Petistas insinuam que BC deixa o dólar "solto" para ajudar Serra









Petistas insinuam que BC deixa o dólar "solto" para ajudar Serra
Deputado diz ter ouvido de executivos de bancos versão de que Banco Central faz "corpo mole"

Lideranças petistas desconfiam de que o Banco Central tenha retomado a estratégia de "terrorismo econômico", deixando o dólar subir para prejudicar a candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva e ajudar José Serra (PSDB).

Ontem, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP), um dos principais interlocutores do partido junto ao mercado financeiro, acusou o BC de estar agindo de maneira pouco firme na contenção do dólar. "O Banco Central está fazendo corpo mole. Não está entrando no mercado para segurar o dólar como poderia", declarou o deputado, que tem sido um dos idealizadores de recentes encontros de Lula com bancos.

Berzoini diz que se reuniu ontem pela manhã com executivos de dois dos principais bancos que operam no Brasil e que eles compartilham dessa visão.

"Parcela expressiva do mercado está convencida de que o BC não está fazendo o que deveria", disse ele, que preferiu não dar nomes dos interlocutores. O petista diz que os motivos pelos quais o BC estaria agindo sem firmeza "têm de ser investigados".

A assessoria do BC foi procurada para comentar o assunto, mas não se pronunciou a respeito até o fechamento desta edição.

O assunto divide o partido. Integrantes da equipe que cuida do programa de governo consideram não haver fundamento na crítica à atuação do BC e preferem evitar uma discussão potencialmente desgastante, no momento em que Lula aparece com chance real de vencer no primeiro turno.

O PT está preocupado, no entanto, com a possibilidade de a disparada do dólar alimentar o clima de incerteza no mercado, o que poderia acabar favorecendo um voto pela continuidade, representada por Serra.
A disparada do dólar, que fechou ontem a R$ 3,66 recuo de 3,09% em relação a anteontem, quando foi vendido a R$ 3,78-, tem sido atribuída em parte à dúvida sobre a maneira como o PT comandaria a economia.
Os petistas acreditavam que o governo utilizaria recursos liberados pela redução do piso das reservas do país -que caíram de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões com o acordo com o FMI- para conter a moeda norte-americana.

Um dos porta-vozes econômicos do partido, o deputado federal Aloizio Mercadante (SP) admite a possibilidade de "conivência" do governo com a subida do dólar.

"O governo já jogou com a alta do dólar em abril e pode estar fazendo isso de novo, numa estratégia desesperada para salvar sua candidatura. Pode estar havendo omissão do governo ao não utilizar instrumentos de que dispõe, com o objetivo de criar um fato político", disse ele. Mercadante ressalva que ainda é preciso esperar mais alguns dias para concluir de forma definitiva que o governo voltou a fazer "terrorismo".
Ao mesmo tempo em que faz a crítica, o PT toma cuidado para não prejudicar o relacionamento que construiu com Armínio Fraga, presidente do BC, hoje um interlocutor frequente e respeitado do partido. Os petistas não chegam ao ponto de dizer que haveria uma ordem expressa de Fraga, do ministro da Fazenda, Pedro Malan, ou do próprio presidente Fernando Henrique Cardoso para deixar o dólar "solto".


Petistas insinuam que BC deixa o dólar "solto" para ajudar Serra
Deputado diz ter ouvido de executivos de bancos versão de que Banco Central faz "corpo mole"

Lideranças petistas desconfiam de que o Banco Central tenha retomado a estratégia de "terrorismo econômico", deixando o dólar subir para prejudicar a candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva e ajudar José Serra (PSDB).

Ontem, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP), um dos principais interlocutores do partido junto ao mercado financeiro, acusou o BC de estar agindo de maneira pouco firme na contenção do dólar. "O Banco Central está fazendo corpo mole. Não está entrando no mercado para segurar o dólar como poderia", declarou o deputado, que tem sido um dos idealizadores de recentes encontros de Lula com bancos.

Berzoini diz que se reuniu ontem pela manhã com executivos de dois dos principais bancos que operam no Brasil e que eles compartilham dessa visão.

"Parcela expressiva do mercado está convencida de que o BC não está fazendo o que deveria", disse ele, que preferiu não dar nomes dos interlocutores. O petista diz que os motivos pelos quais o BC estaria agindo sem firmeza "têm de ser investigados".

A assessoria do BC foi procurada para comentar o assunto, mas não se pronunciou a respeito até o fechamento desta edição.

O assunto divide o partido. Integrantes da equipe que cuida do programa de governo consideram não haver fundamento na crítica à atuação do BC e preferem evitar uma discussão potencialmente desgastante, no momento em que Lula aparece com chance real de vencer no primeiro turno.

O PT está preocupado, no entanto, com a possibilidade de a disparada do dólar alimentar o clima de incerteza no mercado, o que poderia acabar favorecendo um voto pela continuidade, representada por Serra.
A disparada do dólar, que fechou ontem a R$ 3,66 recuo de 3,09% em relação a anteontem, quando foi vendido a R$ 3,78-, tem sido atribuída em parte à dúvida sobre a maneira como o PT comandaria a economia.
Os petistas acreditavam que o governo utilizaria recursos liberados pela redução do piso das reservas do país -que caíram de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões com o acordo com o FMI- para conter a moeda norte-americana.

Um dos porta-vozes econômicos do partido, o deputado federal Aloizio Mercadante (SP) admite a possibilidade de "conivência" do governo com a subida do dólar.

"O governo já jogou com a alta do dólar em abril e pode estar fazendo isso de novo, numa estratégia desesperada para salvar sua candidatura. Pode estar havendo omissão do governo ao não utilizar instrumentos de que dispõe, com o objetivo de criar um fato político", disse ele. Mercadante ressalva que ainda é preciso esperar mais alguns dias para concluir de forma definitiva que o governo voltou a fazer "terrorismo".

Ao mesmo tempo em que faz a crítica, o PT toma cuidado para não prejudicar o relacionamento que construiu com Armínio Fraga, presidente do BC, hoje um interlocutor frequente e respeitado do partido. Os petistas não chegam ao ponto de dizer que haveria uma ordem expressa de Fraga, do ministro da Fazenda, Pedro Malan, ou do próprio presidente Fernando Henrique Cardoso para deixar o dólar "solto".


Fora da TV, Serra critica dupla face do PT
Além do candidato petista, tucano volta baterias contra Anthony Garotinho, empatado tecnicamente com ele nas pesquisas

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, decidiu manter a linha de confrontação e ataques a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevistas e debates, estratégia que abandonou desde sábado à noite em seus programas de TV.

Serra fustigou Lula e o PT em pelo menos cinco questões ontem, em entrevista concedida aos jornalistas de "O Estado de S. Paulo", no auditório do jornal, localizado no bairro do Limão, na zona norte de São Paulo.
"Tem o PT da TV e o PT da realidade", disse Serra, repetindo o bordão que os últimos programas haviam deixado de lado (os comerciais ontem atacaram administrações do PT). "Eu às vezes tenho cara mal-humorada, mas tenho só essa. Não tem o Serra da realidade e o Serra da TV."

Além de criticar Lula, o tucano também tomou a iniciativa de atacar o candidato do PSB, Anthony Garotinho. Acusou-o de fazer "propaganda mentirosa" a afirmação feita por Garotinho de que o tucano prometera aumentar o salário mínimo em R$ 11,00.

Contou também que enviou para o Rio cerca de R$ 10 milhões para o combate à dengue, quando era ministro da Saúde, mas que o dinheiro fico u todo no caixa único do governo estadual.

Em relação a Ciro Gomes (PPS), Serra referiu-se de passagem, com deboche. "Quem diz isso [sobre sua capacidade de articular a aprovação de projetos no Congresso] é o Ciro Gomes. Tem alguém com menos credibilidade no mundo, no universo, na galáxia para dizer isso?"

Mas foram Lula e o PT os alvos: "Há vários PT. O do mercado, o que quer tranquilizar o MST, o que quer tranquilizar o movimento sindical. Nós não, nosso discurso é único", ironizou.

Diploma
Serra voltou a acusar a oposição de não querer debater programas de governo e ainda se mostrar "ofendida" quando é chamada para a discussão. E tentou justificar o uso que seu programa fez sobre a exigência de diploma em concurso para fiscal da Prefeitura de São Paulo:
"Dizem [os petistas] que querem dar oportunidade a todos, mas pedem diploma para fiscal de camelô, e para o presidente não? Isso não tem cabimento. Agora, não quer dizer também que não ter diploma é uma boa condição para ser presidente."

Para Serra, a exigência de diploma tem como objetivo dar cargos comissionados aos aprovados.

Serra discordou sobre a afirmação de que o real se desvalorizou em relação ao dólar tanto quanto o peso argentino. "É uma análise completamente errada." Segundo o tucano, enquanto o peso foi desvalorizado a partir da cotação de um por um em relação ao dólar, devido à paridade vigente na Argentina, o real partiu de um patamar em torno dos R$ 2,30.

Serra negou que alguma vez tenha dito que, se não for eleito, o Brasil poderia se transformar em uma nova Argentina: "Eu nunca afirmei isso. Outros dizem isso". Mas ressaltou: "Depois da eleição, se eu ganhar, já haverá reversão de expectativa".

O tucano considerou "altamente provável" a realização do segundo turno. "Eu vou para o segundo turno e no segundo turno começa de novo."

Confirmou que manterá Armínio Fraga na presidência do BC e que espera contar com a colaboração do presidente Fernando Henrique Cardoso: "Ele conhece como poucos as minhas fortalezas e fragilidades. E vice-versa".


PMDB adota lema "paz e amor" e cresce
Rigotto fica fora de ataques entre Tarso e Britto e sobe de 9% para 18%

Imune até agora aos ataques dos dois primeiros colocados que trocam farpas só entre si, o candidato do PMDB ao governo do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, adota a estratégia "paz e amor". Na última pesquisa Ibope, de anteontem, foi o candidato que mais cresceu nas intenções de voto.

Aliado do presidenciável tucano José Serra, Rigotto procura adotar, segundo seus adversários, a tática de Luiz Inácio Lula da Silva, que criou o lema "Lulinha, paz e amor" por procurar ficar fora de ataques e acusações.
"Ficaremos na mira dos concorrentes a partir de agora", disse o deputado estadual José Ivo Sartori (PMDB), um dos coordenadores da campanha de Rigotto, já prevendo reflexos das pesquisas.

Aceitação
Segundo ele, o crescimento da campanha ocorreu pela boa aceitação dos projetos do candidato e pelo fato de ele não ter participado do embate entre os primeiros colocados. Na campanha, Tarso Genro (PT) e Antônio Britto (PPS) trocam acusações lembrando casos antigos.

Segundo o Ibope, Tarso é o primeiro colocado com 32% de intenções de votos. Britto tem 26% e Rigotto está com 18%. Na pesquisa anterior do Ibope, de 29 de agosto, Britto era o líder, com 36%. O segundo era Tarso, com 30%. Rigotto tinha apenas 9%.


Plano de Maluf contraria lei da educação
Proposta do candidato, que prevê volta do sistema de séries e repetência, vai contra sugestão da LDB e não tem apoio de conselho

Por trás dos ataques que o candidato do PPB ao governo paulista, Paulo Maluf, faz à progressão continuada, há um plano que prevê a volta da reprovação de alunos a cada ano letivo, estabelecendo o fim do atual modelo educacional.

A medida proposta por Maluf contraria deliberação do Conselho Estadual de Educação, vai contra sugestão da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e do Ministério da Educação e não tem apoio entre especialistas, pais e sindicato dos professores.

Ao abordar o assunto, Maluf deixa de lado mudanças que o novo regime provocou no Estado, como a redução da evasão.

A redução surgiu por causa do fim da reprovação, que passou a ser admitida ao final dos dois ciclos de quatro anos do ensino fundamental. O modelo veio para substituir o antigo, que era de séries, principalmente devido à repetência ao final de cada ano letivo, como defende hoje Maluf.

Apesar de o pepebista não citar a retenção de alunos em seus programas na TV, em discursos ou nas entrevistas, seu plano de governo para a educação, lançado na semana passada, informa: "Esgotadas as oportunidades de progressão, sem êxito, o estudante permanecerá na mesma série que está cursando e será objeto de acompanhamento pedagógico".

Ao regime, que para especialistas significa a volta ao sistema de séries, Maluf e sua equipe deram o nome de Sistema de Promoção Qualificada e Responsável, modelo que não agradou o presidente do Conselho Estadual de Educação, Francisco José Carbonari.

"[Maluf] Está propondo que se reprove os alunos como se isso garantisse alguma coisa. Nosso sistema foi um dos que mais reprovaram. E [isso] garantiu que qualidade de ensino?", questiona.

De certa forma, as críticas de Maluf à progressão continuada, devido a casos de alunos que passam com deficiência de aprendizado, têm respaldo entre educadores e pais. Mas, para o presidente do conselho, a discussão deveria envolver outras questões.

"Evidentemente existem correções a serem feitas, mas as correções são no sentido de avançar com o processo [de progressão continuada], não de retroceder [ao sistema de séries e à repetência a cada ano", afirmou.
Caso Maluf leva adiante a idéia de voltar ao sistema de séries, segundo Carbonari, será necessário a aprovação do conselho.

"Se você fizer retenção ou aprovação a cada ano, você implantou de novo a série. Isso vai contra as concepções pedagógicas mais avançadas hoje nos países inteligentes", diz Mario Sergio Cortella, professor de pós-graduação em educação da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

Para o professor, secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo em 92, quando foi implantado a progressão, a proposta de Maluf é "populista". "A reprovação ano a ano é a Rota na rua no campo da educação", afirma.

A proposta malufista também é criticada pela presidente do Napa (Núcleo de Apoio a Pais e Alunos), grupo surgido em 97 na zona oeste de São Paulo em defesa da escola pública. "Reprovar o aluno é a falência do ensino", diz a presidente Cremilda Teixeira.

Ela defende "mecanismos de cobrança" para casos de alunos que passam sem saber.

"O sindicato sempre defendeu a progressão, não da forma como foi implantada", diz Carlos Ramiro de Castro, da Apeoesp (sindicato dos professores).


Justiça condena Alckmin e mais 3 pessoas por gastos com publicidade
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), dois ex-secretários do Estado e o presidente da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), Oliver Hossepian de Salles de Lima, foram condenados a ressarcir R$ 100.254,40 aos cofres públicos devido a gastos com publicidade "promocional" ao tucano.
A decisão, de primeira instância, foi dada pela 12ª Vara da Fazenda Pública em uma ação popular proposta pelo vereador Devanir Ribeiro (PT) e pelo deputado estadual José Parado de Andrade (PT) em julho de 2001. Ainda cabe recurso.

Segundo a assessoria de Alckmin, os advogados dele, dos ex-secretários Osvaldo Martins de Oliveira Filho (Comunicação) e Cláudio de Senna Frederico (Transportes) e do presidente da CPTM vão recorrer da decisão.
Na dec isão, o juiz João André de Vincenzo entendeu que um jornal distribuído pela CPTM com fotos de Alckmin caracterizam promoção pessoal ao governador, ato vedado pela Constituição.

Na sentença, publicada ontem no "Diário Oficial" da Justiça, o juiz também condena os quatro a devolver despesas com divulgação pró-Alckmin no do site do governo na internet. O montante ainda terá de ser apurado.

A condenação do ex-secretários e do presidente CPTM ocorreu por eles também apareceram em fotos ou serem responsáveis pelas publicações.


O buraco negro das campanhas
Justiça Eleitoral não consegue inibir o financiamento irregular de candidatos, origem de escândalos com o uso de dinheiro público

Parte dos R$ 400 milhões a serem pagos pelo governo federal a usineiros nordestinos, a título de "equalizar" os custos de produção da cana-de-açúcar em relação aos do Centro-Sul, poderá ser usada para "irrigar" campanhas eleitorais na região.

Essa é uma das muitas formas possíveis de contornar os limites da legislação eleitoral. Mais desenvolvidos, os usineiros paulistas há muito tempo financiam candidaturas confiáveis, driblando prestações de contas. Eles constroem creches e doam máquinas e ambulâncias para prefeituras cujos titulares são afinados com a defesa do Proálcool, não importando a sigla partidária. Nas campanhas, muitas vezes o palanque é montado na usina.
Como a Justiça eleitoral não tem poder de auditoria, e os mecanismos de fiscalização são inócuos, apenas um lado perverso da questão aflora no período eleitoral: o risco de desequilíbrio na disputa, com a eventual concentração de financiamentos submersos em determinadas candidaturas.

Não menos nocivas são as formações antecipadas de caixas de campanha e as práticas viciadas que se estendem após o pleito.

Os acordos firmados durante as campanhas estão na origem da maioria dos escândalos com o uso de dinheiro público: as contratações dirigidas, as licitações fraudadas e as obras superfaturadas.

A "reciprocidade" nessa área surpreende. Eis o raciocínio de um empreiteiro: com a maior fiscalização, a possibilidade de uma construtora ganhar uma obra após as eleições seria maior se não contribuísse na campanha. Estaria acima de suspeitas para vencer, depois, uma licitação dirigida, preterindo as que contribuíram. Por outro lado, ficaria alvo mais fácil de "pedágios" e comissões.

Só raramente vem a público a contabilidade clandestina com recursos de caixa-dois das empresas. Foi o caso de um ex-dirigente de empreiteira paulista que questionou na Comissão de Valores Mobiliários a doação de R$ 164 mil para o candidato a prefeito Celso Pitta, não autorizada pelo Conselho de Administração.

Os apoios disfarçados em material ajudam os arrecadadores a fazer a conta de chegar. Em 1994, um dos coordenadores da campanha de Fernando Henrique admitiu, ao comentar as doações em móveis, imóveis e veículos: "Foi por aí, apesar dos bônus, que os valores foram sub ou superfaturados, conforme a conveniência do momento ou a geração de sobras de campanha".

A indústria automobilística costuma ajudar os candidatos de sua preferência com um esquema que preserva o nome das montadoras. As concessionárias emprestam, a pedido das montadoras, carros seminovos aos candidatos e aos comitês. E recebem das montadoras veículos zero quilômetro, em número igual aos emprestados, faturados em condições especiais.

Esse lobby nacional obedece ao mapeamento da rede de concessionárias, muitas delas de propriedade de políticos, e atende a interesses locais. O rastreamento levaria, no máximo, a locadoras.

Em 1998, o governador Mario Covas fez campanha numa moderna van emprestada pelo presidente da Toyota. A empresa alegou que era uma "manifestação de amizade e reconhecimento", porque Covas instalara uma fábrica da montadora no Estado.

Em 1998, grandes empresas privadas enxertaram em seus anúncios mensagens subliminares de apoio às ações do governo Fernando Henrique, então candidato à reeleição. Era a "Campanha do Bom Astral", montada pelo movimento "Ação Empresarial".

As prestações de contas da arrecadação e dos gastos de campanha são sabidamente um artifício. Terminada a eleição, doadores não sabem quanto foi coletado, e candidatos mais espertos podem continuar passando o chapéu.

O reexame da prestação do candidato tucano nas eleições presidenciais de 1998, feito por uma firma de auditoria, apenas confirmou que as prestações de contas obedecem à formalidade da lei.

Foram selecionados, por exemplo, cheques de valores iguais, de um mesmo contribuinte, até com repetição de centavos quebrados. Desconfiava-se de eventual direcionamento de cheques pré-datados, emitidos por pessoas físicas, e usados em contribuições eleitorais por pessoas jurídicas.

Foram dados cerca de 50 telefonemas para esses contribuintes, em vários Estados, checando-se os valores daquelas doações. Todos os consultados confirmaram a regularidade dos registros.

Em novembro de 2000, a Folha revelou planilhas eletrônicas sigilosas do comitê eleitoral do presidente Fernando Henrique, sugerindo que a campanha pela reeleição fora abastecida por um caixa-dois: pelo menos R$ 10 milhões não haviam sido declarados.

Da mesma forma, o reexame da prestação do candidato do Partido dos Trabalhadores em 1998 revelou que eram corretas as doações listadas, com o cuidadoso registro de contribuições ínfimas.

Esse aspecto também ficou evidente nas prestações de contas dos candidatos a prefeito e a vereador em Santo André, em 2000. Aparentemente, os valores maiores eram compatíveis com o porte das empresas do município. Contudo, eram fortes os rumores de que tinha havido fartura de recursos movimentando as eleições.

Já eram conhecidas as denúncias de contratos com suspeitas de irregularidades naquela administração tida, até então, como modelo de gestão do PT. Alertado há dois anos, o PT aparentemente não se preocupou em esclarecer suficientemente as suspeitas.

Outro exemplo: em 2000, descobriu-se que a contabilidade da campanha do PFL para a prefeitura de Curitiba girava em torno de um livro-caixa secreto com pagamentos não informados ao TRE.

No início do governo Fernando Collor de Mello, a Folha revelou as contratações, sem licitação, beneficiando agências de publicidade que haviam trabalhado na campanha presidencial.

O episódio motivou uma ação criminal do presidente contra quatro jornalistas, entre os quais o diretor de redação, Otavio Frias Filho, acusados de crime de calúnia. Essa tentativa de intimidação não prosperou, e Collor não recorreu da decisão que absolveu os jornalistas. Collor sentira-se ofendido com duas notas numa coluna de bastidores informando as suspeitas, dentro do próprio governo, de que as contratações compensariam dívidas de campanha com a agência Setembro Propaganda, de Minas Gerais.

Essa informação, reproduzida também nos jornais da família do presidente, contrastava com a sobra de recursos da campanha (PC Farias chegou a afirmar que os bancos tinham dado tanto dinheiro que ficara "assombrado").

Um levantamento posterior, em Belo Horizonte, constataria que a agência Setembro passara a operar com duas grifes: uma empresa, sem dívidas nem cadastro desabonador, assinava os contratos com o governo; a outra, dos mesmos sócios, acumulava títulos protestados em cartório. Ou seja, saíra da campanha endividada.
De lá para cá, pouco se fez para transformar a Justiça Eleitoral num poder capaz de punir distorções no financiamento eleitoral.


Artigos

Lula, FHC e a transição
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Adivinhe em quem o PT mais confia para que a transição para um eventual governo Lula seja a mais tranqüila poss ível (ou a menos desordenada possível)?
Sim, é nele, em Fernando Henrique Cardoso, que foi, talvez, a principal besta-fera do PT durante a maior parte do mandato.

No encontro que teve com Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, FHC prometeu que, depois da eleição, nada fará sem antes consultar Lula se este tiver sido o vencedor, é óbvio. É razoável e lógico imaginar que José Serra receberá idêntico tratamento, mesmo que não lhe tenha sido prometido.

O PT imagina que, se FHC não consegue tranqüilizar os mercados internos, como se está vendo agora, pelo menos poderá usar o seu prestígio externo para assegurar que Lula não é o bicho-papão.

Não se trata, é bom deixar claro, de devaneios. Os telefonemas entre FHC e José Dirceu, presidente nacional e principal operador político do PT, são mais freqüentes (e mais cordiais) do que sabemos os jornalistas.
Não é de graça, portanto, que Lula elogia com certa regularidade o presidente da República -tanto em público como em conversas reservadas.

Por que FHC se disporia a dar uma mão ao partido que mais críticas lhe fez e ainda lhe faz e ao candidato que enfrentou (e derrotou duas vezes) em eleições que não foram exatamente jogos amistosos?

Aí, cada um pode escolher a sua resposta. Haverá os crédulos, que dirão que um homem público, como FHC, não há de querer que o país vá à breca mesmo que seja nas mãos de quem se opôs o tempo todo a seus projetos políticos.

Os mais céticos dirão que o presidente teme que um fracasso do sucessor, logo no início do mandato, respingará gravemente nele próprio, manchando uma biografia que, se já está ameaçada pela gravidade da crise econômico-financeira, ainda pode ser salva, mormente se o sucessor cooperar para tanto.


Colunistas

PAINEL

Bula de remédio
Serra voltou a atacar Lula em comerciais na TV. A propaganda foi veiculada de modo a disfarçar o autor. A identificação aparece em letras minúsculas, na vertical, no canto da tela e sem o nome do tucano -há menção apenas à coligação (Grande Aliança PSDB-PMDB).

Efeito colateral
O programa tucano havia parado de bater em Lula após pesquisas concluírem que a estratégia fez aumentar a rejeição de Serra. Ao disfarçar a propaganda, o PSDB tenta atingir o PT sem contribuir para que o carimbo de "destruidor de biografias" atrapalhe Serra ainda mais.

Conjunto da obra
Nos comerciais, a campanha de Serra afirma que Lula não tem experiência administrativa e que o petista diz que vai governar com a do PT. E conclui que Marta Suplicy (SP) é a pior prefeita e Olívio Dutra (RS), o segundo pior governador.

Egos em choque
Serra pediu conselhos a um marqueteiro dos EUA. A conversa foi um dos motivos da crise entre o candidato tucano e Nizan Guanaes, que ameaçou abandonar a campanha.

Pacote nacional
De Walter Pinheiro (PT-BA), usando o dólar para ironizar Serra: "O mais prejudicado com essa especulação toda é Serra, que perderá a eleição e, com o dólar alto, não terá dinheiro para passar férias no exterior".

Ladeira abaixo
A piada entre os adversários é que Ciro só não termina empatado com José Maria (PSTU) porque faltam menos de duas semanas para a eleição.

Tchau e benção
ACM espalhou pela Bahia faixas que imitam uma cédula, na qual "ensina" o eleitor a votar. Ciro Gomes foi excluído da propaganda, que traz apenas os candidatos a deputado, a governador e a senador pelo PFL.

Após a eleição
A Justiça marcou para o dia 11 de novembro audiência no processo no qual Lula acusa Paulo de Tarso Venceslau por dano moral. Em 97, o economista e ex-secretário de gestões petistas denunciou a existência de um esquema de corrupção entre a empresa Cpem e o partido.

Inimigo íntimo
Disputando palmo a palmo com Orestes Quércia (33%) no Datafolha para o Senado em São Paulo, Aloizio Mercadante (34%) reclamou à cúpula do partido das aparições de Lula no programa de TV do peemedebista. O pefelista Romeu Tuma tem 40% das intenções de voto.

Made in USA
O PT fará no domingo, em Santo André (SP), um comício dirigido aos evangélicos. Entre as atrações estará o pastor Jesse Jackson . A intenção do PT ao trazer o reverendo norte-americano é tirar votos de Garotinho no eleitorado evangélico para tentar vencer no primeiro turno.

Esforço concentrado
Anthony Garotinho (PSB) visitará na última semana de campanha a BA, PE, PI, MA, PA e AM, Estados onde o presidenciável acredita que poderá crescer entre os eleitores evangélicos, desbancar Serra e chegar ao segundo turno contra Lula.

Queimação interna
Presidente da Câmara de SP, José Eduardo enviou fax ao PT reclamando de boatos de que deixará o partido. Diz que jamais cogitou essa hipótese, apesar de "esporádicas e eventuais divergências" com a sigla. Detalhe: é a própria cúpula do PT-SP que tem espalhado a história.

Visita à Folha
Wagner Canhedo, presidente da Vasp, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Valéria Bacarat, assessora de comunicação.

TIROTEIO

De Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), prefeito de Vitória (ES) e coordenador do programa de governo de José Serra, sobre o apoio de empresários a Lula na reta final da campanha:
- Isso é o que chamo de efeito corrida de cavalos. Parte das nossas elites não quer saber quem é o melhor. Quer saber apenas quem vai vencer para ser amigo do presidente e ter vantagens em seu governo.

CONTRAPONTO

PT light
Depois de encerrar um evento na zona leste de São Paulo, Marta Suplicy (PT), trancou-se em uma pequena sala para dar entrevista a uma rádio.
Dez minutos depois, ao sair, a prefeita paulistana foi abordada por repórteres de outros veículos de comunicação:
- Falem rápido porque eu estou atrasada!
A prefeita de SP respondeu -como tem feito sempre- apenas a três perguntas e começou a deixar o local com ar de irritação.
Em seguida, gritou para uma das repórteres:
- Você é de rádio? Então vem cá, deixa eu responder mais direitinho...
Marta passou, então, a atacar os vereadores da oposição:
- Eles não podem se meter em assuntos do Legislativo.
Ao perceber o erro, corrigiu:
- Não, eles não podem é se meter no Executivo...


Editorial

VIOLÊNCIA FEDERAL

A segurança pública ganha proeminência no debate eleitoral. Se o desemprego ainda é o principal problema do país, de acordo com as pesquisas, a violência sempre surge como a segunda preocupação. O Datafolha inquiriu o eleitorado sobre a relação entre voto e combate à violência. Os resultados retratam que o público tem uma percepção bastante arguta do problema.

Pode haver certo estranhamento com a importância atribuída ao presidente da República no combate à violência. Para 41% dos entrevistados, o chefe do Executivo federal deveria ser o principal responsável pela segurança. De fevereiro para cá, esse número, que era de 32%, cresceu consideravelmente. Ora, a Constituição atribui o maior peso no combate à criminalidade e dá maior poder de polícia aos Estados, e não à União.

É preciso ponderar os resultados da pesquisa para notar que esse é um falso paradoxo. Em primeiro lugar, o público confere grau não-desprezível de importância (31%) ao governador do Estado no tema segurança. Em segundo lugar, é provável que a preponderância da disputa presidencial no noticiário tenha agido como um "inflator" no peso atribuído ao presidente: em fevereiro, o público conferia praticamente a mesma importância ao governador e ao presidente.

Mas o que torna mais coerentes os resultados verificados na sondagem é a resposta majoritária sobre qual a melhor forma de enfrentar a violência. Para 58%, é p reciso combater o desemprego e melhorar a educação, tarefas em que o peso das políticas federais é relativamente maior.

Candidatos que vêm pregando endurecimento de penas e da ação policial deveriam estar atentos a esses resultados. A população associa o desemprego e, numa generalização possível, o "Estado de mal-estar social"- à violência. Vinte anos de estagnação da renda e de descaso com políticas de urbanização podem ter tirado o sossego das pessoas, mas não anularam a consciência sobre a principal causa de suas mazelas.


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09/26/2002


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