Oposição diz ter nomes para criar CPI contra Taniguchi
Oposição diz ter nomes para criar CPI contra Taniguchi
Com o aval do presidenciável Ciro Gomes (PPS), a bancada de oposição na Câmara Municipal de Curitiba (PR) anunciou ontem ter conseguido a 12ª adesão necessária para apresentar pedido de instauração de CPI com o objetivo de apurar denúncia de caixa dois na campanha do prefeito Cassio Taniguchi (PFL).
Formalmente, o PFL declarou à Justiça Eleitoral gastos de R$ 3,11 milhões na campanha de reeleição de Taniguchi, no ano passado, mas a Folha mostrou que o caixa dois movimentou outros R$ 29,8 milhões.
Ontem, a vereadora Arlete Caramês (PPS) anunciou que assina a petição pela instalação da CPI, seguindo orientação do partido.
O presidente do diretório regional do PPS, deputado federal Rubens Bueno, esteve ontem em Curitiba para discutir o assunto com a vereadora e convencê-la a apoiar a CPI.
Segundo ele, Ciro Gomes também apóia a decisão, por considerar as denúncias "gravíssimas".
Com a adesão do PPS, a oposição na Câmara dos Vereadores -que engloba ainda PT, PMDB e PDT- contabiliza os 12 votos mínimos necessários à apresentação do pedido. No entanto, a requisição da CPI não será apresentada agora.
De acordo com o vereador André Passos, líder do PT na Câmara, o "momento político" ainda não é o ideal para apresentar o pedido, já que o bloco governista -com 23 vereadores- teria amplo domínio sobre a CPI, ocupando inclusive a presidência e a relatoria da comissão, conforme regimento da Assembléia.
"Não vamos cair no jogo da situação, de criar uma CPI laranja", afirmou Passos.
"Clamor"
A oposição acredita que, com a apuração das denúncias pelo Ministério Público e por outros órgãos, haverá um clamor da sociedade que pode fazer com que vereadores governistas passem a apoiar a CPI.
"Precisamos que os vereadores sejam pressionados", afirmou.
O líder do governo na Câmara, Mário Celso Cunha (PSB), afirmou que as 12 assinaturas alardeadas pela oposição não passam de "um blefe".
Ele disse que cabe ao Ministério Público e ao Tribunal Regional Eleitoral investigarem as denúncias, e não à Câmara. "Isso seria um palanque político", afirmou. Segundo ele, não há nexo nas denúncias, "que foram feitas com base em cópias, sem documentos oficiais ou originais".
Francisco Paladino Junior, tesoureiro da campanha à reeleição de Taniguchi, em 2000, confirmou na semana passada, em entrevista gravada, que são cópias fiéis dos originais os papéis obtidos e publicados pela Folha a respeito do caixa paralelo do PFL de Curitiba.
Mão Santa "inaugura" obra no Piauí
O ex-governador do Piauí Francisco de Assis de Moraes Souza (PMDB), o Mão Santa, discursou em palanque ontem durante a inauguração do complexo penitenciário de Esperantina (a 190 km de Teresina) para cerca de 3.000 pessoas, segundo a PM.
Durante cerca de 15 minutos, ele falou da "injustiça" de sua cassação pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no último dia 6, e dos "desígnios de Deus" que levaram a sua cassação. Disse ainda que o governo não vai ser "roubado no tapetão" e pediu a Deus que abençoasse o governador interino, Kleber Eulálio (PMDB).
Mão Santa acompanhava Eulálio, seu aliado, que discursou depois. Eulálio disse que vai dar continuidade às obras do governador cassado e que seu desejo é que Mão Santa estivesse lá discursando como governador.
Ainda não existe definição de quem será o próximo governador. Ontem, o "Diário da Justiça" publicou o resultado da totalização dos votos feita no sábado pelo TRE. Só no início da próxima semana o pleno do TRE deverá decidir se diploma Napoleão ou se convoca uma nova eleição.
Horas antes de inaugurar a penitenciária, Eulálio anunciou que irá suspender os investimentos em obras no Estado para evitar que falte dinheiro para pagar o salário do funcionalismo.
A categoria que mais está pressionando o governo é a dos policiais militares. Eles ameaçam entrar em greve por melhores salários, mas outros servidores também temem que falte dinheiro para o salário e para o 13º porque teria havido antecipação de pagamentos a fornecedores.
Eulálio nega os pagamentos antecipados, mas pede compreensão aos servidores, especialmente aos policiais militares.
Arrombamento
O serviço de segurança do Senado está investigando suspeita de arrombamento do gabinete da liderança do PFL na Casa na madrugada da última sexta-feira.
O gabinete pertence a Hugo Napoleão, que é líder do PFL no Senado. Nesse dia, o senador estava no Piauí, para resolver a disputa pelo governo. Segundo funcionários da liderança, há cerca de um mês aconteceu a mesma coisa.
Ministros foram a evento de lobista
O lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, organizou encontros entre empresários da ABDIB (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base) e ministros de Estado.
A agenda do lobista, apreendida pela Polícia Federal, registra um jantar com o ministro Pedro Malan (Fazenda), em 11 de setembro, um almoço com o ministro Sérgio Amaral (Desenvolvimento), em 12 de setembro, e uma audiência com o ministro Pedro Parente (Casa Civil), em 26 de junho.
A assessoria de imprensa da ABDIB informou que a associação é cliente de APS e que o lobista é o responsável pelos contatos da entidade com as autoridades governamentais de Brasília, porque a associação não tem escritório na capital federal.
Segundo a assessoria, é a ABDIB que convida os ministros. APS cuida da infra-estrutura do evento e confirma a data e o horário dos encontros.
Em sua carta de apresentação aos clientes, APS afirma ser capaz de "aproveitar ou criar oportunidades de contatos com autoridades para divulgar os planos empresariais do cliente".
O jantar com o ministro Pedro Malan ocorreu no salão monumental 1 do Hotel Grand Bittar, localizado no setor hoteleiro sul de Brasília. O salão tem capacidade para 200 pessoas.
Após a ABDIB entregar o convite a Malan, APS fez os contatos com o chefe de gabinete do Ministério da Fazenda, João Batista do Nascimento Magalhães, para definir o horário e o tema da palestra do ministro.
A idéia acertada inicialmente era a realização de uma palestra sobre conjuntura econômica e de uma solenidade em que Malan seria condecorado como "amigo da infra-estrutura".
Mas os atentados terroristas em Nova York na manhã de 11 de setembro levaram ao cancelamento da homenagem ao ministro.
Malan fez sua palestra, jantou com os empresários e ouviu o que eles tinham a dizer. APS participou de tudo.
No dia seguinte, o almoço com o ministro Sérgio Amaral ocorreu no salão preto do Hotel Bonaparte, também no setor hoteleiro sul de Brasília.
Participaram as mesmas pessoas presentes ao jantar do dia anterior. O ministro também deu uma palestra e ouviu os empresários que participam da ABDIB.
A audiência com o ministro Pedro Parente foi solicitada diretamente pela ABDIB e não contou com a participação de APS.
O lobista também registrou um jantar com Parente, em 25 de setembro, que acabou não ocorrendo. Segundo a assessoria do ministro, ele foi convidado pela empresa White Martins, mas não compareceu.
Anteontem, Parente anunciou a proibição de lobby no âmbito da Presidência da República até que a atividade seja regulamentada.
FHC e Marta
A agenda do lobista registra duas supostas audiências com o presidente Fernando Henrique Cardoso e outras duas com a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.
Em uma das anotações, em 3 de março, APS antecipou um encontro que aconteceria no dia 21 do mesmo mês entre o ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), FHC, Fernando Terni e Alain Rivière, da Intelig, David Jones, da National Greed, e Jacques Brun, da France Telecom. No dia 10 de abril, APS anota uma nova audiência com FHC, no mesmo horário da anterior , às 17h30.
Marta Suplicy é citada duas vezes. Em 12 de março, APS indica uma suposta reunião com a petista. Na segunda, dia 29 do mesmo mês, o lobista refere-se a Marta como "Dep.". A prefeita foi deputada federal de 1995 a 1998.
FHC convoca Serra e Tasso para conter crise
O presidente Fernando Henrique Cardoso quer dar um basta na confusão instalada no PSDB e se prepara para, nos próximos dias, intervir diretamente no processo a fim de retomar o controle sobre a sucessão presidencial.
FHC deve conversar com o ministro José Serra (Saúde) e o governador Tasso Jereissati (CE), além dos principais líderes tucanos, a fim de tentar acalmar os ânimos dos principais pré-candidatos à sucessão de 2002.
Segundo interlocutor assíduo de FHC, o presidente ficou "aborrecido" com a troca de farpas entre Serra e Tasso na semana passada. Tanto que não esperou voltar de Nova York para enviar um recado aos dois por intermédio do presidente da Câmara, Aécio Neves (MG), que o acompanhava.
O clima belicoso instalado entre os tucanos, na visão de FHC, não levará o PSDB a lugar nenhum. O presidente teme a fragmentação do partido e sua consequente fragilização quando ainda faltam cerca de 11 meses para a eleição.
Se o PSDB se fragmentar, a tendência é FHC perder o controle sobre a própria sucessão, a exemplo do que ocorreu com o ex-presidente José Sarney (1985-1990).
As conversas com Serra e Tasso serão separadas. Chamar os dois ao Planalto, como chegaram a cogitar tucanos, passaria a idéia de que FHC está dando "um pito".
Amanhã, FHC executa mais um movimento no tabuleiro da sucessão ao empossar três novos ministros e dispensar o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha.
Dois dos três novos ministros serão "tampões" -os deputados Arthur Virgílio, que assumirá a Secretaria Geral da Presidência, e Aloysio Nunes Ferreira, que vai para a Justiça. Ficam até abril, quando, por exigência legal, têm de deixar o cargo para as eleições.
O senador Ney Suassuna (PMDB-PB) assumirá a Integração Nacional e pode ficar até o fim da gestão FHC: para ter o cargo, Suassuna, antes vetado por tucanos da Paraíba, teria se comprometido a não disputar a eleição.
No jogo imediato da sucessão, mais importante será a saída de Padilha. Será substituído por Alderico Jefferson Lima, atual secretário-executivo do ministério.
Mas o cargo está reservado para reforçar o jogo do PMDB fiel a FHC para derrotar Itamar Franco na prévia que escolherá o candidato da sigla, em 20 de janeiro. O Planalto espera ter de optar por um técnico ligado ao governador Jarbas Vasconcelos (PE) ou ao deputado Michel Temer (SP).
Prévia do PMDB
A Executiva Nacional do PMDB se reúne hoje para definir as regras da prévia. Aliados a FHC querem a fórmula adotada em 1994 na disputa entre Orestes Quércia (SP) e Roberto Requião (PR), pela qual a maioria dos que têm mandato eletivo e nas instâncias do partido não participaria.
Assim, em vez dos 80 mil eleitores previstos, votariam algo entre 5.000 e 6.000 peemedebistas. A cúpula espera dessa forma diminuir o impacto de eventual tendência pró-Itamar da base.
Ministro da Fazenda volta a criticar o PT
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse ontem, em evento para empresários, que o PT está no "alto do salto alto" e, se ele não admite os avanços do governo, "é apenas por má fé e inconfessável propósito político".
Ele tirou de sua pasta uma entrevista de José Dirceu na qual o presidente do PT diz que o governo teria feito muitas coisas erradas.
"O partido de oposição faz um enorme desserviço ao país ao apresentar críticas ao governo cheias de ambivalências e ambigüidades", disse: "Essas declarações de que a única coisa que o governo se preocupa é com a inflação é uma crítica antiética e incorreta de quem, prematuramente a meu ver, já se considera no poder".
Questionado sobre a razão de estar "batendo" no PT, Malan disse que o partido do governo ainda não escolheu seu candidato e que, quando isso for decidido, o nome escolhido terá essa função.
José Dirceu qualificou as críticas de provocações. Segundo ele, até os presidenciáveis do PSDB afirmam que vão mudar a política econômica: "O Malan não é mais candidato. É melhor primeiro ele se entender com o José Serra, com o Tasso Jereissati, para saber o que eles vão propor".
Garotinho adia a definição de seu candidato à sucessão no Rio
O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), adiou o processo de definição do candidato do partido que irá disputar sua sucessão, o que lhe dá margem maior de manobra para desistir da candidatura à Presidência da República e disputar a reeleição.
No início de outubro, o governador havia dito que o PSB deveria definir o nome para disputar o governo do Rio em duas semanas. Agora, não há prazo determinado. Os pré-candidatos esperam uma definição no início de 2002.
O prazo corresponde aos planos que Garotinho havia traçado no primeiro semestre, quando avaliou que só continuaria na disputa presidencial se conseguisse atingir 15% das intenções de voto até o final de 2001. Beirando o máximo de 10% nas últimas pesquisas, o governador está apostando que poderá melhorar seu desempenho a partir do horário eleitoral do PSB, no dia 13 de dezembro.
STJ
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) encaminhou ontem à Assembléia do Rio pedido de licença para processar Garotinho. Ele é acusado de prevaricação (crime praticado por funcionário público e que consiste em retardar ou deixar de praticar, indebitamente, ato de ofício), quando ainda era prefeito de Campos (RJ).
Segundo o Ministério Público Federal, em 1998, Garotinho teria autorizado uma construção irregular para favorecer a então secretária da Educação de Campos. Para o MPF, não foi respeitada a exigência de recuo de 3,5 m para edificações na praça São Salvador.
O secretário extraordinário de Justiça do Rio, Sérgio Zveiter, informou que Garotinho não foi oficialmente notificado do pedido do STJ. "Foi um procedimento formal", disse.
PTB quer as vices de Ciro e Alckmin
O presidente nacional do PTB, José Carlos Martinez, afirmou ontem, em São Paulo, que seu partido deve indicar os nomes para as vagas de vice nas chapas encabeçadas pelo governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo presidenciável Ciro Gomes (PPS) nas eleições do próximo ano.
""Nossa caminhada com Alckmin é anterior ao Ciro. São 99,9% de chance. Teremos dois palanques", disse Martinez, após almoço com o presidenciável.
PPS e PTB decidiram se unir para a disputa presidencial, mas o PTB de São Paulo já se comprometeu a apoiar Alckmin ao governo. Entretanto nenhuma das duas vagas de vice está garantida.
Enquanto no PSDB há quem defenda uma chapa composta só por tucanos, o PPS tem dito que a indicação de um trabalhista dependerá do término das negociações com outros partidos.
""Se o Martinez disse, está dito", limitou-se a afirmar Ciro Gomes sobre o episódio.
A divisão de palanques no maior colégio eleitoral do país tem o potencial de criar constrangimentos para o presidenciável do PPS, já que o PSDB é hoje o maior alvo de seus ataques.
Mas no PPS há dúvidas quanto a eventuais prejuízos provocados pela união entre trabalhistas e tucanos. Deputados do partido de Ciro argumentam que, mais importante do que isso, será o tempo de televisão que a coligação com o PTB garantirá à candidatura.
Embora venha defendendo em reuniões com correligionários que suas alianças sejam feitas com legendas de centro-esquerda, Ciro terá dificuldades para se opor à empreitada envolvendo PTB e PSDB se quiser ser coerente.
Afinal tem sido frequente em seu discurso o argumento de que a questão nacional tem de se sobrepor a problemas regionais, ""ainda que eles sejam legítimos".
O pragmatismo eleitoral tem contaminado até mesmo s etores do PPS, que já defendem uma coligação estadual que também englobe o PSDB.
O presidenciável afirmou ontem que a propaganda partidária do PFL focada em Roseana Sarney (MA) é ""ilegal".
A lei 9.096, que regulamenta o horário partidário, veta a divulgação de candidaturas a cargos eletivos, mas também proíbe a participação de pessoas de outros partidos nos programas. Ciro foi um dos personagens do último horário reservado ao PTB.
O presidenciável se reuniu ontem em São Paulo com o publicitário Einhart Jacome da Paz, seu cunhado e responsável por sua candidatura ao Planalto em 98.
Os dois podem anunciar uma nova parceria nos próximos dias. Segundo pessoas ligadas a Ciro, o acordo dependeria de um acerto financeiro.
Eleição será a mais difícil, diz Jobim
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Nelson Jobim, disse que a eleição de 2002 será a "mais difícil" da história. Todos os 116 milhões de eleitores votarão em seis candidatos nas urnas eletrônicas: presidente, governador, dois senadores, deputado estadual e deputado federal.
A afirmação do ministro foi feita no Seminário de Cobertura Política e Eleições, organizado pela Associação Nacional de Jornais, que teve início ontem. Jobim falou na conferência "A Justiça Eleitoral e a Liberdade de Imprensa".
Cada eleitor terá de teclar 25 vezes, no mínimo, para completar a votação. A previsão é que cada pessoa demore 75 segundos. Serão 19 toques para escolher os seis cargos e 6 para confirmar o voto.
Na última eleição, para prefeitos e vereadores, o eleitor precisou teclar nove vezes na urna: 2 toques para prefeito, 5 para vereador e 2 para confirmar.
"Isso leva a uma aguda preocupação de o eleitor errar na hora de votar. A tradição em uma eleição é votar nos candidatos mais conhecidos: governador e presidente da República. Logo, a concentração de votos brancos ou nulos fica com os demais candidatos."
Para o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, o fato de o eleitor ter de digitar 25 vezes para completar a votação criará uma dificuldade inusitada. "Isso vai despertar a vontade de o eleitor chamar os generais", disse, referindo-se ao regime militar.
Um dos temas mais polêmicos no seminário foi o direito de resposta, recurso que permite a candidatos que se sentirem ofendidos com uma reportagem solicitar o mesmo espaço para defesa.
Para Ferreira, é "natural" e "legítimo" que os jornais manifestem suas idéias em relação a um certo candidato. "Os jornais têm o dever de informar e o direito de manifestar uma opinião. Essa é uma garantia constitucional."
Jobim disse que solicitou uma pesquisa para saber o número de direitos de resposta concedidos no país.
"Posso afirmar é que isso varia muito de região para região." Para ele, a liberdade de imprensa deve conviver com o direito à normalidade da eleição.
Hoje, o seminário continua com as conferências "Os Jornais e os Problemas com a Justiça Eleitoral", "Os Erros dos Jornais Americanos na Última Eleição", "Os Jornais Brasileiros e a Concorrência da Mídia Eletrônica" e "O Papel das Pesquisas de Opinião".
Artigos
Sozinho no deserto
CLÓVIS ROSSI
DOHA (Qatar)
- Ernesto Zedillo Ponce de León foi, até poucos meses atrás, o imperador do México, como presidente em um país em que a concentração de poderes nas mãos do chefe do Executivo consegue ser maior até do que no Brasil.
Mais: Zedillo era a menina-dos-olhos dos norte-americanos, pelo fato de ter prosseguido nas reformas ditas neoliberais de seu antecessor, Carlos Salinas de Gortari, aliás outro queridinho de Washington caído em desgraça (por corrupção) apenas depois de deixar a Presidência.
Zedillo leva uma vantagem sobre Salinas: conduziu o México à democracia, abrindo espaço para a alternância no poder, depois de 70 anos de predomínio absoluto do PRI (Partido Revolucionário Institucional).
Zedillo está em Doha. Tão sozinho, tão distante das pompas (e dos seguranças e dos aspones que cercam o poder e os poderosos) que demorei para admitir para mim mesmo que era ele. Reconhecia-o fisicamente, mas não podia ser o ex-presidente do México.
Caminha pelos intermináveis corredores do Hotel Sheraton, QG da Conferência Ministerial da OMC, sem ninguém atrás dele, sem um só jornalista a infernizá-lo com as populares cenas de jornalismo explícito que protagonizamos sempre que se aproxima alguém que supomos ter alguma informação a dar.
É verdade que Zedillo deixou a Presidência mexicana no século passado. Mas, convenhamos, foi também no ano passado.
Confesso que me deu até certa pena. Quase fui abordá-lo para que não sentisse o peso da formidável diferença entre a adulação de ontem e a solidão de hoje. Mas descobri que não tenho a menor idéia do que poderia lhe perguntar que me pudesse resultar em resposta útil.
Por isso, resolvi dividir com o leitor esta historinha. Talvez seja lida também por gente que estufa o peito hoje por "tutear", como dizem os gaúchos, os grandes do planeta. O amanhã pode ser muito melancólico.
Colunistas
PAINEL
Briga no tapetão
Itamar ameaça entrar na Justiça caso a cúpula do PMDB decida enxugar o colégio eleitoral das prévias para a Presidência. A redução do eleitorado para cerca de 3.000 votantes deve ser aprovada hoje pelos governistas, que consideram ser esse o único meio de vencer o mineiro.
Diferença astronômica
O governador mineiro tem em mãos uma resolução da Executiva do PMDB segundo a qual todos os membros dos diretórios nacional, estadual, municipal e zonal podem votar nas prévias. Nas contas de Itamar, seriam cerca de 200 mil pessoas.
Jogo de palavras
"Itamar não tem de querer nada. Já declarou que vai vencer a prévia e apoiar o Lula", diz o deputado Eunício Oliveira, da Executiva Nacional do PMDB.
Manter a distância
Tasso Jereissati e José Serra enviaram às TVs novas gravações para os comerciais do PSDB. O governador do Ceará, que continuará a não exibir o slogan do PSDB ("O Brasil avança em paz"), vai dizer que não é "teórico" e que "sabe governar".
Lupa preventiva
Lula pediu à cúpula do PT que monitore de perto as administrações estaduais e municipais do partido. O presidenciável diz que o Planalto iniciou uma "guerra suja" contra a sua candidatura e quer evitar dar argumentos aos adversários.
Panos quentes
Para líderes do PT, escândalos como o que atingiu o governo do RS -Olívio Dutra é acusado de favorecer o jogo do bicho- poderiam ter sido evitados se o partido tivesse abortado a abertura de uma CPI na Assembléia.
Relógio da discórdia
Tasso (PSDB-CE) conversou com Albano Franco (PSDB-SE) para articular reunião com José Jorge (Minas e Energia). Em pauta, o apagão. Mas Franco está mesmo preocupado é com o horário de verão, odiado no Sergipe: "Cansei de ver o povo chamar de "horário Albano'".
Terceiro racha
Candidato do PMDB ao governo do RN, Henrique Alves vê com bons olhos um eventual apoio do partido à candidatura Roseana Sarney. "Ela tem méritos para essa missão."
Gasto extra
Além de contratar uma equipe de TV na Itália, a Câmara teve outras despesas com as recentes viagens de Aécio Neves. O tucano fez questão de levar dois assessores aos EUA. Cada um receberá R$ 14,6 mil em diárias.
Sala de espera
Finalmente Marta deverá ser recebida por FHC. O encontro está previsto para amanhã em Brasília. A prefeita quer tratar da renegociação da dívida de SP. Se não conseguir, a petista ameaça colocar faixas de protesto nos ônibus dizendo que "SP está falida e FHC não quis ajudar".
Estética global
Filho de Miguel Arraes, Guel Arraes, da Globo, tem dado dicas para o programa de TV do PSB, a ser exibido em dezem bro, que tentará alavancar a candidatura de Anthony Garotinho.
Bandeirada livre
Ciro almoçou ontem em SP com líderes do PTB na casa de um deles. Três deputados preferiram ir ao evento, de natureza política, em carros oficiais da Assembléia: Dorival Braga, Willians Rafael e Celso Tanaui.
Apartheid salarial
A remuneração média da mulher negra em 99 era de R$ 280 e, a da branca, R$ 593. Os homens negros recebiam R$ 320, contra R$ 698 dos brancos. As informações são do banco de dados "Indicadores de Gênero", a ser lançado hoje pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Visita à Folha
Paulo Camarda, presidente da Fundação Cásper Líbero, visitou ontem a Folha.
TIROTEIO
De Itamar (PMDB), sobre Tasso (PSDB) ter dito que ele não serve nem para prefeito:
- O referido senhor anda abalado por razões óbvias. Ao se relacionar com o poder, sempre manifestou interesse em indicar amigos para altos cargos na área financeira. Hoje, o coitado luta adoidadamente para chegar aonde já estive.
CONTRAPONTO
Faz-de-conta
Apesar das denúncias sobre a conta milionária na ilha de Jersey, Paulo Maluf (PPB) não deixou de fazer o que seus amigos dizem ser a coisa de que mais gosta na vida: pedir voto.
Candidato ao governo de SP, Maluf tem percorrido o interior quase toda semana. Reúne-se com prefeitos e vereadores, abraça eleitores, beija crianças e finge ignorar os insultos que ouve pelo caminho. Dias atrás, foi procurado por uma dupla de jornalistas que queriam ouvi-lo sobre o caso Jersey.
Ao ver o repórter-fotográfico, Maluf animou-se:
- Esse aí é malufista...
- Como assim? - perguntou-lhe o repórter.
- Não está vendo? Ele entrou sorrindo - respondeu Maluf.
Ao final da entrevista, Maluf voltou à carga. O ex-prefeito olhou diretamente nos olhos do fotógrafo e perguntou sério:
- O senhor já tem candidato?
Editorial
DOUTRINA BUSH
Vão aos poucos ganhando corpo os princípios que constituem a Doutrina Bush, a política externa dos EUA depois dos atentados de 11 de setembro. O presidente norte-americano utilizou seu discurso à Assembléia Geral das Nações Unidas, no último sábado, para delinear melhor a ação antiterror.
Numa fala forte, marcada por palavras e imagens duras, Bush afirmou que os terroristas ameaçavam "a própria civilização". Disse ainda que o momento das condolências passou e que chegou a hora da ação.
O presidente norte-americano não poderia ter sido mais claro quando afirmou que todas as nações têm de combater o terrorismo: "Nós temos a responsabilidade de negar qualquer santuário, abrigo seguro ou trânsito para terroristas (...) Nós temos a responsabilidade de negar armas a terroristas e de ativamente impedir cidadãos particulares de fornecê-las. Essas obrigações são urgentes e vinculativas a todo país com uma cadeira nesta câmara [a ONU"". É uma nova formulação do "quem não está conosco está contra nós".
Não há como contestar a afirmação de que os ataques a Nova York e Washington constituem crime contra a humanidade, cujas marcas psicológicas sobre todo o mundo ficaram claras ontem, com a queda de mais um avião em Nova York, por causas ainda não determinadas. É imperativo que o mundo civilizado lute contra o terrorismo. Ainda assim, a forma de combate ao terror que Bush cobra encerra dificuldades.
Mesmo concordando que não existe terrorismo "do bem", vários grupos podem ser qualificados ora como terroristas ora como guerrilheiros, dependendo da conveniência de quem os define. O IRA, por exemplo, que atua contra britânicos e protestantes na Irlanda do Norte, é chamado de terrorista por Londres e de resistência por católicos irlandeses. Era financiado principalmente pela comunidade irlandesa dos EUA.
Também o Hizbollah, qualificado como terrorista por Israel e pelos EUA, é visto por países árabes como legítima oposição à ocupação israelense no sul do Líbano, que se estendeu até o ano passado. Como ocorre com o IRA, o Hizbollah recebe contribuições de comunidades árabes espalhadas pelo mundo.
Não há justificativas para atos como os de 11 de setembro. Trata-se de um crime sem precedentes que tem de ser punido. Mas o mundo é um lugar complexo que, infelizmente, não pode ser equacionado numa divisão entre bons e maus.
Topo da página
11/13/2001
Artigos Relacionados
Oposição anuncia ter assinaturas para criar CPI da Petrobras
Oposição conta com dissidentes do governo para criar CPI da Petrobras
Oposição garante que em breve terá assinaturas para criar CPI da Petrobras
Oposição tentará criar CPI mista para investigar corrupção no governo
Agripino afirma que oposição pode criar CPI só para Silvio Pereira
Oposição começa a coletar assinaturas para criar CPI que investigará denúncias de corrupção