Oposição reage a acordo com FMI e rompe trégua com FHC
Oposição reage a acordo com FMI e rompe trégua com FHC
A divulgação anteontem da íntegra do Memorando de Entendimento entre o governo brasileiro e o FMI (Fundo Monetário Internacional) rompeu a relativa trégua obtida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com os três principais presidenciáveis da oposição, quando se reuniu com eles no dia 19 de agosto.
A principal crítica da oposição é ao fato de que o memorando de entendimentos deixa claro que o superávit fiscal primário (receitas menos despesas do governo, excluídos os juros) será maior do que o inicialmente acertado com o Fundo e comunicado aos candidatos por FHC.
"Não fomos informados disso. Fiquei surpreso quando vi a notícia", afirmou o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva em São José dos Campos (SP). "O perigo que nós corremos é que o governo esteja num fim de festa, de mandato, deixando as coisas acontecerem. Isso é ruim para o Brasil."
Em visita a Jacarezinho (PR), onde fez comício patrocinado pela dissidência do PFL do Paraná ontem à noite, Ciro Gomes foi mais contundente e concentrou seu ataque em Serra. "O candidato do governo foi para televisão várias vezes, dizer que apoiava com entusiasmo o acordo com o FMI porque ele não trazia sacrifícios adicionais", disse.
""Eu fui estudar o memorando e encontrei mais preciosidade, além do superávit extra: uma afirmação do governo brasileiro de que voltará a tentar descontar dos aposentados, o que contraria a Constituição brasileira, além de ser uma ser uma perversidade", acrescentou Ciro.
Segundo o candidato, a democracia brasileira está "em observação". Ele disse que irá conversar com Lula e Anthony Garotinho (PSB) sobre o assunto. "Eu estou inquieto com isso, as condições da disputa estão ficando profundamente desequilibradas", disse.
Meta maior
Pelas contas do deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), principal porta-voz econômico do partido, a meta de superávit para o primeiro semestre de 2003 (ou seja, para os primeiros seis meses do novo governo) é 8,65% superior ao resultado efetivamente obtido no primeiro semestre deste ano.
A tese reforça a nota oficial divulgada ontem por Mauro Benevides Filho e Luiz Alberto Rabi Jr., economistas da equipe Ciro: "Diferentemente do que afirmou reiteradas vezes o candidato governista à Presidência da República, José Serra, o novo empréstimo a ser celebrado com o FMI implica sacrifícios adicionais à população brasileira", escrevem.
Tito Ryff, economista de Garotinho, faz eco: "O memorando inclui compromissos que reduzem muito a margem de manobra do próximo governo", disse.
Além das restrições econômico-financeiras, centradas no aumento do superávit fiscal previsto, a crítica da oposição dirige-se também ao fato de que, nas reuniões no Palácio com todos os candidatos, esse dado não foi tratado assim como outros tópicos.
A Folha conferiu no Palácio do Planalto e verificou que, de fato, os oposicionistas têm razão: o único número de superávit fiscal anunciado no encontro com os candidatos foi o 3,75% do PIB.
Não foi mencionado nem o aumento para 3,88% anunciado anteontem pela equipe econômica nem o fato de que a economia maior do governo se estenderá aos primeiros seis meses da futura administração. "É um erro grave", diz Mercadante.
Mas há mais reparos técnicos.
O deputado petista, por exemplo, queixa-se de que o aumento do superávit exigido pelo novo acordo se dá justamente em uma conjuntura interna de desaceleração da economia (o que significa menos receita para o governo) e em um quadro internacional de dificuldades e incertezas.
Mercadante menciona ainda o fato de que parte das receitas deste ano não se repetirá no ano que vem, como é o caso da arrecadação de impostos sobre fundos de pensão ou os pagamentos de impostos via Refis (programa de refinanciamento de dívidas).
O economista petista Guido Mantega diz ainda que o aumento do superávit fiscal já neste ano deve comprometer investimentos do próximo governo. "A conta será paga pela próxima gestão".
Em sua nota, os economistas de Ciro atacam, em especial, a exigência de cobrança de contribuições previdenciárias de servidores aposentados: "Além de perversa e injusta, a proposta afronta a Constituição", diz o texto. O governo FHC de fato tentou várias vezes, sem êxito, mudar a Constituição para estabelecer a contribuição dos aposentados.
Privatizações
Tito Ryff, da campanha de Garotinho, cita ainda o fato de que o acordo prevê privatização dos bancos estaduais hoje federalizados. "Privatizar bancos não faz parte dos nossos planos", diz.
De novo, a Folha apurou, no Planalto, que o tema privatizações tampouco constou das conversas entre FHC e os candidatos.
Críticas e restrições à parte, nenhuma das três candidaturas oposicionistas fala em romper o acordo com o Fundo.
O documento dos economistas de Ciro reafirma o compromisso "com o respeito aos contratos, com a estabilidade da moeda e com a responsabilidade fiscal". Mas diz que "a forma de praticar estes valores será aquela que conforme o novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que estamos debatendo com a sociedade".
Mercadante é cauteloso na sua avaliação: "Não vamos tomar nenhuma atitude abrupta".
A reação dos candidatos tem, como é natural, um componente eleitoral, qual seja o de responsabilizar o governo e, por extensão, seu candidato pelas medidas adicionais previstas no acordo. Mas representa igualmente uma espécie de duplo habeas-corpus preventivo, um junto ao público em geral e outro junto ao mercado.
A propósito de ambos, diz o deputado Mercadante: "Não podemos criar expectativas que podem não se realizar". Ou seja, a oposição não quer deixar a impressão, aos agentes de mercado, que os 3,88% de superávit primário prometido pelo governo FHC para o que resta de 2002 é uma meta a ser seguida em 2003.
Ao mesmo tempo, já sinaliza para o público que as promessas talvez não possam ser cumpridas, ao menos no primeiro ano, por culpa não do novo governo, mas da situação legada pelo atual.
Lula e Serra sobem em ranking do melhor na TV
Pesquisa por telefone indica qual candidato está se saindo melhor no horário eleitoral
Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) subiram 11 e 7 pontos percentuais, respectivamente, em ranking que mede a opinião de eleitores sobre qual presidenciável está se saindo melhor no horário eleitoral gratuito.
O ranking faz parte do rastreamento do Datafolha com eleitores que têm telefone fixo em casa.
Sem citar nomes ou seja, esperando resposta espontânea-, o instituto indaga: "Pelo que você sabe ou imagina, qual dos candidatos a presidente está fazendo a melhor propaganda no horário eleitoral gratuito na TV?".
Assim, capta também a opinião daqueles que "ouviram falar", sem necessariamente ter assistido a alguma propaganda.
Lula, que era considerado o melhor por 21% dos entrevistados no início dos programas, agora recebe a mesma avaliação de 32% deles. Serra subiu de 14% para 21%; Ciro Gomes (PPS) caiu de 17% para 10%; e Anthony Garotinho (PSB) oscilou de 3% para 5% (veja quadro ao lado). A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Com 32%, Lula tem, nas mesmas datas de pesquisa, sete pontos a menos do que a taxa de 39% dos que dizem que pretendem votar nele. O mesmo ocorre com Ciro (10% de "melhor propaganda" contra 20% de intenções de voto) e Garotinho (5% contra 9%).
Ou seja, o número de entrevistados que avalia a propaganda de Lula como a melhor é inferior ao total dos que pretendem votar nele e o mesmo ocorre com Ciro e Garotinho. No caso de Serra, o tucano obtém percentual igual, 21%, nas taxas de "melhor propaganda" e de intenção de voto .
Serra com FHC
FHC falou no primeiro dia, semanas atrás, e depois sumiu da propaganda do tucano José Serra.
Dia após dia, o presidente e seu candidato só aparecem juntos na propaganda de Ciro Gomes, que quer vincular a imagem do adversário ao governo. Ontem mesmo foi assim, com um clipe de rap -grosseiro- sobre o desemprego e as promessas de ambos.
Mas de repente, espantosamente, FHC surgiu ao lado de Serra numa outra propaganda. Do PSDB.
É um comercial de José Aníbal. O presidente e o presidenciável aparecem entre os senadores com os quais Aníbal, que vai muito mal nas pesquisas para senador de São Paulo, quer se identificar.
Pelo jeito, alguém esqueceu de avisar ao presidente do PSDB do esforço de Serra de só tratar do futuro "governo Serra", não do passado.
Quanto à propaganda tucana, ela voltou inesperadamente à carga contra Ciro.
Na TV, à tarde, usou o próprio horário da Frente Trabalhista para, em resposta autorizada pela Justiça Eleitoral, deixar no ar frases como "a verdade é um compromisso fundamental de José Serra" e "nós continuaremos a usar o nosso tempo com equilíbrio".
No rádio, prosseguiu o esforço de não deixar cair no esquecimento a "brincadeira" de Ciro sobre Patrícia Pillar, "brincadeira" que foi abandonada pelo Jornal Nacional e todos os demais noticiários.
Desta vez, a propaganda usou um protesto do Conselho da Condição Feminina para dizer que "as mulheres brasileiras não aceitam as desculpas esfarrapadas de Ciro".
Na TV, à noite, não se falou em Patrícia. Mas o programa foi todo para as mulheres com a vice, Rita, em destaque. Nizan Guanaes, o marqueteiro, já está na fase de conquistar votos em nichos do "mercado".
Quanto a Ciro, ele continua às voltas com o vice que fez questão de manter.
Ontem, soltou nota acusando ministérios "como o da Saúde, o do Trabalho e até a Corregedoria Geral da União" de serem "usinas de falsas notícias e verdadeiras calúnias" contra Paulo Pereira da Silva.
Em 94, FHC trocou o vice ao primeiro sinal.
Nas manchetes do JN, Fátima Bernardes anuncia:
- O líder do MST José Rainha é preso.
No programa de Lula, lindas imagens da miséria no campo, mas nada de comprometimento com o MST. A reforma agrária só aparece na voz de um locutor, que garante:
- Uma reforma pacífica.
Banho de civilização
Depois de ocupar pela segunda vez a Prefeitura de São Paulo, Jânio decidiu voltar a Paris para "tomar um banho de civilização", como costumava dizer brincando. Foi rever, então "Les Invalides", onde está o túmulo de Napoleão, a catedral de Notre Dame, o museu do Louvre, quando demorou cinco horas admirando as obras primas dos grandes mestres da pintura e outros santuários da história e da cultura do país.
Depois tomou o caminho de uma livraria, em busca de uma edição especial da obra do dramaturgo Molière, um dos seus autores prediletos na literatura francesa. Foi atendido por um mal-humorado gerente que respondeu afirmativamente sobre a existência ali dos livros pretendidos. Jânio pediu para vê-los, e o livreiro quis saber se o freguês desejava realmente comprá-los. Jânio retrucou que a compra ficava dependendo de ver os livros e de verificar se o preço estaria dentro de suas possibilidades.
O sempre mal-humorado vendedor saiu-se com esta para o ex-presidente do Brasil: "Os exemplares se encontram na última prateleira, e eu não vou ficar como uma aranha tentando pegá-los lá em cima, ainda correndo o risco de o senhor desistir da compra". Foi o tiro de misericórdia. Aborrecido, Jânio abandonou a loja e deixou o livreiro a sós com sua falta de educação. O banho de civilização havia sofrido uma pane na capital do mundo.
No dia seguinte, Jânio sai para passear na Av. Champs Elysées. Depara com um ônibus cheio de turistas brasileiros, de onde saem quase todos para cercar o compatriota ilustre e sua mulher, Eloá, pedindo autógrafos e para posarem em fotografias. Logo um casal chegou bem perto de Jânio, e o marido fez a clássica e detestável pergunta: "Dr. Jânio, o senhor sabe quem eu sou? Por favor, pense bem antes de responder". Aí o estadista em folga e descontraído perdeu a paciência: "Ora, meu caro, se o senhor mesmo não sabe quem é, como é que pretende que eu saiba? A carreira política não me concedeu poderes sobrenaturais". Dito o quê, prosseguiu na sua caminhada, mas com a atenção redobrada para a eventualidade de outros ataques turísticos.
Mais uma vez seria atropelado o sonhado projeto do banho de civilização, desta vez por intrusos tupiniquins à solta em Paris.
Ciro lança suspeita sobre decisões do TSE
Em carta, Frente Trabalhista acusa setores do governo de atuar como "usinas de falsas notícias" contra candidato
A Frente Trabalhista divulgou ontem carta criticando decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a atuação de setores do governo federal, que teriam o propósito de atingir a candidatura Ciro Gomes (PPS-PDT-PTB) e beneficiar o tucano José Serra.
Para a cúpula da frente, os ministérios da Saúde e do Trabalho e a Controladoria Geral da União são usados "como usinas de falsas notícias e verdadeiras calúnias" contra Ciro e seu vice, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.
Na carta dirigida "ao povo brasileiro, à sociedade civil organizada, aos movimentos sociais, aos democratas e ao Tribunal Superior Eleitoral", a frente manifestou "aguda preocupação com o rumo tomado pela sucessão presidencial". O documento é assinado pelos presidentes do PPS, senador Roberto Freire (PE), e do PDT, Leonel Brizola, e pelo vice-presidente do PTB, deputado Walfrido Mares Guia (MG).
"Está havendo um cerco à candidatura do Ciro pelo Executivo, com o beneplácito do TSE. Isso é muito perigoso", afirmou Freire. Segundo ele, se não houver mudança no quadro atual de denúncias contra Ciro que partem do governo e decisões do TSE em favor de Serra- "corre risco" a democracia.
Desde a semana passada, Ciro vinha reclamando de decisões do TSE e de seus ministros, que concederam direito de resposta a Serra em seus programas eleitorais e negaram o contrário. Em Belo Horizonte, Ciro afirmou que havia alguma "coisa esquisita, errada" nas decisões do tribunal.
Na carta, que começou a ser articulada na terça-feira, a frente se diz surpreendida com a "frequência com que pedidos de direito de resposta do candidato do governo, José Serra, são deferidos e executados antes mesmo de as decisões transitarem em julgado".
As acusações ao governo e ao TSE são genéricas. Na carta, a Frente Trabalhista não aponta em que situação os ministérios e a controladoria divulgaram "mentiras" contra Ciro e Paulinho.
O advogado-geral da União, José Bonifácio de Andrada, disse que o governo está sendo vítima de difamação por parte da Frente Trabalhista. Andrada disse que a AGU (Advocacia Geral da União) entrará com pedido de direito de resposta sempre que considerar que a administração ou qualquer servidor federal foi ofendido.
Em nota oficial, o Ministério da Saúde contestou "as agressivas acusações" da Frente Trabalhista, considerando-as "levianas e irresponsáveis". O Ministério do Trabalho e a Controladoria Geral da União não se manifestaram.
Ministro nega favorecimento a candidato tucano
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Nelson Jobim, disse ontem que o tribunal examina cada caso isoladamente, com base na lei e em situações concretas.
"O tribunal não discute mobilização política, discute processo." Ele negou que sua amizade com o presidenciável José Serra (PSDB) possa interferir em seus votos -"Decido como juiz"- e que o TSE esteja atuando de forma desequilibrada.
Serra acumula mais decisões a favor do que Ciro
Nos primeiros 15 dias de horário eleitoral gratuito, o TSE (Tribunal Superi or Eleitoral) acumulou muito mais decisões favoráveis ao candidato governista à Presidência, José Serra (PSDB), do que a Ciro Gomes (PPS), com quem o tucano polariza a disputa pelo segundo lugar nas pesquisas.
Serra obteve sete decisões que o beneficiam, com autorização de direito de resposta e, em um caso, perda de parte do tempo de programa por parte de Ciro. O candidato do PPS fracassou em seis tentativas de proibir trechos da propaganda do tucano ou de ocupá-la para se defender.
O balanço pró-Serra levou a Frente Trabalhista, que apóia Ciro, a pôr sob suspeita a imparcialidade do tribunal, em nota divulgada ontem. As decisões são dos três ministros-auxiliares do TSE, responsáveis pelo exame preliminar de processos relacionados à propaganda dos presidenciáveis: Caputo Bastos, José Gerardo Grossi e Peçanha Martins.
Todas elas podem ser cassadas pelo plenário, mas os advogados de Ciro não obtiveram êxito no primeiro recurso apreciado pelos sete ministros do TSE contra um direito de resposta, na terça-feira.
O voto de Minerva do presidente do TSE, Nelson Jobim, que é amigo de Serra, garantiu ao tucano o direito de ocupar a propaganda do adversário por causa de uma abertura de um programa de Ciro que continha a frase "Os golpes baixos acabam aqui" -a propaganda cirista vem logo após a de Serra no bloco presidencial.
Em outro julgamento do plenário, sem Jobim, Serra se livrou da condenação à perda em dobro do tempo gasto para atacar o adversário com o áudio de Ciro chamando de "burro" um eleitor.
Ciro sofreu três novas derrotas ontem. Bastos o condenou à perda em dobro do tempo gasto com as cenas de FHC nas campanhas de 94 e 98 e de Serra neste ano fazendo promessas de emprego, por suposta montagem: o PPS identificou as imagens como sendo da propaganda eleitoral do PSDB, mas FHC tinha aliados como o PTB, hoje parceiro de Ciro.
Em outra decisão, Martins negou liminar contra o uso por Serra das expressões "Ciro: Solução ou Problema" e "Ciro: Mudança ou Problema". E Grossi negou liminar contra a comparação entre Ciro e o ex-presidente Fernando Collor, também feita na propaganda tucana, e pediu informações aos advogados de Serra.
Ciro obteve ontem uma tímida vitória contra o governo. Martins negou à União o direito de ocupar a propaganda dele para se defender de críticas sobre a má administração na saúde.
Metalúrgicos protestam em visita de Lula
Petista é cobrado por trabalhadores ligados à CUT acampados em frente à Embraer; candidato diz não ter visto ato
Enquanto visitava ontem a sede da Embraer, de cuja privatização foi um opositor oito anos atrás, o presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva foi criticado por metalúrgicos ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT).
"Lula, nós também somos eleitores. Cobre uma posição da Embraer sobre nós acampados", dizia uma placa perto de um barracão de lona montado na entrada da fábrica há um mês, ocupado por 33 pessoas em ritmo de revezamento. No momento da visita, havia cerca de 15 pessoas.
Os trabalhadores protestam contra a Resintec, empresa que prestava serviços para a Embraer.
Ligados ao Sindicato dos Metalúrgicos de São José, um dos redutos da ala "radical" da CUT, eles acusam a empresa de não depositar o saldo do FGTS. Segundo os metalúrgicos, esse conflito é resultado direto da privatização.
Aproveitando a visita de Lula, os trabalhadores colocaram a placa e fizeram uma gravação que era repetida constantemente por um alto-falante. Sem citar nomes, a fita, com fundo musical da trilha sonora do filme "Missão Impossível", acusava presidenciáveis de terem a "cara de pau" de visitar a Embraer. Há algumas semanas, José Serra (PSDB) também esteve na fábrica de aviões.
"Como o Lula, que já foi dirigente sindical e criticou a venda da empresa, vem visitar a diretoria e faz vista grossa às nossas reivindicações?", disse Edmir Marcolino da Silva, diretor do sindicato cutista, que tem forte influência do PSTU, partido do presidenciável José Maria de Almeida. A ala "moderada" da CUT, amplamente majoritária, é umbilicalmente ligada ao PT e apóia Lula.
Em 1994, o petista atacou a venda da Embraer, mas hoje a considera modelo, principalmente por seu papel como exportadora.
O presidenciável, que chegou e saiu da fábrica de helicóptero, não se deparou com a manifestação.
A assessoria da Embraer não comentou o assunto, dizendo que o conflito não a envolvia. A Resintec foi procurada pela Folha, mas o único telefone que consta da lista está desligado.
O porta-voz da campanha de Lula, André Singer, declarou que nenhum dos integrantes da comitiva de Lula que foram à fábrica percebeu o protesto ou viu os manifestantes, na entrada e na saída.
Na fábrica, Lula gravou cenas para seu programa de TV, sob o comando do marqueteiro Duda Mendonça, que acabou "dirigindo" também a sessão de fotos para a imprensa. Ele fez Lula, com pingente da Embraer no terno, subir e descer escadas de um jato, enquanto fotógrafos acionavam suas máquinas.
Tucano critica Lula e diz que não participa de concurso de Papai Noel
O candidato a presidente José Serra (PSDB) deu início ontem aos ataques em palanque a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto.
Em Suzano (Grande São Paulo), onde lançou seu projeto para a geração de empregos, ele disse que a proposta de Lula para o setor é exagerada. "O PT está propondo criar 10 milhões de empregos. Se eu quisesse fazer demagogia, proporia 11 milhões. Mas aí seria um concurso de Papai Noel."
A promessa do tucano, o Projeto Segunda-Feira, é gerar 8 milhões de postos de trabalho, divididos nas áreas de saúde, educação, turismo e agricultura.
Durante seu discurso, para cerca de 300 pessoas em um ginásio de esportes da cidade, Serra não fez ataques a Ciro Gomes (PPS), até o início desta semana o principal alvo de suas críticas.
Após o evento, questionado sobre a investida contra Lula, o candidato tucano disse que se trata de uma "evolução natural da campanha", mas negou que passará a priorizar as críticas ao PT. "Não tem nada disso."
Serra classificou de "ti-ti-ti e falta do que fazer" a nota divulgada pela Frente Trabalhista segundo à qual o PSDB estaria usando a máquina do governo em sua campanha. A mesma resposta foi utilizada para responder aos que o acusaram de se empenhar pouco na defesa do governo de Fernando Henrique Cardoso.
O tucano também disse que as acusações dos adversários de que a Justiça Eleitoral o tem beneficiado são improcedentes. "A Justiça trabalha com isenção. Se você faz coisa errada, é punido. Não dá para trabalhar na ilegalidade", disse.
No evento, foram distribuídos panfletos que imitavam uma carteira de trabalho. "Esse será o foco do meu governo, por isso digo que a mudança é azul [cor usada pelo PSDB]."
Mercado
O presidente da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), Edgard da Silva Ramos, afirmou ontem que não é novidade que o "mercado tem predileção pelo candidato oficial [Serra]".
"É só observar como o mercado se comporta em relação ao desempenho do candidato do governo", afirmou.
As declarações foram dadas após os assessores econômicos dos candidatos apresentaram suas propostas em evento organizado pela Andima em São Paulo.
Racha no PTB amplia o tom das acusações entre Maluf e Alckmin
Candidato petebista faz líderes trocarem ataques
O racha no diretório paulista do PTB, envolvendo o seu candidato ao governo do Estado, Antonio Cabrera, e o vice-presidente nacional da sigla, Campos Machado, elevou o grau de acusações e acirrou ainda mais a disputa entre Paulo Maluf (PPB) e Geraldo Alckmin (PSDB), líderes nas pesquisas de intenção de voto.
Em meio ao conflito petebis ta, a assessoria de Alckmin acusou Maluf de estar fazendo uma "parceria" com Cabrera para criticá-lo. A coordenação de Maluf desafiou o tucano a provar a suposta aliança na Justiça Eleitoral.
A crise no PTB paulista veio a público anteontem, quando Machado disse que pretende expulsar Cabrera por causa de sua insistência em atacar o candidato tucano nos debates e na TV.
"Ele [Cabrera] é um candidato que eu me arrependo de ter ressuscitado. É uma múmia que depois da eleição vai voltar para o sarcófago", disse Machado.
Para Cabrera, a indignação de Machado tem outra motivação. "O governador está usando a caneta para comprar, por meio de cargos, uma parte minoritária do PTB. Eu não sou laranja e banana. Aonde tiver erros, eu vou apontá-los. Isso não é São Paulo de cara limpa [slogan de Alckmin], mas, sim, São Paulo de cara suja."
Endereço certo
A crítica de Cabrera tem endereço certo. O grupo político de Machado controla a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo) e dá sustentação a Alckmin na Assembléia Legislativa.
Por ter sido impedido de se coligar com o partido do governador por conta da verticalização, uma das preocupações do PPB é que os ataques de Cabrera beneficiem Maluf e José Genoino (PT).
Cabrera disse ainda que tem colaborado ao máximo na campanha de Ciro Gomes. PTB, PDT e PPS formam a Frente Trabalhista. "É impossível o partido fazer campanha ao mesmo tempo para Alckmin e Ciro. Essa política do conchavo não existe. Não há como maneirar nas críticas."
A assessoria da candidatura de Alckmin rebateu na mesma moeda as acusações de Cabrera. Mas o alvo foi Maluf. Segundo a assessoria, Cabrera é que tem de justificar um outro tipo de subvenção por seus programas eleitorais na TV terem uma identidade muito grande com a do pepebista. "As semelhanças vão desde os textos até as cores azul e vermelho do cenário", informou a assessoria.
Adilson Laranjeira, assessor de Maluf, declarou que o governador Geraldo Alckmin está desesperado com a segunda colocação nas pesquisas e por isso está "inventando coisas". "Se ele tem provas do que disse, o que é impossível, por que ele não as leva à Justiça Eleitoral e pede investigações?"
Artigos
O presidente Lula
Clóvis Rossi
SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da Silva talvez nunca venha a ser presidente da República. Mas está presidente. Está em todas as pesquisas de intenção de voto que lhe concedem folgada vantagem sobre os dois segundos colocados e está nas simulações de segundo turno.
Um parênteses, a propósito: na terça-feira, ao ser entrevistado por uma rádio argentina, fui surpreendido por uma pergunta sobre a hipótese de nem haver segundo turno. Nunca me passou pela cabeça tal perspectiva, mas, se os argentinos são capazes de ganhar até do "dream team" norte-americano de basquete, são também capazes de saber mais que eu sobre as eleições de outubro.
Fechado o parênteses patriótico/ massagem no ego da vizinhança, tão necessitada, voltemos ao início da Presidência Lula.
Lula está presidente também pela maneira como a sua equipe se comporta desde já. Na quarta-feira, por exemplo, uma comissão representando os aposentados teve audiência com o pessoal do programa de governo do candidato petista.
Não tiveram nem tempo de sacar do coldre a popular lista de reivindicações. Foram informados de que não há a menor hipótese de o PT discutir, agora, reivindicações dos aposentados (ou de qualquer outra categoria profissional).
Como prêmio de consolação, o pessoal foi avisado de que será chamado a participar da reforma da Previdência, uma das reformas que o governo Fernando Henrique deixou pela metade ou menos.
É melhor do que ser chamado de "vagabundo", como o presidente fez anos atrás, mas é bem menos do que se esperaria da prática petista até a recente conversão.
O PT está disposto a fazer o que um de seus comandantes chama de "brilhante início de governo", a única maneira, acha o partido, de escapar da camisa-de-força legada pela crise econômico-financeiro. Atender aposentados, só depois.
Colunistas
PAINEL
Reação combinada
FHC pediu aos ministérios relatórios com todos os pontos que possam ser usados por Ciro para atacar Serra e o governo na TV. A ordem é para que, havendo a crítica, o ministro da área correspondente chame uma entrevista coletiva para rebatê-la e peça direito de resposta ao TSE.
A lei de Ricupero
A determinação do Planalto é para que os ministros respondam principalmente a números desfavoráveis citados por Ciro - a fim de continuar com a estratégia de carimbá-lo como mentiroso. Casos mais "polêmicos" -como o de Ricardo Sérgio- devem ser ignorados.
Último recurso
Políticos da Frente Trabalhista farão hoje uma manifestação, em frente ao TSE, para protestar contra o que chamam de "manipulação" da Justiça Eleitoral a favor da candidatura Serra. Nelson Jobim, presidente do tribunal, foi ministro de FHC.
Mais uma
O TSE negou direito de resposta a Zé Maria (PSTU) no programa de Serra. Em 29 de agosto, Rita Camata disse na TV ser a única mulher candidata a vice-presidente, o que não é verdade, pois a vice de Zé Maria é a professora Dayse Oliveira.
O cúmulo da publicidade
O TSE avaliou que o PSTU induziu o PSDB ao erro ao não informar o nome da vice em seu programa e que "não houve intenção de causar dano nem de veicular fato inverídico". "O involuntário incidente até servirá para que Dayse Oliveira se torne mais conhecida", escreveu o ministro Caputo Bastos.
Nefelibata
O comentário no Planalto é que FHC "ficou nas nuvens com o convite para trabalhar na ONU". Já tem gente pesquisando a data do final do mandato do secretário-geral, Kofi Annan, de olho no lançamento do nome do tucano para a sua sucessão.
Longe do barulho
Aureliano Chaves foi avisado pelo PT-MG de que Lula não irá mais ao seu apartamento amanhã em BH. O encontro com o vice de João Figueiredo pegou mal em setores do partido. A campanha programou carreata de última hora em Uberaba.
Petista Falcão
Candidatos do PT-SP a deputado se dizem saudosos dos tempos da Lei Falcão. Nas eleições em que vigorou (76, 78 e 82), pelo menos aparecia a foto do candidato e o seu currículo, lido por locutor. Na atual campanha, tirando José Dirceu, o PT não deixa ninguém aparecer.
Pela pizza
O PTB e a Força Sindical pretendem fazer um ato de desagravo a Paulinho em frente ao Ministério Público Federal, onde o vice de Ciro deverá depor hoje sobre uma denúncia de compra superfaturada de fazenda em SP por meio da central sindical.
Elle de volta
Ronaldo Lessa (PSB) deverá pedir ao TRE que torne inelegível Collor (PRTB). Rádio do ex-presidente transmitiu uma entrega de casas no interior. Protagonizada por Collor, que chegou à cidade de helicóptero.
Operação belezura
Juízes eleitorais de Maceió (AL) e de Campo Grande (MS) proibiram a propaganda de candidatos com bandeiras e cartazes nos principais semáforos e cruzamentos das cidades. Para prevenir acidentes de trânsito.
Metade da metade
ONGs indigenistas se organizam para tentar barrar projeto do senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR) que restringe a 50% da superfície dos Estados o limite de áreas destinadas a índios e unidades de conservação.
Visita à Folha
Roberto Egydio Setúbal, diretor-presidente do banco Itaú S.A., visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço.
TIROTEIO
Do ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho (PTB), sobre as apurações de Anadyr Rodrigues (Controladoria-Geral da União) a respeito de denúncias na Força Sindical, de Paulinho:
- O governo federal já tinha várias agência s reguladoras, como a Anatel e a Aneel. Agora tem a Anadyr.
CONTRAPONTO
Auto-análise
Em 64, o juiz Francisco Fausto, hoje presidente do TST, foi convocado a assumir uma junta de Escada (PE). O então presidente do TRT, Eurico Chaves, disse que Fausto tinha "carta branca", o que o deixou intrigado.
Logo pela manhã, nos primeiros processos, Fausto condenou empresários à revelia. Eles não apareciam na Justiça. A notícia correu a cidade.
À tarde, o juiz foi visitado por sindicalistas admirados. Pediram que ele mandasse executar sentenças, fato inédito por ali. Assim foi feito. O juiz quis saber de um sindicalista por que esse pedido não ocorrera antes.
O homem explicou:
- Doutor, tenho amor pela minha família. O meu antecessor no sindicato, segundo a polícia, se suicidou com 25 facadas.
Fausto, que veio da pacata Natal, diz hoje, brincando, que passou a ficar muito "receoso quanto ao seu próprio suicídio".
Editorial
SANHA REGULADORA
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), de 1997, foi uma inovação importante na tentativa de disciplinar o caótico e violento cotidiano do tráfego automotor neste país. O código inovou, especialmente, ao prever um sistema de sanções progressivas e mais duras aos transgressores das normas de trânsito e ao instituir uma série de ferramentas eficazes para as autoridades normatizadoras e fiscalizadoras.
Mas os bons conceitos presentes no código não o livraram de um excesso de normatização, sanha regulatória que parece ter-se alastrado para as autoridades responsáveis pelo cumprimento do CTB e até para políticos em busca de holofotes.
O tema veio à tona com um assunto banal: o do uso ou da proibição de telefones celulares por motoristas. Faz sentido a idéia de que motoristas agarrados aos seus telefones tornam-se um perigo em potencial para si próprios, para outros condutores e para pedestres. Mas daí a proibir, como fez o Conselho Nacional de Trânsito, o uso de celulares inclusive em sua modalidade viva-voz vai uma distância considerável. Se o argumento for o de que conversar ao telefone distrai a atenção do motorista, então será preciso proibir qualquer tipo de conversa entre motoristas e passageiros ou, ainda, o uso de aparelhos de som nos veículos em movimento. Isso sem mencionar o grau de dificuldade de fiscalizar o uso do "viva-voz" ao volante.
Na mesma linha super-regulatória, o Senado quer proibir o uso de cigarro por motoristas.
Não bastasse o argumento de que esse tipo de implicância das autoridades não condiz com o bom senso, discutir proibições nesse nível de detalhe pode deixar a entender que, no Brasil, todas as questões básicas de trânsito já foram equacionadas. Como se não houvesse falhas graves a sanar, por exemplo, na eficácia da fiscalização mais elementar e na manutenção e sinalização das vias.
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09/06/2002
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