Olívio e Tarso se inscrevem hoje em prévia











Olívio e Tarso se inscrevem hoje em prévia
Simpatizantes do prefeito fazem vigília para evitar recuo na decisão de disputar a candidatura a governador

O governador Olívio Dutra e o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, devem inscrever ao meio-dia de hoje, na sede estadual do PT, em Porto Alegre, seus nomes à prévia que indicará o candidato do partido ao Palácio Piratini.

Ontem, um grupo de cerca de 20 filiados do PT do Vale do Rio Pardo saiu de Santa Cruz do Sul com destino a Porto Alegre para uma vigília em frente à sede. A manifestação tem o objetivo de pressionar o prefeito a inscrever sua candidatura.

– Ficaremos em frente à sede do partido até Tarso protocolar seu nome para concorrer – disse João Pedro Schmidt, vereador do PT em Santa Cruz do Sul.

O presidente estadual do PT, David Stival, estava desanimado às 12h30min de ontem, ao final da reunião da executiva estadual do partido. Durante o encontro, iniciado às 9h, os petistas tentaram, sem sucesso, encontrar um meio de evitar a inscrição de pelo menos um dos dois pré-candidatos. Stival explica a razão das inscrições terem sido definidas para o meio-dia:
– Eles (Olívio e Tarso) são dois funcionários públicos. Não podem se inscrever em horário de expediente.

Além de aprovar uma resolução sobre o processo de escolha do candidato, a executiva declarou-se em estado de “reunião permanente”. O texto aprovado pelo diretório afirma que a prévia “não é o método mais adequado” no momento. Aponta a necessidade de constituição de uma chapa que atenda aos critérios de “pluralidade, equilíbrio e densidade eleitoral”.

Stival trabalhou para evitar prévia desde a posse, em 2001
Desde que assumiu o cargo, em setembro do ano passado, Stival tem trabalhado para evitar a eleição interna e obter a aprovação da chamada candidatura de consenso. Ontem, ele admitia que a idéia corria o risco de ficar no campo das hipóteses. Stival chegou a considerar que a decisão do vice-governador Miguel Rossetto de retirar o nome da disputa, abrindo a possibilidade de o grupo do prefeito indicar o companheiro de chapa de Olívio, havia posto uma pá de cal na prévia.

A iniciativa de Rossetto ocorreu depois de o próprio Olívio haver declarado que a vaga de vice não era privativa da Democracia Socialista (DS).

– Eu achava que a resolução do vice-governador seria um abraço para fazermos o acordo. O governador fez o movimento, e a DS também, meio a contragosto. Mas deu o revertério – afirmou Stival.

Desanimados ou não, os petistas gaúchos falaram em consenso durante todo o dia de ontem. Às 15h30min, a deputada Maria do Rosário, acompanhada de integrantes do Movimento de Construção Socialista (MCS), encontrou-se com o governador no Piratini.
– Manifestamos os motivos que nos levaram a apoiar Tarso – disse a deputada.


Inscrição é única alternativa para prefeito
Não resta outra alternativa ao prefeito Tarso Genro a não ser registrar sua candidatura ao governo do Estado.

É uma manobra arriscada, mas inevitável.

Arriscada porque a partir do meio-dia de hoje estará deflagrada a disputa pela vaga de candidato a governador. Com a campanha na rua, será mais difícil convencer os militantes que simpatizam com Tarso ou com o governador Olívio Dutra a recuar em nome do consenso. E inevitável porque até a noite de ontem o PT não havia encontrado uma solução que agradasse a ambos os lados.
Tarso está numa saia justa. De um lado, sofre forte pressão para levar adiante a candidatura, com ou sem prévia. De outro, encontra um grupo de apoiadores cauteloso, que acha que o prefeito pode, sim, abrir mão da candidatura se seu campo for contemplado com a indicação do vice.

Tarso tem mais a ganhar desistindo da prévia. Se vencer, terá de defender perante os adversários um governo que os próprios militantes do PT rejeitaram ao não escolher Olívio candidato à reeleição. Mas o que mais atormenta o prefeito é o fato de ter de renunciar ao cargo em abril por força da legislação, com um ano e meio de mandato. Além de ter prometido que cumpriria os quatro anos no Paço Municipal, estaria largando a administração em troca de uma eleição de resultado incerto. Se perder em outubro, carregará o ônus da derrota. Caso se retire da prévia, será apontado como responsável pela unidade do PT.

O candidato presidencial do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente nacional da sigla, deputado José Dirceu (SP), também acham que Tarso deve cumprir os quatro anos na prefeitura. Concordam, no entanto, que a unidade do PT e a reeleição passam pela inclusão das correntes que hoje estão à margem do governo. Não agrada aos dois líderes a hegemonia da Democracia Socialista (DS), do vice-governador Miguel Rossetto.

A iniciativa de Olívio de chamar ao gabinete duas das correntes que apóiam o prefeito – o PT Amplo e a Rede – e oferecer a vaga de vice foi o que de mais concreto houve até o momento na busca do consenso. Olívio não abre mão da candidatura, mas teme ir para uma prévia cujo resultado ninguém antevê. Para se chegar a um acordo, barreiras terão de ser superadas. Tarso, por exemplo, acha injusto que questionem apenas sua saída da prefeitura. Considera o projeto de reeleição de Olívio um problema equivalente. Muito mais que indicar um vice, consenso significa para o prefeito ter sua candidatura reconhecida como legítima. Ao inscrever seu nome para a prévia do dia 17 de março, Tarso estará forçando um entendimento.


Congresso recomeça trabalhos hoje
Mensagem de FH com balanço de sete anos de governo será lida em cerimônia inicial

Depois de quase dois meses de férias, o Congresso retoma hoje as atividades, em sessão solene comandada pelo senador Ramez Tebet (PMDB-MS), marcada para o meio-dia, no plenário do Senado. Mas nada será votado.

A cerimônia servirá para a leitura de mensagem do Executivo, na qual o presidente Fernando Henrique Cardoso fará um balanço de seus sete anos de governo e falará das perspectivas para os pouco mais de 10 meses que ainda tem pela frente, com ênfase para realizações na área social.

A leitura dos planos do governo faz parte da tradição política brasileira e ocorre sempre na reabertura do Congresso, a cada ano.

Os parlamentares começam a trabalhar para valer só a partir de terça-feira. Três medidas provisórias que não foram votadas a tempo estão trancando a pauta de votações. Nada poderá ser decidido enquanto não forem votadas a MP que permite a contratação terceirizada de funcionários públicos em caso de greve, a que trata da renegociação das dívidas dos produtores rurais e a que regulamenta os novos poderes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O governo planeja fazer um mutirão para aprovar as três MPs na semana que vem. Em seguida, aproveitando a presença de deputados na Câmara, deverá dar início à votação, em primeiro turno, da emenda constitucional que prorroga a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) até 2003.

A atual CPMF deixará de existir no dia 17 de junho. Por ser uma contribuição, só pode ser cobrada 90 dias depois de aprovada. Portanto, terá de ser votada pela Câmara e pelo Senado e promulgada até o dia 18 de março. O prazo é curto. Por isso, o governo deverá negociar tramitações mais rápidas.

Por ser a sua última mensagem ao Congresso, o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a estudar a possibilidade de ele mesmo atravessar os cerca de 200 metros que separam o Palácio do Planalto do Senado para levar o documento aos parlamentares. Mas, depois de uma reunião com o secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio, o presidente concluiu que o protocolo dificulta a ida ao p arlamento. E não há precedentes quanto à presença de presidente da República numa sessão de abertura do Congresso.

O portador da mensagem será o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente. Também estarão presentes à cerimônia o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG) e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Marco Aurélio de Mello.

Na mensagem, o presidente enfatizará a estabilidade econômica, o controle da inflação, e afirmará que em seu governo a pobreza diminuiu, o atendimento à saúde melhorou e que é possível que, dentro de 20 anos, o Brasil seja um país sem analfabetos.

Depois da solenidade, haverá outra sessão conjunta para a instalação da Comissão Mista de Segurança, destinada a tratar das matérias sobre Justiça e Segurança Pública em tramitação nas duas casas. Formado por 19 deputados e 19 senadores, o grupo terá 60 dias para definir votações prioritárias.


FH cria nova estrutura para Ministério dos Transportes
Decretos extinguiram DNER e criaram três autarquias

O Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) foi extinto ontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

Os decretos publicados no Diário Oficial da União criam uma nova estrutura para o Ministério dos Transportes, que terá duas agências para regular os serviços prestados no setor pela iniciativa privada.

Alvo de uma série de denúncias de irregularidades no pagamento de precatórios (dívidas com pagamento exigido pela Justiça), o DNER será substituído pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), que também vai tratar da aplicação de recursos em rodovias, ferrovias, hidrovias e instalações portuárias. As atribuições da Empresa de Transportes Urbanos de Porto Alegre (Trensurb) serão transferidas ao Estado ou municípios num prazo a ser negociado. Os decretos também extinguem a Empresa de Planejamento de Transportes (Geipot).

A reforma do Ministério dos Transportes começou a ser planejada em 1997 pelo ex-ministro Eliseu Padilha, que deixou o cargo no final do ano passado. O ministro interino dos Transportes, Alderico Lima, vai indicar um inventariante para tratar da extinção do DNER, que deverá ser finalizada em seis meses. As obrigações financeiras – contratos que estão sendo encerrados no período de extinção do DNER – serão transferidas para o Ministério da Fazenda. Os funcionários do extinto DNER serão absorvidos pela nova estrutura. Bens, assim como contratos e licitações em andamento, como a obra de duplicação do trecho sul da BR-101, que liga Palhoça a Osório, serão transferidos para o DNIT.

Ontem, Alderico Lima admitiu que há risco de interrupção de algumas obras por problemas burocráticos surgidos em função da extinção do DNER. O ministro acrescentou, porém, que a pasta está empenhada em buscar uma solucão no menor prazo possível. Segundo Lima, a prioridade do ministério será a manutenção da malha e os projetos do governo incluídos no Avança Brasil, como o da duplicação do trecho sul da BR-101.

Os programas de infra-estrutura do setor de transportes incluídos no Orçamento da União serão financiados pela Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). A Cide foi instituída por emenda constitucional em dezembro do ano passado para substituir a Parcela de Preço Específico (PPE) cobrada na gasolina. De acordo com Lima, os investimentos em 2002 serão de cerca de R$ 4 bilhões.

O autor da emenda que criou a Cide foi o deputado Eliseu Resende (PFL-MG), que foi ministro dos Transportes no governo do presidente João Figueiredo. O filho de Resende, José Alexandre, será diretor-geral da ANTT. A Antaq terá como diretor-geral o atual presidente do Geipot, Carlos Alberto da Nóbrega. Para a direção do DNIT, foi escolhido outro técnico do Geipot, Francisco Magalhães. Ao todo são 13 diretores, alguns com mandatos que não poderão ser substituídos pelo presidente da República a ser eleito a partir de outubro deste ano.


PMDB deve ser próximo alvo do PT para aliança
Partido quer ampliar acordos

O PMDB descontente com o governo federal é o próximo alvo do PT na busca de um leque mais amplo de alianças para tentar eleger Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência neste ano.

Lula disse ontem, em Natal, Rio Grande do Norte, que com a consolidação da aliança do PT com o PL, o partido vai correr atrás de “todas as lideranças’’ que se opõem ao governo Fernando Henrique Cardoso.

A aproximação com o PL foi criticada ontem em São Paulo pelo ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont. Segundo Pont, o partido está força da política de alianças aprovada pelo PT.
– Vamos discutir esse assunto na próxima reunião da executiva nacional – disse Pont.

– Estamos construindo uma aliança com o PL, que tem pontos de convergência com as propostas do PT. Vamos procurar o PMDB e vamos procurar todos que se opõem ao governo FH – afirmou.

Ele visitou, pelo segundo dia consecutivo, unidades do grupo têxtil Coteminas, de propriedade do senador José Alencar (PL-MG), cotado para ser seu vice ou ter seu apoio como candidato ao governo mineiro. Lula reconheceu que existem barreiras regionais à aliança a serem superadas tanto no seu partido como nos outros.

– Ao projeto nacional devem se subordinar os projetos regionais – disse Lula, que prometeu abrir um site na Internet para a sociedade participar da elaboração do programa petista.

O presidente nacional do PT, José Dirceu (SP), disse que Lula janta no dia 19 com o bispo Carlos Rodrigues e com outros seis deputados federais do PL ligados à Igreja Universal do Reino de Deus. O grupo resiste à aliança com Lula.

Hoje, a comitiva deve ir a Campina Grande e João Pessoa, Paraíba, para visitar outras fábricas de Alencar. O grupo será desfalcado da maioria dos petistas, que devem ir paraa São Paulo para o enterro do filho do presidente do PT paulista, Paulo Frateschi. O menino de sete anos morreu ontem num acidente de carro perto da Rodovia Carvalho Pinto, em São Paulo.


Prefeito atira em motorista
O prefeito de Lajeado do Bugre, norte do Estado, Otaviano Paim Ardenghi (PT), atingiu com dois tiros o ex-motorista da prefeitura Sebastião Goulart, 43 anos, na noite de quarta-feira.

Ardenghi alega que o motorista o teria ameaçado, entrando armado com uma faca em sua residência.

Sebastião Goulart está internado no Hospital de Caridade de Palmeira das Missões, com ferimentos causados pelos tiros – um deles atingiu a orelha e outro perfurou o pulmão.

Por seis meses, em 2001, Goulart foi contratado em caráter emergencial como motorista da prefeitura. Este ano, com a realização de um concurso, a administração municipal deve contratar cinco motoristas, mas Goulart ficou classificado em sexto lugar.

– Ele estava descontente com a classificação e queria ser contratado imediatamente – disse o vice-prefeito Jossué Alves da Silva, que meia hora antes do incidente teria sido ameaçado por telefone por Goulart.

Avisado pelo vice-prefeito sobre as ameaças, Ardenghi foi para casa. Quando chegou, o motorista já o esperava. O prefeito o recebeu na varanda da residência.

– Ele estava me esperando. Conversamos, mas ele foi ficando cada vez mais agressivo até puxar uma faca escondida na roupa – contou o prefeito.

De acordo com Alicildo José dos Passos, delegado de Jaboticaba que atende ao município, foram encontrados rastros indicando que Goulart teria perseguido Ardenghi dentro da casa, enquanto o prefeito buscava uma arma guardada no quarto. O revólver calibre 38 está registrado em nome do pai de Ardenghi.

– Pelo que apuramos até agora, acreditamos que o prefeito tenha agido em legítima defesa – disse o delegado.

O agricultor Jesus Goulart, irmão do motorista, di sse desconhecer qualquer desentendimento dele com o prefeito ou outros funcionários. Sebastião Goulart deve ser ouvido pela polícia assim que tiver alta do hospital. O boletim médico informa que o estado de saúde do motorista inspira cuidados. Ele foi submetido a uma cirurgia na manhã de ontem.


Serra chega ao Rio em meio a atrito com Maia
Prefeito prega renúncia do candidato tucano à Presidência

O ministro da Saúde e pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, desembarca hoje no Rio para um compromisso oficial com o prefeito Cesar Maia (PFL), em meio a um bate-boca entre tucanos e pefelistas. Maia prega a renúncia do candidato do PSDB a presidente.

O secretário executivo do PFL, Saulo Queiroz, sai em defesa do prefeito.
– Serra é um ótimo ministro e um homem preparado, mas faltam a ele ingredientes para se tornar um candidato competitivo – disse Queiroz.

Desde sexta-feira, Serra empenha-se em desmentir um suposto jantar com o prefeito Maia.
– Não marquei e não marcarei este jantar com o Cesar porque seria inútil. Não temos o que falar – repetia o ministro.


PSDB discute recomposição
Sigla faz primeira reunião sem Marchezan

Reunida pela primeira vez desde a morte do deputado federal e presidente regional do partido, Nelson Marchezan, ocorrida na segunda-feira, a executiva estadual do PSDB debateu, na noite de ontem, os rumos da sigla no Estado.

Com a participação de nove dos 12 membros, o diretório avaliou o futuro do partido. O novo presidente será escolhido no dia 4 de março.

A reunião extraordinária do diretório, a primeira sob o comando do presidente interino, Carlos Albuquerque, prefeito de Barra do Ribeiro, serviu para organizar ações futuras e trocar idéias. Ainda abalada com a perda de Marchezan, a executiva pretende agilizar a reestruturação regional do partido, para só depois consolidar o debate sobre as próximas eleições.

Ocupando a 1ª vice-presidência estadual do PSDB, Albuquerque deverá ser aclamado novo presidente regional do partido.

– Nunca tive a pretensão de ocupar o cargo, mas coloco o meu nome à disposição do partido, em homenagem a Marchezan – afirmou o ex-ministro da Saúde.

Durante o encontro, orientações jurídicas sobre o encaminhamento da sucessão interna do diretório foram debatidas. O partido seguirá à risca o estatuto. O novo presidente poderá ser eleito por votação ou aclamação dos membros do diretório. E, caso faça parte da executiva, será automaticamente substituído em sua antiga função.

– Montaremos uma estratégia de mobilização do PSDB gaúcho antes de escolher o novo presidente. Isso reforça a nossa maturidade política – declarou o presidente interino.

Na reunião, o secretário-geral do partido, Ademir Schneider, propôs também a criação do Movimento de Expansão Partidária Nelson Marchezan, que tem como objetivo a filiação de novos membros e a instalação de diretórios tucanos em todo o interior do Estado. Atualmente, há diretórios do PSDB organizados em 200 dos 497 municípios gaúchos.


Artigos

A chave falsa
Leoberto Brancher

Estava casualmente em Caxias do Sul, a caminho de Capinzal, no Oeste Catarinense, neste sábado de Carnaval em que a imprensa estampou a elucidação da morte do magistrado aposentado Luiz Zanette, barbaramente assassinado com sua governanta, Marinês de Cesaro, em Bento Gonçalves.

Identifico-me particularmente com o caso porque, como a vítima, sou catarinense do Oeste fazendo carreira na Justiça gaúcha – Capinzal fica ao lado de Joaçaba, de onde Zanette era natural. Como ele, sou magistrado e não só acredito na ressocialização do infrator, como me dedico cotidianamente à efetivação dessa crença.

Mas os fatos amargam-me sobretudo porque, como juiz da infância e da juventude em Caxias entre 1995 e 1997, vi chegar o crack à cidade e ocupar, pouco a pouco, aquelas que eram as bocas de loló. Vi a substituição dos usuários de uma droga pela outra.

E, com a chegada do crack, vi meninos e meninas se transmutarem de adolescentes abandonados em farrapos humanos doentios e miseráveis. Vi os corpos já franzinos se degradarem fisicamente em poucos meses. Vi seu olhar longíquo e seu alheamento como mortos vivos. Vi a fúria rebelde dos corpos conduzidos à contenção, vi a convulsão pela “fissura” desesperada pela droga. Vi afundarem-se em depressão profunda. E depois vi notícias como a de hoje, contadas nos autos dos processos, dizendo como esses jovens emergiram em rompantes de brilho lancinante nos poros, os olhos vidrados transbordando uma voracidade selvagem e assassina. E tive de ver ainda como as esperanças de recuperação – sempre difíceis com infratores drogadictos – praticamente se esvaziam para os usuários do crack.

Com a chegada do crack, vi meninos e meninas se transmutarem de adolescentes abandonados em farrapos humanos doentios e miseráveis

Publicada na véspera do Carnaval e aparentemente sujeita a perder em poucos dias sua atualidade – quando certamente dará lugar a uma nova barbárie –, a notícia do assassinato de Zanette reabre o debate sobre penas criminais, falência do sistema prisional e falibilidade do sistema de progressão de regimes – afinal, o latrocida Michael, alcunha “Micha”, era apenado em regime semi-aberto. “Micha”, no jargão marginal, é o nome da chave falsa utilizada na prática de crimes. E vale trocadilho para refletir que, se nos detivermos a discutir apenas a ineficácia do sistema penal, estaremos trabalhando sobre uma chave falsa ou, ao menos, com uma falsa questão.

Já faz cerca de um ano que estou vendo, como vi e denunciei em Caxias, que o crack está agora chegando também, e pouco a pouco, às vilas da Capital. E que já estamos começando a ver em Porto Alegre as irremediáveis cenas que terminarão, pouco a pouco, gerando – como já geram na Serra – as mais cruentas cenas das páginas policiais.

O que não vi nesse processo foram as grandes quadrilhas de tráfico debeladas, não vi grandes traficantes presos, não vi a famosa “rota” do crack ser desbaratada. Ao contrário. Vi, ao longo desses anos, fortunas questionáveis prosperarem, profissionais suspeitos e seus negócios escusos, quando não de fachada, serem promovidos e freqüentados por autoridades e cidadãos de sucesso – e devo mesmo ter visto suas fotos desfilando insuspeitas nas colunas sociais.

O aumento da criminalidade, suas determinantes, suas alternativas de prevenção e repressão, são sem dúvida, uma pauta urgente e mais do que necessária. Só espero que o Rio Grande do Sul, e especialmente Porto Alegre, despertem urgentemente para este alerta e que não prossigam tentando desvendar saídas com base nas velhas, conhecidas e inócuas chaves, que, enquanto não considerarem a corrupção estrutural que faz vistas grossas ao livre comércio da droga, continuarão sendo falsas.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Europa e Mercosul
As restrições comerciais na área do Nafta – Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México) aos produtos brasileiros e a ampliação dos subsídios determinada pelo Tesouro norte-americano a setores do agronegócio balizaram a política externa do governo Fernando Henrique Cardoso de endossar a proposta argentina para antecipar o acordo de livre comercio entre Mercosul e União Européia. O caso da vaca louca, no início do ano passado, ainda está na memória dos pecuaristas brasileiros.

Assim que o governo canadense anunciou a suspensão das importações de carne industrializada brasileira, retirando tudo o que estava nas prateleiras dos seus supermercados, Estados Unidos e México seguiram, sem qualquer questionamento, a polêmica decisão. O Canadá levantou a suspeita de que poderia haver casos da doença da vaca louca (BSE) no rebanho bovino brasileiro.
Nesta semana, depois das restrições impostas pelos Estados Unidos ao aço brasileiro, o México fez a mesma coisa. E será sempre assim porque o acordo que criou o Nafta determina que a decisão de um país membro na área do comércio será seguida pelos demais, seja para abertura seja para o fechamento. A decisão do México acabou estimulando a diplomacia brasileira a trabalhar, com empenho, pela antecipação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Européia. Essa antecipação foi bem recebida pelo chanceler da Alemanha, Gerard Schoröeder, que ontem teve reunião de trabalho com Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto, em Brasília.

Também auspiciosa a decisão do governo alemão de estimular suas empresas privadas para que recuperem o terreno perdido para outros investidores europeus no programa de privatização. A estimativa é que nos próximos quatro anos o volume de investimentos alemães na área de infra-estrutura (transporte, energia, portos e meio ambiente) possa se aproximar dos US$ 8 bilhões. Embora o chanceler alemão tenha reafirmado que a União Européia deve revisar a sua política agrícola, é pouco provável que ocorra uma redução substancial do protecionismo europeu, em especial da França. Essa é a principal barreira ao acordo comercial entre os dois blocos.


JOSÉ BARRIONUEVO

CPI e renúncia da secretária da Cultura
Na primeira sessão ordinária, na reabertura do ano legislativo na Câmara, hoje, às 14h, os vereadores vão propor a formação de uma CPI para investigar o fiasco do Carnaval, juntamente com um pedido para que a secretária da Cultura, Margarete Moraes, renuncie ao cargo. Na sessão da comissão representativa, ontem, no último dia do recesso, esse foi o tom dos pronunciamentos. O vereador Isaac Ainhorn citou números mostrando que os gastos das administrações petistas (US$ 350 mil por ano) em 14 Carnavais teriam permitido construir várias pistas de eventos. Lembrou que em 1993, como prefeito, Tarso apresentou estudo prevendo um gasto de US$ 1,7 milhão. Também lembrou que, inspirado no sambódromo construído por Brizola no Rio, o ex-prefeito Alceu Collares apresentou projeto, com maquete, e lançou a pedra fundamental para a construção da pista de eventos na Augusto de Carvalho. A partir de denúncias feitas pelo colega Nereu D’Ávila, Isaac propôs uma CPI firmada em irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas.

PT só postergou
Em discurso da tribuna, João Dib (PPB) lembrou as manobras dos últimos prefeitos para não construir a pista de eventos. As propostas eram feitas intencionalmente de forma inviável.
– Eles queriam onde não podia.

Dib sugeriu a renúncia de Margarete.

Antonio Hohlfeldt (PSDB) falou no mesmo tom, observando que houve falta de comando. Recomenda que o prefeito cumpra a Lei 6.619, que diz: “O Carnaval de rua de Porto Alegre passa a ser considerado evento oficial do município com administração, execução e comercialização pelo poder público e associação de entidades carnavalescas, sob orientação do Conselho Popular do Carnaval”.

Já o vereador Cassiá Carpes, líder do PTB, vai propor à Comissão de Defesa do Consumidor e Direitos Humanos da Câmara a devolução do dinheiro aos que compraram ingresso.

Olívio tenta vencer resistências
Diante da pressão das bases pela pré-candidatura de Tarso Genro, que será registrada hoje ao meio-dia, o Palácio Piratini começou a agir com mais determinação. O governador chegou a reunir ontem, pela primeira vez no governo, os líderes do Movimento de Construção Socialista para alertar para o desgaste que representará uma prévia. Assessorado por Laerte Meliga, Olívio recebeu Maria do Rosário, Eliezer Pacheco, Luiz Carlos Saraiva e Cesar Bento, que apóiam Tarso Genro.

Maria do Rosário não titubeou em dizer que a corrente defendeu todas as ações do governo Olívio, mas acredita que Tarso tem mais viabilidade eleitoral. E que não estavam lá para discutir cargos.

Inscrição confirmada
Representantes dos nove grupos que apóiam Tarso se reuniram ontem à noite no gabinete do prefeito, acertando em definitivo o registro da candidatura, que vai ocorrer ao meio-dia. A delegação que comparece à reunião da executiva regional, às 10h, leva uma proposta para que um representante da Democracia Socialista ocupe a candidatura a vice de Tarso, podendo ser Raul Pont, Miguel Rossetto ou Pepe Vargas.

Demhab investigado
Além do fiasco do Carnaval, a Câmara de Vereadores ataca outra questão, mostrando que o prefeito vai encontrar uma oposição atenta este ano. Vereador Nereu D’Ávila (PDT) apresenta hoje um pedido com 20 assinaturas para instalar uma CPI destinada a investigar irregularidades no Demhab. Favorecido agora por uma nova composição da Casa, com 13 bancadas, o vereador acredita que terá apoio político para aprofundar as investigações, obstruídas na tentativa anterior.

Saúde mental
O deputado Elmar Schneider ingressou com uma representação no Ministério Público para saber como foram gastos os R$ 2,4 milhões destinados a um diagnóstico da saúde mental dos servidores da Secretaria da Segurança do Estado.
O teste deveria ser realizado também na cúpula da SJS.

Pendenga na Mesa
A 1ª secretaria da Mesa da Assembléia gera um conflito entre dois deputados do PMDB, Alexandre Postal, que pretende continuar no cargo, e Elmar Schneider, que ocuparia o posto, por acordo na bancada antes da perda de cinco integrantes. Schneider acredita que Postal vai “honrar a palavra empenhada”.

Minuto de silêncio
Na inauguração do prédio do Centro Integrado de Estudos da Saúde, da Feevale, em Novo Hamburgo, foi feito um minuto de silêncio em homenagem ao deputado Marchezan, morto segunda.

Festival de projetos
Assessores de deputados formavam longa fila ontem junto ao protocolo da Assembléia para o registro de projetos. Desta vez, Giovani Cherini (PDT) conseguiu apenas a terceira posição na fila para o registro amanhã à tarde de 75 projetos. Na sua frente estão Wilson Covatti (PPB) e Elmar Schneider (PMDB).

Quem está por merecer uma medalha são os assessores, que viram noites para assegurar a preferência.

Resta saber se os calhamaços valem quanto pesam, em matéria de qualidade e constitucionalidade.

TVE 100% na mira
Pelas conversas preliminares entre os deputados estaduais, os dirigentes da TVE têm boas razões para se preocupar com o que vai acontecer na Assembléia a partir de terça-feira, com a reabertura dos trabalhos legislativos.

Tudo pelo Carnaval
Com o fiasco dos desfiles em Porto Alegre, o Carnaval de Pelotas pode voltar a ser o melhor do Estado. Na última noite, o prefeito Fernando Marroni não mediu esforços para prestigiar a festa (por aqui nossas autoridades trataram de sumir da passarela).

O prefeito de Pelotas não arredou pé da avenida um só instante na noite de terça-feira e na madrugada de quarta, dia do desfile do Grupo Especial no melhor carnaval do Estado.
Já a deputada Cecilia Hypolito foi uma das campeãs nos quesitos euforia e resistência. Além de integrar a Acadêmicos da Saúde, desfilou por pelo menos quatro escolas do Grupo Especial, na madrugada de quarta-feira. Ela participou do desfile das escolas Academia do Samba, Estação Primeira do Areal, General Telles e Unidos do Fragata. Deixou a passarela quando os primeiros raios de sol iluminavam a avenida.


ROSANE DE OLIVEIRA

Ciranda eleitoral *
Quem viu o prefeito Tarso Genro e o governador Olívio Dutra de mãos dadas, dançando animados a ciranda de Lia de Itamaracá, a musa do final do Fórum Social Mundial, não imagina o quanto é acirrada a disputa entre os dois. Cerca de duas horas antes, Tarso tinha espinafrado o vice-govern ador Rossetto – cabo eleitoral número 1 de Olívio – em entrevistas às rádios Gaúcha e Bandeirantes, e reclamado do que classificou de boicote da TV Educativa a sua participação na abertura do Fórum.

Diante dos convidados, o PT preservou a unidade. Sentados lado a lado, Olívio e Tarso pareciam apenas bons companheiros. Chegaram a cochichar algumas vezes, deram-se as mãos e dançaram conforme a música. Uma jovem morena os separou minutos depois na dança da ciranda e a partir daí cada um sambou para o seu lado.

Encerrado o Fórum, a campanha interna passa a ocupar toda a agenda do PT. Se nenhum dos dois se retirar da disputa – o que parece difícil faltando 10 dias para o registro das candidaturas – a guerra será inevitável. A oposição aposta que o PT não conseguirá juntar os cacos depois. Com medo de gastar numa disputa interna a energia que precisará na eleição de 6 de outubro, os principais líderes do PT defendem o consenso. Só que ninguém quer ceder e cada ala acha que seu candidato tem mais chances de vencer.

Os defensores da candidatura de Olívio criticaram o prefeito por ter precipitado o debate, quando o mais conveniente seria manter a disputa adormecida até a realização do Fórum. E passaram a acusar Tarso de estar contribuindo para a divisão do partido – que dividido está desde a prévia de 1998.

Baseado em pesquisas que apontam menor índice de rejeição, Tarso está convencido de que tem mais chances de vencer a eleição. Líderes europeus que participaram do Fórum chegaram a aconselhar o prefeito a desistir da disputa, para não prejudicar o trabalho que vem fazendo na prefeitura, mas era tarde. As correntes que apóiam Tarso exigem que os filiados escolham o candidato. Se perder a prévia, Tarso continua na prefeitura e seus apoiadores partem para uma segunda briga, a da indicação do vice. Se ganhar, Tarso terá de renunciar ao mandato de prefeito até 4 de abril, correndo o risco de ficar sem mandato até 2006.

Correção: A coluna de ontem embaralhou as datas: o 1º Fórum Social Mundial foi realizado em 2001, e não em 1999.


Editorial

UMA PARCERIA PROMISSORA

Não poderiam ser mais favoráveis as perspectivas da aliança costurada por Brasil e Alemanha e que acaba de receber decisivo impulso com a visita do chanceler Gerhard Schroeder a Brasília. Em raros momentos das relações entre os dois países observou-se maior coincidência de interesses, seja no campo diplomático, seja no político ou no econômico. E dificilmente se terão oferecido anteriormente condições mais propícias para que a colaboração projetada passe do nível das declarações de intenções para a ação presente e concreta.

A primeira e grande convergência se dá na área geopolítica. Por iniciativa da Argentina, quando os presidentes do bloco se reunirem em Buenos Aires nos próximos dias 17 e 18, não se fixarão apenas na gigantesca crise da nação vizinha. Debaterão proposta para acelerar as conversações entre o Mercado Comum do Sul e a União Européia (UE), com vistas à formação de uma zona inter-regional de livre comércio já em 2003. A data prevista inicialmente era 2005, mas a antecipação mereceu incisivo apoio do premier visitante, que chegou a advogar a abertura do setor agrícola, altamente subvencionado na Europa dos 15. Eis aí um processo que o Brasil poderá liderar e que não representa um veto às negociações com a Alca.

O Conselho de Segurança não pode continuar com a composição ou
a ideologia de 56 anos atrás

Não menos relevante é a disposição de Berlim de voltar a ocupar posição de liderança no ranking dos investimentos de caráter produtivo no Brasil, priorizando segmentos como energia, meio ambiente, educação e tecnologia, aí incluído o aeroespacial. A Alemanha perdeu posições na última década nesse particular por haver concentrado suas inversões na modernização da infra-estrutura do antigo lado oriental. Agora torna a voltar-se a seus parceiros tradicionais, à frente dos quais se encontra o Brasil, que reúne o maior número de indústrias alemãs instaladas fora do território da RFA.

Por fim, mas não menos importante, foi o compromisso publicamente assumido pelos senhores Fernando Henrique Cardoso e Gerhard Schroeder de apoiarem reciprocamente os esforços das nações que dirigem para tornarem-se membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Derrotada na II Guerra Mundial, a Alemanha foi mantida fora daquele colegiado e assim continua, apesar do poderio econômico do país e de sua crescente influência no plano político mundial. Já o Brasil, mesmo tendo participado daquele conflito ao lado dos vencedores e ser hoje a maior economia do Hemisfério Sul, vem obtendo no máximo a condição de membro rotativo do organismo. Pois é evidente que instrumento tão poderoso do maior dos fóruns internacionais não pode permanecer indefinidamente com a composição ou a ideologia de 56 anos atrás.


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02/15/2002


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