PFL ameaça Serra com CPI do grampo e cassação de Fortes









PFL ameaça Serra com CPI do grampo e cassação de Fortes
Partido intensifica ofensiva contra pré-candidato

O PFL avançou ontem na ofensiva para tentar minar a pré-candidatura do senador José Serra (PSDB-SP) à Presidência: levantou suspeição sobre a contratação de serviços de contra-espionagem pelo Ministério da Saúde, ameaçou apoiar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do grampo e pediu a cassação do secretário-geral do PSDB, o deputado federal Márcio Fortes (RJ).

Um dos pefelistas mais incisivos, o líder do partido na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), apóia a criação de uma CPI Mista para investigar denúncias de escutas telefônicas clandestinas nos últimos anos. A iniciativa partiu do PT.

Na Câmara, o PFL também formalizou na Mesa Diretora uma representação contra Fortes, um dos principais articuladores da candidatura de Serra. O PFL quer a investigação das suspeitas de envolvimento dele em espionagem da governadora Roseana Sarney (MA), pré-candidata do partido.

Ontem, o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), disse que, se fosse chamado para depor numa eventual CPI, diria "exatamente" o que tem dito à imprensa: "Fui procurado por uma pessoa que se disse enviada pelo Márcio Fortes". Garotinho se negou a revelar o nome dessa pessoa, que teria lhe oferecido um dossiê contra a governadora pefelista: "Não é o caso de divulgar o nome dessa pessoa. Agora é hora de investigar as acusações contra a Roseana".

Mas o assunto que mais provocou reações dos pefelistas o dia todo foi a publicação de reportagem na Folha ontem sobre a contratação da empresa Fence Consultoria Empresarial Ltda. pelo Ministério da Saúde para detectar a existência de grampo telefônico.

Para o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), o fato é "da maior gravidade" e cobrou explicações do governo. "O dinheiro é público e foi gasto com objetivos duvidosos e desnecessários."

Na reunião da Executiva Nacional do partido, a cúpula pefelista cogitou a convocação do ministro Barjas Negri para explicar o contrato no Senado, o que poderá ser feito na próxima semana.

O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), levantou suspeitas de que o contrato com a Fence -firmado na gestão do então ministro Serra- poderia envolver outros serviços, além da varredura nos telefones do ministério.

"Ao PFL causa profunda estranheza o contrato, principalmente pelos valores revelados. Será que uma varredura custa tudo isto?", perguntou o líder.

Segundo ele, o PFL "está investigando" o contrato e o eventual envolvimento de setores do governo em atividades de espionagem com finalidade eleitoral. Em tom cauteloso, não hipotecou apoio à CPI nem à convocação de Negri por enquanto.

"O país não pode ficar à mercê da arapongagem, da bisbilhotice", disse o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP). Para o senador petista José Eduardo Dutra (SE), a iniciativa "poderá assustar o PSDB e inibir ações futuras relacionadas à espionagem".

Inocêncio disse que deverá se aliar à oposição na tentativa de suspender a decisão do TSE de vincular as coligações partidárias dos Estados às alianças para a eleição presidencial. Ele prometeu assinar o projeto de decreto legislativo que anularia a decisão.

O PFL entrou com uma ação indireta de inconstitucionalidade no STF contra a medida do TSE.


País perde com "tricas e futricas", diz FHC
Presidente afirma no Paraná que PFL tem "responsabilidade imensa" de votar prorrogação de CPMF

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que tem a palavra dos líderes do PFL para a aprovação da prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e que o "Brasil não pode perder R$ 400 milhões por semana por tricas e futricas políticas". A aprovação do tributo é uma das prioridades do governo no Congresso.

Acompanhado dos governadores Jaime Lerner (PFL-PR) e José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT (MS), FHC fez a declaração durante discurso em Icaraíma (700 km de Curitiba), na divisa do Paraná com Mato Grosso do Sul, na inauguração de um complexo de pontes sobre o rio Paraná que liga os dois Estados.

"Governador Lerner, o seu partido hoje tem uma responsabilidade imensa, porque do voto deles depende a aprovação do ICMS [ele se referia à CPMF", sem o qual todos nós vamos sofrer. Mas eu estou confiante, porque tenho a palavra dos seus líderes, que vão votar, e votar logo", declarou.

FHC afirmou ter certeza de que o PFL, "que é um partido responsável, ao qual o governo deve mito, vai continuar atuando como sempre atuou, com serenidade, equilíbrio, porque tem a noção de que estamos construindo um novo Brasil e a nossa aliança é programática, não eleitoreira".

O discurso do presidente mostrou, mais uma vez, que ele está empenhado em trazer o PFL de volta ao governo. O partido decidiu deixar a base de sustentação do governo depois de uma ação da Polícia Federal no escritório da empresa Lunus, em São Luís (MA), de propriedade da governadora Roseana Sarney (PFL) e de seu marido, Jorge Murad.

Na ação, a PF, que investigava a ação da empresas nos desvios da extinta Sudam, apreendeu R$ 1,34 milhão. Murad disse, em nota, que o dinheiro era para a campanha de Roseana. A cúpula do PFL acredita que a ação na Lunus foi uma manobra política para desestabilizar a candidatura Roseana.

Fazendo referência ao fato, FHC disse que "alguns podem até não gostar do presidente, mas sabem que a Presidência da República nas minhas mãos não perseguiu ninguém, nunca usou nenhum instrumento do Estado para fazer o que não deve ser feito".

A crise entre o PFL e o governo federal também foi mencionada por Lerner, que sugeriu a reaproximação entre seu partido e FHC.

FHC e Zeca voltaram a trocar elogios. Em seu discurso, o petista convidou o presidente para inaugurar o assentamento Itamarati, uma parceria entre os dois governos. Em retribuição, FHC disse: "Eu sei de que partido é o Zeca. É do PSDB, Zeca? Não, é do PT. Sei que o governador Lerner é da minha base. Diz que é independente. Qual é a diferença se nós estamos olhando para o povo?".

A obra
Segundo o governo federal, o conjunto de pontes inaugurado ontem é a maior obra fluvial da América Latina, com 2.926 metros de extensão, e custo de R$ 162,4 milhões. Com a conclusão da obra, a distância entre a região sul do Mato Grosso do Sul, tradicional produtora de soja, e o porto de Paranaguá (PR), ficou reduzida em cem quilômetros. A estimativa é que cerca de 2.000 automóveis atravessem a ponte todos os dias, a maioria carretas carregadas com soja.

Além dos dois governadores e de FHC, estiveram na inauguração, que reuniu cerca de 2.000 pessoas, o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), o ministro dos Transportes, Alderico Lima, e lideranças políticas locais.


Para pefelista, "pontes devem ficar alinhadas"
Utilizando a inauguração do complexo de pontes em Icaraíma (PR) como comparação, o governador do Paraná, Jaime Lerner (PFL), defendeu ontem o apoio do seu partido ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Você não constrói um complexo como este se uma ponte não estiver alinhada com a outra, se não existem condições de estabilidade, se não existem condições de estrutura. Por isso é muito importante, neste momento da vida nacional, que não se dinamitem pilares da nossa governabilidade", declarou o pefelista.
Continuando a comparação, ele afirmou que, "se nós fizéssemos uma semelhança, e cada partido representasse uma ponte, eu pertenço a uma ponte, mas a gente sabe enxergar, essa ponte tem de estar alinhada para o futuro, não para o retorno".

Discursando depois de Lerner, o presidente aproveitou o gancho e continuou as comparações.
"Não vamos dinamitar pontes, ponte é muito bonito, nós estamos vendo aqui, e a ponte da concórdia, a ponte da união em benefício do povo é a ponte mais importante", afirmou FHC.
O PFL formalizou o rompimento com o governo federal na semana passada.


Para instituto, Roseana pode se recuperar
Avaliação do GPP dá motivo ao partido para continuar apoiando candidatura da pefelista

O responsável técnico do instituto GPP, Paulo Guimarães, que realiza pesquisas para o PFL, desprezou ontem a recente queda da governadora Roseana Sarney (MA) na disputa e fez uma avaliação otimista sobre a candidatura: ela continua no páreo.

Segundo Guimarães, que falou para a Executiva do PFL e para o seu vice-presidente, senador José Jorge (PE), a perda de pontos foi acentuada na primeira semana (menos 5), mas praticamente se estabilizou na segunda (menos 1.8). Agora, deve parar.

O PFL conquistou, assim, tudo o que queria: um bom pretexto para continuar apoiando a candidatura Roseana por mais um tempo até que o cenário da eleição se torne mais claro e o partido tente definir um rumo comum. Hoje, com o quadro político e as oscilações das pesquisas, o partido não sente segurança em fechar atabalhoadamente com outras candidaturas. Por enquanto, o que há são discussões e hipóteses. O melhor, portanto, é ganhar tempo.

A próxima pesquisa do GPP para o PFL será nos primeiros dias de abril, quando, segundo José Jorge, "ficará realmente definida uma tendência da candidatura".

Para o presidente do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), a avaliação de Guimarães confirma que Roseana tem 18%, o que é um patamar alto, "e condições de recuperar sua posição" -ou seja, o segundo lugar.
O vice-presidente do Senado, Edison Lobão (PFL-MA), que é muito próximo da família Sarney, disse que a avaliação do estatístico do GPP "foi uma injeção de ânimo no partido". Conforme a Folha apurou, porém, Roseana colocou nas mãos de Bornhausen e da cúpula partidária um desfecho para sua candidatura. Se eles considerarem melhor, ela manterá seu nome. Caso contrário, não criará dificuldades.

Por enquanto, Roseana e o partido têm duas prioridades: preservar a força eleitoral dela no Maranhão, onde tem a alternativa de se candidatar ao Senado, e atacar de todas as formas a candidatura do tucano José Serra (SP).

A pior opção do partido, na opinião generalizada de seus líderes, seria ficar sem candidato e permitir um movimento de "cada um por si e Deus por todos", como disse um líder pefelista.

A mais adequada seria concorrer com um nome próprio, como o do prefeito do Rio, César Maia (PFL-RJ), mas ele tem um orçamento comprimido estimado em R$ 2,45 bilhões para aplicar em 2003, véspera das novas eleições municipais. Dificilmente trocaria o certo pelo não sabido.

Sobram, como opções, os candidatos Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB), mas nos dois casos seria uma nova aventura de alto risco. A hipótese mais negada pela cúpula é o apoio a Serra, mas ela própria prevê defecções nas bases, especialmente na bancada da Câmara, preocupada com a própria reeleição e em manter vínculos com o governo.


Maia afirma que parte do PFL apoiaria PT
Prefeito do Rio diz acreditar em possível apoio no caso de segundo turno entre Serra e Lula

O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), um dos principais articuladores da candidatura de Roseana Sarney à Presidência e coordenador das pesquisas do PFL, afirmou ontem que numa hipótese de segundo turno entre o PT e José Serra, do PSDB, parte do PFL apoiará o PT.

Apesar de dizer que considera a hipótese quase impossível, o prefeito do Rio, que está na Europa, em viagem oficial, disse que o apoio ao PT contra Serra viria principalmente das lideranças pefelistas do Nordeste, do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Em São Paulo, o PFL deve apoiar, ainda que informalmente, a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo.

Ele negou ter planos para se lançar candidato a presidente no caso de uma desistência da candidatura por parte de Roseana ou do partido. "Isso vai ficar claro em abril, quando permanecerei no cargo de prefeito", afirmou.
De acordo com Maia, os fatos da semana sepultaram uma tentativa de entendimento entre PFL e PSDB para uma aliança no primeiro turno caso os tucanos abram mão do nome de Serra.

"Acho que não há mais essa possibilidade. Uma operação como essa deveria ter sido tentada nesta semana, com a oferta da cabeça do Serra. Se não foi feita no momento de baixa, não será feita quando Roseana retomar o patamar de 20% a 23% nas pesquisas."

Maia afirma, no entanto, que o candidato que mais se beneficiará será Lula, do PT, que deve explorar os aspectos negativos da crise entre o PSDB e o PFL a seu favor no programa do partido.

"Eles vão jogar tudo numa panela só e explorar o dado a favor deles. Com isso, a queda do Lula vai ser revertida. Veremos o Lula subindo de novo na pesquisa."

O prefeito disse acreditar na retomada da subida de Roseana a partir do mês que vem e na consolidação da candidatura em maio e junho, quando os programas regionais do PFL darão espaço para a governadora.
Para ele, a queda nas pesquisas após as suspeitas com relação à atuação de Roseana no desvio de verbas da Sudam foi "um teste muito bom para a candidatura".


"Vou me defender do quê?", diz Serra sobre suposta espionagem
"Vou me defender do quê?", respondeu ontem o presidenciável tucano, José Serra, ao ser questionado por um interlocutor por que os tucanos, sob o fogo cerrado do PFL, não reagiam às acusações de que estariam por trás das denúncias contra a governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

Segundo o tucano, não há uma única evidência ligando-o à suposta espionagem de que Roseana teria sido vítima. Reservadamente, Serra ironiza as acusações do PFL. Afirma que são "história da carochinha".
Em ascensão nas pesquisas, o tucano acha que não tem por que se envolver diretamente na crise. Acredita que qualquer declaração sua sobre o caso só jogaria mais combustível na crise. Agora o objetivo dele e do governo é atrair o PFL para aprovar a CPMF.

A interlocutores, Serra contou que teria contratado a empresa de serviços de contra-espionagem Fence Consultoria Empresarial Ltda., que já prestou e presta serviços para outros órgãos públicos, inclusive alguns que eram administrados pelo PFL, para prevenir grampos nos telefones do Ministério da Saúde.
O tucano teria evitado chamar a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para o serviço por dois motivos: a agência não teria condições técnicas de executar o trabalho de maneira permanente e ele, Serra, não confiaria no serviço de inteligência do governo.

A reação do PFL à suposta espionagem jogou Serra e o Planalto na defensiva. Na equipe do tucano avalia-se que, por mais que ele não queira o PFL como parceiro, não pode deixar a sigla com o atual ânimo de belicosidade durante os quase sete meses que faltam até a eleição.

O problema é que o Planalto e o PSDB não sabem exatamente o que fazer, a não ser contar com o poder de persuasão do presidente Fernando Henrique Cardoso.

A autocrítica, no governo, é que a crise com o PFL foi subestimada. A sigla esperava que o presidente fizesse algum gesto mais efetivo. A demissão ou o afastamento de Aloysio Nunes Ferreira (Justiça), por exemplo, daria condições para que o presidente pefelista Jorge Bornhausen (SC) e seu grupo se contrapusessem aos grupos de Antonio Carlos Magalhães (BA) e José Sarney (PMDB-MA), que exigiram o rompimento.
FHC tentou várias abordagens nas últimas horas, mas sempre encontrou a cúpula do PFL belicosa e ressentida. Sem muita opção, deve começar a trabalhar no varejo do balcão palaciano.


Em Pernambuco, indicados pelo PFL resistem a abandonar cargos
Uma semana depois de romper formalmente com o governo, o PFL de Pernambuco ainda mantém sob o comando de pessoas indicadas pelo partido cerca de 20 dos 25 cargos federais de sua cota no Estado. Em Minas, duas pessoas preferiram se desfiliar do partido para continuar no cargo.

Entre os que ainda resistem à decisão de deixar o serviço público em Pernambuco está um parente do líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira. O parlamentar foi um dos ex-aliados que mais pressionaram pelo fim da coligação governista.

Há cinco anos na coordenação da superintendência regional da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) em Recife, Giovani Oliveira é filho de uma prima do deputado que foi criada na família como irmã do parlamentar.

Tratado como um sobrinho do líder pefelista, Giovani evita comentar a decisão do partido de entregar os cargos. "Não tenho me envolvido na parte política."

De Brasília, onde discutia a transformação da Funasa em agência, o sobrinho de Inocêncio afirmou que só avaliaria politicamente a questão quando retornasse a Pernambuco. A assessoria de Inocêncio disse que o deputado estava muito ocupado e não poderia se pronunciar.

O cargo em Pernambuco vem sendo cobiçado pelo deputado federal Salatiel Carvalho (PMDB). "Eu indicava o coordenador da Funasa até votar contra a reeleição. Uma semana depois da votação, meu amigo Valério Rodrigues foi demitido da fundação."

O deputado peemedebista cobra agora do PFL e de Inocêncio o que chama de "coerência" com o discurso do partido.

Além da superintendência da Funasa, Inocêncio teria ainda indicado, entre outros, o superintendente do Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra a Seca), Charles Jurubeba, que também permanece no cargo.
Até ontem, apenas o secretário-especial da Agência de Desenvolvimento do Nordeste, os delegados da Cultura e da Companhia Nacional de Abastecimento e o superintendente do INSS local -todos indicados por pefelistas- haviam entregue os cargos.

Minas
O PFL de Minas anunciou oficialmente que não tem mais nenhum cargo no governo FHC. Dos sete cargos que os filiados do diretório mineiro ocupavam, cinco deixaram os postos, incluindo os ex-ministros e deputados federais Roberto Brant (Previdência) e Carlos Melles (Esporte e Turismo). Duas pessoas preferiram ficar, mas se desfiliaram do partido.

São eles José Francisco Lemos, superintendente do Demetrô, e Marco Aurélio Surette, que assessora o primeiro no órgão ligado à Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Os dois comunicaram a desfiliação ao PFL na última terça-feira, dia em que a Executiva da legenda em Minas se reuniu e ameaçou expulsar do partido quem não entregasse os cargos.

No mesmo dia, Luiz Márcio Pereira dos Santos, filho do senador Francelino Pereira, que ocupava a diretoria do Ibama no Estado, disse que tinha entregue o cargo. Os outros dois que ocupavam cargos, José Santana de Vasconcelos (diretor da CBTU) e Nestor de Oliveira (assessor de Brant), saíram com os ex-ministros.
A justificativa de Lemos para ficar no cargo e deixar o partido é que o Demetrô está em processo de regionalização e sendo ele engenheiro, sem vida partidária, achou que não era hora de sair.


Artigos

Os EUA e o inferno
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Não consigo deixar de me surpreender com a sem-cerimônia com que os Estados Unidos dão lições ao mundo sobre qual é a melhor maneira de se comportar.

Robert Zoellick, uma espécie de ministro do Comércio Exterior e o mais graduado funcionário da administração Bush a visitar o Brasil até agora, fez precisamente isso anteontem em palestra na Câmara Americana de Comércio.

Ensinou ao futuro presidente brasileiro que deve fazer "más de lo mismo", ou seja, liberalizar ainda mais do que Fernando Henrique Cardoso já o fez.

Não, leitor, não precisa me dizer que foi sempre assim. Eu sei que os Estados Unidos usaram pressões, bloqueios, conspirações, golpes, o FMI, o diabo para domesticar ou depor governos hostis e para ditar o rumo a governos não-hostis.

Mas era meio por baixo do pano. Às vezes, levava anos para que as coisas fossem devidamente descobertas, em geral pelos próprios norte-americanos (acadêmicos e/ou investigações congressuais).

Agora, não. É ao vivo e em cores para quem quiser ver e ouvir. Zoellick, aliás, nem foi arrogante. Ousaria dizer que foi cândido ao ditar o seu receituário para os tupiniquins.

Parece um missionário ao qual foi revelada A VERDADE e que se sente cômodo em espalhá-LA pelo mundo, até para a velha Europa.

Nada contra missionários. São até simpáticos. Mas os missionários comuns estão armados apenas da própria fé. Zoellick, diferentemente, em cada sílaba que escande carrega o peso dos cerca de US$ 10 trilhões do PIB americano.

Resistir, quem há de? O pior é que o missionário comum, se o alvo da conversão peca, no máximo manda-o para o inferno, essa instituição intangível. Já funcionários norte-americanos têm o poder de mandar o presidente que ousar contrariá-los para um inferno na Terra, bem mais tangível e assustador.


Colunistas

PAINEL

Secos e molhados
FHC orientou seus líderes no Congresso a negociarem "no varejo" com parlamentares pefelistas para evitar a CPI do Grampo. É a história de sempre: quem não assinar o requerimento poderá ter emendas liberadas e manter os cargos nos Estados.

Biruta de aeroporto
O Planalto considera que o PFL é hoje um partido sem bússola, fragmentado e com uma ala que age sob emoção para se vingar de Serra. Se não for minado por dentro, a partir dos parlamentares propensos a uma recomposição, o PFL poderá realmente aprovar a CPI.

Bode expiatório
Enquanto uma ala do PFL tenta cavar uma bomba para destruir Serra, outra desenha uma recomposição a médio prazo com o governo. Mas acha que, para aquietar a sigla, precisa lavar a honra do PFL com o sangue de Márcio Fortes, suposto mentor do dossiê Roseana.

Marcação cerrada
O PMDB vai jogar mais duro contra o governo. Motivo: até agora não herdou nenhum cargo deixado pelo PFL. E desconfia de que, em algum momento, o PFL não só pode recuperá-los, como ganhar mais alguns.

Perdas e ganhos
O PPS teme assinar a CPI e servir de instrumento de chantagem do PFL para voltar ao governo. Já o PT acha que não perde nada investindo na crise.

Governo da crise
Pergunta frequente em Brasília: como será a relação de um eventual presidente Serra com um Senado liderado por Sarney, Roseana, ACM e Tasso?

Dar corda
Jorge Bornhausen contou ontem à cúpula do PFL que, há três meses, foi avisado de que seus telefones haviam sidos grampeados por um "tal de Fontenelle". O dono da Fence, empresa contratada para tirar grampos do Ministério da Saúde, chama-se Enio Fontenelle.

Sem sigilo
A alegação de que houve vazamento de dados no processo sobre a empresa de Roseana esbarra num detalhe: o processo é público. Pouco antes da operação da PF, a Justiça havia decidido que não cabe sigilo no caso.

Linha direta
Como o processo a respeito da empresa Lunus é público, os documentos podem ser manuseados não só pela imprensa, mas por qualquer cidadão. As fotos das pilhas de dinheiro encontradas na empresa de Roseana fazem parte dessas peças públicas.

Fora do ar
Um grupo de deputados da oposição obteve liminar que suspende a propaganda da União sobre as mudanças da CLT . Para o juiz federal Rafael Soares, "trata-se de lobby custeado pelo dinheiro público".

Olhos fechados
A Comissão Pastoral da Terra emitiu carta aberta com o seguinte título: "O que a ONU não quis ver no Maranhão". Jean Ziegler, relator do órgão sobre a fome, cancelou sua visita ao Estado por interferência do Planalto, que achou que Roseana poderia vê-la como provocação.

Visitas à Folha
Ronaldo Sardenberg, ministro da Ciência e Tecnologia, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Simone Scholzer, assessora especial do ministro, e de Fernando Luz, assessor de comunicação.

Fernando Dall'Acqua, secretário de Estado da Fazenda de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Clóvis Panzarini, coordenador da administração tributária, e de Alberto Morelli, jornalista da Allcomm Partners.

Edevaldo Alves da Silva, presidente da UniFMU e presidente do Instituto Metropolitano de Altos Estudos e da UniFIAM, visitou ontem a Folha.

TIROTEIO

De Geddel Vieira Lima (BA), líder do PMDB na Câmara, sobre ACM (PFL), a quem é atribuída autoria de cartazes que chamam o deputado de "Big Robber" ("grande ladrão"):
- ACM está no ocaso de sua vida pública e pessoal. Quem pode responder às ofensas dele é o César, meu motorista, ou o Walter, meu caseiro.

CONTRAPONTO

Minutos finais
Por meses a fio, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) tentou marcar um debate com o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) antes das prévias do partido para a escolha do candidato à sucessão de FHC, previstas para domingo.
A cúpula do partido, que apóia Lula e seguiu sua vontade, decidiu não promover debates entre os dois pré-candidatos.
Suplicy reclamou com a cúpula e deu declarações à imprensa, mas nada mudou.
Ontem, o senador convocou uma entrevista coletiva à imprensa para às 17h00 de hoje, para falar sobre as prévias. O senador, que tem fama de ser obcecado, lembrou-se de pegar o telefone e discar para o outro pré-candidato:
- Lula, estou lhe convidando para participar de uma coletiva que darei amanhã [hoje]...
Lula, que está num evento em Minas, disse que não vai.


Editorial

RETOMADA EM RISCO

A indústria brasileira aumentou sua produção pelo terceiro mês consecutivo, em janeiro, segundo o IBGE. O resultado reforça a impressão de muitos de que a economia se encontra em retomada. Dentro e fora do governo, predomina a expectativa de que a expansão prosseguirá no restante do ano. Projeta-se para 2002 uma alta do PIB próxima de 2%. Esse número, à primeira vista baixo, é enganoso. Como o PIB caiu no segundo semestre de 2001, para alcançar uma expansão dessa ordem em 2002 ele precisa crescer bastante ao longo do ano. Alguns falam num crescimento, anualizado, da ordem de 8% ou mais no quarto trimestre deste ano.

Há elementos, porém, que podem alimentar dúvidas em relação a esse cenário. Segundo o IBGE, as vendas do comércio continuaram fracas em janeiro, refletindo a forte corrosão do poder de compra dos trabalhadores. Além disso, o aumento do preço da gasolina pressionará a inflação, que caminha para situar-se bem acima da meta anual de 3,5%.

O Banco Central, em sua reunião da próxima semana, pesará esses elementos para definir a taxa de juros básica. Em fevereiro o BC optou por cortar a taxa, a despeito de a inflação estar um pouco acima do esperado. Foi um sinal de que perseguirá a meta de inflação com alguma flexibilidade. Espera-se que essa posição seja mantida agora em março.

O ponto é que a retomada, ainda incipiente, não tem sua sustentação garantida. Ela requer um "empurrão" da política de juros. A renda fraca inibe o consumo básico e a demanda internacional débil limita as exportações. Para dinamizar os investimentos e o consumo de duráveis, é necessário que a expansão do crédito seja estimulada.

As projeções positivas para a atividade econômica em 2002 supõem que haverá uma redução gradual dos juros. Dada a grande vulnerabilidade externa da economia, isso requer que o ambiente internacional não se deteriore a ponto de impedir o corte dos juros no Brasil. Outro requisito é que as autoridades não se apeguem a metas pouco realistas de redução da inflação, sob pena de criarem na prática um "veto" doméstico à continuidade da retomada da economia.


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03/15/2002


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