PFL denuncia perseguição e ameaça romper com FHC
PFL denuncia perseguição e ameaça romper com FHC
Apreensão de documentos que apontam suposta ligação de Jorge Murad, marido de Roseana Sarney, com irregularidades na Sudam, irrita pefelistas. O ministro Sarney Filho, irmão da governadora, deve entregar o cargo
BRASÍLIA - A invasão pela Polícia Federal, na última sexta-feira, da empresa da qual a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), é sócia do marido, Jorge Murad, aumentou a crise entre o PFL e o PSDB, principais partidos de sustentação do presidente Fernando Henrique Cardoso. Os dois já vinham se hostilizando desde a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que vinculou as coligações estaduais à nacional. Agora, o PFL ameaça romper com o Governo.
O primeiro resultado concreto da insatisfação do PFL veio ainda ontem. Através da sua assessoria, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, irmão de Roseana, anunciou que entregará hoje o cargo. Ele será candidato nas eleições, e já havia admitido deixar o Governo. O episódio, porém, antecipou o fato. “A minha saída fala por si”, limitou-se a afirmar.
O grupo de Roseana, liderado pelo senador José Sarney (PMDB-AP), com o apoio de líderes como o deputado Inocêncio Oliveira (PE) e o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (BA), prega a saída imediata dos demais ministros. ACM disse ontem que fica evidente que uma possível chapa José Serra/Roseana está descartada. Para ACM, FHC e o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, estariam por trás da ação de busca e apreensão na Lunus Serviços e Participações, empresa do casal Roseana e Jorge Murad.
Os pefelistas vinculam a operação, comandada pela PF e autorizada pela Justiça Federal de Tocantins, a uma tentativa do PSDB e de integrantes do Governo, de desestabilizar a candidatura de Roseana, que nas últimas pesquisas empata com Lula (PT). Ela tem dito que os tucanos estão desesperados, e chegou a afirmar que a invasão foi mais violenta do que as praticadas no regime militar. Ontem, Roseana atribuiu à “banda irada do PSDB que vive criando encrenca” a ordem para que a PF invadisse a empresa. Numa insinuação à participação de Aloysio Nunes na ação, ela continuou: “Eles se alimentam de criar tensão e discórdia e não sabem viver democraticamente com a base aliada”. Roseana faria um pronunciamento na TV local ontem, mas desistiu.
A invasão foi feita a partir de documentos em poder do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, que apontavam indícios de envolvimento do escritório de Murad em esquema de lavagem de dinheiro oriúndo de financiamentos concedidos pela extinta Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). O Coaf é dirigido por Adriane Senna, mulher do ministro Nelson Jobim, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. A cúpula do PFL interpreta como clara a relação entre a decisão do TSE de verticalizar as coligações e a ação da PF.
Na quinta-feira, Roseana tentará convencer a executiva nacional a aprovar o afastamento do Governo. Enclausurada desde sexta-feira no Palácio dos Leões, sede do Governo, Roseana tem alternado momentos de indignação com crises de choro. Os jornais da família Sarney saíram em suas defesa ontem, denunciando o “golpe político” que ela estaria sofrendo.
A crise é tamanha que o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), pediu calma a todos, embora afirme que a invasão foi absurda, “com evidente intuito político de prejudicar a imagem de Roseana”. Ontem, ele disse que, como presidente do PFL, não pode pregar o rompimento e que qualquer atitude oficial ocorrerá apenas a partir de quinta-feira, quando a executiva do partido se reúne, com a participação de Roseana.
Tucanos procuram apagar o “incêndio”
BRASÍLIA - O pré-candidato do PSDB à Presidência, senador José Serra (SP), divulgou ontem nota em que descarta relação entre o PSDB e a operação da PF. “Não conhecemos os procuradores do Tocantins nem suas representações e despachos”, diz Serra, após qualificar de estapafúrdias e malucas as insinuações de que o PSDB estaria por trás da ação.
O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), também disse ontem ser contra o rompimento. Para ele, o episódio não afastará o diálogo entre os dois partidos sobre a sucessão. Aníbal negou envolvimento do PSDB ou integrantes do Governo na ação da PF. “É uma acusação leviana”, afirmou, apostando que a situação se acalmará. Assim como o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, José Aníbal afirmou que a PF cumpre ações determinadas pela Justiça Federal e, no caso, envolvia uma empresa em que Roseana é sócia de Jorge Murad. Ao contestar versões de que a operação poderia favorecer José Serra, ele destacou que os tucanos não praticam manobras desta natureza.
CONGRESSO – A possível saída do PFL do Governo pode comprometer votações importantes no Congresso. Com 104 deputados federais, o PFL tem hoje a maior bancada na Câmara. Se deixar os ministérios que ocupa – Previdência (Roberto Brant), Minas e Energia (José Jorge), Meio Ambiente (José Sarney Filho) e Turismo (Carlos Melles) – deixará um buraco na base aliada.
A reação poderá ocorrer já está semana, na votação em segundo turno da emenda que prorroga a Contribuição sobre Movimentação Financeira (CPMF). Para não perder R$ 55 milhões por dia de arrecadação, o Governo precisava ver aprovada a emenda até 18 de março. Na próxima quarta-feira está marcada a votação, mas o PFL poderá não garantir os votos necessários para a aprovação.
O Governo também considera fundamental e relacionou como prioridades da pauta de votações a aprovação do projeto que regulamenta a previdência complementar para os servidores públicos, as medidas provisórias que estão na pauta da Câmara, as alterações da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que tramitam no Senado, e a regulamentação do sistema financeiro.
Polícia faz mais uma apreensão e Murad se defende em nota
PALMAS - Para complicar mais a situação entre o PFL e o Governo, a Polícia Federal fez nova apreensão em empresas maranhenses. Foi confiscada, ontem, uma grande quantidade de documentos no escritório do projeto Fazenda Nova Holanda Agropecuária, na cidade de Balsas (MA). O Ministério Público está investigando se há participação da empresa Lunus, de Murad e Roseana. O MP suspeita que os recursos de R$ 32,9 milhões da extinta Sudam, repassados ao projeto, não teriam sido inteiramente aplicados.
Ontem, Jorge Murad divulgou nota em que critica a Justiça Federal, a PF, e classifica a ação como “fruto de interesses partidários da política de baixo nível moral”. Se dizendo estarrecido, Murad reclamou de não ter tido acesso às acusações que pesariam contra ele, e anunciou que seus advogados vão à Justiça exigindo apuração de todas as insinuações.
Queixas tomam conta da bancada do PFL
A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de unificar as coligações despertou no PFL de Pernambuco o sentimento de que o partido “será extinto” no Estado após as eleições deste ano. A constatação está causando o maior alvoroço na bancada estadual pefelista. E só não ganhou porta-voz ainda porque atinge em cheio os líderes do partido, André de Paula (presidente estadual) e o vice-presidente Marco Maciel.
Os deputados estão temerosos – e admitem se desfiliar do PFL após as eleições – com a inquietação que toma conta das bases diante da decisão do TSE. E mais ainda com o “silêncio” dos dirigentes maiores do partido. Segundo informou, em reserva, um parlamentar pefelista, a “inércia” da cúpula do partido, frente ao tumulto provocado pela decisão do TSE ameaça a manutenção das bases no interior.
“ A gente fica mentindo para as bases, dizendo que o presidente do partido e o vice-presidente Marco Maciel estão se movimentando quando, na realidade, eles não estão fazendo nada. André de Paula está calado, Maciel também, Jorge Bornhausen (presidente nacional do PFL) está trabalhando lá por Brasília, mas a gente não sabe exatamente como, e nós estamos aqui no Estado nos destruindo. O PFL está pegando a espada e se matando”, desabafou.
Segundo previsões deste pefelista, muitos parlamentares tenderão a deixar a legenda, diante dos danos provocados pela decisão do TSE aliada à “desassistência” da cúpula do partido.
“Quem é que vai continuar em um partido que um dia dominou a política no Estado e hoje vive choramingando aos pés do governador Jarbas Vasconcelos? Depois das eleições de 2002, o PFL se acabará em Pernambuco”, prevê um deputado do PFL.
A chiadeira com a postura do presidente regional do partido, o secretário de Produção Rural, André de Paula, no entanto, não veio à tona apenas em função do tumulto que a decisão do TSE provocou. Não é de agora que os parlamentares cobram uma assistência maior ao partido. Segundo eles, André tem concentrado sua atenção na secretaria e na sua reeleição para a Câmara Federal. O JC procurou André de Paula mas não obteve retorno.
Brasília e Paraná têm mortes por dengue
A Vigilância Sanitária de Maringá, no Paraná, confirmou a primeira morte por dengue hemorrágica no Estado. No Distrito Federal, a vítima foi o estudante João Paulo Pereira Diniz, que contraiu a doença no Carnaval do Rio
BRASILIA – Morreu ontem a primeira vítima de dengue hemorrágica no Distrito Federal, o estudante João Paulo Pereira Diniz, 17. Ele contraiu a doença no Carnaval, durante viagem a Duque de Caxias (Baixada Fluminense). Até ontem, o DF registrava 270 casos da doença.
A Secretaria de Saúde do DF confirmou que 2.330 pessoas apresentaram sintomas de dengue e os exames estão sendo investigados. Desses suspeitos, 150 apresentaram resultados positivos. Dos casos já confirmados, 140 foram contraídos fora do Distrito Federal.
Diniz foi o único cuja doença se agravou. Ele ficou internado desde o último dia 22, na UTI do HRT (Hospital Regional de Taguatinga). Na madrugada de ontem, ele não resistiu quando os rins e os pulmões deixaram de funcionar, morrendo de falência múltipla dos órgãos.
A namorada do estudante, Ivone Gazola, 25, que viajou com ele para Duque de Caxias, não apresentou sinais da doença. De acordo com amigos do casal, ela não contraiu dengue. O corpo do estudante será submetido a exames de necropsia. Para a Secretaria de Saúde, a morte de Diniz foi um caso isolado de dengue hemorrágica.
O principal foco de dengue no DF está na região da cidade-satélite de São Sebastião (concentrando 95% dos casos confirmados). Na tentativa de evitar epidemia da doença, há 150 agentes de saúde trabalhando em Brasília, além do reforço da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.
MARINGÁ – A Vigilância Sanitária de Maringá também confirmou no final de semana a primeira morte por dengue hemorrágica no Paraná. Patrícia da Silva Moreira, 24, morreu há duas semanas com os sintomas da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
Apesar disso, ela não foi submetida a nenhum tipo de exame específico para detectar a doença nas três oportunidades em que foi atendida nos postos de saúde da cidade.
Segundo o gerente da Vigilância Sanitária da cidade, Gilberto Tucca, o material para exames só foi enviado pela Secretaria Municipal da Saúde no dia seguinte à morte de Patrícia.
“Ela morreu com todas as características da doença (dengue hemorrágica), mas somente um dia depois do óbito iniciamos os testes”, declarou Tucca.
Ela teria contraído a doença quando esteve no município mato-grossense de Brasnorte, no início de fevereiro. De acordo com Tucca, a vítima já havia contraído dengue no ano passado. Ela chegou a Maringá contaminada pela segunda vez.
Preso é morto ao tentar fugir do Cadeião de Pinheiros
SÃO PAULO - Um preso morreu durante uma fuga ocorrida ontem pela madrugada no Cadeião de Pinheiros, na zona oeste da cidade. Dos sete presos que conseguiram escapar, cinco já haviam sido recapturados até o início da noite. O detento que morreu na fuga, cujo nome não foi divulgado pela Polícia Civil, foi baleado porque não teria obedecido às ordens dos guardas para se entregar.
A movimentação dos detentos para sair do presídio começou por volta das 5 horas, quando um grupo de criminosos conseguiu fugir pelos fundos de uma das alas, na parte de trás do Cadeião. Eles fugiram depois de realizar o que os policiais chamam na gíria de cavalo doido, ou seja, todos correm ao mesmo tempo em direção às grades das celas – já serradas – e as derrubam.
Outros detentos recorreram à chamada teresa, uma espécie de corda feita com a amarração de vários lençóis, para descer das celas. Policiais militares do 4.º Batalhão e civis do Grupo de Operações Especiais realizaram buscas na região e conseguiram capturar cinco dos sete fugitivos. Um dos helicópteros da PM também apoiou a operação para localizar os foragidos.
Esta foi a primeira fuga de detentos do Cadeião de Pinheiros depois da rebelião de 18 de fevereiro, quando Maciel Clemente dos Santos e Alexandre de Souza foram mortos a pauladas e facadas num acerto de contas entre presos.
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03/04/2002
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