No jogo da sucessão
No jogo da sucessão
As cartas do jogo da sucessão presidencial, de três pretendentes ao Palácio do Planalto, estão sendo dadas por pernambucanos. O ex-ministro Gustavo Krause (PFL) integra o alto comando que dita a ideologia da pré-campanha da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). O deputado federal Eduardo Campos (PSB) operacionaliza o papel que o governador carioca Anthony Garotinho (PSB) deve cumprir na sucessão, determinado pela cartilha do ex-governador Miguel Arraes (PSB). E o senador Roberto Freire (PPS) ativa a oposição propositiva, vivida em áureos tempos da última campanha presidencial, que o ex-ministro Ciro Gomes (PPS) se diz portador.
Das entrelinhas dos discursos à engenharia das alianças, passando ainda por uma protocolar agenda de candidato, tudo tem o dedo de Eduardo Campos e Roberto Freire, nos passos dados pelos presidenciáveis Garotinho e Ciro Gomes, respectivamente. A participação de Krause no caminho percorrido pela pefelista Roseana Sarney é mais seletiva. O ex-ministro está no ‘cérebro’ da campanha. Revivendo os bons tempos de “Tupamaro”, que o converteram em autor intelectual de antipropagandas jamais vistas nos embates eleitorais. Agora, ele vale-se das “sofisticadas técnicas” exigidas pela democracia que já elevaram a candidata (sem pretensão?) do PFL ao segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. Ao jogo, então.
Freire quer oposição diferenciada do PT
Quando o ex-ministro Ciro Gomes (PPS) se fez dissidente no PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso, viu-se à deriva, sem guarita às suas idéias de “oposição propositiva”. O senador Roberto Freire já brigava para firmar o ex-partidão, vestido de Popular Socialista, como o outro pólo de combate ao Social Liberalismo. Em tempos que parecia que só o PT era contra o establishment.
Na condição de guardião de uma oposição que dialoga, Roberto Freire percebeu em Ciro Gomes o porta-voz para dar esse “novo” encaminhamento à oposição. E é hoje quem continua ditando a ideologia da campanha presidencial do ex-ministro do Governo Social-Democrata. Que agora luta para se firmar como o “contra o modelo posto”.
Sem arredar o pé do chão, Freire é frio no relato das limitações do projeto presidencial do PPS. A quase exclusão total dos espaços de mídia é o maior deles, segundo o senador. É desse mesmo recurso (ou melhor, da falta dele), que o senador se vale para explicar a definhada de Ciro Gomes nas pesquisas.
“Quem pensar que o embate está resolvido por causa de pesquisa, vai cair do cavalo. Existiu no segundo semestre do ano passado uma exposição de mídia de todos os pré-candidatos. Quem não apareceu? Eu sei que em 2002 nós vamos enfrentar o mesmo problema, de exposição excessiva dos adversários. Mas nós enfrentaremos essa realidade com outras armas”, anima-se.
A estratégia montada pelo senador é fazer o PPS “voltar a ser militante”. Reviver os tempos em que tudo era motivo de manifestação, para colocar o candidato Ciro Gomes em evidência. E o partido já começou. Na última quinta-feira, a executiva nacional do PPS se reuniu em Brasília e deflagrou o ingresso do partido no debate sobre a Segurança Pública.
O PPS prepara um programa para o setor que obedecerá, mais uma vez, a estratégia de se diferenciar da oposição do PT. Roberto Freire bate forte na defesa dos petistas em favor da prisão perpétua.
“O que é isso? Essa é uma linguagem conservadora, da direita. Não se pode se render ao senso comum do olho por olho, dente por dente. Vamos agora combater a barbárie? Isso não é para nós (da esquerda)”, alerta Freire.
Seguindo a estratégia de ativar o partido para expor o presidenciável Ciro Gomes, o senador articula organizar mobilizações em todos os dias 23 (o número do partido) de cada mês. E a agenda de viagens de Ciro Gomes não terá o roteiro que atende ao universo que se interessa pelas palestras do pré-candidato. “Vamos priorizar os lugares que queremos chegar com Ciro Gomes como presidente”, define Freire.
Campos e o PSB pensam no pós-eleição
O governador Anthony Garotinho (PSB) está seguindo, rigorosamente, as regras ditadas pelo ex-governador Miguel Arraes (PSB). Mas quem supervisiona e desdobra a cartilha arraesista para que Garotinho siga à risca o papel que o PSB deve desempenhar nesta sucessão presidencial é o deputado federal Eduardo Campos (PSB).
Os socialistas não estão exatamente disputando o Palácio do Planalto. Pelo menos não para o quadriênio 2003/2006. A estratégia é disputar o espaço político das esquerdas no pós-eleição.
O PSB sabe que esta é a última eleição sob as regras que aí estão. A Reforma Política será realidade inevitável depois do embate eleitoral de 2002. E muitos partidos (entre eles o PSB), se não se fortalecerem agora, podem estar dando o seu último suspiro.
Eduardo Campos percebeu – foi aí que investiu nas tentativas de dobrar a resistência de Arraes a Garotinho – que o governador carioca era o ideal para falar às “massas desorganizadas”. O feito do governador não o dispensou de assumir um termo de compromisso com as causas nacionalistas de Arraes. Mas quando o PSB abraçou a sua candidatura , antes resumida aos feudos evangélicos, a doutrina foi ditada pelos temas que fustigam a campanha. Tirados da cartilha de Eduardo Campos.
O deputado corre o País de braços dado com Garotinho. Intensifica os palanques estaduais e focaliza o discurso no que o governador carioca tem para mostrar à frente Rio de Janeiro (maior salário mínimo do Brasil, o Fundo de Pensão mais estruturado do País, políticas de empregos e por aí vai).
É também Eduardo, ao lado de nomes da nacional do PSB, que articulam as alianças (PL e PCdoB). A “isca” Garotinho também está servindo ao projeto de soerguimento do PSB no Estado. Mais uma ação de Eduardo Campos para, aliados a outros fatores, cimentar o seu projeto de disputar o Governo.
Krause gosta de fazer política sem mandato
“Saí em 99 do ministério, mas não deixei de fazer política. As pessoas pensam que só se faz política com mandato”. A confissão do ex-ministro Gustavo Krause escancara o trabalho silencioso que ele faz no PFL e que, agora, vem à tona com a disparada da governadora Roseana Sarney (PFL/MA) na corrida presidencial.
O “Tupamaro” radical de 32 anos, que não se continha na forma se o conteúdo atingido fosse a sua honra, é um dos que pensam, 24 horas, as concepções liberais. Quando o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), instituiu, em 94, uma comissão para elaborar um “novo PFL” (novos estatuto, programa, código de ética, logomarca, etc), e lançar o partido no século XXI – ou na sucessão de FHC – em uma posição hegemônica no cenário político, lá estava Krause no centro de tudo.
Os adversários de Roseana Sarney insistem em fustigá-la ao debate para conhecer o que a pefelista pensa para o Brasil. Pois o PFL já tem prontinho as diretrizes de um programa de Governo que servirá de subsídio para a discussão eleitoral. Só falta a hora certa à exposição. Elaborado por quem? Por Krause, sob a coordenação do economista Paulo Rabelo de Castro.
É como integrante do Instituto Tancredo Neves, fórum de reflexão do PFL, que Krause mantém o link institucional com o partido. Assim, foi convidado a fazer parte do alto comando que gravita em torno da pré-candidatura de Roseana Sarney. Ao lado de Bornhausen, Roberto Brant (ministro da Previdência Social), Cláudio Lembo (presidente do PFL paulista), o prefeito carioca César Maia, os jornalistas Mauro Sales e Antônio Martins e o publicitário Nizan Guanaes. A equipe – que pode crescer dependendo do que a cena política palpitar – faz avaliações estratégicas periódicas dos fatos pol íticos.
“Minha avaliação da candidatura Roseana é muito mais do que imaginam os nossos adversários e muito menos dos que os ufanistas do PFL querem acreditar. Evidente que um teste será feito nesses 120 dias. Mas não se trata de uma pré-candidatura flácida. Os sinais (pesquisas) de viabilidade eleitoral revelam isso”, avalia Krause.
Apesar do incontido entusiasmo pelo desempenho no PFL na sucessão presidencial, ele se confessa com uma visão “profundamente aliancista” do Poder no Brasil. A prudência do experiente pefelista rebate na missão que só ao PFL cabe: a de manter ou não o atual condomínio de partidos que sustenta o Governo.
Quando procurou o presidenciável José Serra (PSDB) e o presidente Fernando Henrique, na semana passada, Roseana Sarney revelou a preocupação do PFL com um eventual desmoronamento da base aliada, diante da aproximação do PSDB com os peemedebistas. FHC convergiu, em tese, para a necessidade de manutenção da base. “Mas só até quando der”, adiantou. O PFL entendeu o recado.
Nas pichações, a arma dos Tupamaros de Krause
De como um prefeito biônico, da chamada direita, arma um exército de seguidores para, com o uso de grafites e panfletos anônimos, combater a esquerda nos embates eleitorais
As idéias pelas armas.
Era a doutrina do movimento “Tupamaro” que se originou nas fileiras do Partido Socialista Uruguaio, liderado por Raul Sendis, antigo militante socialista. Entre os vários grupos de esquerda, surgidos durante a grande crise uruguaia (período compreendido entre 1955 e 1980), os “Tupamaros” se destacavam pela sua organicidade. Eram pessoas vindas do Partido Socialista, que decidiram aderir à proposta da luta armada.
Qualquer semelhança...
Recife, 1981. Em barracões, montados nas favelas da capital pernambucana, os “Tupamaros de Krause” se organizaram para instalar um processo revolucinário de inserção dentro do povo. Os recrutas do prefeito biônico tinham a missão de “fazer da prefeitura um órgão participativo”.
Eram pessoas de coragem – egressas de movimentos de esquerda, ungidos nos duros tempos da ditadura militar – que se comprometeram com a causa de Krause. Mas que também se alinhavam às causas do povo.
“Eu nunca acreditei no paraíso socialista, porque na minha visão idelógica as generosas propostas humanitárias sempre terminaram mal. Mas eu pratiquei muita coisa”, orgulha-se Gustavo Krause.
A deputada pefelista Teresa Duere foi uma das recrutadas por Krause. Tinha a garra daqueles que se emaranharam na luta pela Reforma Agrária, seguindo os mandamentos do arcebispo D. Helder Câmara. Alforriada pela Anistia, voltara ao Recife para continuar as suas idéias. Agora, por (outras) armas.
“Um dia Krause me ligou, convidando-me para trabalhar com ele na Prefeitura do Recife. Ele me disse: venha, estou recrutando os meus Tupamaros. E garantiu que teríamos uma cartilha própria e autonomia plena. Krause nunca nos exigiu uma posição política. Mas fazia questão de mostrar que os Tupamaros tinham ele como o único elo com a Prefeitura. Mesmo quando os inconseqüentes do grupo fugiam à sua coordenação”, conta Teresa.
Vieram os embates eleitorais, situados em um cenário de luta de natureza radicalmente ideologizada. Os “Tupamaros” fugiram ao controle de Gustavo Krause (talvez nem tanto: Krause só tinha 32 anos e uma honra maior que tudo), e ganharam as ruas.
Foi aí que ganhou forma a versão de que os “Tupamaros” eram os que concebiam os grafites difamatórios, que apimentavam os embates eleitorais da época.
As técnicas eram simples, mas criativas. A linguagem era a das novelas, a do jogo do bicho, a linguagem do povo. No meio da trama da falecida Janete Clair “Luana e Pricila” (as gêmeas de personalidades extremas), a novela-sensação do momento, veio a idéia de provocar o ex-aliado e então candidato ao Senado pelo lado adversário, Cid Sampaio. ”Tu és Luana ou Pricila?” foi a pichação. O modelo comportado do cabelo de outro adversário, Marcos Freire, inspirou o “Xô cabileira”.
“Não lembro de onde veio a expressão Tupamaro. Mas era assim que nós nos nomeávamos. O nosso trabalho era construir um discurso político com imagens que a população entenderia de cara”, revela a publicitária Marta Lima.
A versão do ex-governador: “o Exército de Brancaleone”
“Falar de Tupamaro, é falar de um Krause com 32 anos de idade. Os momentos políticos eram diferentes. Havia uma luta de natureza ideológica radicalizada e eu, simplesmente, não nasci para levar porrada. Fazíamos coisas inteligentes. Não nos calávamos diante de certas invectivas. De jeito nenhum. A dialética eleitoral, às vezes, leva a alguns exageros. E nas eleições se procura demonizar o adversário. Eu nunca recebi com passividade essa demonização. Quando assumi a Prefeitura (do Recife), fazia parte da minha assessoria, menos formal, uma série de pessoas egressas de movimentos “Trotskista”, “Operação Esperança” e ex-exilados do Chile. Era um pessoal talentoso e eu os chamei para trabalhar comigo porque precisava mobilizar comunidades. A direita não sabia fazer isso e eu tinha essa percepção. De vez em quando, eu recebia do SNI (Serviço Nacional de Informação) pedidos de informação sobre essas pessoas. E lá ia eu ter que dizer quem eram e avalizá-los. Nunca contei essa história publicamente porque nunca me interessou desmistificá-la. O problema é que relacionaram Tupamaro com uma porção de trogloditas. Um dia, chega um assessor meu e diz que o pessoal dos correios e telégrafos (onde funcionava a instância local do SNI) solicitava mais informações. Aí eu disse: ‘sabe de uma coisa, não responderei mais nenhuma correspondência sobre os meus Tupamaros’. Aí a turma, ‘ahhhhh!’ Todo mundo se achou nomeado de Tupamaro. Ou seja, pessoas que participavam do esforço de trazer as comunidades, de fazer atividades que eram coerente com seus pensamentos. E desenvolvidas por um prefeito biônico, considerado da direita. Para eles, era a glória da contradição. Eles mesmos se propagaram “os Tupamaros de Krause”. Meia dúzia de pessoas, o Exército de Brancaleone (clássica comédia do cinema italiano que retrata a baixa idade média, através do cavaleiro Brancaleone, que lidera um pequeno e esfarrapado Exército). Se mitificou a figura do Tupamaro porque existiam, no grupo, pessoas que pensavam em contraditar. Quando tentaram colocar, sobre nós, o escândalo da mandioca, a gente chamou o partido adversário de “Maria Escandalosa” (só se preocupa com os escândalos). Nunca deixei de assumir essas coisas. Agora, outro tipo de coisa não! Essa é a verdadeira história do Tupamaro. O resto é mitificação.”
Artigos
Visita ao Engenho Conceição
Francisco Bandeira de Mello
3/1956. É a primeira vez que viajo de trem por esta zona de usinas e me fascinam as surpresas e as descobertas. Paulo Monteiro diz que lhe apetece viajar ensimesmado, participando assim, mais intensamente, dos (i)limites da paisagem. Mergulhado nas suas meditações. Neste ponto nossos gostos coincidem: acho que não se deve conversar durante o percurso das viagens nem interromper nossos pensamentos - mais velozes, felizes, livres e fluentes nessas ocasiões. Encontrar amigos, e não somente quando viajamos, nem sempre é um prazer: há pessoas que às vezes gostam de estar só.
Aripibu. E Paulo Monteiro nos conta do seu amor quase proustiano a todos esses pedaços de usina. (- Aqui, neste velho carro, travei conhecimento com as minhas primeiras leituras; aqui neste desatrelado cabriolé...) E, na verdade, o carro está ali, bem triste, dentro da sua ferrugem velha, sentindo a plenitude da ausência. É uma angústia ver as coisas de nossa infância se desprendendo de nós. (Em Aripibu há um gato angorá: lindo, manco e v elho como a usina). É curioso e suave ver os olhos dessa pobre (e boa) gente do campo, respeitosos, amigos, pousados em nós. Não sei se eles são felizes, mas sei que são serenos, humildes, simples. E sei também que a vida mais simples, do homem mais simples do campo, é uma áspera e silenciosa epopéia magnífica.
Informam que o Engenho Conceição é um dos mais belos de Pernambuco. Portanto, do mundo. Mas tive um certo desapontamento ao vê-lo tão lindo, arrumado. Todo engenho pernambucano (digo preconceituosamente) deveria ser velho, desbotado, úmido. Úmido de tempo. Não, não é propriamente o engenho, que nunca perdeu a sua doce e rude beleza - o que me desaponta são os pinheiros: altos, eretos, artificiais. E, daqui de cima da montanha, o açude, fazendo pose, parece um verde postal. Fora disso porém, felizmente, tudo aqui está úmido, íntimo da terra molhada. (Vale a pena viajar de longe para ser recebido pelo modo cavalheiresco, amigo e espontâneo, como nós fomos recebidos. Invejo Paulo Nazareth por ele ter raízes fincadas nessa terra e nos braços, no sangue e na alma dessa gente). O engenho é mal-assombrado, de noite todos temos medo. De dia, narram-se casos de terríveis noites antigas. Prometo, bobamente, escrever uma poesia dedicada ao engenho; mas, de antemão percebo, não serei capaz: tudo aqui é belo, mas (para mim) intransponível. Pelo menos a falta de um constante contato com essa terra impede-me de a transpor para os terrenos aéreos da poesia. A terra nos exige um amor muito mais do que platônico.
Acho que também comi em excesso. Foi um dos maiores proveitos da minha viagem, o conhecimento de não sei quantos pratos regionais: mingau pitinga (”cuja receita, parece, se perdeu”/Gilberto Freyre), sequilhos, os peixes caritos etc, são fortemente evocadores: sugerem um ambiente de romance, de uma ficção que entra em nossa própria carne. Além de acepipes outros que eu já conhecia: pão-de-ló, pé-de-moleque, raivas, bolinhos e um legítimo licor de jenipapo. Que apenas recusei as legítimas tanajuras em flor.
Oscilo entre o fascínio do campo e a saudade. Mas sempre é um prazer imenso subir as montanhas e cavalgar, cavalgar. Embora eu esteja muito distante de ser um perito alpinista e um garboso e seguro cavaleiro. (Geraldo Guennes, que nos dizia não desejar sentir esses campos, subjugado pela força desconhecida dessas regiões, aprendeu enfim a amar essas antigas terras estendidas, negras e sadias). Mesmo quando nos sentamos nas antigas cadeiras da sala, conversando, sentimos em todos os poros o profundo perfume do lugar, da terra, dos bois e das almas penadas. E o aroma de alecrim do passado. Eu trouxe comigo “O Morto Debruçado” de Rodolfo Maria do Rangel Moreira, que, sem dúvida, é um poeta que penetrou e sentiu esses verdes arredores. Essas regiões misteriosas, verdes, molhadas. Pintadas alegremente por Cícero Dias.
Repito que de longe parece um verde postal, mas recusei tomar banho naquele açude lírico. Todo açude de engenhos e fazendas é traiçoeiro. Aquele, que parece um verde postal, ia afogando Geraldo Guennes. Enfim há chuva pelos campos e muitas flores pisadas pelos cascos dos cavalos. O horizonte em toda parte nos recebe. O dia amanhece e é hora de partir. O mesmo trem nos traz de volta à cidade. Aos poucos ele vai devolvendo a paisagem que nos fora tomando durante a ida. Fazemos as pazes, a contra-gosto, com a civilização urbana.
Colunistas
PINGA-FOGO - Inaldo Sampaio
O velho PMDB
É difícil mesmo de acreditar a que ponto chegou o PMDB, partido de tantas lutas desde os velhos tempos do MDB. Nem bem aberta a campanha presidencial, se vê empurrado para dar apoio à candidatura do tucano José Serra, sob a promessa de ocupar a vice na chapa. E o partido possui, ainda, três candidatos às prévias presidenciais previstas para o dia 17 de março: o senador Pedro Simon, o governador Itamar Franco e o ministro Raul, Jungmann. Prévias, por sinal, que muitos começam a acreditar que não serão realizadas.
Mas seus principais líderes, Michel Temer e Geddel Vieira, parecem desconhecer a existência dos pré-candidatos ou não se importam com suas candidaturas. Porque o partido continua a ter ministros e cargos no Governo Federal mesmo que se comporte, algumas vezes, como partido de oposição.
Em setembro do ano passado, o PMDB pareceu retornar aos velhos tempos quando se rebelou durante convenção contra o Governo FHC, mas acabou acalmando os ânimos e transferindo para a próxima convenção, em março, a decisão de ficar ou se afastar do Governo. Hoje, passados apenas quatro meses, a tendência já é outra e será bem diferente, por certo, caso José Serra (PSDB) não decole nas pesquisas.
Humberto justifca contrato com a ICI
O secretário e candidato do PT ao Governo do Estado, Humberto Costa (Saúde), justificou em bate-papo no chat do JC OnLine a contratação da empresa curitibana de informática ICI. “A principal questão é que o empresariado local (Recife) não tem uma proposta global. Tem partes de um projeto integral. É como se eu fosse comprar um carro que roda há seis anos, com eficiência, por um preço mais barato. E deixasse de comprá-lo para comprar outro que ainda vai ser fabricado.”
Queixas da base
Romário Dias recebe telefonemas de deputados da base governista desde que retornou das férias. Eles querem que o presidente da Assembléia vá a Jarbas Vasconelos registrar a insatisfação da bancada com alguns secretários, que insistem ainda em visitar ou anunciar obras no Interior sem a presença dos mais votados na área.
Agentes de Serra
Os tucanos receberão o presidente FHC e seu candidato José Serra no Centro de Convenções, amanhã, às 12h30, com muita formalidade para destacar o principal trabalho do Ministério da Saúde: os milhares de agentes de saúde. Será a segunda aparição pública de FHC ao lado de Serra já lançado candidato do PSDB.
Secretários vão a Paris participar de conferência
Tânia Bacelar (Planejamento) e João Costa (Orçamento Participativo) participam da Conferência Internacional sobre Desenvolvimento Territorial. Na mesa redonda Território e Democracia, com a ministra canadense Louise Harel.
Servidores também querem a devolução
Os funcionários inativos do Tribunal de Justiça ainda não receberam a devolução daqueles descontos devidos em favor do Ipsep, atual IRH. O secretário Jorge Jatobá (Fazenda) pediu vistas do decreto que o governador iria assinar.
Líder nos EUA
Teresa Duere, líder do Governo Jarbas na Assembléia Legislativa, viaja hoje para os Estados Unidos para participar como convidada do encontro da Rede Mundial de Mulheres Parlamentares. As conferências serão em Seattle e Washington. Duere retorna dia 7 de fevereiro, a tempo de brincar no Carnaval.
Jarbas retorna
Jarbas Vasconcelos reassume, amanhã, o Governo após merecidas férias nos EUA. E vai encontrar o Estado um pouquinho diferente: a polícia tem menos 32 policiais, todos afastados por má conduta; e a população pagando mais caro pela água da Compesa. Fora isso, a base governista continua insatisfeita.
Tem gente na Prefeitura do Recife que acredita que a executiva estadual do PT errou ao ir ao Ministério Público antes de pedir à Secretaria de Defesa Social proteção ao vereador Manoel Matos (PT), ameaçado de morte. Não deixam de criticar a SDS pela retaliação, mas dizem que teria sido mais estratégico.
A Secretaria de Defesa Social realiza amanhã reunião das mais importantes: planejar qual será o esquema policial para o Carnaval e evitar o aumento da violência com a chegada dos turistas. Em apenas duas ocasiões são canceladas férias e licenças de todo o efetivo policial militar: eleições e Carnaval.
Raul Jungmann está agradecido ao vice Marco Maciel por ter sido o único a elogiá-lo por ter abandonado reunião com o M ST no Pontal do Paranapanema após ter sido ofendido pelos sem-terra. Jungmann foi criticado por não ter se comportado como ministro ao viajar para dar solidariedade ao líder José Rainha.
O movimento ainda é pequeno, tímido até se comparado aos tempos de dom Hélder Câmara. Mas as antigas CEBs - Comunidades Eclesiais de Base estão retornando a Pernambuco, fazendo um trabalho na base e distante dos políticos. Pouco a pouco, a Igreja Católica tenta recuperar o rebanho que perdeu no Estado.
Editorial
CRIMINALIDADE INFANTIL
Como se não bastassem os criminosos adultos, crianças e adolescentes infratores seqüestraram recentemente um juiz classista e assassinaram um negociante que resistiu a um assalto, em Timbaúba, município da Mata Norte deste Estado. Mais de dez menores foram recolhidos a reformatórios e o efetivo da PM foi reforçado com cerca de 30 homens. Por que isso acontece, agora, mesmo numa cidade de porte médio, com antiga tradição literária e artística? Segundo a presidente do Conselho de Direito do Cidadão de Timbaúba, cerca de 200 crianças vagueiam pelas ruas, sem qualquer ocupação e sem freqüentar escolas. Muitos cometem transgressões diariamente, mas nem todos são autores de crimes que repercutem fora de suas fronteiras.
Aqueles fatos, que chamaram a atenção para os menores abandonados de Timbaúba, fazem parte de um contexto mais amplo, de abandono e deliqüência, que caracteriza principalmente algumas áreas metropolitanas do Brasil, entre elas o Grande Recife. O abandono infantil é quase sempre um subproduto direto do desemprego dos pais, mas tem suas raízes fincadas em fatores diferenciados, que incluem a perda dos valores éticos e religiosos, o que precipita o desajuste familiar, tornando as crianças de rua fonte de recrutamento de novos membros para quadrilhas de criminosos de todo o tipo.
A dirigente de um Conselho não-governamental daquela cidade fez a constatação de que os menores transgressores não agem por conta própria, “são manobrados por criminosos adultos, os verdadeiros marginais”. Geralmente, nos poucos casos em que a Polícia consegue fazer o flagrante do delito praticado, existem adultos se beneficiando do produto das rapinas feitas pelos bandos de transgressores infanto-juvenis. No entanto, nem todos os criminosos adultos que manobram esses menores participam diretamente das ações criminosas. Normalmente agem como receptadores dos roubos. São eles, também, que obtêm as armas de fogo encontradas nas mãos de crianças e adolescentes. Enfim, agem como planejadores de crimes, dos mais simples aos mais complexos, como o seqüestro de pessoas.
O uso de crianças e adolescentes por marginais é, certamente, estimulado pela legislação brasileira. Ninguém nega as boas intenções dos que conceberam o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal 8.069/90), mas muitos se perguntam se ela vem sendo aplicada sempre em favor do grupo para o qual foi aprovada. O que se constata é não somente a utilização de menores “protegidos” pela lei por grupos mafiosos, mas também um continuado entra-e-sai dos ocupantes dos “reformatórios”.
Orgulhamo-nos de que essa Lei é “uma das mais avançadas no mundo”, porque não restringe o controle da delinqüência infanto-juvenil à simples repressão penal, mas coloca nas mãos do Estado e da sociedade organizada “a responsabilidade de inserir a juventude abandonada no sistema de ensino e, posteriormente, no mercado de trabalho”. Na prática, como nem sempre isso acontece, serve de apoio ao crime. Os bandidos adultos que estão por trás da delinqüência infantil pouco se expõem, e assim raríssimas vezes são alcançados pelos agentes da Lei.
Um fato que vem intrigando todos aqueles que acompanham a criminalidade em nosso Estado é o do fornecimento, há décadas, de cola de sapateiros para os bandos de crianças que vagam pelas cidades da Região Metropolitana do Recife, assaltando os transeuntes, principalmente velhos e mulheres. Como geralmente os jovens sem lar não têm dinheiro para comprar a droga, eles a adquirem com o produto de seu roubo, de seu furto. Não é preciso fazer um curso de detetive para concluir que bastaria seguir essas crianças transviadas para se chegar aos fornecedores da cola. E por que isto não é feito? Tudo sugere que há uma intenção real de proteger esses criminosos adultos, que usam a infância abandonada como instrumento de seus crimes.
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01/27/2002
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