ele é contra o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, ou seja, é a favor que o Brasil faça a bomba atômica. Sou contra. Então, essa é uma questão a ser debatida - afirmou Serra, que defende um novo debate com o candidato da oposição.

Para os militares, Serra defendeu a profissionalização das Forças Armadas. Mas é a favor do serviço militar obrigatório, mesmo após admitir que não serviu ao Exército:
- Minha mãe não deixou. Sou filho único e ela não queria que eu saísse de casa - contou.

O candidato do governo também defendeu a ''diplomacia presidencial'' desenvolvida por Fernando Henrique Cardoso, perante uma platéia estática. Vários dos presentes aplaudiram entusiasmados, semana passada, o momento em que Lula criticou exatamente esta política desenvolvida por FH.

Outro ponto divergente entre os dois candidatos é a presença do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e a cessão de terras em Alcântara, no Maranhão, para os americanos instalarem uma base militar. Serra é favorável à inserção do país no bloco econômico liderado pelos EUA e pelo aluguel do terreno. Lula não somente é contra como garantiu que irá rever, caso seja eleito, o contrato de locação com o governo dos Estados Unidos.


Rosinha isolada na liderança
Nova pesquisa Ibope divulgada ontem confirmou a liderança da candidata Rosinha Garotinho (PSB) na corrida para o governo do Rio. Ela subiu um ponto em relação à sondagem anterior e alcançou 46% das intenções de voto. De acordo com a sondagem, Rosinha venceria no primeiro turno. Jorge Roberto, da Frente Trabalhista, a governadora Benedita da Silva (PT), e Solange Amaral, da Frente Todos Pelo Rio (PFL-PMDB-PSDB) estão tecnicamente empatados.

O pedetista perdeu dois pontos e ficou com 13%. Benedita manteve o índice e tem 12%. E Solange obteve o maior crescimento desde a primeira pesquisa: subiu de 7% para 11%. A margem de erro é de 2,5%. Brancos e nulos ficaram em 4%, e os indecisos chegam a 12%.

Rosinha também venceria todos os concorrentes em um suposto segundo turno. Ela derrotaria Jorge Roberto por 58% a 26%. Contra Benedita, seria 60% a 23%, e bateria Solange por 59% a 24%. Os mais rejeitados, segundo o Ibope, são, respectivamente: Benedita, com 41%; Rosinha (19%); Solange (17%) e Jorge Roberto (12%).

Na corrida para o Senado, Sérgio Cabral Filho conquistou cinco pontos percentuais e chegou aos 46%, mantendo a liderança isolada. Marcelo Crivella, do PL, manteve os 27% no segundo lugar. A novidade ficou por conta da terceira posição. Artur da Távola passou Leonel Brizola (PDT). O tucano subiu de 15% para 18%, e Brizola caiu dois pontos: está com 15%. O Ibope ouviu 1,6 mil pessoas em 40 cidades do Estado, entre os dias 13 e 15 deste mês.


Dez milhões contra a Alca
Adesão ao bloco econômico é rechaçada por 98% dos votantes em plebiscito

BRASÍLIA - Mais de dez milhões de pessoas participaram do plebiscito sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), patrocinado por diversas entidades e movimentos sociais, entre elas a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o apoio do PSTU. A grande maioria dos votantes - 9,97 milhões - se revelou contra a adesão do Brasil ao bloco econômico. O resultado final foi divulgado ontem, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, em Brasília.

O plebiscito, realizado entre 1º e 7 de setembro, contabilizou, até ontem à noite, 10.149.542 votantes. Deste universo, 98% (9.979.964) disseram não à assinatura do acordo, enquanto que 1% (113.643) concordam com a entrada do Brasil no bloco.

As outras duas respostas ao questionário também não deixam margem para dúvidas. Mais de 9,7 milhões de votantes se disseram contrários à continuidade do Brasil nas negociações com os Estados Unidos e 10 milhões discordam da instalação de uma base militar americana em Alcântara (MA).

Para o candidato do PSTU à presidência, José Maria de Almeida, o resultado comprova que o povo está consciente de que a participação do Brasil na Alca significa, segundo ele, menos empregos e menos recursos para saúde e educação. O candidato lamentou a ausência do PT no plebiscito, lembrando que, se o parti do de Lula tivesse participado, os números finais poderiam chegar à 15 milhões.

- Mas a luta continua, com ou sem a presença de nosso companheiro Lula - afirmou o candidato do PSTU.
O coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, procurou minimizar a ausência do PT, afirmando que a iniciativa do plebiscito foi da sociedade civil, e que os partidos políticos deram apoio através de sua militância. Ele aproveitou para criticar a Alca, chamando de ''panacas'' empresários que a consideram benéfica para o Brasil.

- A Alca não é um acordo, é um plano de recolonização promovido pelo governo dos EUA.

Na parte da tarde, cerca de 2 mil representantes dos movimentos sociais fizeram uma pequena manifestação em frente à embaixada americana e protocolaram o resultado final do plebiscito no Congresso Nacional, na Secretaria-Geral da Presidência e no Supremo Tribunal Federal. Eles pretendem reunir-se hoje com a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak. Em Belo Horizonte, a embaixadora defendeu a necessidade da implantação da Alca, mas deu razão a quem se preocupa.

- Temos que manter este diálogo. São negociações que vão afetar alguns setores, porque alguns grupos vão sair em desvantagem nas negociações, assim como alguns grupos nos EUA sofreram com a aprovação do Nafta. Os prejudicados merecem atenção, a preocupação é deles é legitima - afirmou.

O plebiscito da Alca foi realizado em 3.894 municípios, 405 a mais do que os envolvidos na consulta popular sobre a dívida externa realizada em 2000. (Com Rodrigo Lopes)


Artigos

Não é culpa do Brizola
Octávio Costa

Quando os paulistas passaram a se referir ao Rio como ''balneário decadente'', não lhes faltou razão.
Na década de 80, a economia fluminense entrou em sono profundo, foi superada pela de Minas Gerais e chegou a ver seu terceiro lugar ameaçado pelo Rio Grande do Sul. Na época, muita gente deixou a Cidade Maravilhosa para procurar emprego em outras paragens. O problema maior, então, não era a segurança, mas a absoluta falta de horizonte.

Há quem diga que foi culpa de Leonel Brizola. Tenho minhas dúvidas.

O Brasil entrou no início dos anos 80 com uma mão na frente e a outra atrás. Pressionado pela direção da Fiesp, o governo Figueiredo soltou as amarras da economia e o resultado foi desastroso. A inflação disparou e a dívida externa fugiu do controle. O Brasil não resistiu e pediu a moratória em 1982, logo depois do México. Foram dias difíceis e a economia do Rio, vulnerável desde que Juscelino transferiu a capital para Brasília, mergulhou em profunda recessão. Com Brizola ou sem Brizola, o desfecho não seria diferente. E mais: de 1986 a 1990, Moreira Franco governou o Estado.

Nos anos 90, o Rio finalmente começou a reagir. Em seu segundo mandato, Brizola aproximou-se de Collor, que se mostrou simpático às demandas do governo estadual (a União financiou, por exemplo, a construção da Linha Vermelha). O resto da história todos conhecem. Brizola permaneceu fiel a Collor até o fim e sofreu forte desgaste. O líder trabalhista pagou alto preço político, nunca mais recuperou os índices de popularidade da volta do exílio, mas ainda hoje faz críticas ao impeachment.

Os afagos de Brasília continuaram no governo Itamar, que não nega seu amor pelo Rio. E o tucano Marcello Alencar desfrutou de bom trânsito com Fernando Henrique. Mas a verdade é que o Estado foi beneficiado fortemente pelos royalties da extração do petróleo e, depois, pelos efeitos favoráveis da estabilidade da moeda no pós-Plano Real. Outro fator importantíssimo foi o fim do monopólio da Petrobrás. Os grupos estrangeiros atraídos para a exploração de petróleo e gás escolheram o Rio para sede de seus investimentos, gerando receita e novos postos de trabalho.

Anthony Garotinho aproveitou o vento a favor. Aproximou-se do presidente Fernando Henrique no início do seu governo e conseguiu da Fazenda um bom acordo para a dívida estadual. Garotinho investiu pesado no interior do Estado e, agora, faz uso eleitoral do surto de desenvolvimento.

Tentou vôo mais alto e incerto com a candidatura à Presidência, mas está perto de eleger sua mulher, Rosinha, governadora. Talvez no primeiro turno.

Acontece, porém, que a economia fluminense virou o fio. As contas públicas estão no vermelho, como acusa a governadora Benedita, e a taxa de desemprego cresceu mais do que a média do país, segundo a última PNAD, do IBGE. Será que Rosinha, mãe generosa e dedicada dona de casa, está preparada para governar o Estado do Rio em período de vacas magras?

Se Rosinha fracassar, o Rio voltará a merecer o epíteto de ''balneário decadente''. E não vai dar para dizer que foi culpa do Brizola.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

De caso com o equívoco
Exímio farejador de sucessos o PFL, em sua acidentada trajetória na campanha eleitoral em curso desde o ano passado, não perdeu, porém, o apuro do olfato. Majoritário, mas informalmente aliado a Ciro Gomes, o pefelê dá mostras de que não anda a captar aromas agradáveis no ar.

Tanto que, faz uns dez dias, ante a confirmação da queda do candidato da Frente Trabalhista por uma segunda rodada de pesquisas, o senador Jorge Bornhausen marcou para quatro dias depois do primeiro turno da eleição uma reunião para que os pefelistas decidam seu destino no segundo turno.

Abstraindo-se a deselegância para com Ciro Gomes - a quem o aliado já exclui do jogo por antecipação - o PFL está com tanta falta de sorte nesta campanha que é muito capaz de nem ter tempo para aderir ao vencedor, se a fatura for liquidada no primeiro turno.

Caso isso aconteça, terá sido apenas mais um de uma série de infortúnios que assola o outrora profissionalíssimo PFL. Primeiro foi a guerra de extermínio com o PMDB comandada por Antonio Carlos Magalhães e que tirou do PFL a presidência da Câmara.

Resultado, o tucano Aécio Neves elegeu-se para o cargo, os pemedebistas ocuparam a presidência do Senado (Jader Barbalho renunciou, mas o partido não perdeu o posto) e aos pefelistas restou apenas lugar na arquibancada.

Já desconfiado de que não fazia parte dos planos futuros do tucanato mais ligado a José Serra - naquela altura obviamente candidato, a despeito das manobras diversionistas do Planalto, que ora atendiam pelo nome de Pedro, ora pelo de Paulo, mas nunca pelo de Tasso , o partido tentou jogadas próprias. Todas impressionante e surpreendentemente equivocadas.

No fim do ano passado, influenciado pelos homens de marketing que hoje dão assessoria a José Serra, o presidente do PFL lançou a idéia de eleições primárias entre os partidos governistas. Cada um faria a sua, e o candidato que se saísse melhor teria o apoio dos outros.

Depois de algumas reações iniciais de apoio meramente formais, Bornhausen ficou falando sozinho e por vários motivos: nenhum partido queria perder a prerrogativa de decidir seu próprio destino (lembre-se o leitor que estamos falando de novembro do ano passado); Fernando Henrique e o PSDB não abriam mão da cabeça de chapa para os tucanos e era óbvio que a prévia, com a base parlamentar inteiramente conflagrada, só serviria para abrir ainda maiores e mais graves feridas.

Esvaziado o factóide, o partido resolveu valorizar o passe para entrar na disputa em situação pelo menos razoável. Montou-se a estratégia publicitária em torno de Roseana Sarney que, justiça seja feita, não estava disposta a enfrentar de fato a empreitada.

O inesperado sucesso de público, entretanto, transformou a tentativa em projeto efetivo de poder. Quando já estavam quase certos de que a sorte finalmente lhes dera uma chance de ouro na vida, os pefelistas viram a candidatura Roseana afundar-s e na imagem do dinheiro empilhado na empresa dela e do marido, Jorge Murad.

Poder-se-ia creditar o desastre a um golpe do destino, caso a própria candidata não tivesse contribuído para a derrocada com demora em se explicar e a apresentação de meia dúzia - em contabilidade otimista - de versões tão diferentes quanto inverossímeis sobre a origem do dinheiro.

À deriva por algumas semanas, eis que o partido - embora sem condições de unidade interna e aceitação externa para fazê-lo oficialmente - adere à candidatura de Ciro Gomes. Naquela altura, parecia que seria cumprido o vaticínio de Jorge Bornhausen, segundo o qual José Serra não chegaria a lugar algum, muito menos ao segundo turno, ''porque eleição não é vestibular, onde vence o mais preparado''.

Se ainda é cedo para apostar na passagem do candidato governista para a etapa final, parece tarde para que o PFL encontre uma saída razoavelmente honrosa que lhe permita mostrar ao eleitorado algo além do exercício da adesão pura e simples.

Considerando as divergências tanto com Lula quanto com Serra, em qualquer das duas hipóteses o que estará explicitado não será a vontade partidária, mas a escolha pautada pela falta de opção.

Intriga, pois, a razão que teria levado o PFL a embarcar em tantas canoas furadas em tão curto espaço de tempo. Os mais experientes creditam a inusitada coleção de equívocos ao fato de Jorge Bornhausen - no comando do processo - ser um político de temperamento frio, mas contundente.

Prussiano, por essa análise teria lhe faltado um certo jogo de cintura que pode também ser traduzido como ausência de senso de limite e oportunidade. Atributos que a natureza serviu em doses generosas a políticos prudentes e jeitosos como Marco Maciel, cuja ação eleitoral estava, no entanto, limitada exatamente pela natureza do cargo mais alto de que dispôs o PFL no governo Fernando Henrique: a Vice-Presidência da República.

Mas, como nada na vida é irremediável, não faltarão chances ao pefelê. Desde que consiga desvencilhar-se dos braços do equívoco.


Editorial

CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE

Vista pelos cidadãos, a polícia do Estado do Rio acaba de ser agraciada com o título de mais corrupta dentre as cinco figurantes da pesquisa feita pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Cada uma teve uma tônica que a distinguia das outras. O pecado da polícia de Minas Gerais é o abuso de autoridade, na de São Paulo são as infrações disciplinares e a mais violenta é a do Pará.

O levantamento estatístico das denúncias permitiu traçar o perfil das polícias Militar e Civil do Rio, de São Paulo, Minas Gerais, Pará e Rio Grande do Sul para a 1ª Conferência Internacional de Ouvidorias de Polícia. A desigualdade das práticas irregulares reflete situações sociais específicas de cada unidade da Federação. É um bom ponto de partida para orientar os governantes a corrigir com mão firme as deformações profissionais dessas polícias que assumem lugar de destaque nas preocupações crescentes da sociedade com a expansão do crime e da corrupção.

É singular a circunstância de que as ações da Polícia Civil são mais denunciadas do que as militares, mais relacionadas com a prática de violência. No Estado do Rio, a Polícia Civil ficou com 30% das denúncias de corrupção. A opinião pública sabia das variedades de corrupção mas não calculava que chegasse praticamente a um terço das irregularidades de rotina. A polícia passou a ser a maior suspeita de corrupção e de violência. Em São Paulo a taxa é de 20% e nos outros Estados pesquisados fica em 10%. Os números querem dizer alguma coisa: é preciso ouvir o que têm a oferecer ao debate.

A Polícia Militar do Rio mata mais do que a de São Paulo, embora a impressão subjetiva fosse inversa (a referência predominante era o episódio das 111 mortes, pelas costas do presos, no Carandiru).

A surpresa geral resulta do desconhecimento numérico que só agora a estatística revela, na ampla variedade de cada polícia. No Rio, a Polícia Militar, em cinco anos (1995-2001), contabiliza 3.895 mortes e ganha de São Paulo, que fica em segundo lugar, com 3.747 no mesmo período.

Mas, números à parte, o choque é moral: a polícia do Rio ganha em impunidade. Apenas 7% das denúncias encaminhadas pelas Ouvidorias às Corregedorias resultaram em alguma punição, enquanto no Rio Grande do Sul chegam a 19,8%.

Mais desanimador do que denúncias contra as polícias é saber que gira em torno de 90% a falta de andamento na apuração. Dão em nada. Mais: delegados de polícia e oficiais da PM são os mais beneficiados pela impunidade. Não é por acaso que no Rio o sentimento de insegurança leva 75,8% dos denunciantes a optarem pelo anonimato, enquanto em Minas 96,6% assumem a denúncia. É hora de pensar e rezar.


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09/18/2002


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