Mercadante: licença de Sarney depende de Lula, "em prol da aliança com o PMDB"



O líder do PT e do Bloco da Maioria no Senado, Aloízio Mercadante (SP), reafirmou, na tarde desta quinta-feira (2), a posição que o partido irá levar à noite ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com relação à crise na Casa: o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deve se licenciar do cargo, a fim de permitir uma ampla reforma administrativa encaminhada de forma suprapartidária. Mercadante, no entanto, disse que a manutenção dessa proposta dependerá da orientação de Lula, analisadas as conseqüências que tiver para a aliança com o PMDB e, por extensão, da "governabilidade".

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- É claro que o presidente influencia o partido e a minha combatividade está a serviço dele. E é claro que temos um compromisso com as conquistas deste governo, frutos de uma luta de 30 anos, e um compromisso com a governabilidade. Isso não significa submissão ou enquadramento do partido, mas não me peçam um ato ingênuo, espontâneo que coloquem em risco a governabilidade, que passa pelo PMDB e pelo papel do presidente Sarney - advertiu o líder do PT, em referência à necessidade do governo manter uma maioria no Senado, casa considerada por ele como "difícil".

Apesar dessas ponderações, Mercadante disse esperar o apoio de Lula à posição da bancada sobre a licença de Sarney, com quem Lula deve se reunir nesta sexta-feira (3). Se Sarney não for convencido da conveniência de se licenciar, o líder do PT disse que o partido não vai participar de nenhum enfrentamento, por considerar que isso poderia desestabilizar o Senado e as relações políticas do governo com o Congresso.

Com base nesse raciocínio, Mercadante defendeu a bancada das acusações de "covardia" que tem partido da imprensa, baseadas na interpretação de que os petistas não estariam sendo duros o suficiente com Sarney, nem realmente interessados no seu afastamento.

O líder do Bloco da Maioria procurou mostrar, por outro lado, ao PMDB, que a idéia não é dar um golpe no presidente.

- Não estamos pedindo a renúncia de Sarney, mas apenas um afastamento temporário, para distensionar a casa e resguardando a dignidade, o passado e a liderança do presidente - disse o senador, que relatou a pouca disposição de Sarney para com a receita levada a ele em duas ocasiões, nesta semana, pelo PT.

Em várias ocasiões durante sua fala, o senador paulista procurou mostrar como é delicada a situação vivida pelo PT, ao ter como objetivo a reestruturação do Senado e a garantia da aliança com o PMDB.

- É um equilíbrio complicado de se obter. Não sei como vamos sair disso - desabafou Mercadante.

Do DEM, o parlamentar petista cobrou que assuma suas responsabilidades com os erros cometidos, além de viabilizar uma solução que evite culpar apenas uma pessoa pelas irregularidades. Os democratas apoiaram a eleição de Sarney, em fevereiro, mas na última terça (30) retiraram seu apoio e pediram a licença do presidente.

- O DEM não pode desembarcar agora, romper com o presidente Sarney. Até porque como tem ocupado a 1ª Secretaria nos últimos anos, sua responsabilidade administrativa tem sido decisiva - afirmou o senador paulista. Ele excluiu de suas críticas o 1º Secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), que tem defendido Sarney em Plenário e colocado em prática algumas medidas moralizadoras.

Mercadante procurou também ressalvar que não é intenção do PT depor a atual Mesa Diretora, embora ache melhor que a reforma administrativa seja discutida em uma comissão especial. O caminho seria elaborar um projeto de lei de responsabilidade fiscal e administrativa para o Senado com metas de redução de despesas e aumento da eficiência.

Entre as saídas para o corte de despesas, o parlamentar voltou a mencionar a diminuição gradual de servidores; a transformação do serviço médico do Senado em um pronto-socorro; e a extinção do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), órgão de treinamento, e do Interlegis, órgão de integração com as assembléias legislativas estaduais e as câmaras de vereadores.

- Nós não temos direito a um serviço médico próprio quando há hospitais públicos que não tem nem maca - disse o líder petista, observando que os parlamentares e servidores já tem um plano de saúde com direito a consultas e outros procedimentos fora das instalações do Senado.

Mesmo reconhecendo que a atual Mesa tem reagido com medidas às pressões por mais transparência e moralidade administrativa, o líder do PT assinalou a importância de que o Senado passe a ser comandado de forma cooperativa pela Mesa e um colégio de líderes partidários, assim como já ocorreria na Câmara dos Deputados.

O discurso de Mercadante provocou uma série de apartes contra e a favor. Para o senador Tião Viana (PT-AC), que disputou com Sarney o cargo de presidente nas eleições para a mesa Diretora, em fevereiro, o líder "traduziu o sentimento da bancada", ao não responsabilizar Sarney ou qualquer outro parlamentar individualmente por uma crise que é estrutural.

- O governo luta pela governabilidade e nós somos responsáveis por ela juntamente com o PMDB - disse o parlamentar acreano.

Outro que reforçou a posição expressa por Mercadante em prol, ao mesmo tempo, da moralização do Senado e da governabilidade, foi o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ele recomendou ao jornalista Clovis Rossi que leia o discurso para refletir sobre as palavras que dirigiu ao PT em artigo publicado nesta quinta na Folha de S.Paulo: "indecente, pusilânime, vergonhoso".

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) ecoou os apelos do líder do seu partido por uma atitude pragmática em relação a Sarney, lembrando, assim como Tião Vi ana, que estão em jogo não só a estabilidade do governo, mas também as eleições de 2010.

- Quem governa, quem está no comando, tem os bônus e tem os ônus. Agora nós temos esse ônus - afirmou o senador sul-mato-grossense.

A senadora Marina Silva (PT-AC), por sua vez, pediu calma, explicando que uma crise dessa magnitude não se resolve de uma hora para outra. Ela considera a licença temporária uma providência saudável porque permitirá investigações, punições e mudanças administrativas, respeitando-se, porém, o mandato da atual Mesa Diretora.

Da Redação / Agência Senado



02/07/2009

Agência Senado


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