Oposição acusa doação de empreiteiro a PT







Oposição acusa doação de empreiteiro a PT
Numa contra-ofensiva à visita da semana passada a São Paulo do governador Olívio Dutra (PT-RS), a oposição gaúcha levantou novas suspeitas sobre o financiamento do partido no Estado. O relator da CPI da Segurança Pública, deputado Carlos Eduardo Vieira da Cunha (PDT), revelou doações de uma associação de empreiteiros ao Clube de Seguros da Cidadania, entidade montada para financiar atividades do PT desde agosto de 1997.
Vieira da Cunha esteve ontem em São Paulo. Com cópias de documentos, ele afirmou existir relações "imorais e ilegais" do PT com o Clube de Seguros.

Exemplificou apontando uma triangulação de recursos que teria sido promovida pelo partido. Segundo ele, em 2 de março de 1999, a Associação Riograndense de Empreiteiros de Obras Públicas fez uma doação de R$ 30 mil ao Clube da Cidadania. Seis dias depois, o livro-caixa do clube registrou pagamento de R$ 30 mil ao PT (veja reprodução ao lado). "Essa argumentação do PT de que não há dinheiro público envolvido é relativa. Essa doação é uma evidência de que o dinheiro que vai para o PT é imoral. Que interesses a associação de empreiteiros tem em dar dinheiro ao partido?", questiona Vieira da Cunha.

O deputado pedetista afirma que, em entrevistas em São Paulo, Olívio tentou desvincular a figura-chave do Clube de Seguros, Diógenes de Oliveira, do governo do Estado e do PT. Por isso apresentou a nomeação de Diógenes, datada de 24 de fevereiro de 1999, para a vice-presidência da Caixa Estadual S/A - Agência de Fomentos e exibiu recibos eleitorais de doações feitas ao PT assinados por Diógenes.
A CPI da Segurança Pública foi instalada pela Assembléia do Rio Grande do Sul em abril para investigar suposto favorecimento ao jogo do bicho. Delegados disseram à CPI que banqueiros do bicho doaram dinheiro ao PT e a obras do governo. Numa gravação, Oliveira pede ao então chefe de polícia, Luiz Fernando Tubino, para agir com menos rigor contra o jogo. Afirmava estar falando em nome de Olívio. O relatório final da CPI recomendou o indiciamento de Olívio sob acusação de crime de responsabilidade e improbidade administrativa.


Partido diz ""não ver problemas" nas acusações
O presidente do PT gaúcho, David Stival, afirmou ontem que considera as informações apresentadas pelo relator da CPI da Segurança Pública, Vieira da Cunha (PDT), como ""dados que não acrescentam nada, pois não têm problemas e são públicos". ""O Clube de Seguros da Cidadania foi criado para ajudar o PT, entre outras atividades. Nos nossos livros, consta a entrada de dinheiro, naturalmente. Em 1998, não houve contribuição do Clube da Cidadania, porque eles pagavam o prédio da sede. Em 1999, elas aparecem."
De acordo com Stival, que na época era tesoureiro do partido, o Clube da Cidadania parou de repassar dinheiro para o PT em abril, porque surgiram as acusações a respeito de vínculos com o jogo do bicho. Quanto ao cargo de Diógenes de Oliveira no governo, Stival disse ser o fato de conhecimento público.


PFL rejeita vice em chapa e quer Roseana candidata
A menos que um nome do Palácio do Planalto ultrapasse o de Roseana Sarney nas pesquisas de intenção de voto, o PFL prefere lançar a candidatura da governadora do Maranhão à Presidência da República a submetê-la à condição de vice numa chapa destinada a reeditar a aliança que elegeu e reelegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998.
"Se ela se mantiver no patamar em que está e o coligado quiser se impor como cabeça de chapa, não teremos dúvida: vamos de Roseana", afirmou o senador José Agripino Maia (RN), líder da bancada do PFL no Senado e primeiro-vice-presidente da sigla -o titular, Jorge Bornhausen (SC), está fora do país- depois de reunião da Executiva Nacional do partido, ontem em Brasília.
Na reunião, o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, apresentou pesquisa realizada pelo Instituto GPP, do Rio, na qual a governadora pefelista aparece em segundo lugar, com 20,5%, abaixo apenas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem 32,4%.
No encontro, o PFL avaliou que o desempenho de Roseana Sarney nas pesquisas é "progressivo e consistente". Na região Centro-Oeste, por exemplo, ela aparece em primeiro lugar, com 32,1% contra 25,2% de Lula.

Sudeste
A pesquisa, realizada nos dias 24 e 25, testa o nome de Roseana nos Estados do Sudeste, que têm nomes considerados fortes na disputa presidencial. A pefelista obteve seu melhor resultado em Minas Gerais, onde a diferença que a separa de Itamar Franco (PMDB) é de apenas sete pontos percentuais. No Rio, ela chegou aos 12,1%, sendo que o governador Anthony Garotinho (PSB) está com 29,7%.
Em São Paulo, Roseana bate com folga os tucanos José Serra, ministro da Saúde, e o governador Geraldo Alckmin. Bate Serra por 17,8% contra 10,5% e Alckmin pelo placar de 16,3% a 10,3%, segundo o levantamento do GPP, realizado em 16 Estados.

Segundo a avaliação feita pela Executiva do PFL, Roseana deve ainda se beneficiar das complicações políticas vividas por Itamar e Garotinho para crescer ainda mais nesses dois Estados, pois ambos podem deixar a disputa: Itamar tem dificuldades para garantir a legenda do PMDB, e Garotinho, se não melhorar sua posição nas pesquisas, deve optar pela reeleição no Rio.

"Hoje o nome da Roseana é maior que o do partido, mas a estrutura partidária tem condições de garantir a vitória de um candidato do PFL bem avaliado como ela está", afirma o líder da bancada da sigla no Senado.
Na reunião, o partido decidiu respeitar um desejo manifestado por Roseana: ela não quer fazer um périplo pelos Estados, em campanha. Pelo menos por enquanto. Mas vai atender a todos os pedidos para aparecer nos programas de TV de candidatos nos Estados. Apesar do aumento da demanda de pedidos. Foram ouvidas 3.800 pessoas, e a margem de erro da pesquisa do Instituto GPP é de dois pontos percentuais.


FHC e PSDB articulam "boicote" a Roseana
Em uma estratégia combinada com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o PSDB vai jogar duro com o PFL para minar a pré-candidatura ao Planalto da governadora pefelista Roseana Sarney (MA). Na semana que vem, a Executiva do PSDB deverá tomar a decisão de indiretamente dizer que não apoiará Roseana.
Com aval de FHC, o partido pretende anunciar que terá candidato próprio a presidente na eleição de 2002 e ponto final.
Ao mesmo tempo, esquentará o namoro com o PMDB e lançará uns petardos contra o PFL, deixando claro para os pefelistas que eles poderão perder o posto de aliados preferenciais dos tucanos.
A cúpula quer mostrar desde já que o PSDB não aceitará ser vice de Roseana, independentemente do desempenho de pré-candidatos nas pesquisas.
A governadora do Maranhão tem o dobro das intenções de voto do ministro da Saúde, José Serra, favorito para levar a candidatura do PSDB. Na última pesquisa Datafolha, Roseana teve 16% contra 8% de Serra. Sem ela, Serra atingiu 10%. O governador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ficou nos 4%.

Aventura
A avaliação de FHC e de cardeais tucanos é que a candidatura Roseana, segunda colocada nas pesquisas, é uma aventura.
Pode dar muito certo ou muito errado. Se o fenômeno se confirmar, PSDB e PFL disputariam o primeiro turno com candidatos separados e se uniriam na segunda fase da eleição. Se a pré-candidatura pefelista murchar, os tucanos não naufragariam juntamente com o PFL.
Os movimentos do PSDB favorecem Serra e não foram combinados com Tasso. O governador está nos EUA e tem defendido, em tese, a possibilidade de um tucano ser vice de Roseana.

Jogando a favor de Serra, FHC costurou com a cúpula tucana a estratégia anti-Roseana. O presidente do PSDB, o deputado federal José Aníbal (SP), já pediu um encontro com o presidente do PMDB, o também deputado federal paulista Michel Te mer, a fim de tratar de alianças.
A reunião tem mais efeito político que prático, mas serve para cutucar o senador Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL e mentor da candidatura Roseana.
Outra provocação ao PFL será o discurso de alguns tucanos de que os pefelistas deverão entregar os ministérios em abril se insistirem em Roseana. FHC aprovou a idéia, mas, claro, não a levará a cabo. Presidente de uma coalizão, admitirá que haja mais de um candidato governista em 2002.

Bloqueio a Tasso
Como contrapartida a Tasso, FHC e o presidente da Câmara, Aécio Neves (MG), abortaram a tentativa de parte da bancada federal do PSDB de pedir uma definição do partido em janeiro.
Ao lado de FHC, Aécio é o principal eleitor da disputa Serra-Tasso. Controla 60% do PSDB mineiro, a segunda maior seção do partido. Isso o deixa na estratégica posição de fiel da balança no duelo tucano. Aécio é também uma alternativa para o Planalto.
A Folha apurou que FHC, Aécio e Aníbal acertaram que a decisão sobre o candidato tucano sairá depois do Carnaval. Um colegiado de notáveis deverá se reunir, bancar um nome e talvez fazer uma pré-convenção para demonstrar unidade.

Na visão do presidente, basta dar tempo para Tasso tentar se viabilizar a fim de evitar que ele se sinta trapaceado e abra uma dissidência a favor de Roseana ou de outro presidenciável.
FHC convenceu Serra de que o governador do Ceará não é uma ameaça. Para o presidente, Roseana colocou Tasso e Ciro Gomes (PPS) numa sinuca de bico. Ela tomou conta de boa parte do eleitorado nordestino que não gosta de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ou seja, Roseana funciona como um bloqueio às pretensões de Tasso e de Ciro. Se ela se enfraquecer mais à frente, terá até prestado um serviço a Serra.
Assim, crê FHC, Tasso se renderá e não terá desculpa para abandonar Serra. A única chance de Tasso virar o jogo é melhorar nas pesquisas e, pelo menos, empatar com Serra. FHC, porém, não aposta um centavo nisso.

Conversa
O governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira, outro pré-candidato do PSDB à Presidência, cobrou uma declaração de FHC sobre a escolha do candidato tucano. O presidente reafirmou que continua querendo uma definição em janeiro, mais tardar em fevereiro, após o Carnaval.


Candidatura de Suplicy vai ser votada por PT
O senador Eduardo Suplicy vai submeter sua vontade de ser pré-candidato a presidente pelo PT ao encontro estadual do partido, no fim de semana.
Suplicy propôs ontem ao diretório estadual petista que organize uma votação em cédula com os 1.200 delegados estaduais do partido. A idéia foi aceita.
Na cédula, uma das alternativas pedirá que Suplicy desista e que Luiz Inácio Lula da Silva seja escolhido candidato por consenso. A outra pedirá que o senador prossiga.
"Estou certo de que a segunda tese venceria com larga margem", diz. A votação não será conclusiva. Suplicy quer encaminhar o resultado ao encontro nacional, em dezembro.
Outro presidenciável petista, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, criticou setores do PT que reagem contra sua decisão de concorrer nas prévias.
"O debate democrático nunca foi prejudicial a nada. O que prejudica é a falta de democracia", disse Rodrigues. Segundo ele, a liberdade de divergir é exatamente um das diferenças do PT.



Em Minas, o "economista" Serra defende FHC e prega continuidade
Falando como economista, o ministro da Saúde, José Serra (PSDB-SP), assumiu ontem em Belo Horizonte, durante palestra a empresários, a defesa do governo de Fernando Henrique Cardoso e sustentou que o próximo presidente deve dar continuidade ao trabalho que está sendo feito.
"Não é mudança de rota [na economia", é aceleração. O próximo presidente terá que fazer isso. A imprensa vai dizer que é propaganda eleitoral, mas não é", disse. Segundo ele, sua palestra era de economista e "fora do horário de trabalho [de ministro"".
Serra não teve a mesma recepção dada a ao governador Tasso Jereissati (CE) pelos tucanos mineiros, há 15 dias. Antes de ir à Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), Tasso participou de um encontro com cerca de 300 tucanos -incluindo mais de 50 prefeitos, 9 dos 12 deputados da bancada federal e toda a estadual. Ontem, compareceram ao encontro com Serra o presidente do PSDB de Minas, Danilo de Castro, três deputados federais, quatro estaduais e um prefeito.
Em vez de externar, como vinha fazendo sobretudo em círculos privados, críticas à política econômica de Pedro Malan (Fazenda), o ministro optou por enaltecer as realizações do governo.
Falando para cerca de 250 empresários, elencou "cinco fatores positivos para a retomada sustentada da economia". Citou a estabilidade de preços, as políticas sociais, a infra-estrutura, o trabalho para obter equilíbrio macroeconômico, com redução do déficit público, e o "peso" que o Brasil tem atualmente no exterior, "graças à diplomacia do presidente".
"Às vezes, a baixa auto-estima de alguns, mesmo no meu partido, impede que vejam essas coisas [os fatores positivos"", disse. A observação foi vista por vários presentes como farpa a Tasso.

Juros e câmbio
Sobre os juros, Serra disse que as altas taxas, no passado, estavam atreladas à questão cambial.
"Esse é o principal estrangulamento para o crescimento. O juro alto está relacionado ao balanço de pagamentos. Se resolvermos isso, baixa. É a estratégia econômica para resolvermos esse estrangulamento", afirmou.
O patamar atual da taxa de câmbio foi considerado por ele como uma "questão boa". "O câmbio é o fator de equilíbrio de divisas. O próximo governo precisa manter essa faixa favorável", disse.


Ciro diz que Collor já pagou pelo que fez e que é hora de cobrar FHC
O pré-candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, não se considera um defensor de Fernando Collor por ter pedido que parassem de criticar o ex-presidente, durante palestra para cerca de 200 empresários alagoanos, anteontem, em Maceió. A assessoria do presidenciável disse que ao pedido seguiu-se a ressalva de que sempre foram opositores e de que Ciro não absolvia Collor.
"Chega de dizer que Collor é culpado de tudo. Há presidentes que ainda não pagaram pelo que fizeram e pelo que estão fazendo ao país", declarou, segundo a assessoria, referindo-se ao presidente Fernando Henrique Cardoso. O encontro com os empresários foi promovido pelo Instituo Mangue Verde, organização não-governamental que tem o apoio das empresas da família Collor.
A referência ao ex-presidente foi feita no final da palestra, de aproximadamente duas horas. Um dos presentes perguntou se Ciro sentia-se incomodado com a comparação frequente com o ex-presidente. "Chega de falar mal de Collor. Eu não o absolvo, fiz oposição cerrada a ele, mas ele já pagou pelo que fez", disse. Quando Collor era presidente, Ciro governava o Ceará filiado ao PSDB.
Ciro declarou ainda que suas semelhanças com o ex-presidente encerram-se no fato de serem jovens e nordestinos. "E tenho muito orgulho de ser nordestino."

Pais e filhos
A assessoria do presidenciável disse que outro motivo para o pedido pelo fim das críticas foi a presença de Arnon Affonso e Joaquim Pedro, filhos de Collor. "Foi uma atitude de quem tem filhos", afirmou a assessoria.
Ao final da palestra, Ciro cumprimentou os rapazes e elogiou Arnon, provável candidato a deputado federal. "Esse rapaz tem grande futuro", afirmou.



Perícia apura falha operacional em painel
Relatório preliminar da empresa Montreal, que opera o sistema de votação eletrônica da Câmara, aponta o provável motivo da falha ocorrida na votação do projeto que flexibiliza a CLT, anteontem: teria havido duplicação de dados, com a inclusão de informações da sessão anterior, devido a uma falha dos operadores do painel.
A falha levou a Mesa Diretora da Câmara a contratar ontem uma equipe da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para realizar uma auditoria no sistema eletrônico de votação.
De acordo com o relatório da Montreal, os operadores do sistema perceberam que havia um erro quando estava para iniciar a votação simbólica, mas não puderam investigar porque o sistema não pode ser acessado durante a sessão por questões de segurança.

Após a votação simbólica, uma nova votação foi aberta. No encerramento, o sistema detectou uma "inconsistência no número interno sequencial da votação", diz o relatório preliminar. Como o sistema não permite a inclusão de informação não-válida nos bancos de dados, foi automaticamente bloqueado o procedimento de encerramento da votação antes da gravação dos dados nas tabelas que são usadas para exibição dos resultados nos painéis.
Os operadores verificaram em seguida que havia uma duplicação no número interno de votação, consequência de uma retificação de dados feita na sessão anterior. O erro foi corrigido e o sistema acabou gravando a tabela de votação. Como o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), já havia decidido realizar a votação nominal, os resultados não foram exibidos.

Aécio espera que a auditoria esteja concluída na segunda-feira, para que as votações pelo sistema eletrônico sejam retomadas já na terça-feira.
Pela manhã, o presidente da Câmara chegou a afirmar que divulgaria o resultado da votação de anteontem logo após a conclusão da auditoria, já que se tratava de uma votação aberta.
Mas acrescentou que o resultado não teria valor legal, porque a votação foi anulada. Depois de consultar a Mesa, Aécio afirmou no final da tarde que não havia uma decisão sobre a divulgação dos dados da votação.

Críticas a Aécio
Líderes governistas criticaram a atitude de Aécio de considerar a votação do painel nula e convocar a nominal. Para eles, Aécio foi precipitado. O deputado Ricardo Barros (PPB-PR), vice-líder do governo na Câmara, afirmou que Aécio devia ter insistido novamente na votação eletrônica.
"Ele não tem de ficar fazendo o jogo para platéia, fazendo o jogo da oposição", disse Barros.
Segundo aliados do governo, Aécio estava mais preocupado com a sua imagem pública em um ano pré-eleitoral do que ficar ao lado de seus aliados.
O líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), evitou criticar Aécio publicamente. "A nós cabe respeitar a decisão."
O líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), disse que, no lugar de Aécio, esperaria meia hora para tentar resolver o problema antes de iniciar a votação nominal.
A defesa de Aécio foi feita pelo PT. O líder do partido afirmou que Aécio agiu corretamente cumprindo o regimento. "Os aliados estão mais preocupados em derrubar Aécio do que qualquer coisa", disse Pinheiro.


Presidente do Supremo defende deputado que rasgou Constituição
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Marco Aurélio de Mello, defendeu ontem o gesto do deputado Paulo Paim (PT-RS) de rasgar a Constituição em protesto contra a proposta de reforma na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Marco Aurélio disse que vê na atitude respeito à Constituição, não o contrário. "Não podemos simplesmente ver no ato dele uma agressão à lei maior da República. Ao contrário. Ele procedeu a esse ato, que é extremo, visando preservá-la", afirmou.
Mas a Mesa da Câmara deve punir Paim. A Folha apurou que ele não corre risco de cassação, mas de receber advertência por escrito ou suspensão temporária de prerrogativas (ser impedido de relatar matérias, por exemplo).

Na tumultuada sessão da Câmara de terça-feira, quando se discutia o projeto que modifica a CLT, Paim rasgou uma folha da Constituição e atirou o exemplar na direção do colega Ricardo Izar (PTB-SP), atingindo por engano André Benassi (PSDB-SP).
Após o protesto, o petista pediu desculpas a membros da Mesa. Paim afirmou que reagira a Izar, que o teria xingado. Izar nega.

O protesto levou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), a anunciar que pedirá a cassação de Paim. O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), intervirá para não permitir a cassação, mas apoiará a intenção do corregedor da Casa, Barbosa Neto (PMDB-RS), de encaminhar o pedido de quebra de decoro para apreciação do Conselho de Ética.
A Folha apurou que Barbosa Neto é favorável à punição.
Para Marco Aurélio, Paim não deve receber punição do Judiciário. Em tom irônico, o ministro afirmou que não rasgaria a Constituição. "Não, jamais, porque talvez não tivesse dinheiro para comprar outra."


Artigos

Simpatia besta
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Esperei 24 horas para ver se o presidente da República desmentia ou se se desculpava pela infame afirmação sobre os professores.
Veio apenas uma canhestra tentativa de explicação, que só piora as coisas. O presidente diz que sua observação foi "em tom simpático".
Antes de conhecida a explicação, reclamava a leitora Ana Maron Vichi (Campinas, SP), que se diz "esposa de cientista e professor, com todo o orgulho possível":
"Ao dizer que quem não produz vira professor, se o senhor quis fazer mais uma de suas "piadas" , só posso dizer: Eta piadinha besta".
Suspeito que Ana e mais uma penca de professores, mulheres de professores, irmãs, mães, tias, primos, primas, filhos, filhas etc. dissessem agora: "Simpatia mais besta essa".

A frase de FHC é tão infame que dispensa comentários adicionais. O que assusta, na verdade, é tentar entender por que um cidadão inteligente, com boa capacidade de exposição oral, comete semelhante despautério (não é o primeiro, é verdade, mas me parece o mais grave).
Suspeito que se trate de um sintoma da dificuldade de o tucanato em geral e de seu chefe em particular aceitarem críticas e situações adversas.
Inúmeras vezes, a turma do governo passa a sensação de que, se alguém disser "como vai? tudo bem?", a resposta será "o que você está querendo insinuar?".

Há casos em que se defendem de acusações que NÃO foram feitas.
A oposição dirá, certamente, que é um caso clássico de consciência culpada. Aposto que não. O presidente e os ministros que mais conheço estão convencidos de que fazem um belo governo. Mas não lhes basta. Querem reconhecimento amplo.
A greve dos professores, de alguma forma, é uma maneira objetiva (e midiática) de não reconhecer a obra. Então o presidente dedica o seu "tom simpático" ao professorado.


Colunistas

PAINEL

Roupa emprestada
Roseana (PFL) tentará consolidar sua candidatura presidencial apresentando-se como uma alternativa para quem discorda do governo FHC e acha Lula "radical". Seu objetivo, ao mostrar um suposto viés esquerdista, é crescer entre os eleitores de Ciro, Garotinho e Itamar.

No acostamento
Roseana aposta que Garotinho e Itamar ficarão pelo caminho e que Ciro irá definhar até a eleição. Quem conseguir herdar mais votos desse trio chegará ao segundo turno com Lula.

Mochila nas costas
Jutahy Júnior, um dos fiéis escudeiros de Serra no Congresso, preparou um roteiro para levar o ministro às bases eleitorais dos deputados que, a princípio, não têm muita simpatia pela candidatura dele. Acha que, com um pouquinho de paciência, o tucano conseguirá convertê-los.

Sinal amarelo
A Ouvidoria da Câmara registrou, durante uma semana, 200 reclamações contra o projeto do governo que aumenta o Imposto de Renda. O dado foi repassado aos líderes de bancada.

Deixa comigo
Pedro Malan telefonou ontem para Jorge Bornhausen (PFL-SC) a fim de avisá-lo de que irá acabar com o depósito obrigatório de 30% para os contribuintes que entram com recursos contra multas da Receita Federal. O fim é propo sto em projeto de Bornhausen que tramita no Senado.

Festa esvaziada
A ala do PSB contrária à candidatura de Anthony Garotinho à Presidência não vai participar do congresso do partido, que começa hoje em Brasília.

Sobrinho rebelde
De Ricardo Berzoini (PT), sobre o esquema de segurança montado na Câmara para a votação da CLT: "Depois do que o Aécio Neves fez para impedir manifestações, é mais apropriado chamá-lo de Aécio Médici".

Decoro parlamentar
O Ministério Público Federal vai pedir a cassação do deputado José Aleksandro sob a acusação de ajudar seu irmão, Alexandre Alves, na fuga de um presídio no Acre. Alves, que teria usado um carro do parlamentar, pertenceria ao esquadrão de Hildebrando Pascoal.

Mundo pequeno
Martus Tavares (Planejamento) se reunirá hoje com Cid Gomes, prefeito de Sobral (CE) e irmão do presidenciável do PPS. O ministro de FHC quer o apoio dos Gomes para a sua pré-candidatura ao governo do Ceará.

Ira regionalista
Perguntaram a Ciro, em palestra, se o fato de ser um jovem político nordestino o prejudicava. A resposta, ácida, teve vários endereços: "É melhor ser um jovem político nordestino do que um velho político paulista". Radicado no Ceará, Ciro nasceu em Pindamonhangaba (SP).

Conhecimento de causa
A falha do painel de votações da Câmara fez Geddel Vieira Lima, líder do PMDB, lembrar-se de seu rival na política baiana: "É mais uma assombração do fantasma de ACM".

Melancia no pescoço
Antes de rasgar a Constituição, Paulo Paim (PT-RS) pensou em acorrentar-se no plenário da Câmara para protestar contra as mudanças na CLT.

Pires na mão
Marta Suplicy começou a preparar sua viagem ao Japão, marcada para fevereiro. A prefeita de SP irá levar uma comitiva de empresários ao Oriente. Ontem, a petista convidou Chieko Aoki, do grupo Blue Tree Hotels, para coordenar o grupo.

Visita à Folha
Ariovaldo Carmignami, presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Maria Monserrat Padilla, diretora da WN&P Comunicação Ltda.

TIROTEIO

Do senador Paulo Hartung (PSB-ES), sobre a falha do painel da Câmara na votação do projeto que flexibiliza a CLT:
- De trapalhada em trapalhada nos painéis da Câmara e do Senado, o Congresso vai desmoralizar o voto eletrônico, que foi uma grande conquista da democracia brasileira.

CONTRAPONTO

Novas demandas
Suplicy não consegue dar dez passos no Senado sem ser cumprimentado. A sua pré-candidatura a presidente é o de menos. O que tem colocado o petista na berlinda é a participação de Supla no "Casa dos Artistas".
Há três dias, Pedro Simon (PMDB) aproximou-se, efusivo:
- Menino bom, aquele. Puxou o pai - brincou.
Logo depois, Suplicy foi abordado no corredor do Senado por uma senhora acompanhada da sobrinha de 12 anos.
A mulher disse que circulara por "todas" as lojas de Brasília e que não havia encontrado o CD do Supla. Ela queria dar o presente à sobrinha, fã do cantor. Decidiu então procurar o próprio senador para pedir o CD.
Suplicy, adaptando-se à pressão da "nova base", só achou uma saída:
- Passe na semana que vem, que eu arrumo uma cópia. Também estou sem nenhuma.


Editorial

NÃO HÁ URGÊNCIA

O governo federal transformou a aprovação de um projeto de lei por muitos considerado medíocre num cavalo de batalha difícil de justificar. Por duas vezes seguidas, manobras de partidos situacionistas retiraram quórum da votação sobre a proposta que altera a Consolidação das Leis do Trabalho. Na quarta-feira, a retirada de governistas do plenário foi precedida da quebra do painel eletrônico da Casa, fato que deve ser minuciosamente investigado. De todo modo, abre-se um tempo para que o governo reavalie sua estratégia e retire o regime de urgência constitucional do projeto.

É custoso discernir as vozes sensatas no clima de animosidade belicosa criado entre defensores e opositores da proposta. Porém é inegável que a forma escolhida pelo governo para que a matéria tramitasse -sem acordo amplo em setores sociais interessados no assunto, sem audiência pública, sem submetê-la às comissões deliberativas da Câmara do Deputados- contribuiu bastante para o acirramento dos ânimos. E reforma que pretende melhor regular relação tão espinhosa quanto a entre patrões e empregados não deve ser aprovada à socapa.

Alterar o Imposto de Renda e votar o Orçamento da União de 2002 são temas de indiscutível urgência. Se o ano legislativo acabar e esses assuntos não forem decididos, haverá frustração para os contribuintes do imposto e grandes dificuldades para a gestão pública. O mesmo não pode ser dito da mudança na CLT. Requer excessiva dose de boa fé ou de governismo para acreditar que a alteração seria capaz de, num repente, resgatar para o setor formal da economia milhões de trabalhadores brasileiros que estão hoje na informalidade; ou que significaria para os empresários um alívio imediato nos custos trabalhistas -uma questão a ser discutida no âmbito das reformas tributária e previdenciária.

Retirar a urgência do projeto da CLT significa liberar a pauta da Câmara para assuntos que de fato merecem apreciação urgente. Ainda mais importante: esse gesto do Executivo é imprescindível se a intenção é a de aprovar algo melhor e com respaldo social mais amplo no campo das relações de trabalho.


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11/30/2001


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