Nova invasão por sem-terra de ferrovia da Vale do Rio Doce provoca debate acirrado em Plenário
A invasão, nesta quarta-feira (7) da Estrada de Ferro Carajás, da Vale do Rio Doce, no Pará, por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi o tema de um acalorado debate no Plenário no começo da ordem do dia. Alguns senadores exigiram que o poder público tome as medidas necessárias para promover a desocupação, enquanto outros alertaram para o perigo de uma ação policial contra os invasores.
O assunto foi levado ao Plenário pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que descreveu a forma como se deu a ação. Segundo ele, os invasores, que estariam mascarados, mantiveram funcionários da empresa como reféns por meia hora. O senador leu trecho de liminar concedida pela Justiça Federal em outubro, quando a empresa foi alvo de ação semelhante. De acordo com o trecho lido, o governos federal e o governo estadual do Pará deveriam disponibilizar os efetivos policias necessários para promover a desocupação. Flexa Ribeiro afirmou que a ordem foi descumprida.
- Não há, por parte do governo, interesse em que se garanta o estado de direito - avaliou.
O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) apoiou a manifestação de Flexa Ribeiro e questionou se o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por conta de suas ações, poderia ser ainda considerado como um "movimento social". O parlamentar ainda criticou o governo por não reprimir a invasão de propriedades alheias.
- A democracia também prevê a repressão em defesa de si mesma. Está na hora de o governo dar um basta a essa molecagem - disse.
O senador Mário Couto (PSDB-PA) alertou para o fato de que a Vale do Rio Doce poderia encerrar suas atividades no Pará em razão das invasões que vem sofrendo - o que, segundo ele, poderia causar a falência do estado.
Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que a culpa pela violência do campo não deveria ser atribuída nem ao MST nem aos proprietários rurais, mas ao governo, por não impor sua autoridade e por ter feito "a instrumentalização partidária do MST".
Já o senador João Pedro (PT-AM) defendeu a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), e elogiou a forma como ela vem tratando a questão, segundo ele, "com firmeza e serenidade".
- Quero dizer ao Senado que não podemos compactuar comainvasão da Vale mas não podemos fazer uma apologia do que envergonhou o Brasil, que foi a polícia militar assassinando sem-terras - disse, referindo-se ao episódio ocorrido em 1996, quando 19 integrantes do MST morreram em confronto com policiais militares em Eldorado de Carajás, no Pará.
A intervenção de João Pedro provocou reações imediatas dos senadores do PSDB. O líder do partido, Arthur Virgílio, chegou a ameaçar obstruir as votações seguintes. Mário Couto disse que estava decepcionado com João Pedro desde quando ele apresentou voto em separado (que acabou prevalecendo sobre o voto do relator) na Comissão Parlamentar de Inquérito do Apagão Aéreo, excluindo os pedidos de indiciamento de alguns funcionários e ex-funcionários da Infraero. Flexa Ribeiro, por sua vez, disse que João Pedro havia sido leviano ao dizer que os senadores que criticaram a invasão estavam incitando a violência.
João Pedro justificou-se dizendo que Flexa Ribeiro havia responsabilizado a governadora Ana Júlia pelo protesto dos sem-terra e sugeriu que, em vez de discutir as culpas pela ação, todos os senadores procurassem mediar uma saída para reivindicações do MST, que, em sua opinião, são justas. Segundo ele, o movimento tem como principal reivindicação a realização de investimentos sociais na região.
O senador José Nery (PSOL-PA) defendeu os trabalhadores que invadiram a ferrovia, explicando que a invasão desta quarta-feira foi uma forma deles de protestar contra a ausência da Vale do Rio Doce nas negociações sobre seus pleitos.
- Muitos gostariam que a governadora colocasse a polícia como fizeram os governadores anteriores. Questão social deve ser tratada como questão social. Repudio qualquer manifestação que tenha por objetivo massacrar ainda mais quem vive na miséria e no abandono. É inaceitável que quem diz representante do povo venha aqui falar contra esse povo.07/11/2007
Agência Senado
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