Olívio Dutra diz que Ford não ficou no Estado porque não quis
Olívio Dutra diz que Ford não ficou no Estado porque não quis
O governador Olívio Dutra afirmou, no sábado, que a Ford teria ficado no Rio Grande do Sul se tivesse aceitado os termos propostos pelo governo gaúcho para a renegociação do contrato. Em período de campanha eleitoral, em que o tema é recorrente, Olívio lembrou que o lucro da multinacional de automóveis equivale a três vezes o orçamento do Estado. "A decisão foi da Ford, e é bom lembrar que nós estamos cobrando da empresa valores que ela ainda deve para o Estado", frisou.
Em entrevista coletiva no aeroporto Salgado Filho, antes do embarque para a Alemanha em missão governamental, o governador garantiu que o Estado cresceu acima da média do País. Ele adiantou que, na viagem, vai tratar de negócios envolvendo o desenvolvimento de projetos comuns na área de fontes alternativas de energia, a assinatura de um contrato de contribuição financeira, a fundo perdido, para a conservação da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul e a criação de uma universidade social internacional, envolvendo a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e a Fundação Rosa Luxemburgo.
Olívio também divulgará o próximo Fórum Social Mundial em Porto Alegre. "Hoje, a pauta de comércio do Estado com a Alemanha é ligeiramente favorável àquele país. Mas é o Rio Grande do Sul que tem aumentado mais a sua participação nas negociações com a Alemanha, ao contrário do resto do Brasil, que vem reduzindo estes índices", disse. Antes de viajar, Olívio passou o cargo para o vice-governador Miguel Rossetto. A comitiva volta à Capital na quinta-feira, dia 22.
Pesquisas indicam melhora de Lula e queda de Serra
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobe e José Serra (PSDB) cai, segundo as últimas pesquisas de intenção de votos. De acordo com o levantamento do Datafolha, Lula passa de 33% para 37%. Já Serra vai de 16% para 13%. Na sondagem do Vox Populi, Lula oscila de 34% para 35% e Serra, de 12% para 10%.
A grande diferença entre os dois institutos é em relação a Ciro Gomes (PPS). No Datafolha, ele passa de 28% para 27%, marcando uma diferença de 10 pontos em relação a Lula. No Vox Populi, Ciro sobe de 29% para 32% e aparece em empate técnico com Lula. "Os dois institutos registraram retratos diferentes" avalia Fátima Pacheco Jordão, especialista em pesquisas eleitorais. "Pela primeira vez nesta eleição temos choques de resultados."
Outra diferença importante entre as duas é o período da pesquisa anterior. A última sondagem do Datafolha tinha sido feita em 30 de julho, e a do Vox Populi, em 9 e 10 de agosto. "Talvez, nesse meio tempo do Datafolha, o Ciro pode até ter subido", arrisca Fátima. O ponto em comum das duas é a tendência de queda de Serra. "Ele ficou para trás, distanciando-se do segundo colocado", diz a especialista.
Anthony Garotinho se mantém com 9% no Vox Populi e passa de 11% para 12% no Datafolha. Os votos em branco e nulos somam 5% e indecisos e entrevistados que não responderam são 10%, segundo o Vox Populi.
No Datafolha, votos em branco e nulos correspondem a 4% e indecisos, 6%. Na simulação para o segundo turno, o Vox Populi indica um empate entre Lula e Ciro, com 44% dos votos. E a Datafolha aponta um empate em 45%.
Mulheres não ocupam seu espaço devido na política
Cortejadas na sucessão presidencial e maioria no eleitorado brasileiro, as mulheres ainda estão longe de ocupar o espaço que lhes é devido na política - previsto, pelo menos, em lei. Nenhum grande partido conseguiu cumprir a cota mínima de mulheres na disputa (30%) das eleições proporcionais. O número absoluto de candidatas cresceu 60% para a Câmara de Deputados, mas isso pouco refletiu na correlação de forças. Proporcionalmente, a participação das mulheres inscritas subiu de 10,37% em 1998 para 12% neste ano. Nas Assembléias Legislativas, o porcentual aumentou de 12,9% para 14,9%.
O número de candidatas ao governo cresceu menos de 1% e o de postulantes ao Senado caiu. Na última eleição para a Casa, quando havia apenas uma vaga em jogo, candidataram-se 23 mulheres. Neste ano, com duas cadeiras abertas, são 40 mulheres.
Representação gaúcha no Senado está muito disputada
Na entrevista especial de hoje, o Jornal do Comércio segue apresentando à população do Rio Grande do Sul os candidatos que postulam uma das duas vagas disputadas na eleição do próximo dia 6 de outubro.
Nesta edição, o deputado federal Paulo Paim (Frente Popular), o ex-vice-governador Vicente Bogo (União pelo Rio Grande), o ex-deputado estadual e federal Hugo Mardini (PPB) e Sérgio Zambiasi (Frente Trabalhista e indicado como segunda opção da coligação O Rio Grande em 1º Lugar) explicam porque desejam ser senadores, seus projetos prioritários e suas avaliações sobre o quadro eleitoral estadual e federal. Todos eles destacam a condição do senador ser um representante do Estado no Congresso Nacional, e deve ser um defensor do interesse coletivo do Rio Grande.
Paulo Paim PT
Paim quer repetir sucesso que teve na Câmara
Crédito: Cristiano Santana
Jornal do Comércio - Por que o senhor quer ser senador?
Paim
- Por 16 anos fui deputado federal. Participei da Constituinte, entre 1986 e 1988. Ao todo, cerca de 900 propostas foram por mim apresentadas, e inúmeras delas estão tramitando no Senado. Nesse período percebi que o peso político de um senador é muito maior que o do deputado. São 81 senadores e são 513 deputados. Mesmo com as dificuldades impostas pelo governo federal na votação de projetos com repercussão na área social, onde eu mais atuo, consegui aprovar uma lei que impede a discriminação por opção religiosa, cor da pele, etnia, raça, procedência ou origem, assim como de quatro estatutos - do idoso, do portador de necessidades especiais, da igualdade racial e de emprego e renda - que entendo fundamentais para o povo brasileiro.
JC - Quais as suas prioridades caso chegue ao Congresso?
Paim
- Quero dar continuidade ao debate em defesa da CLT, que eu fiz na Câmara, quando, por expedientes regimentais, joguei a discussão para 2003. É preciso rejeitar o projeto do governo que acaba com a CLT e os artigos da Constituição que dizem respeito à ordem social. Quero aprovar no Senado os estatutos que apresentei na Câmara, além de matérias para a geração de renda e emprego, políticas salariais e previdência. Lá, também vamos tratar da dívida do Estado. Mandamos para Brasília cerca de R$ 1 bilhão e 300 milhões todo o ano para pagá-la e, a exemplo do que fizeram os senadores mineiros, podemos revisar isso.
JC - Como o senhor vê o quadro político para a sucessão estadual?
Paim
- Vejo como positivo. Vai haver um debate polarizado entre o ex-governador e o nosso candidato, onde a vitória de Tarso Genro acabará se concretizando pelas realizações do governo Olívio Dutra, a exemplo do que foi feito em Porto Alegre. Tarso fará no Estado o que fez na Capital ampliando as conquistas dos primeiros mandatos do PT.
JC - Quais as perspectivas para o País após a eleição presidencial?
Paim
- O Lula está se consolidando e preparadíssimo para assumir a presidência. No seu governo vamos investir mais em exportação acabando com o atual paraíso da especulação financeira, onde os banqueiros nunca lucraram tanto em tão pouco tempo. Não deixaremos o Brasil se tornar outra Argentina, que seguiu na íntegra a orientação do FMI e do projeto neoliberal. Além de fortalecer o emprego e a distribuição de renda, vamos investir no Mercosul como um instrumento de debate com os outros blocos econômicos no mundo.
Vicente Bogo - PSDB
Legenda: Bogo sente-se preparado para o cargo
Crédito: Silvio Williams
JC - Por que o senhor quer ser se nador?
Bogo
- Para poder representar os interesses do Rio Grande no Congresso. Esta pergunta está associada diretamente às finalidades do Senado, porque o senador é o representante dos interesses do Estado na Federação, em Brasília. E porque me sinto preparado para desempenhar esta função, disposto a contribuir com a nossa sociedade.
JC - Quais as suas prioridades caso chegue ao Senado?
Bogo
- Embora seja uma eleição majoritária, é difícil que algum candidato possa fazer algum projeto típico de governador ou de presidente, de fazer isso e aquilo em oito anos. O senador tem esse papel de defesa do Estado e de, ordinariamente, ocupar-se do processo legislativo. A primeira parte do mandato deve estar atenta à fase que estamos vivendo, de inserção do Brasil no contexto internacional, com os acordos multilaterais, como é o caso da Alca. Irei auxiliar o Rio Grande a equacionar seus problemas junto à União, como as questões da dívida, dos tributos e do pacto federativo.
JC - Como o senhor vê o quadro político para a sucessão estadual?
Bogo
- Estamos vivendo uma polarização induzida que tende a modificar-se a partir dos debates de rádio e televisão a partir do dia 20. Penso que a participação do candidato Germano Rigotto deverá ter mais destaque, já que ele dispõe de um maior tempo no horário eleitoral. Também, porque representa a posição política de maior convergência da sociedade em torno de propósitos comuns do Estado. Isto significa dizer que não será uma candidatura anti outras candidaturas, mas de construção de uma nova via. O atual governo foi responsável por um arrocho salarial nunca antes conhecido.
JC - Quais as perspectivas para o País após a eleição presidencial?
Bogo
- O País tem evoluído aceleradamente, tanto no crescimento da sua economia, como no plano tecnológico. Há pouco, não sabíamos se tínhamos indústrias sucateadas ou modernas. Hoje temos indústrias modernas e uma incorporação tecnológica no setor primário, na produtividade agrícola e na pecuária. Não se pode negar esse avanço. Nossos problemas estão reservados à falta de maior participação do País no comércio mundial.
Hugo Mardini - PPB
Legenda: Mardini quer estimular criação de empregados
Crédito: Silvio Williams
JC - Por que o senhor quer ser senador?
Mardini
- O Rio Grande do Sul, sem críticas aos atuais senadores, não tem sentido a presença política e constitucional daqueles que exercem esse papel em nome do Estado. Sou candidato porque o Rio Grande do Sul precisa de representantes que trabalhem vinculados às grandes questões locais. Ninguém viu os atuais senadores presentes a qualquer um dos grandes movimentos do Rio Grande, como a discussão sobre a renegociação da dívida do Estado, ou nas reuniões feitas pelos produtores rurais, pedindo um tratamento mais correto do campo, e muito menos, nos movimentos de protesto contra as invasões do MST.
JC - Quais as suas prioridades caso chegue ao Congresso?
Mardini
- Irei priorizar uma ação junto à União exigindo que o Estado tenha condições financeiras para executar programas de estímulo ao emprego e que viabilizem o combate à violência e à criminalidade. O Senado também deve agir em defesa da saúde pública dos brasileiros. O segurado, na fila, é tratado como mendigo, marginalizado, quando na verdade ele recolhe mensalmente, de parte do seu salário, a contribuição para a seguridade social. Desejo ter uma ação política, que combata as barbaridades e mentiras, que ocorrem atualmente no Estado. O Rio Grande está infectado pela ação política do PT, com a semente do ódio e da violência.
JC - Como o senhor vê o quadro político para a sucessão estadual?
Mardini
- A questão local é muito clara. O Celso Bernardi é um candidato que está preparado. É qualificado, competente, estudou, tem passado limpo, não tem rabo, e não há acusações contra a sua moralidade pessoal. Foi deputado, secretário de governo e tem mobilizado o PPB em torno de uma candidatura que tem raízes no interior. Nosso partido é ligado à propriedade, à terra e à agricultura. Ele tem condições de vitória porque temos um contingente eleitoral e uma base muito forte. Acho que o resultado da eleição vai surpreender os rio-grandenses.
JC - Quais as perspectivas para o País após a eleição presidencial?
Mardini
- O País não pode permitir que o candidato da Frente Popular, sem nenhuma restrição pessoal ao senhor Lula, chegue à presidência. É um homem despreparado, que não estudou. É mentira quando eles dizem que ele está preparado. Está preparado para quê? Tem sido apenas um bom aluno do marqueteiro Duda Mendonça. Agora ele anda com ternos bem cortados, que custam dois mil reais e fuma charuto cubano, mas isso não lhe dá condições para administrar um País com 170 milhões de habitantes e R$ 800 bilhões de PIB. Ele nunca administrou nada, nem uma carrocinha de cachorro-quente. Temos que eleger para a Presidência da República Ciro Gomes ou José Serra. Eu, pessoalmente, tenho mais simpatia pelo senhor Ciro Gomes.
Sérgio Zambiasi - PTB
Legenda: Zambiasi quer adquirir mais experiência
Crédito: Silvio Williams
Por que o senhor quer ser senador?
Zambiasi
- A conquista da vaga ao Senado significa uma oportunidade de ampliar minha experiência política, agregando isso a um trabalho em prol do Rio Grande do Sul. Sou bairrista, gaúcho até a medula, e acho que um senador pode promover ações e acompanhar todas as grandes mobilizações do Estado em Brasília, como a tentativa de renegociação da dívida que é de alto interesse do Estado, sem abandonar as mais importantes causas sociais.
JC - Quais as suas prioridades caso chegue ao Congresso?
Zambiasi
- O meu gabinete no Senado Federal funcionará como uma extensão do Executivo. Será uma representação do governo do Estado em Brasília. É para isso que existem apenas três senadores e 31 deputados federais.
- Como o senhor vê o quadro político para a sucessão estadual?
Zambiasi
- Toda eleição tem suas complexidades. Esta não é diferente. A desistência do vereador José Fortunati (PDT) é um fato que deve ser levado em conta diante de sua relevância política. O apoio que os pedetistas oferecem a Antônio Britto (PPS) pode ser decisivo no resultado final dessas eleições, como ocorreu em 1998, quando o PDT apoiou o PT.
JC - Quais as perspectivas para o País após a eleição presidencial?
Zambiasi
- Somente agora a campanha nacional está ganhando fôlego efetivo, com a identificação dos três principais candidatos e com Ciro Gomes ganhando base muito sólida. Portanto, acreditamos que ele será o diferencial da campanha. A candidatura do governo não está conseguindo decolar e Lula está em um patamar limite. Por isso, quem pode continuar crescendo é Ciro.
Especialistas debatem efeitos da Alca
As negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) não estão favorecendo a América Latina, somente os Estados Unidos. Esta é a conclusão do debate realizado por economistas, juristas e parlamentares em audiência pública na sexta-feira.
Segundo o economista João Batista da Costa, da Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro, os Estados Unidos não aceitam abrir o mercado para os produtos em que o Brasil é competitivo. "Desta maneira, continuaremos com problemas para vender nossos calçados, suco de laranja, soja e cana-de-açúcar", destaca.
Para ele, é importante que a idéia de interdependência entre os países, e não a de dominação, paute as negociações. "Do jeito que está indo, a Alca terá um parceiro líder e 33 parceiros caudatários", critica o economista.
Costa cita um estudo desenvolvido pela embaixada brasileira em Wa shington que estima em 45% a média das tarifas pagas pelos produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos. "Por outro lado, as mercadorias que eles vendem entram aqui com taxa média de 15%", salienta.
Para driblar o problema, o economista defende o fortalecimento do Mercosul como prioridade. "Será bem mais fácil impor condições negociando em bloco do que cada país tratando individualmente", relata.
Ele acredita que a atual instabilidade econômica dos participantes não é empecilho para aprofundar as
relações entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e sugere, ainda, que se inclua Chile e Bolívia no bloco.
"Existem várias medidas que devem ser colocadas em prática o mais rápido possível, como a criação da moeda única, do banco do Mercosul e do parlamento comum", argumenta.
No âmbito jurídico, as negociações da Alca também tendem a beneficiar os Estados Unidos em detrimento do resto do continente. João Luiz Pinaud, jurista do Centro de Estudos da Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, acha que o mercado comum é uma forma de desconstitucionalizar os países. "Qualquer empresa que se sentir lesada pela concorrência poderá obrigar o governo do país concorrente a pagar uma indenização pelas supostas perdas. Em outras palavras, as constituições nacionais são substituídas pela lei de mercado", afirma.
Na visão de Pinaud, a Alca desarticula os serviços públicos, acaba com o papel do Estado e transforma todo o continente em território norte-americano. "Os efeitos jurídicos são terríveis, pois a proposta deste mercado jamais coincidirá com uma proposta de desenvolvimento social da América Latina", explica.
O fato de todos os países atenderem às mesmas leis, segundo Pinaud, é extremamente prejudicial para os mais pobres. "Os interesses prioritários, defendidos em qualquer ação judicial, sempre serão os do capital", observa o jurista.
Na opinião dele, os propositores da Alca são os mesmos que têm lesado os países subdesenvolvidos ao longo das últimas décadas. "Nosso endividamento externo é uma expoliação", revolta-se Painaud. Ele lembra que a convenção de Bretton Woods, que determinou, em 1944, a criação do Fundo Monetário Nacional (FMI), pregava justamente o contrário do que ocorre hoje. "As instituições internacionais de financiamento foram idealizadas para impedir que alguns países tirem vantagem de outros, mas isso nunca se concretizou", diz.
A previsão é de que a Alca entre em vigor em 2005, mas os especialistas duvidam do cumprimento deste prazo. Isso porque, segundo eles, existem muitos problemas pendentes, e as negociações estão transcorrendo lentamente. Em caso de constatação de que o mercado comum será ruim para o Brasil, eles defendem a rejeição do País à adesão. "No entanto, é preciso dizer um `não' convicto, para depois não voltar atrás e aceitar condições ainda piores", afirma Costa.
FHC abre contas da União para candidatos
Numa rodada de encontros inédita na história do País, o presidente Fernando Henrique Cardoso abrirá hoje parte das contas do governo aos quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto para mostrar as dificuldades da economia e as razões que levaram o governo a assinar um novo acordo com o FMI. O presidente pretende ainda obter dos candidatos uma posição clara sobre o que considera os fundamentos da economia: a estabilidade da moeda, o respeito aos contratos e a manutenção de superávits no orçamento para garantir o pagamento da dívida pública.
"É compreensível e aceitável que se queira mudar a política econômica, mas não se pode atacar os pilares da estabilidade", disse o ministro chefe da Casa Civil, Pedro Parente. "Se alguém for contra esses fundamentos, que assuma sua posição perante a sociedade." Segundo Parente, Fernando Henrique também estará aberto a discutir com os candidatos uma agenda de medidas para ser submetida ao Congresso ainda neste ano, incluindo uma minirreforma tributária e projetos para recuperar a receita de impostos no ano que vem, quando se prevê queda de arrecadação de mais de R$ 10 bilhões.
De acordo com outro assessor presidencial, Fernando Henrique também anunciará aos candidatos os nomes de quem vai compor a equipe de transição de governo. Essa equipe trabalhará em sintonia com o futuro presidente, independentemente de quem for escolhido.
O ponto de partida das conversas será uma avaliação da situação econômica mundial, de seus reflexos no Brasil e da necessidade de referendar o acordo com o FMI para acalmar a instabilidade do mercado financeiro. Detalhes do acordo serão submetidos aos candidatos, para evitar que eles continuem alegando desconhecer seus termos. Na visão do presidente, independentemente de suas propostas políticas, os candidatos precisam assumir as responsabilidades que têm com o futuro do País.
Acompanhado dos ministros da Fazenda, Pedro Malan, e da Secretaria-Geral da Presidência, Euclydes Scalco, Fernando Henrique começa a série de reuniões às 12 horas, quando receberá o candidato do PPS, Ciro Gomes. É o encontro apontado como o mais tenso da rodada, pois Ciro é o que tem desferido mais ataques ao atual governo. Em seguida, às 13 horas, a conversa será com o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Às 14 horas, será a vez do candidato do PSB, Anthony Garotinho. Por último, às 15 horas, o presidente conversará com o candidato do PSDB, José Serra. Após cada encontro, os candidatos darão entrevistas. Fernando Henrique falará somente depois de terminadas todas as reuniões.
Como os encontros serão realizados a portas fechadas, houve a preocupação de evitar que os candidatos dessem versões diferentes das conversas que vão ter com o presidente. Daí a tática de autorizar cada um deles de levar dois assessores.
Da parte do governo, as "testemunhas" serão os ministros Malan e Scalco. Na sala de espera do gabinete do presidente estarão Pedro Parente, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e o líder do governo na Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP).
Assessorias descartam confronto direto
As assessorias dos candidatos asseguram que não haverá nenhum tipo de confronto no encontro com o presidente. Mudando o discurso que vinha fazendo até há pouco tempo, Ciro Gomes afirma que vai "mais para ouvir do que falar". "Vou sem reserva, não vou levar nada, mas direi ao presidente que sou um crítico do modelo econômico que gerou 11,7 milhões de desempregados no País", antecipou o candidato, que estará acompanhado dos consultores Roberto Mangabeira Unger e Mauro Benevides Filho.
O candidato petista proporá "ações firmes" para estimular o crédito para a exportação. Lula já deu seu apoio à proposta de aprovar uma minirreforma tributária e medidas para recuperar a receita de impostos no ano que vem, o primeiro do mandato do novo presidente. As perdas ocorrerão com o fim das alíquota extraordinárias de 27,5% do IR e de 3% da Contribuição sobre Lucro das Empresas. "Vou levar uma proposta e deixar tudo escrito, registrado", afirmou Lula. O presidente do PT, deputado José Dirceu, acompanhará Lula.
Anthony Garotinho pretende levar um documento no qual aponta os motivos de sua discordância em relação ao acordo com o FMI. "Queremos uma negociação que nos dê mais elasticidade, não essa camisa-de-força", disse ele, que estará acompanhado pelo seu candidato a vice, José Antônio Almeida, e do assessor econômico, Tito Ryff.
A conversa com Serra deverá ser a mais descontraída. Além de ser amigo do presidente, ele estará acompanhado de dois aliados do governo, representantes da coligação que o apóia: os presidentes do PSDB, José Aníbal, e do PMDB, Michel Temer. Serra discutirá a proposta de criar 8 milhões de empregos, além de insistir na necessidade do governo continuar atuando para reabrir linhas de crédito para a exportação.
Artigos
Os condutores do caminho
Tibério Bassi de Melo
Vários ônibus saíam todos os dias daquela cidade rumo a um único destino, à cidade de "utopia". Nesta cidade, as pessoas eram felizes, não havia desigualdades sociais, todos tinham acesso a boa saúde, educação e alimentação em abundância, e usavam seu grande tempo livre para fazer viagens, se dedicar aos filhos e ao lazer. Nela, ao contrário das cidades que conhecemos, as pessoas se preocupavam em viver com qualidade de vida, não com aquele conceito materialista e consumista, mas com uma vida emocionalmente equilibrada e em harmonia com a natureza. Nesta cidade tudo era perfeito, as leis eram respeitadas sem a necessidade de qualquer Poder Judiciário. Era o lugar que os católicos chamam de paraíso e os budistas de estado "zen" do espírito.
Entretanto, para chegar em "utopia" as pessoas teriam que pegar um dos ônibus que saíam de sua cidade, onde cada condutor traçava seu caminho próprio até chegar ao destino. E, nesta disputa pelos passageiros, cada condutor afirmava que seu ônibus e seu caminho eram os melhores, que ele era mais experiente, que chegava mais rápido, sem paradas e problemas durante o trajeto.
Um dos condutores dizia que era melhor porque seu ônibus era importado, pois sua empresa era controlada por uma grande transportadora multinacional, que lhe dizia como conduzir corretamente seus passageiros, muito embora já houvessem exemplos mal sucedidos de outros condutores da mesma empresa que sucumbiram no caminho por terem seguido, corretamente, tais ordens. Mas, de qualquer forma era a empresa que tinha a mídia de seu lado, que alardeava aos quatro ventos, juntamente com o condutor, que seu transporte era o único caminho seguro à "utopia" e, por isso, vinha vencendo as últimas concorrências, tendo sempre a maioria dos passageiros. Porém, mesmo com toda essa estrutura, esta empresa estava sempre se endividando, e por mais que viesse vendendo seus bens ficava cada vez mais endividada, tendo deixado cair, consideravelmente, a qualidade no transporte de seus passageiros. Além disso, esta empresa aceitava, omissa, a corrupção de seus funcionários e tinha como norma a divisão de classes dentro do ônibus, uns tendo serviço de bordo em abundância e, outros, a grande maioria, sendo muito mal tratados, e mesmo assim, não tendo direito de reclamar do condutor e da viagem, sendo que era muito difícil não sucumbir durante o caminho à "utopia" e chegar lá somente a classe bem tratada.
Uma outra empresa, por outro lado, de capital 100% nacional, afirmava que conduzira seus passageiros à "utopia" com suas próprias condições, agindo de forma independente, atenta às necessidades de seus passageiros e não conduzida pelas orientações de grandes multinacionais, como fazia a outra empresa, buscando um caminho alternativo dos traçados por tais empresas multinacionais, dizendo que sua empresa era administrada com austeridade, que valorizava os bens que possuía e que não iria vendê-los para arriscar a piorar ainda mais as condições de viagem dos passageiros, como fez a empresa líder até o momento. E, para isso, durante o caminho ouviria a opinião dos passageiros, de como estava sendo conduzida a viagem, comprometendo-se em tratar igualmente todos os passageiros, sem qualquer distinção. Porém, esta empresa não estava ligada a nenhuma empresa de mídia, fazia sua propaganda no velho sistema de boca a boca e, às vezes, perdia as concorrências tendo em vista a manipulação da opinião pública, que em sua totalidade queria ir à "utopia", mas em sua maioria era desinformada e deseducada, pelas próprias condições criadas pelos administradores de sua cidade, pessoas egoístas e manipuladoras, que assim, não tinham condições de avaliar, corretamente, qual era a melhor empresa. Mesmo assim, ela se mantém lá, trabalhando incansável para ganhar a concorrência e mudar, de uma vez por todas, as barbaridades que ocorrem na outra empresa, conduzindo todas as pessoas daquela cidade à "utopia".
Colunistas
ADÃO OLIVEIRA
O presidente e os presidenciáveis
Hoje vai ser um dia muito importante no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele receberá, em separado, a partir do meio-dia, no Palácio do Planalto, os quatro candidatos à sua sucessão: Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, José Serra, e Anthony Garotinho.
Fernando Henrique, hoje, não vai almoçar. Ele pretende estar bem disposto, ágil, atento, na conversa com os quatro pretendentes à presidência da República. Na história da República, uma conversa como esta, jamais havia sido realizada. Jamais um presidente da República, escolheu um dia, para convidar os candidatos à sua sucessão, para um diálogo. E, a partir daí, firmar um pacto.
A idéia de um pacto saiu do fascínio que tem pelo Pacto de La Moncloa que foi asssinado em 1978, na Espanha, sob a liderança de Adolfo Suarez, e levou esse nome porque foi firmado no Palácio de La Moncloa, residência oficial do primeiro-ministro Espanhol.
Com o Pacto de La Moncloa, em pouco tempo a Espanha realizou a estabilização da moeda, a reforma fiscal, a distribuição negociada do ônus do ajuste, a modernidade do parque produtivo. Promoveu uma inserção mais franca e competitiva na economia internacional, tendo como âncora o acesso ao que então se denominava a Comunidade Econômica Européia.
O efeito do Pacto de La Moncloa é que levou o presidente a convocar esse encontro com os quatro aspirantes ao Palácio do Planalto. Durante a conversa com cada um deles, o presidente terá a certeza de que passará informações ao seu sucessor.
Um, entre eles, será o futuro presidente do Brasil.
Este, como os outros, receberá informações privilegiadas que poderão contribuir para a montagem do plano de governo e suas decisões futuras.
Fernando Henrique informará aos quatro, não só os detalhes do acordo com o Fundo Monetário Internacional, como dados sobre receitas e despesas da União. O presidente, no entanto, terá o cuidado de não passar informações que possam favorecer política ou financeiramente, nenhum dos candidatos.
Ainda assim, vai haver um pacto de cavalheiros. Quem ganhar a eleição vai se valer das informações privilegiadas apenas para administrar o país. Quem perder deverá ficar de boca fechada. Em voto de silêncio.
Mas um detalhe vai reger o encontro de hoje: a auto-estima dos candidatos. Embalados pelo últimos resultados da pesquisa Datafolha, Lula se manterá mais seguro, perante o presidente, Ciro, ostentará a sua tradicional firmeza, que se confunde com arrogância, Garotinho, se manterá folclórico e Serra, depressivo.
Como, aliás, tem andado ultimamente.
Mas, nada além disso ocorrerá, durante a conversa. Pelo que foi acordado, apesar das diferenças ideológicas, o encontro do Palácio do Planalto, vai acontecer na mais absoluta normalidade. Não vai haver grosseria e nem ataques pessoais. São todos homens elegantes e, por isso, no encontro, não haverá espaço para baixarias. Tudo vai acontecer dentro da mais perfeita ordem.
Regado a cafezinho - quente até demais - e água tri-gelada.
CARLOS BASTOS
Todos querem acabar com polarização
Os candidatos ao governo do Estado, especialmente Germano Rigotto (PMDB-PSDB) e Celso Bernardi (PPB), querem acabar com a polarização da campanha sucessória, utilizando como principal arma os programas no horário gratuíto de rádio e televisão. Todo o peso daqueles partidos e de seus estrategistas está voltado para o preparo dos programas, tendo como objetivo afetar a liderança mantida até aqui pelos candidatos Antônio Britto (PPS-PFL) e Tarso Genro (PT), que todas as pesquisas indicam que são os dois que chegarão ao segundo turno. No sábado, o corregedor regional eleitoral substituto, desembargador Danúbio Edon Franco, determinou a redistribuição do tempo da propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão, em decorrência do cancelamento do registro da Frente Trabalhista para o cargo de governador. O candidato mais beneficiado na redistribuição do tempo foi o peemedebista Germano Rigotto.
Diversas
Editorial
METRÔ ATÉ NOVO HAMBURGO ATINGE SUA FINALIDADE
Concebida há 25 anos, a Linha 1 do metrô finalmente vai alcançar Novo Hamburgo, o principal objetivo desde que foi projetada, ligando Porto Alegre até esta importante cidade. De início, a resistência das empresas de ônibus que faziam o percurso, os altos custos e a indecisão quanto à lucratividade do sistema foram fatiando a empreitada, implementada aos pedaços. Além disso, os próprios trens não andavam na velocidade que poderiam, por questões de segurança. Mas, os comboios japoneses foram avançando e hoje estão chegando a São Leopoldo. Pois espera-se para setembro o início das obras de extensão dos trilhos do metrô até Novo Hamburgo, trecho de 9,5 km, atendendo mais 20 mil pessoas por dia, em 14 municípios. Esta obra, como tantas outras, sofreu atrasos por conta das pendengas judiciais tão comuns entre as empreiteiras, as que perdem não se conformam e usam de artifícios legais para reverter os resultados de concorrências e licitações.
Foram cinco consórcios onde estavam 26 empresas, sendo vencedor o grupo Nova Via, integrado pela Odebrecht, Toniolo Busnello, Andrade Gutierrez, DCRS, Balfour Beatty e Ttrans, pelo preço de R$ 352 milhões. Ao contrário do que ocorreu com Canoas, hoje uma cidade dividida em duas pela linha férrea, de São Leopoldo a Novo Hamburgo os trens terão vias elevadas, evitando a separação das comunidades. Esta decisão é formidável, o corte em Canoas é uma agressão não apenas ao visual da cidade como às pessoas, com transtornos, desvalorizações, percalços e dificuldades no cotidiano, onde muitos dos seus profissionais são porto-alegrenses e vice-versa.
O trecho do metrô de superfície ligando São Leopoldo a Novo Hamburgo terá quatro estações, ou seja, no rio dos Sinos, Liberdade, Fenac e Novo Hamburgo, integrando mais 14 municípios. Quando pronta esta conexão, os trens passarão a transportar 160 mil passageiros por dia. Até hoje a capacidade do Trensurb é ociosa e as tarifas são subsidiadas pelo governo federal. Mas, os efeitos práticos dos trens chegando a Novo Hamburgo somente serão sentidos em 2006, pelo menos, eis que as obras devem durar quatro anos para a sua conclusão e isso se os cofres do Tesouro Nacional estiveram abertos, dentro do cronograma, eis que será dele o financiamento integral. Concluída a Linha 1, será a vez de ser levada a sério a implantação da Linha 2, em Porto Alegre, investimento de US$ 1 bilhão, com 21 km. Há divergências entre a prefeitura da Capital e a empresa Trensurb, pois o Palácio dos Açorianos alega não ser objetivo prioritário a obra, não dispor de recursos e desejar ver um anteprojeto que possa bem avaliar a ligação do Centro com a Azenha e a Zona Norte de Porto Alegre. De fato, a experiência mostra as dificuldades, os custos e os transtornos causados pelos canteiros de obras na Capital. A recente revisão do Viaduto Imperatriz Leopoldina levou quase tanto tempo quanto a sua construção, no início dos anos 70, a III Perimetral é um amontoado de desvios de trânsito que mudam a cada mês e o Terminal Triângulo é criticado também pela demora. Bem, enquanto isso o Trensurb quer encontrar seu ponto de equilíbrio econômico-financeiro, que será obtido quando transportar 700 mil passageiros por dia, o que está muito longe ainda de ser conseguido. O importante é pensar e planejar hoje a cidade do amanhã, conforme outros prefeitos fizeram e, com certeza, os atuais dirigentes de Porto Alegre também realizam, em prol do bem comum. Temos poucos recursos e muitas demandas, a população cresce a cada ano, sempre com novas exigências, não é fácil, portanto, administrar a escassez.
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08/19/2002
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