Lula, Serra e Garotinho sobem, e Ciro cai
Lula, Serra e Garotinho sobem, e Ciro cai
Em nova pesquisa Ibope, petista continua a 2 pontos de vencer no primeiro turno; cai número de indecisos e de votos em branco e nulos
Todos os candidatos à Presidência, à exceção de Ciro Gomes (PPS), apresentaram oscilação positiva nas intenções de votos, segundo a última pesquisa nacional do Ibope, divulgada ontem no Jornal Nacional, da Rede Globo. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou 2 pontos e chegou a 43%. José Serra (PSDB) oscilou 1 ponto para cima e tem 19%. Anthony Garotinho (PSB), pela quinta rodada consecutiva, ganhou 1 ponto e chegou a 16%, enquanto Ciro foi de 12% para 11%. José Maria de Almeida (PSTU) tem 1%.
Houve queda de votos em branco e nulos e de eleitores indecisos. Os votos nulos e em branco somam 3% (eram 4% na semana passada) enquanto 7% dos eleitores ainda não sabem em quem vão votar ou não responderam à pesquisa – o porcentual era de 10% na rodada anterior.
Apesar de ter subido 2 pontos porcentuais, Lula permanece com 48% dos votos válidos (soma de todos os votos menos os em branco e nulos). Para se eleger no primeiro turno, o candidato precisa atingir 50% dos votos válidos mais um voto.
O índice de votos válidos de Lula ficou inalterado porque seus concorrentes também subiram na pesquisa, aumentando a base para o cálculo de votos válidos (na semana passada, a proporção de Lula era calculada sobre 86 pontos, enquanto nesta rodada a base é de 90 pontos). Serra tem 21% dos votos válidos; Garotinho, 16%; e Ciro, 12%.
Como a margem de erro é de 1,8 ponto porcentual, para mais ou para menos, Garotinho está empatado tecnicamente com Serra em segundo lugar. Por outro lado, o ex-governador do Rio conseguiu desfazer a situação de empate técnico com Ciro no terceiro lugar, que se configurava no levantamento anterior.
Nas simulações para o segundo turno, Lula venceria todos os seus adversários. Se a disputa fosse com Serra, ele ganharia por 55% a 35%, mantendo o índice da semana passada. Com Garotinho, o candidato petista seria eleito por 54% a 35% (na semana passada a taxa era de 55% a 34%). Caso concorresse com Ciro, ele venceria por 57% a 31% (era 56% a 32%).
A pesquisa, encomendada pela Rede Globo, foi feita entre os dias 28 e 30 de setembro. Foram entrevistados 3 mil eleitores em 203 municípios de todo o País.
Confirmação – O resultado confirma a tendência de crescimento de Lula indicada pela última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado. De acordo com o Datafolha, Lula oscilou 1 ponto para cima e chegou a 41% das intenções de voto (49% dos votos válidos). Serra e Garotinho mantiveram-se estáveis: o tucano tem 19% e o ex-governador do Rio, 15%. Ciro caiu de 13% para 11%. Os votos em branco e nulos são 3% e os eleitores indecisos somam 5%.
Nas simulações para o segundo turno, Lula venceria Serra e Garotinho por 57% a 35%. Se disputasse com Ciro, o petista obteria 58% a 32%. A margem de erro do Datafolha é de 2 pontos porcentuais.
Para a analista de pesquisas eleitorais e consultora do Grupo Estado Fátima Pacheco Jordão, o quadro ainda pode ser modificado, principalmente por dois episódios marcados para amanhã: o debate entre os presidenciáveis na Rede Globo e o direito de resposta que o PT obteve ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no programa de Serra (ver reportagem na página 6). “O debate pode apresentar opções para uma grande parcela de eleitores que ainda busca uma alternativa ou para aqueles que já escolheram uma, mas ainda se mostram dispostos a mudar de opinião”, diz ela.
Fátima considera que a derrota do candidato tucano no TSE pode representar neutralização no seu último programa no horário eleitoral. “É um impacto muito grande perder 8 minutos no último dia de propaganda gratuita.”
FHC ataca oposição e diz que 'não basta ter milhões de votos'
Um dia após defesa veemente de Serra, ele alerta que confiança só se conquista no dia-a-dia
BRASÍLIA - A cinco dias das eleições, numa advertência a seu sucessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso alertou ontem que é um "equívoco" supor que os milhões de votos nas urnas e a simples vontade política serão suficientes para o eleito fazer o que quiser e resolver os problemas do País. Depois de ter defendido com veemência o candidato do governo, José Serra (PSDB), na última segunda-feira, Fernando Henrique voltou a criticar a oposição, enfatizando que a redução da taxa de juros não depende exclusivamente de uma decisão do governo.
Fernando Henrique disse, ainda, que um presidente não pode ter medo de se expor ou defender suas opiniões, devendo, sim, se contrapor à oposição e apontar o que acha certo e errado. "Não adianta termos milhões de votos. Eu tive tantos. Não adianta. Quem pensa que com isso resolve.
Ah, nos cem primeiros dias tem voto e faz o que quer. Não é verdade. É um equívoco. Os votos você tem no dia da eleição, no dia seguinte não tem mais nada", desabafou ele, em discurso na cerimônia de comemoração dos 38 anos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Instituto Rio Branco.
Para ele, "a legitimidade e a confiança se renovam no dia-a-dia" e têm de ser reconquistadas todos os dias.
Ao defender a continuidade das reformas, particularmente a tributária, Fernando Henrique não poupou críticas às promessas de campanha e rechaçou o "voluntarismo da oposição", que acredita, segundo ele, que tudo depende apenas da vontade política. "É tão bonito ver na televisão, tem tanta lógica, tanta bobagem. Basta baixar os juros que resolve tudo: aumenta a produção, barateia o produto, acabou a inflação. É lógico, só que está tudo errado. Como se fosse possível baixar os juros assim."
Segundo o presidente, os juros só poderão ser reduzidos "quando o governo não for mais ao mercado para pedir mais dinheiro emprestado". "O governo não tem como não ir ao mercado pedir dinheiro emprestado porque chegou ao máximo do que ele pode tributar", explicou. Entre os caminhos para resolver esse problema, na sua opinião, estão a reforma tributária e o fim do déficit da Previdência. "Só que ninguém fala disso, porque é antipático."
Reeleição - Fernando Henrique aproveitou ainda o discurso para rebater as críticas de que a reforma tributária não avançou por falta de empenho do governo, que estaria preocupado apenas com a aprovação da emenda que permitiu a sua reeleição. "Que coisa, que injustiça.
Eu tentei reforma o tempo todo. A reeleição o Brasil todo queria. Todos os editoriais dos jornais, todas as pesquisas de opinião pública, todo mundo era a favor da reeleição. Agora inventam que não houve reforma por causa disso. São análises superficiais."
Em uma crítica indireta ao PT e a economistas que não apostaram ou divergiram do Plano Real, Fernando Henrique lembrou que os que chamaram a proposta econômica de "estelionato eleitoral" são hoje "ardorosos defensores da estabilidade".
'Estátua' - Segundo Fernando Henrique, um presidente não pode se portar "como uma estátua", tem de expor, defender suas posições. E disparou: "Um presidente não deve ter papas na língua.
Não deve virar estátua." Esta foi mais uma crítica indireta ao candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, é criticado por seus adversários por ter adotado um discurso moderado, evitando declarações polêmicas.
O presidente afirmou ainda que o Estado não pode voltar a assumir mesmas posições do passado.
Para Fernando Henrique, o "determinismo histórico" pregado pela esquerda na década de 60 foi substituído pelo voluntarismo e pelo determinismo econômico, de que o mercado é capaz de definir todos os rumos da economia e da sociedade. "A ótica está errada. Ficam todo o tempo com a choradeira d e que o Estado mandava em tudo, de como era verde o meu vale, e de quando os empresários recebiam bilhões de recursos do BNDES para construírem suas empresas."
Serra diz que PT é cúmplice em invasões de terra
Ele cita governo gaúcho e acusa partido de atrasar salários e não dar verbas para área social
PELOTAS – Em campanha no Rio Grande do Sul, onde tenta pegar carona no crescimento do aliado Germano Rigotto (PMDB), o candidato a presidente José Serra (PSDB) usou ontem o governo de Olívio Dutra (PT) para fazer duros ataques ao partido de Luiz Inácio Lula da Silva. “O PT real, aqui, é cumplicidade com as invasões de terra, atraso de salários e não cumprir com exigências constitucionais da saúde e da educação no que se refere a orçamento. É isolar o Rio Grande do progresso e do desenvolvimento e tirá-lo do centro das decisões políticas.”
“Há dois PTs no Brasil: o da TV, paz e amor, bonzinho e ponderado, e o PT real, que tem aqui no Rio Grande do Sul”, disse. Os ataques de ontem ajudam também Rigotto, que surpreendeu os adversários na disputa pelo governo gaúcho e já ameaça Tarso Genro (PT) e Antônio Britto (PPS).
O tucano acusou o governador gaúcho, Olívio Dutra (PT), de não aplicar corretamente a verba de R$ 1 bilhão que, segundo ele, o governo federal repassa anualmente ao Estado. Citou como exemplo “investimentos de urgência e emergência”. “Houve atraso, ficaram com o dinheiro no caixa único, não gastaram.”
Para Serra, o PT está se especializando em “empurrar as responsabilidades” para outras esferas da administração pública. “Veja o que aconteceu no Rio. A governadora (Benedita da Silva) culpou o governo federal.”
Petrobrás – Serra comentou com muita ironia o reajuste de 9,7% para o óleo combustível da Petrobrás, às vésperas das eleições. “A Petrobrás faz reajustes muito oportunos, a três dias da eleição. Não tenho a menor dúvida disso”, afirmou. É o terceiro aumento dos últimos dez dias – no ano, o combustível já foi reajustado em 76%.
O candidato emendou: “Se a Petrobrás faz reajustes, é porque acha necessário. Isso mostra que não está nem aí para a eleição, o que é uma coisa positiva. Ou seja: a empresa não está interferindo no processo eleitoral a meu favor”. Questionado se os reajustes estariam beneficiando as candidaturas de oposição, Serra limitou-se a fazer gestos, como quem diz: “Não sei”.
Serra se irritou durante a entrevista e chegou a se retirar da mesa, dizendo que as perguntas se restringiam apenas ao “tititi” eleitoral. “Vocês não querem falar sobre o Rio Grande do Sul, querem saber o que fulano falou, o que o outro disse, que não sei que, não sei que lá.”
Seguiram-se então perguntas sobre seus planos para o Estado e ele retornou. Prometeu duplicar rodovias e melhorar aeroportos para facilitar as exportações e incentivos para que o Estado se torne um pólo produtor de componentes para a indústria de eletroeletrônicos.
Sobre as suas chances de garantir uma vaga no segundo turno, afirmou: “Claro que dá. O que você queria que eu dissesse? Que não dá para alterar?”
Pesquisas – O candidato passou o dia todo no Rio Grande do Sul, um dos Estados em que está mais bem colocado nas pesquisas. Acompanhado de Rigotto, Serra fez discurso para cerca de 300 pessoas que o esperavam para um almoço no Centro de Tradições Gaúchas de Pelotas.
Como chegaram com duas horas de atraso, o candidato e sua vice, a deputada Rita Camata (PMDB-ES), dispensaram o churrasco após os discursos e seguiram para as cidades de Rio Grande e Santa Maria.
Lula enfrentará 'exército', diz coordenador
Pimenta crê em engajamento total contra o petista em eventual 2.º turno
BRASÍLIA - Convencido de que o segundo turno da eleição presidencial vem aí, com um embate entre José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o coordenador político da campanha tucana, deputado Pimenta da Veiga (PSDB), já começou a montar o time de aliados que o adversário Lula terá que enfrentar.
Ele aposta na força de um 'exército livre' de pelo menos seis governadores tucanos e aliados que devem sair amplamente vitoriosos no primeiro turno, liberando-se da briga local para se dedicarem, com exclusividade, à eleição de Serra.
"Teremos vantagens objetivas muito grandes sobre o PT", adianta Pimenta, otimista. "Seremos seis contra dois", contabiliza o coordenador, referindo-se ao time de governadores que ainda será engrossado pelos senadores e deputados eleitos.
O PSDB conta com a vitória, já no domingo, de Aécio Neves, em Minas Gerais; Marconi Perillo, em Goiás; Cássio Cunha Lima, na Paraíba; e Lúcio Alcântara, no Ceará.
"Vê se não viaja para o exterior depois da eleição, porque eu vou precisar muito de você", recomendou Serra a Aécio Neves em sua passagem por Minas esta semana. "Fique tranqüilo que eu só vou sair uns três dias, aqui pertinho", respondeu o mineiro. Ao mesmo tempo, Pimenta articulava com o senador Lúcio Alcântara, hoje cirista do grupo de Tasso Jereissati.
"Temos nos falado freqüentemente por telefone, e posso afirmar que Lúcio se integrará à campanha a partir da próxima semana, depois de uns três dias de justo descanso", afirma Veiga.
Isto, além de Pernambuco, onde as pesquisas apontam reeleição folgada do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), e de Tocantins, onde o pefelista Marcelo Miranda tem larga vantagem sobre os adversários. As mesmas pesquisas só apontam vitória do PT em primeiro turno no Acre, com a reeleição do governador Jorge Viana, e em Mato Grosso do Sul, com José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT.
Além das vitórias nos estados, Pimenta contabiliza outra vantagens para seu candidato no segundo turno. Ele acredita que Lula iniciará o segundo round com "sabor de derrota" e aposta que os deputados de partidos aliados (PMDB, PPB, PFL e até mesmo do PSDB), hoje constrangidos em trabalhar abertamente para Serra diante do favoritismo de Lula junto ao eleitorado, finalmente entrarão na campanha. "Eles verão que é muito melhor ter um presidente aliado do que ser oposição", analisa Pimenta, pragmático.
'País tomará um susto quando abrir as urnas', diz Garotinho
Candidato do PSB garante que estará no 2.º turno contra Lula, a quem voltou a atacar
RECIFE - O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, disse ontem em Jaboatão dos Guararapes que o segundo turno das eleições será "a hora da verdade" entre ele, um candidato que representa a "oposição autêntica", e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o candidato "da oposição que se juntou com os poderosos".
"Esse é o Lulinhalei, o Lulinha de Sarney", afirmou, em um minicomício, em cima de uma caminhonete, frisando ser hoje, no Brasil, "o único candidato que não aceitou dinheiro de banqueiro e não sujou as mãos com político sujo". "O Lula se juntou com o (José) Sarney, o Ciro (Gomes) se juntou com o (Fernando) Collor e o Garotinho se juntou com o povo", disse.
Em Abreu e Lima, ele recebeu a adesão do prefeito Jerônimo Gadelha, do PDT, e discursou em cima de um trio elétrico na Avenida Brasil. Ali, ele ressaltou que sua campanha é a mais pobre e humilde que um candidato já fez, mas que cresce porque mesmo tendo "um partido pequeno, recurso pequeno e tempo pequeno na televisão, tem um Deus grande que vai levar à vitória".
Numa crítica ao programa eleitoral do tucano José Serra, ele disse que não é Chitãozinho e Xororó nem Elba Ramalho que vão arranjar emprego para a população. "Emprego se gera com juros baixos e crédito."
Multiplicação - Ele acrescentou que quem quer um salário mínimo de R$ 280 em maio de 2003 vota em Garotinho e quem quer o salário de R$ 211 vota em Serra. "Também vota em Serra o aposentado que quer ser chamad o de vagabundo, e em Garotinho quem quer receber o equivalente ao que contribuiu."
O presidenciável distribuiu autógrafos e pediu para que as pessoas multiplicassem o voto, fazendo campanha com a família e amigos. "No dia 6 o Brasil vai tomar um susto quando abrir as urnas", previu. "Não se vai saber de onde saiu tanto voto, o voto secreto, do povo humilde."
Garotinho desembarcou no Recife às 11 horas e pretendia cumprir uma agenda que incluía 10 compromissos - caminhadas, encontros com evangélicos, entrevista e shows gospel - até o fim da noite na capital, região metropolitana e zona da mata. Foi recebido e acompanhado pelo presidente nacional do PSB e candidato a deputado, Miguel Arraes.
Passada a virada do mês, dólar despenca 4%
Intervenção do BC e otimismo nos mercados internacionais impulsionaram a queda
O dólar voltou a cair ontem com força, fechando em baixa de 3,99%, cotado a R$ 3,61, num dia bastante positivo para o mercado brasileiro.
Passada a pressão do vencimento de US$ 1,25 bilhão de títulos cambiais e dos contratos futuros - liquidados ontem pela cotação média (ptax) da segunda-feira -, os investidores venderam parte dos dólares em carteira para embolsar os lucros recentes, um movimento estimulado pela atuação do Banco Central (BC) e pelo ótimo desempenho das bolsas internacionais. Nesse clima favorável, a Bolsa subiu 4,35% e o C-Bond, o título mais negociado da dívida externa, teve ganho de 4,06%, cotado a 51,25% do valor de face. A alta dos papéis da dívida derrubou o risco país em 7,68%, para 2.213 pontos.
O dólar chegou a operar em alta pela manhã, atingindo a máxima de R$ 3,79, mas a pressão sobre o câmbio durou pouco. Livre da influência do vencimento de títulos e contratos cambiais, o apetite dos bancos para comprar a moeda diminuiu muito, ainda mais num momento em que o dólar está num nível elevado, como afirmou o gerente de Câmbio da corretora Liquidez, Fabio Fender. Mesmo com a queda de 6,84% apurada pela moeda nesta semana, o câmbio acumula valorização de 55,87% no ano. Num cenário de menor procura pela moeda, a intervenção do BC, que teria vendido cerca de US$ 100 milhões, segundo operadores, acabou empurrando as cotações para baixo. "Como a demanda caiu bastante, as vendas do BC, mesmo que menos expressivas do que na segunda-feira, tiveram um impacto significativo sobre as cotações", disse o diretor de um banco estrangeiro.
Para o chefe de Derivativos do banco Lloyds TSB, Maurício Zanella, mais do que a atuação do BC, foi a decisão de alguns bancos de realizar lucros que explica a forte queda do dólar. Ele disse que, como o próximo vencimento de títulos cambiais vai ocorrer apenas no dia 17 - quando vencemUS$ 3,7 bilhões -, as instituições trataram de diminuir suas apostas no câmbio.
Zanella ressaltou ainda a influência do cenário externo, que desta vez colaborou para a queda das cotações. O Dow Jones fechou em alta de 4,57% e o Nasdaq, de 3,55%.
Além disso, alguns operadores disseram que o BC estaria apertando a fiscalização sobre o mercado, acompanhando mais de perto as operações no câmbio, para evitar eventuais movimentos especulativos.
E também circularam rumores sobre a pesquisa do Ibope, que seria divulgada à noite. Alguns dos boatos davam conta de que a distância entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB), o candidato preferido pelo mercado, teria diminuído um pouco, aumentando a possibilidade de realização do segundo turno, o que teria animado alguns investidores. No entanto, os rumores mais insistentes indicavam um cenário parecido com o apontado pelas últimas sondagens dos institutos Datafolha e pelo Vox Populi.
Para Fender, não se pode afirmar que o câmbio entrou numa tendência consistente de baixa. As incertezas no cenário político devem manter o dólar pressionado, ainda que as cotações não busquem o nível de R$ 4 no curto prazo.
C-Bond - Além da atuação no mercado de câmbio, alguns analistas notaram a presença do BC no mercado de títulos da dívida externa. A exemplo do que fizera na segunda-feira, a autoridade monetária teria comprado papéis brasileiros, aproveitando os preços baixos. O C-Bond, por exemplo, estava sendo negociado abaixo de 50% do valor de face.
Para o administrador de fundos de investimento no exterior da Sul América Investimentos, Luís Eduardo Pinho, a forte alta dos títulos da dívida deveu-se principalmente à melhora do cenário externo. Segundo ele, a notícia de que o Iraque aceitou a volta dos inspetores da ONU provocou uma disparada das bolsas internacionais, o que contribuiu para a valorização dos títulos da dívida.
Artigos
Bons votos
Frei Betto
No próximo domingo, 6 de outubro, mais de 115 milhões de eleitores irão às urnas eleger nossos novos governantes: presidente e vice-presidente da República; governador e vice-governador; dois senadores; deputados estadual e federal. Ao digitar a urna eletrônica, cada eleitor estará revestindo de mandato público oito pessoas votadas para servir à coletividade brasileira.
Entregará a poderosa máquina do serviço público não só aos eleitos, mas também ao partido que representam, aos interesses corporativos que defendem, às mãos de quem eles haverão de nomear para funções de governo. Serão homens e mulheres com o poder de realizar e legislar; tornar o Brasil mais soberano ou prolongar sua dependência do capital estrangeiro; conservar o País de joelhos ou altivo ante o FMI; tornar esta nação produtiva ou mantê-la como cassino de especuladores.
Passarão a viver por nossa conta, graças aos impostos que pagamos, todos os eleitos e mais o grande contingente que irá assessorá-los, com direito a gabinetes bem equipados, transportes terrestre e aéreo, pronto atendimento de saúde e o poder de verem todas as portas se abrirem sem que precisem exclamar: "Abracadabra!"
Não é qualquer candidato que merece o nosso voto. Não o merecem aqueles que, uma vez eleitos, vestirão a sua prepotência com a máscara da autoridade.
Pois não dão ouvidos à palavra de Jesus: "Os reis das nações têm poder sobre elas, e os que sobre elas exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas entre vocês não deverá ser assim.
Pelo contrário, o maior entre vocês seja como o mais novo; e quem governa seja como aquele que serve" (Lucas 22, 25-26).
Os que inflam o próprio ego com o poder ignoram que "ministro" vem do latim minor, "menor", e mister, "ofício", significando "aquele que faz o menor serviço" ou, no sentido evangélico, que presta serviço sobretudo aos pequenos, aos excluídos.
Não merecem também o nosso voto os cínicos; os que só se lembram dos pobres em época de eleição; os que se despem de sua coluna vertebral diante dos abastados e são incapazes de sequer cumprimentar o ascensorista, o office-boy, o motorista, o garçom, a moça do café, como se fossem robôs alheios aos desafios dessa maravilha chamada existência humana.
O voto deve ser negado aos corruptos e a quem se cala em conivência com eles, e aos políticos que multiplicaram "miraculosamente" seu patrimônio pessoal após ingressarem na vida pública.
Votar significa confiar - em quem encarna os programas que defende, dá prioridade às urgências sociais, se empenha na erradicação da miséria, investe na melhoria da saúde e da educação, combate o desemprego, cuida da segurança pública, evita o retorno da inflação e reduz as desigualdades entre as camadas da população.
Voto é consagração, como demonstramos nós, religiosos, que assumimos os compromissos de gratuidade no amor ao fazer voto de castidade, solidaridade na justiça ao fazer voto de pobreza e fidelidade comunitária ao fazer voto de obediência. Desejar votos de boas-festas a alguém é augurar-lhe felicidade. < BR>
Nos centros de romaria, há salas de ex-votos, objetos que os fiéis depositam em gratidão ao santo protetor. O prefixo latino ex não tem aqui o sentido de exclusão, mas de realce ou relevo, como em "exposição", pôr em destaque. Por causa do voto ou da confiança depositada na santa, a graça foi alcançada.
Em votações terminadas em empate há o voto de Minerva, a deusa da sabedoria, cujo equivalente grego batizou adequadamente uma cidade: Atenas. Na Odisséia, Homero realça-a como "a deusa de olhos pulcros". Clarividente, a filha de Júpiter escolhia o que melhor convinha, pois a beleza de seus olhos não tinha, para os gregos, esse sentido restrito de mera harmonia das formas. Era também um atributo subjetivo, de equilíbrio entre conteúdo e forma, como nas esculturas e nas linhas arquitetônicas de Fídias.
Devemos digitar os números da urna como se o nosso voto fosse o de Minerva, de modo a arrancar o Brasil do impasse e do atraso, convictos de que, no futuro, não seremos decepcionados por aqueles que escolhemos. Do contrário, não será o ônus de nossa frustração pessoal que terá importância, mas o risco de ver este país, tão abençoado por Deus, resvalar ainda mais para a indigência, comprometendo a nossa frágil democracia, como hoje acontece à maioria das nações da África.
Bons votos, Brasil!
Editorial
A INOPORTUNA SOBERBA DE LULA
Luiz Inácio Lula da Silva tem declarado que nunca esteve tão bem com a vida. Pudera. Tido como o próximo presidente do Brasil, embora se saiba que "o jogo só acaba quando termina", e promovido a estadista por alguns de seus novos adeptos - estadista honoris causa, naturalmente, porque a maestria na condução da coisa pública ainda não consta de seu currículo -, nada mais natural que o candidato se sinta em estado de graça.
Por isso mesmo, ele precisa cuidar, com urgência, do seu ego inflado. A soberba de suas recentes declarações
- reminiscente de um estilo que parecia abandonado, juntamente com velhas crenças, graças à "evolução da espécie" no seu dizer -, além de levantar dúvidas sobre a autenticidade de sua mutação, não poderia ser mais inoportuna, diante dos esforços de brasileiros e estrangeiros para assegurar aos investidores externos que o País não virá abaixo caso Lula seja eleito.
Credenciados por sua seriedade, o presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, o presidente do Citigroup International e ex-dirigente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Stanley Fischer, e ainda o jornal londrino Financial Times, em um mesmo dia, puseram-se a contrabalançar as expectativas dos mercados financeiros internacionais em relação a um eventual governo petista, impregnadas de desconfiança e medo. Essas expectativas derivam em boa medida do fato de que, diferentemente do que aconteceu no plano nacional, a maioria dos agentes econômicos de outros países não acompanhou a gradativa construção do "novo Lula" e o aparente aggiornamento do PT, conduzido por lideranças moderadas, que fizeram com que o êxito do candidato deixasse de ser visto aqui como causa para alarme.
A aversão ao risco brasileiro que acompanha, além-fronteiras, o favoritismo de Lula, precisava, de fato, ser combatida por vozes autorizadas a pregar o restabelecimento do equilíbrio e da lucidez em face do quadro brasileiro. Do contrário, como a proverbial profecia que se cumpre por si mesma, estariam criadas as condições objetivas para se concretizarem os mais sombrios prognósticos sobre o cumprimento, em um governo do PT, dos compromissos assumidos pelo País. Foi o que animou Roberto Setubal a dizer em Washington que "a comunidade empresarial brasileira está preparada para apoiar" Lula, que "não é movido pela ideologia". "Sua eleição não é uma rejeição ao que vem sendo feito." Fischer, de seu lado, lembrou que os petistas pedem que se olhe os orçamentos dos Estados e municípios que administram como prova de que não flertam com a inflação. O mesmo apelo ao bom senso está no editorial do Financial Times que adverte para os perigos de uma "reação exagerada" dos mercados à possível eleição de Lula.
Enquanto isso, o que faz o candidato? Em vez de aproveitar, em favor do País, a invejável circunstância de não ter do que se queixar, continuando no papel do "Lula, paz e amor", reverte à velha hostilidade, atacando em tom arrogante os mercados por desejarem que defina logo os nomes de sua equipe econômica - o que é imperativo que faça, imediatamente, se e quando for eleito. "Quem vai ser o presidente do Banco Central? Isso não interessa. É um problema meu", declarou Lula, em um surto de personalismo, durante um comício, esquecido de que o problema, antes de tudo, é do Brasil e interessa, por suas óbvias implicações, a toda a sociedade. Na semana passada ele já havia contribuído para a deterioração dos indicadores financeiros nacionais, ao eliminar, sumariamente, na entrevista ao Estado, a possibilidade de manter Armínio Fraga no BC, por um período de transição.
Agora, tenta justificar o erro com a alegação - simplória e injusta - de que o presidente do Banco Central "não está dando conta do recado".
Pelo visto, Lula esperava que Fraga derrubasse por um passe de mágica a cotação do dólar, que subiu 25% em setembro porque o rumo da sucessão é o mais importante fator singular que explica o comportamento dos mercados. Se o cenário mais plausível fosse o de vitória do tucano José Serra, essa disparada não teria ocorrido - e custa crer que o petista desconheça isso.
No mesmo comício do "não interessa", ele se comparou a Machado de Assis, que fundou a Academia Brasileira de Letras sem ter diploma universitário.
Conviria que Lula lembrasse que ainda não fez no plano político-administrativo o que Machado já tinha feito, à época da criação da Academia, no plano literário. E não será deixando que a sensação de bem-aventurança lhe suba à cabeça que o candidato mostrará aos céticos que ele, sim, pode dar conta do recado.
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10/02/2002
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