Para presidente do STF, proposta de reforma do Judiciário não tornará Justiça mais ágil



O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, disse nesta quarta-feira (dia 8), em audiência pública na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), que se mantém pessimista em relação à proposta de emenda à Constituição (PEC) que reforma o Judiciário. Ele considera que a Justiça brasileira não ficará mais ágil com essa emenda, como acreditam alguns parlamentares. Para Marco Aurélio, a Justiça só terá mais agilidade se forem mudadas suas normas instrumentais - no âmbito da legislação ordinária.

- Não se pode dar à sociedade uma esperança vã - aconselhou Marco Aurélio. Ele voltou a responsabilizar o governo pela morosidade da Justiça brasileira, destacando que o poder público é o primeiro a se utilizar do aparato normativo para protelar ao máximo decisões judiciais já tomadas nas instâncias inferiores, abarrotando de propósito os tribunais superiores, para com isso "empurrar o problema com a barriga", ganhando tempo para não cumprir as sentenças.

O Estado, para o presidente do STF, deveria ser o primeiro a dar o exemplo, cumprindo as normas, mas o que se tem é uma instabilidade normativa promovida pelo próprio Estado. Somente nos últimos anos, lembrou ele, o Executivo já editou 12 planos econômicos "que elegeram o fim em detrimento dos meios", e geraram uma enxurrada de demandas judiciais.

Já o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Paulo Costa Leite, defendeu na audiência pública da CCJ a limitação da súmula vinculante. Para ele, esse expediente, que generaliza sentenças proferidas pelos tribunais superiores para todos os casos similares, deve ser exclusiva para causas repetitivas e de massa, como a do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), na qual os trabalhadores reclamaram a devolução de parcelas de correção monetária sonegadas ao capital do fundo nos planos econômicos do governo.

O grande propósito da súmula vinculante, segundo Costa Leite, será o de vincular a administração pública, "para com isso impedir que o Estado administrador inviabilize o Estado juiz", como estaria acontecendo atualmente. Sobre o controle externo do Judiciário, o presidente do STJ disse que considera impróprio designar um órgão para fiscalizar um poder. A exemplo de Marco Aurélio Mello, Costa Leite também só acredita numa Justiça mais ágil se forem mudados os códigos de processos civil e penal.



08/08/2001

Agência Senado


Artigos Relacionados


Reforma do Judiciário deve tornar Justiça mais ágil

CCJ aprova proposta para tornar Justiça mais ágil

Alvaro Dias diz que modernização do trabalho tornará processo legislativo mais ágil

Presidente do STJ entrega a Lobão proposta para reforma do Poder Judiciário, que tramita na CCJ

Demóstenes analisa crise da Justiça e proposta de Reforma do Judiciário

Ministro da Justiça e presidente do STF debatem reforma do Judiciário