Pedetista renuncia por causa do PPS









Pedetista renuncia por causa do PPS
O deputado estadual Carlos Eduardo Vieira da Cunha renunciou ontem à presidência do PDT regional e à liderança do partido na Assembléia, devido ao apoio pedetista a Antônio Britto (PPS) na eleição para o governo gaúcho.

Desde o início das negociações, Vieira foi um dos principais oponentes à aliança entre o presidente nacional do partido, Leonel Brizola, e Britto.

De acordo com Vieira, o partido deveria se manter com um candidato próprio -isolado, o vereador José Fortunati renunciou à candidatura.

Relator da CPI da Segurança Pública, uma das principais adversidades do governo petista no Estado, e promotor de Justiça, Vieira diz que pretendia manter uma coerência.


Apoio de Ciro a acordo com FMI é prioridade para FHC
Governo exibirá cifras para mostrar que, sem FMI, país pode quebrar

O roteiro do presidente Fernando Henrique Cardoso para os encontros com os quatro principais presidenciáveis tem duas prioridades: exibir números que mostrem aos oposicionistas que sem o FMI o Brasil não fechará as contas externas em 2003 e obter principalmente de Ciro Gomes (PPS) o compromisso de que cumprirá na íntegra o acordo com o Fundo Monetário Internacional.

A Folha apurou que, na avaliação do FMI e do governo, Ciro é o candidato que mais tem assustado o mercado, que o vê como o que tem hoje mais chances de sair vitorioso. Logo, é personagem mais importante que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja posição sobre o acordo é considerada satisfatória por FHC.

Em reunião ontem no Palácio da Alvorada, o presidente, a equipe econômica e os articuladores políticos definiram a estratégia para as conversas, que devem ser precedidas de novos contatos com assessores dos candidatos.

FHC quer evitar que seja transmitida a idéia de enquadramento de Ciro ou de divisão de responsabilidade pela crise, apesar de essas duas coisas serem objetivos não admitidos.

O presidente pretende dizer aos oposicionistas Lula, Ciro e Anthony Garotinho (PSB) que não espera deles declarações simpáticas à atual política econômica, mas que reconheçam que o acordo é vantajoso para o país e que deixem claro que o cumprirão. O governista José Serra (PSDB) assumiu isso publicamente.

A intenção de FHC e seus auxiliares é dizer que os US$ 24 bilhões previstos para serem sacados pelo próximo presidente em 2003 são a única forma de evitar um calote do Brasil nos investidores internacionais. O presidente mostrará que essa quantia representará 52% de todos os recursos necessários para fechar as contas externas do país no ano que vem.

US$ 6,6 bi do Fundo
Para dar uma idéia da importância da cifra aos candidatos e seus assessores econômicos, o governo dirá que os US$ 24 bilhões são praticamente o quádruplo de recursos obtidos no FMI para fechar as contas externas de 2001. Ou seja, no ano passado, o Brasil precisou de US$ 58,4 bilhões para fechar as contas externas e usou US$ 6,6 bilhões do FMI.

Como os US$ 24 bilhões só poderão ser sacados se o futuro presidente da República cumprir as metas previstas no acordo, declarações de candidatos, especialmente dos hoje favoritos Lula e Ciro, deixando dúvidas a esse respeito, intranquilizam o mercado, que antecipa o problema e gera uma crise no curto prazo.
No almoço-reunião de uma hora e meia ontem no Palácio da Alvorada, foi mencionada a disposição de FHC de receber a anunciada proposta do presidenciável petista de realizar logo uma minirreforma tributária. O governo, porém, tem dúvidas sobre a viabilidade de o Congresso aprová-la antes das eleições.

Também ficou claro que a prorrogação de futuras receitas previstas para acabar neste ano será um assunto que caberá ao novo presidente negociar depois que for eleito. Exemplo: a alíquota de 27,5% do Imposto de Renda de Pessoas Físicas cairá para 25% no ano que vem.

A Presidência da República ainda não definiu se os candidatos poderão conceder entrevistas ou falar com a imprensa após os encontros com FHC em um espaço reservado no Palácio do Planalto. Isso está sendo avaliado do ponto de vista do que estipula a legislação eleitoral.


Ciro discute com banqueiros em jantar
Em jantar fechado para 35 empresários, vários deles do setor financeiro, realizado anteontem em São Paulo, o candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, se negou a apresentar garantias para acalmar o mercado.

Também afirmou que não anunciaria quais seriam os integrantes de sua equipe de governo em caso de ganhar a disputa.

"Estou me lixando para o mercado", afirmou Ciro no ponto mais tenso do jantar. Segundo presentes ao encontro ouvidos pela Folha, grande parte dos empresários ficou surpresa diante da atitude do candidato.
Indagado sobre os eventuais integrantes da sua equipe de governo, Ciro desconversou: "Só se eu não tivesse a experiência que tenho para falar disso agora. Eu não sei nem se vou ser eleito".

Participantes relataram à Folha que Ciro deixou como saldo um sentimento de desconfiança em relação a seu eventual governo.

Quando o clima estava tenso, o anfitrião, Ricardo Steinbruch, presidente do Conselho de Administração da Vicunha Têxtil, levantou-se e convidou os presentes para a sobremesa.

Já com a temperatura mais baixa, numa pequena roda de empresários, ao ser questionado se o tucano Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, teria papel central em um eventual governo, Ciro Gomes não desmentiu.
No encontro -que reuniu banqueiros nacionais e estrangeiros, empresários do setor têxtil, de brinquedos, de exportação, entre outros-, diante da insistência na mesma linha de perguntas, Ciro declarou que tinha a oferecer a quem quer que fosse seu passado, sua história, seu desempenho como governador do Ceará, cargo no qual teria produzido o maior superávit do Estado.

Lista vip
Ricardo Steinbruch, cujos negócios têm o Ceará como uma base importante de atuação, ofereceu o jantar no jardim de sua casa, no Jardim América, bairro nobre de São Paulo. Entre os convidados estavam os irmãos Joseph e Moise Safra, do Banco Safra, Carlos Tilkian, da Estrela, Paulo Skaf, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Israel Vainboin, diretor-presidente da Unibanco-Holdings, Miguel Jorge, pelo banco Santander, Jacques Rabinovitch, do grupo Vicunha, Paulo Periquito, da Multibrás, Osmar Zogbi, da Ripasa, e um representante do Citibank. Ciro já conhecia a maioria dos integrantes do jantar.

Depois dos cumprimentos de chegada, apresentou sua proposta para fazer o país crescer: reforma tributária, reforma previdenciária, do que viria uma queda natural dos juros e a possibilidade de alongar da dívida interna.

Agradou aos empresários ao indicar que sua proposta de reforma tributária passa por desonerar a produção. Mas deixou dúvidas sobre como seria a contrapartida, de tributar com mais ênfase os ganhos de capital e propriedade.

Quanto ao acordo com o FMI, fechado na semana passada, e que prevê uma injeção de US$ 30 bilhões na economia brasileira, Ciro afirmou que não havia outro caminho para o país.

Mas fez questão de lembrar que em 1998, em campanha para o Planalto, teria avisado que o câmbio estouraria. Deu a atender que os presentes não haviam prestado atenção aos avisos que dera quatro anos atrás, também como candidato à Presidência.

Em grupos menores, nas rodas de conversa depois do jantar, o presidenciável elogiou a atuação do presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

Ainda assim, o tom ríspido do candidato no final acabou marcando o encontro.

"Eu não me domesticarei. Mas tenho um compromisso de vida com a austeridade f iscal, com a estabilidade da moeda, com o respeito aos contratos e com a responsabilidade fiscal. Eu não vou dar calote", disse Ciro.

"Casa linda"
O jantar, no qual foram servidos coquetel quente, peixe grelhado com salada, frutas e sorvete de sobremesa, foi organizado pelo deputado Emerson Kapaz (PPS-SP), que há três meses já havia propiciado evento semelhante em sua casa, em São Paulo.

A atriz Patrícia Pillar, namorada de Ciro, estava presente. Achou a casa "linda" e circulou pelos ambientes para conhecer o local. Os elogios se repetiram na equipe que acompanha Ciro -que só estranhou a quantidade de detectores de metais e seguranças.

Não se falou em contribuições eleitorais, mas o trio encarregado da missão de arrecadar recursos para Ciro estava presente: o deputado Walfrido Mares Guia (PTB-MG), o empresário Márcio Lacerda e Lúcio Gomes, irmão de Ciro.

Houve insistência para que o candidato explicitasse quem seria sua equipe de governo em caso de vitória. Mares Guia encerrou o assunto: "Ora, um homem que escolhe Patrícia Pillar como mulher não vai saber escolher uma equipe de governo?".

No mês passado, Ciro também foi recebido para jantar com empresários em São Paulo. O anfitrião foi Flávio Rocha, do grupo Riachuelo-Guararapes.


FHC diz que quem "ousar" sair do caminho terá resistência
Presidente sobe o tom e afirma que país não aceita mais "truque"

O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem dois eventos diferentes para dar um recado aos candidatos à Presidência: eles terão de cumprir os acordos e quem "ousar" mudar a atual política econômica enfrentará resistência da população.

Para FHC, os candidatos devem dizer de modo crível que apóiam o acordo com o FMI.

"Quando se vai numa direção certa, quem ousar sair dela na prática -nas palavras pode dizer o que quiser- encontrará resistência. Esse país não aceita mais inflação. Não aceita mais truque ou que não se honre a palavra dada", disse à noite, em discurso de comemoração dos 60 anos do Senai, na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Depois de desejar que os "pessimistas" não estivessem no Brasil, FHC disse que a vontade nacional é seguir o rumo de seu governo, permitindo atalhos. "Fazer um caminho leva muito tempo. Perder o caminho é questão de meses. Perder o apoio da população, às belas palavras, é quase instantâneo, havendo algum acidente mais grave."

FHC negou que estivesse fazendo política partidária ou que tivesse a "pretensão de ditar a melhor maneira". Disse que, sob seu comando, o país avançou "com crise ou sem crise, com turbulência ou sem turbulência".
Em entrevista à jornalista Míriam Leitão, da GloboNews, o presidente disse que quer que os candidatos "sejam responsáveis" e não digam "palavras vazias".

"Eu quero dizer [aos candidatos] o seguinte: "Olha, vamos fazer um esforço para dizer o que vocês pensam de tal forma que seja crível". Porque, se não for crível, a taxa de juros vai lá para cima, o dólar vai ter efeito sobre a inflação e, quando começar o governo, no ano que vem, esse governo vai começar no meio de uma crise."

"Queiram ou não"
Para FHC, a população até entende "os exageros demagógicos" da campanha, mas "é preciso que se explique mais [o acordo com o Fundo], para que os candidatos não sejam levados a recursos desnecessários de retórica".

"Eu acho que os candidatos, queiram ou não queiram, vão ter que cumprir os acordos. Eu suponho que queiram, mas, mesmo que não quisessem, o Brasil tem instituições fortes, tem Congresso, tem mídia, tem sindicatos, tem a dona-de-casa e o homem simples que sabem que, se não fizer isso, tome inflação."
Sem citar nomes, afirmou: "Não vejo por que um candidato neste momento possa arriscar a estabilidade dizendo "Eu não vou fazer isso, eu não vou fazer aquilo", vai fazer o quê?".

Mais adiante, FHC disse que "não adianta espernear contra um caminho e não apontar outro". "Se algum candidato quiser tirar proveito da situação, ele perde. Perde em credibilidade, perde em compostura e depois perde voto." Para FHC, "tirar proveito eleitoral da crise, ninguém tira".

Ao comentar sua decisão de chamar os candidatos para conversar, o presidente afirmou que "não adianta tapar o sol com a peneira". "Existe uma certa inquietação nos mercados e é preciso que essa inquietação se acalme."
Ele disse que não vê razão para os candidatos de oposição não apoiarem o acordo com o FMI.

Referindo-se à afirmação do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, de que não iria dividir responsabilidade com o governo pela crise, FHC afirmou: "Não quero dividir responsabilidade com ninguém não. Eu estou assumindo as minhas responsabilidades".

O presidente deu apoio a Lula quando o candidato disse que o país não está quebrado. "O Lula disse muito bem, não há nada quebrado. Quebrada está a cabeça de algumas pessoas, principalmente lá fora."

Questionado sobre alianças de candidatos do PSDB nos Estados com opositores do governo, FHC perguntou: "Num país onde o PT se aliou ao PL, um partido liberal, você pode pedir o quê de coerência a quem quer que seja?".

FHC disse que não estava criticando o PT, mas o sistema político brasileiro, que força alianças como essa. "O Congresso é poderoso, mas os partidos não são suficientemente organizados. Isso leva a que eleição seja quase pessoal, um torneio de pessoas, mas a política [do governo] não, ela depende do Congresso".
E disse que poderia ter sido eleito sem o apoio do PFL, mas que fez aliança com o partido porque precisava dele para governar.


Malan tem encontro com diretora do FMI
A diretora do Departamento Fiscal do FMI (Fundo Monetário Internacional), Teresa Ter-Minassian, se reuniu ontem com o ministro Pedro Malan (Fazenda) e jantou anteontem, quando chegou a Brasília, com o ministro Pedro Parente (Casa Civil). O tema das conversas não foi divulgado.

Depois de participar no início da noite de um coquetel na Esaf (Escola de Administração Fazendária), Teresa iria jantar com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Oficialmente, ela está em Brasília para participar de um seminário sobre assuntos fiscais, que começou anteontem, organizado pela Esaf.

Malan, Parente e Armínio integram o grupo de assessores que está ajudando o presidente Fernando Henrique Cardoso na elaboração dos temas que serão discutidos com os presidenciáveis na reunião marcada para a próxima segunda-feira. Ontem, eles se reuniram com o FHC para conversar sobre esse encontro.

O presidente convidou os candidatos à sua sucessão para explicar os termos do novo acordo com o FMI, divulgado na semana passada, mas que ainda precisa ser aprovado pela direção do Fundo. Nas conversas com a missão que negociou o acordo, o FMI deixou claro que o apoio dos presidenciáveis é importante para melhorar a confiança no Brasil.

Nas conversas de ontem, a diretora deve ter sido informada da decisão de FHC de conversar com os presidenciáveis. Depois da reunião com Malan, Teresa afirmou que foi uma visita de cortesia. Antes de ocupar a diretoria do Departamento Fiscal, Teresa era a negociadora do FMI com o governo brasileiro.


Ciro é o único a subir, segundo CNT/Sensus
O candidato à Presidência da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS-PTB-PDT), foi o único que apresentou crescimento na pesquisa de intenção de voto feita pela CNT/Sensus, divulgada ontem.

Ciro subiu 3,1 pontos percentuais, passando de 25,5% para 28,6% e se mantendo na segunda colocação. O petista Luiz Inácio Lula da Silva oscilou 1,5 ponto percentual para baixo -foi de 34,9% para 33,4%-, mas manteve a liderança na pesquisa.

Já o tucano José Serra manteve o mesmo índice -13,4%-, enquanto Anthony Garotinho (PSB) oscilou de 12,5% para 12,1%.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Foram entrevistadas 2.000 pessoas entre os últimos dias 11 e 13. O levantamento é contratado pela CNT, cujo presidente, Clésio Andrade (PFL), se licenciou para concorrer a vice-governador de Minas Gerais na chapa do tucano Aécio Neves.

A pesquisa aponta que o debate na TV Bandeirantes influiu pouco sobre os eleitores. Dos entrevistados, 63,5% dizem que não assistiram, não ouviram falar e não tiveram conhecimento do debate. Outros 18,5% não assistiram, mas ouviram falar.


Ciro e Lula planejam propor agenda contra a crise a FHC
Candidatos pretendem mostrar que não aceitam dividir ônus político

Os candidatos do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e do PPS, Ciro Gomes, deverão usar a reunião de segunda-feira com o presidente Fernando Henrique Cardoso para apresentar sugestões na tentativa de superar a atual crise cambial.

Segundo a Folha apurou, Ciro deverá se reunir com representantes da equipe econômica de seu plano de governo até amanhã para discutir o assunto.

No encontro, assessores do presidenciável do PPS defenderão que Ciro apresente a FHC proposta de votação da reforma tributária ainda neste ano. Caberia ao presidente, segundo eles, fazer um apelo para que os partidos se empenhem com esse objetivo.

Outra sugestão tem como meta a redução da vulnerabilidade externa do país por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A idéia da equipe de Ciro é que o banco passe a fornecer crédito com uma taxa de juros "competitiva" que estimule a produção industrial, especialmente aquela voltada para a exportação.

Lula
Lula disse ontem, em Londrina (PR), que vai cobrar a implantação da minirreforma tributária. E afirmou que FHC e equipe devem assumir, em "comunicado à Nação", a responsabilidade pela crise. "É preciso assumir a total responsabilidade pela fragilidade do governo perante o mercado, que esse governo tanto privilegiou."
O petista afirmou que irá se reunir neste final de semana com o diretório do PT para discutir a agenda que será levada ao presidente. "Mas essa pergunta eu vou fazer a ele: por que não colocou em votação uma proposta que era consensual entre os partidos?", voltando a falar na minirreforma.

Para Lula, ela é necessária para que o próximo presidente comece a trabalhar já em janeiro.
Sobre o fato de os adversários afirmarem que está adotando um discurso moderado, o candidato disse que o que houve foi uma maturidade política do PT. "Pelo nosso programa, vocês podem achar que estamos mais comedidos. Isso não foi medo nem retrocesso ideológico, mas maturidade política. Nosso programa está adequado à atual realidade brasileira, melhor pensado e adequado aos nossos cabelos brancos."
Ainda sobre o encontro com FHC, Lula disse em Foz do Iguaçu que não acredita que se trate de uma idéia do Planalto apenas para acalmar o mercado financeiro.

Questionado se teme ser utilizado politicamente por FHC, não quis polemizar. "Acho que o político não pode ter essa preocupação. Dessa forma, você já vai amargurado, trancado e reprimido internamente. Conheço o presidente e ele me conhece."

Mas aproveitou para alfinetar FHC. "Como o presidente tomou a iniciativa, eu vou a Brasília, e pode estar certo que vou levar propostas. Mas não quero que ele fique sabendo delas pela imprensa. Conheço os problemas do Brasil, mas ele parece que não conhece."

Ônus da crise
Ciro e Lula esperam deixar claro que, apesar de terem aceitado o convite de FHC, não estão dispostos a dividir com o governo federal o ônus da turbulência no mercado. Pretendem ainda evitar dar a impressão de que estariam dando um aval às medidas tomadas pelo presidente.

Ciro tem repetido insistentemente que não pretende dividir com FHC o prejuízo causado por erros do modelo que diz estar denunciando há pelo menos sete anos. "Candidato não faz acordo", tem sido sua frase para explicar sua posição sobre o assunto.

Lula também sempre resistiu à idéia do encontro, preocupado com a possibilidade de ser co-responsabilizado pelo problema. Acabou concordando para evitar a imagem de intransigência.


Tucano recua e deve poupar Ciro na TV
Equipe reavalia estratégia para propaganda eleitoral; Serra deve adotar linha mais "positiva e propositiva"

O presidenciável José Serra (PSDB-PMDB) decidiu abandonar a tática de ataque frontal ao adversário da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), Ciro Gomes, estratégia que se mostrou até agora insuficiente para melhorar seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto.

O núcleo da campanha tucana assistiu em São Paulo a programas eleitorais para a televisão já gravados e descartou aqueles com conteúdo mais agressivo em relação a concorrentes. A aposta será em uma linha mais "positiva e propositiva", na definição do coordenador político do comitê, deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG).

"Será uma campanha com objetivos claros de apresentar propostas. Não vamos aceitar esse denuncismo que alguns estavam imaginando. Não é do nosso feitio", afirmou Pimenta.

Tentando afastar o abatimento que tem tomado conta da campanha de Serra -devido ao terceiro lugar nas pesquisas, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Ciro e praticamente empatado com Anthony Garotinho (PSB)-, Pimenta convocou ontem a imprensa para uma entrevista no comitê central, em Brasília, buscando demonstrar um otimismo sem explicitar as razões.

"Momento positivo"
"O programa eleitoral, que começa dia 20, virá num momento extremamente positivo. Estamos criando um ambiente para uma forte reação da campanha", disse o coordenador político do comitê.

Na avaliação dos estrategistas da campanha tucana, a pesquisa de intenções de voto divulgada na terça-feira pelo Ibope traz indicadores positivos, principalmente ao mostrar crescimento de Serra nas capitais e entre eleitores com ensino médio e nível superior. Nesse setor do eleitorado, considerado formador de opinião, Ciro perde votos.

Segundo o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Júnior (BA), a campanha tem ""detectado o caminho que Serra pode percorrer para crescer e quais são as fragilidades de Ciro".

A aposta dos serristas no programa eleitoral se deve ao tempo que ele terá na televisão (dez minutos à tarde e dez à noite), mais do que o dobro da soma dos períodos de Lula e Ciro.

Por isso, a campanha está concentrando os recursos na produção dos programas de Serra. Houve, inclusive, cortes em outros setores, como a encomenda de material gráfico de campanha, principalmente cartazes. Os outdoors continuarão sendo privilegiados.

Encontro com FHC
Pimenta fez uma leitura positiva até dos encontros que o presidente Fernando Henrique Cardoso terá na próxima segunda com os quatro principais candidatos à sua sucessão, em busca de aval para o acordo com o Fundo Monetário Internacional. Serra era contrário aos encontros por entender que passariam a idéia de que nem FHC acredita mais na sua recuperação, mas se rendeu à decisão do presidente.

De acordo com sua interpretação, o gesto de FHC "não credencia" nenhum deles e mostra que o presidente "está tão confiante" na vitória do seu candidato -Serra-, que não há problema em conversar com os outros.


Site de Serra lança jingle ironizando Ciro
Os ataques entre os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS) podem ser escutados agora em forma de música brega-sertaneja.

No site do candidato tucano tem um jingle chamado "Você Mente Demais", em que a letra faz referências indiretas a Ciro.

A música faz menção a um "rapaz" que "vê crescer o seu nariz", pois "inventa o que diz". O "rapaz" é o candidato do PPS.

É a tradução em refrão do que os estrategistas tucanos dizem no dia-a-dia da campanha: que Ciro Gomes seria mentiroso.

A assessoria de imprensa de Ciro disse que não iria tomar nenhuma providência quanto à música por entender que o jingle faz uma referência ao próprio candidato do PSDB, uma vez que está no site do tucano. A campanha de Ciro disse, no entanto, que a música é mais uma baixaria da dupla baiana "Nizan [Guanaes] e Desespero", referindo-se ao marqueteiro de Serra e ao candidato.

Os tucanos se prendem a declarações do próprio Ciro, como a de que teria estudado em colégio público a vida inteira, para basear a acusação. O candidato do PPS, que ocupa o segundo lugar na última pesquisa Datafolha de intenção de voto, feita em 30 de julho, é o principal alvo do tucano.

Coordenadores da campanha dizem que Serra, em terceiro lugar na pesquisa, pode crescer nas sondagens tirando votos de Ciro.

Dentro dessa linha de ataque também está a tentativa de colar em Ciro a imagem de que seria um novo Collor, em alusão ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, que teve de renunciar ao cargo depois da abertura de um processo de impeachment.

De acordo com a música, seriam supostas mentiras de Ciro o fato de o candidato ter dito "que estudou, que pagou, que arrumou". O que os tucanos querem acusar, em rima, é o fato de Ciro não ter pago a dívida do Ceará.

Segundo Ciro, quando ele foi governador do Ceará (91-94), concluiu o resgate dos títulos da dívida mobiliária do Estado.

A música, chamada de "megassucesso", ganhou destaque na página na internet. "Ouça o "megassucesso" das eleições de 2002", diz o site tucano.

A assessoria de Serra disse que não informaria o responsável pela música. Os jingles de Serra estavam sendo feitos pelo publicitário Paulo César Bernardes. Leia abaixo a música.


Ciro tem o mesmo DNA de FHC, diz Lula
Em resposta a ataques de Ciro, petista diz que não precisa "ficar nervoso" para tentar construir imagem de oposição

Assumindo de vez sua nova postura de ataque e dando sinais de uma virtual polarização na corrida rumo ao Palácio do Planalto, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, utilizou ontem toda sua munição contra o presidenciável Ciro Gomes (PPS), comparando-o ao presidente Fernando Henrique Cardoso.

Para Lula, o candidato do PPS é "fruto da mesma árvore" e possui o "mesmo DNA" do presidente da República.

O petista ainda utilizou a linguagem do futebol para afirmar que o adversário não tem "equilíbrio emocional".
Para o presidenciável do PT, que ontem pela manhã participou de uma palestra em Foz do Iguaçu (PR), Ciro Gomes está sendo obrigado a criar factóides ao longo da campanha para buscar um rótulo de oposicionista do governo federal.

"Tem gente que precisa gritar, que precisa ficar nervoso, que precisa xingar alguém para tentar construir a imagem de oposição. Eu não preciso disso", afirmou Lula.

Em entrevista à Folha, na última terça-feira, Ciro havia declarado que o candidato petista tem se rendido às pressões do Palácio do Planalto e, ao mesmo tempo, vem mentindo para a sociedade ao vender a alma para ser presidente do Brasil.

A resposta de Lula aos ataque de Ciro veio ontem. "Só têm esse comportamento os dissidentes, aqueles que são frutos da mesma árvore e que querem se diferenciar [de FHC], embora tenham o mesmo DNA", afirmou o presidenciável petista.

Chutão
Como tem feito nos último meses, Lula mais uma vez usou termos futebolísticos para explicar de forma mais didática seus duelos políticos. Ontem, ele abusou da linguagem para dizer que o candidato do PPS tem problemas psicológicos.

"[Nesta campanha] eu não vou dar chutão. Se o jogador de futebol tivesse equilíbrio emocional, psicológico, marcaria a maioria dos gols [...]." afirmou Lula. "Mas, muitas vezes, em vez de escolher um canto ou encobrir o goleiro, ele tenta dar um chutão. O craque não faz isso. O craque encobre o goleiro, joga a bola de lado e marca o gol. Eu não estou a fim de dar chutão."

Ontem, em um hotel de Foz do Iguaçu, Lula discursou para cerca de mil pessoas, entre militantes, estudantes, sindicalistas e empresários. Uma carreata, com cerca de 30 veículos, levou o candidato petista do aeroporto ao centro da cidade.


Petista é "paraguaio", afirma líder do PTB
O deputado Roberto Jefferson (PTB), um dos coordenadores da campanha do presidenciável Ciro Gomes (PPS), afirmou ontem que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que tem sido apresentado durante a eleição deste ano é "paraguaio, falso".

"Ele está domesticado mesmo. É um Lula paraguaio, falso. Não tem nem as qualidades de um genérico", declarou ele. "Mentir seria vestir o Ciro de macacão", completou, em uma referência indireta ao fato de o petista, um ex-metalúrgico, priorizar o uso de ternos na campanha.

A crítica foi uma resposta à afirmação feita anteontem pelo presidente nacional do PT, José Dirceu, de que o ex-governador do Ceará teria ""uma tendência incontrolável para a mentira".

"Fui pesquisar em livros de medicina o comportamento de Ciro e descobri que ele sofre da síndrome de Ganser, chamada de paralogia fantástica. Ciro tem uma tendência incontrolável para a mentira e precisa de um divã", declarou anteontem Dirceu, durante o lançamento do programa de governo estadual do PT.
Na avaliação do petebista, líder do partido na Câmara, o fato de o argumento usado por Dirceu repetir as críticas feitas pelos tucanos a Ciro também evidencia que PT e PSDB estão "jogando casado" contra o candidato do PPS.

"Eles esperavam uma final entre a avenida Paulista e São Bernardo. Mas veio o Ciro e atropelou", declarou o deputado.

A troca de ataques entre petistas e integrantes da Frente Trabalhistas marca o fim da relação relativamente amistosa que as equipes dos dois candidatos líderes nas pesquisas de intenção de voto vinham mantendo até o momento.

"Entreguezinho"
O processo foi detonado pelo próprio Ciro que, embora elogie as qualidades pessoais de Lula, fez anteontem um de seus mais duros ataques ao petista em discurso a representantes do setor de vendas, em São Paulo.
Dizendo que não seria domesticado pelo mercado, o presidenciável do PPS referiu-a a Lula como "entreguezinho" ao sistema. "Vão domesticar o Lula, que já está bem entreguezinho. A mim não vão domesticar", disse na ocasião.

A polarização demonstra ainda uma mudança no comportamento de Ciro, que, ignorando apelos insistentes de sua equipe para que se concentrasse no petista, até a semana passada vinha priorizando críticas ao tucano José Serra.

A avaliação dos aliados de Ciro é a de que ele deveria evitar embates com um adversário que hoje ocupa a terceira colocação nas pesquisas de intenção de votos.

As críticas do presidenciável e de Jefferson revelam também o novo tom que deverá ser adotado contra o petista.

Até este momento, a campanha da Frente Trabalhista vinha priorizando ataques à falta de experiência administrativa de Lula, que disputa pela quarta vez uma eleição presidencial sem nunca ter ocupado nenhum cargo executivo.


Uso de carros públicos pelo PT é investigado
Ministério Público abre procedimento para apurar irregularidade no lançamento do programa de Genoino

O Ministério Público do Estado de São Paulo abriu ontem dois procedimentos investigatórios, um na esfera cível e outro na eleitoral, para apurar o uso indevido de carros públicos no evento de lançamento do programa de governo de José Genoino, candidato pelo PT à sucessão estadual.

O evento ocorreu anteontem, no Club Homs, em São Paulo. Das 15h às 18h, pelo menos 16 carros -na sua maioria pertencentes às administrações regionais-, foram utilizados para transportar correligionários ao ato político.

Entre os carros identificados, alguns por meio de fotos, estão os das administrações regionais do Ipiranga, do Jaçanã-Tremembé, da Vila Prudente, da Vila Mariana e da Casa Verde.

Esses automóveis, diferentemente dos veículos oficiais de chapa preta e de representação-, destinam-se exclusivamente ao serviço público. No caso dos de representação, segundo promotores, a autoridade tem o direito de usá-los.

"O evento foi um ato partidário, não um ato oficial. Por isso, os carros de serviço não poderiam ter sido utilizados", afirmou o promotor de Cidadania Sérgio Turra, que solicitou a instauração de um inquérito cível para apurar a prática de improbidade administrativa (má gestão do patrimônio público).

Segundo o promotor, o objetivo será personalizar os agentes municipais responsáveis pela prática irregular, identificar os veículos e levantar os possíveis prejuízos acarretados ao município.

"Antidemocrática"
Na Justiça Eleitoral, foi instaurada uma medida investigatória para apurar a prática de possível crime pelo uso de um bem público em favor da candidatura petista.

A determinação é baseada no artigo 73, da lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, que busca proteger o pleito de práticas que afetem a igualdade de oportunidades entres os candidatos.

Segundo a lei, é proibido ceder ou usar em benefício de candidato, partido ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta do município. A única ressalva prevista é a realização de convenção partidária o que não foi o caso.

"Práticas como essas desequilibram o pleito eleitoral. Usar a máquina administrativa em atos políticos privilegia uma determinada candidatura e não é uma atitude democrática", afirmou Jorge Augusto Morais da Silva, procurador de Justiça, designado para trabalhar no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) durante o período da eleição.

A investigação será conduzida pelo procurador e pelos promotores Arnaldo Hossepian Júnior, Israel Donizeti Vieira da Silva e José Roberto Sígolo.

"Pedir desculpas à população depois do fato ocorrido não adianta. Vamos investigar e verificar o que ocorreu", afirmou Morais da Silva.

Tanto no procedimento cível quanto no eleitoral, não é possível afirmar que o investigado será o candidato petista José Genoino. Em primeiro lugar, os promotores irão identificar os agentes públicos responsáveis pelo uso irregular dos carros, para depois saber se a Prefeitura de São Paulo, o partido e o candidato tinham conhecimento do fato.

Entres as punições previstas para o emprego irregular de um bem público estão a restituição do prejuízo causado ao município (na esfera cível), o pagamento de multa de até R$ 110 mil e a cassação da candidatura beneficiada (na esfera eleitoral).


Artigos

Responsabilidades
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Ao anunciar os encontros com os presidenciáveis, marcados para segunda-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que, "agora, os candidatos têm de assumir suas responsabilidades".
Tudo bem. Não apenas os candidatos mas todas as pessoas sérias devem assumir suas responsabilidades, a começar, por falar nisso, do próprio presidente da República.

É chantagem culpar os candidatos, por exemplo, pela crise financeira em curso. Ou, na outra ponta da eleição, culpar os eleitores por estarem até agora preferindo dois nomes de oposição para disputarem um eventual segundo turno.

A esse respeito, é exemplar o texto da revista britânica "The Economist", ardorosa fã do presidente Fernando Henrique, quando comentava, em maio, a necessidade de antecipar a eleição argentina.

O título basta para dar o tom da história: "Deixem os eleitores escolherem seu veneno". Democracia é isso: o direito de escolher o veneno ou o néctar que se quer provar, agrade ou não ao mercado.

Seria obviamente ingênuo ignorar que a incerteza inevitável em períodos eleitorais tem lá o seu papel na crise. Mas o fato é que a incerteza só consegue virar crise quando há ambiente para isso.

É o que ocorre no Brasil -pelos fatores expostos à exaustão nos jornais, dia sim, o outro também. E tais fatores foram criados, todos, pelo governo Fernando Henrique Cardoso.

Os candidatos só poderão assumir responsabilidades pelo que fizerem a partir de 1º de janeiro (ou 6 de janeiro, se mudar a data da posse).

Pedir-lhes, por exemplo, moderação nas palavras só para não assustar mais os tais de mercados, é pedir-lhes que abdiquem do sagrado direito, pelos cânones da democracia, de pedir votos usando as palavras que lhes parecerem mais capazes de seduzir o público.


Colunistas

PAINEL

Fim de governo
Os 30 funcionários mais bem pagos do Banco do Brasil -se perderem seus cargos de comissão a partir de agora- vão passar a receber salários extras nos 24 meses seguintes. Até então, a ajuda era por 12 meses.

Explicação oficial
O BB diz que tomou a medida para evitar a evasão de funcionários experientes do banco para a iniciativa privada. Seriam R$ 8 mil a mais do que o salário-base nos primeiros 12 meses. Nos últimos 12, a remuneração cairia mês a mês. "É o seguro-desemprego dos tucanos do BB", diz Ricardo Berzoini (PT).

Primeira página
Serra tenta convencer FHC a não permitir a entrada de fotógrafos nas reuniões com Lula, Ciro e Garotinho. Só ele seria fotografado ao lado do presidente.

Além dos militares
Lei sancionada por FHC amplia a concessão de benefícios a famílias de desaparecidos políticos. Pela lei anterior, eram consideradas vítimas pessoas que desapareceram entre 61 e 79. Agora, o governo dará benefícios aos desaparecidos até 88.

Quase igual
Ramez Tebet (PMDB-MS), presidente do Senado, quer emplacar o nome do publicitário Tom Eisenlohr na chefia da Secretaria de Comunicação de Governo. Para compensar o apoio que dá a Serra no seu Estado.

Bons companheiros
Delcídio Amaral, candidato do PT ao Senado pelo MS, entregou uma bandeira do partido a Ricardo Teixeira (CBF). "Essa é a minha sexta estrela", disse o presidente da CBF, que levará a taça do penta a Zeca do PT no dia 29.

Chumbo trocado
Dante de Oliveira (PSDB) interpelou Blairo Maggi (PPS), candidato ao governo de MT, para que dê prova de que seu pai, André Maggi, pagou propina a integrantes do governo. Blairo diz que processará Dante por calúnia, em virtude de declarações dadas à imprensa.

Laranjal repartido
Acusado de ter propriedades em nome de laranjas, Paulinho, vice de Ciro, diz que, se ficar provado que as terras são suas, as entregará para o programa de reforma agrária do eventual governo do candidato do PPS.

Maldade regional
Ciro Gomes recebeu um apelido no Ceará: "seu Lunga", homem que virou folclore em cordéis e tema de reportagem do "Fantástico" (Globo) como "o sujeito mais grosso do mundo".

Carona amiga
Com bem menos tempo de TV do que Serra no horário eleitoral, Ciro usará o espaço dos candidatos a governador. Em SP, aparecerá em quase todos os programas de Antônio Cabrera.

Figurino emprestado
Alckmin herdou a cadeira de Covas, mas, segundo adversários, tenta imitar o estilo Jânio Quadros. Na campanha, posou para fotógrafos segurando uma pá, recolhendo papel do chão e até imitando um garçom. Logo, dizem, terá de pendurar suas chuteiras na porta do gabinete.

Ouvidor cultural
O Ministério da Justiça reduziu a idade mínima do filme "Cidade de Deus" de 18 para 16 anos. Sábado, FHC assistiu ao filme e reclamou da censura de 18 anos, segundo ele exagerada.

Visitas à Folha
O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, chefe do centro de Comunicação Social do Exército, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado dos coronéis João Tranquillo Bera ldo e Hélio Macedo Júnior e dos tenentes Anselmo Cassiano, Luciano Quintela e Angelo Bezerra.

Francisco Carvalho, diretor de Comunicação do McDonald's, e Francisco Neves, secretário-executivo do Instituto Ronald McDonald, visitaram ontem a Folha. Estavam acompanhados de Andrew Greenlees, vice-presidente da Cia. de Notícias.

TIROTEIO

De Roberto Freire (PPS), sobre José Dirceu (PT) ter chamado Ciro de "mentiroso":
- A declaração depõe contra a inteligência de Dirceu. Recorreu a um argumento de marqueteiro já usado por Serra e que não deu certo. No mínimo, deveria pagar direito autoral.

CONTRAPONTO

Telefone blindado
Desde que foi escolhido para ser o coordenador da força-tarefa que tem o objetivo de reduzir a violência no Rio de Janeiro, o delegado da Polícia Federal Getúlio Bezerra acumula funções de chefe da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) na PF de Brasília, troca informações com as polícias Civil e Militar do Rio sobre os traficantes da região e ainda atende a imprensa.
O delegado costuma deixar seu telefone celular ligado o tempo todo. Nos últimos meses, são tantas as ligações para o seu número que decidiu tomar uma medida. Ao atender a chamada, Bezerra finge ser uma mensagem de secretária eletrônica:
- Esta é uma gravação. Se você quiser dar informações sobre o paradeiro do traficante Elias Maluco, tecle o número um. Se você quiser informações sobre a força-tarefa no Rio, tecle dois. Se você quiser contar uma piada, continue na linha...


Editorial

O NOVO CIRO

O Ciro Gomes que participou, na terça-feira, de sabatina promovida pela Folha já não era apenas o candidato sustentado pelos periféricos PPS, PDT e PTB. A fala do ex-governador do Ceará teve de agregar novos elementos para moldar-se ao status que a sua candidatura rapidamente adquiriu na disputa pelo Planalto. Trata-se de tentar harmonizar a retórica radicalmente oposicionista do pepessista com o fato de que sua candidatura passou a sustentar-se, também, num ramo significativo da direita conservadora.

Ciro Gomes -contrastando com a branda participação de Lula no dia anterior- manteve a disposição de mostrar-se como o mais descompromissado, dentre todos os principais candidatos, com o "establishment" político, empresarial e social do país. Numa generalização descabida, o presidenciável do PPS tachou toda a "grande mídia" de governista e, portanto, contrária a seu projeto de poder; nos bancos, criticou o fato de estarem auferindo lucros extraordinários em plena crise.

Mas, se a proposta de Ciro Gomes é mudar substancialmente a condução das políticas públicas e, portanto, derrotar setores tradicionalmente privilegiados no Brasil, como explicar a adesão à candidatura da Frente Trabalhista de um oligarca como Antonio Carlos Magalhães? Como vociferar contra o que ele chama de governismo da "grande mídia" e, ao mesmo tempo, associar-se a políticos que detêm controle de meios de comunicação de massa?

A fórmula encontrada por Ciro Gomes para resolver o impasse é clássica: o exercício do poder pessoal do líder político é o elemento capaz de fazer com que essa aliança heterogênea trabalhe a favor do país. Nessa visão da política, a liderança "moral e intelectual" do presidente é fundamental para, por exemplo, convencer a oligarquia, aliada, a dobrar-se às forças da suposta modernização.

Por mais que Ciro Gomes seja estrategicamente evasivo a respeito, se ele for eleito na atual configuração, das duas uma: ou paga o preço de governar com o suporte da direita conservadora -cedendo cargos e poder político, ou a sua Presidência tenderá a defrontar-se com impasses e turbulências constantes.


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08/15/2002


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