“Há igualdade de força política entre Olívio e Tarso”









“Há igualdade de força política entre Olívio e Tarso”
Entrevista: Luiz Inácio Lula da Silva

Na primeira entrevista a um jornal brasileiro depois de vencer a prévia do PT, na qual disputou a vaga de candidato à Presidência com o senador Eduardo Suplicy (SP) e obteve cerca de 85% dos votos, Luiz Inácio Lula da Silva condenou o uso da máquina administrativa pelo governo federal. Lula afirmou que o governo gasta milhões em propaganda oficial para beneficiar o candidato José Serra, do PSDB, que considera seu principal adversário.

– O R$ 1,34 milhão encontrado na gaveta de Roseana (Sarney) pode ser pouco se comparado aos tantos milhões gastos todo dia em propaganda oficial – ironizou.

Para Lula, a opção do PT gaúcho pela candidatura do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, foi pragmática - o partido teria votado pensando em que tem mais condições de vencer as eleições. Lula conversou com Zero Hora durante uma hora, no Hotel Naoum Plaza, em Brasília, período em que tomou dois cafés e uma taça de água mineral e fumou cigarrilhas. Fez apenas uma exigência: não queria ser fotografado fumando.

Zero Hora – Por que o senhor acha que, desta vez, depois de três tentativas, tem condições de ganhar a eleição presidencial ?
Luiz Inácio Lula da Silva – Acredito que as chances de o PT ganhar as eleições são as melhores desde o surgimento do partido. Temos mais credibilidade administrativa, mais estrutura. Estamos mais maduros, mais calejados, mais conhecedores da realidade brasileira. Por outro lado, o governo está mais fraco, não carrega mais o estigma da novidade. A estabilidade, por si só, não sustenta o governo. O povo se ressente da ausência de uma a política social, que será o carro-chefe dos nossos discursos na campanha.

ZH – Os 15% de votos obtidos por seu adversário na prévia, o senador Eduardo Suplicy (SP), significam que o senhor já não é unanimidade no partido?
Lula – Não estou preocupado com o resultado da prévia. Suplicy poderia ter tido 90% dos votos. Ele é uma pessoa muito querida no PT. Ele não teve 85% como eu tive porque o PT entendeu que, neste momento, a minha candidatura reúne mais condições. Duvido que exista um brasileiro que dentro da sua própria casa tenha 85% de adesão. E eu tive, dentro de uma família de 170 mil pessoas.

ZH – A aproximação com o PL foi mal conduzida?
Lula – Não, nós fizemos o que poderia ter sido feito. O ideal para nós seria manter uma aliança com PSB, PPS e PDT. Mas respeitamos o direito desses partidos de ter candidatura própria ou de outras opções. Ainda sonho, que em algum momento, até o prazo final das convenções, a gente ainda possa estar junto. É preciso ver o que vai acontecer com a verticalização imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

ZH – É possível reverter essa decisão? O PT entende que foi um golpe ou que a decisão de restringir as alianças imposta pelo TSE possa ter beneficiado o candidato José Serra, do PSDB?
Lula – Não posso admitir que foi um golpe. Obviamente, foi muita coincidência. Uma coincidência que agrada muito mais às pretensões do PSDB do que de qualquer outro partido político. Nós, do PT, não temos problema com isso, porque teremos candidato em todos os Estados. Mas não gostaríamos que fosse assim.

ZH – Essa decisão dificulta a aproximação com o PL?
Lula – Não só com o PL, mas também com o PSB. Com a decisão do TSE, o PSB gaúcho não pode apoiar o Tarso (Genro, prefeito de Porto Alegre), ou terá de fazer uma aliança branca. É desagradável ter de fazer as coisas na clandestinidade. Temos várias alianças com o PSB e com o PDT, nos Estados, que, pela regra, caem por terra.

ZH – Como o senhor reage às críticas internas à aliança com o PL? O governador Olívio Dutra e o prefeito Tarso Genro engrossam o coro dos descontentes com esse casamento.
Lula – Cada companheiro do PT muitas vezes reage pela realidade do seu Estado. Brinco sempre com os companheiros do Rio Grande do Sul que se o Brasil inteiro pensasse como o eleitor de lá eu teria sido eleito presidente em 1989, 1994 e 1998. Às vezes, alguém me pergunta: qual é a diferença do Rio Grande do Sul para São Paulo? O Rio Grande do Sul teve Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. Em São Paulo, tivemos Adhemar de Barros, Jânio Quadros e Paulo Maluf. Se um companheiro do Rio Grande do Sul ou de outro Estado, em função da sua realidade local, entender que o PT não pode fazer aliança com o PL, é um direito. Mas não vamos fazer disso um cavalo de batalha. Aliança política a gente não impõe aos outros, muito menos dentro do PT. No Rio Grande do Sul, é muito fácil fazer aliança com o PSB, mas no Rio ou em Alagoas nem pensar. E nem por isso, um companheiro de Alagoas pode criticar o PT do Rio Grande.

ZH – A candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), naufragou?
Lula – Ela deve explicações à sociedade brasileira. Se ela assimilar o golpe, recuar, a candidatura acabou. Se ela tiver explicações convincentes, Roseana pode ser candidata. Ela está numa situação complicada, e mais ainda o PFL, que rompeu com o governo.

ZH – Serra é seu principal adversário nessa disputa?
Lula – Sim. Isso permite um enfrentamento de projetos, de idéias.

ZH – A que atribui sua queda nas pesquisas?
Lula – A campanha nem começou. Estou candidato apenas a partir de ontem (quarta-feira). Desde outubro, por decisão minha, não participei de nenhum programa de TV porque era preciso deixar que a prévia transcorresse sem nenhuma interferência. Antes de um jogo começar, teoricamente o Grêmio é melhor que o Inter ou vice-versa, mas só se conhece quem é o bom na hora do jogo. E o jogo está começando agora. Temos time muito melhor que aquele que o Luiz Felipe Scolari pode escolher para jogar a Copa do Mundo.

ZH – O senhor teme que as denúncias envolvendo o governo Olívio Dutra possam prejudicar sua candidatura?
Lula – Olívio tem explicações convincentes. As pessoas podem não gostar de Olívio, mas duvido que exista um gaúcho que veja em algum gesto dele alguma coisa de desonestidade. Sempre digo que, se ganhar a Presidência, não tenho nenhum problema de colocar Olívio para tomar conta do dinheiro deste país.

ZH – Como o senhor explica a derrota de Olívio na prévia?
Lula – Há uma igualdade de força política entre Olívio e Tarso. Na segunda-feira, conversei com os dois, que demonstraram uma maturidade que só existe entre os grandes dirigentes. O que houve foi uma disputa interna. O partido votou, certamente, pensando em quem tinha mais condições de ganhar as eleições.

ZH – O senhor acha correto Tarso deixar a prefeitura de Porto Alegre?
Lula – Mais do que eu, o povo gaúcho entendeu que ele deve deixar a prefeitura.

ZH – Mas a decisão foi do PT.
Lula – Se Tarso fosse prefeito pela primeira vez ou fosse a primeira vez que o PT governasse Porto Alegre, eu seria favorável a que não deixasse a prefeitura. No entanto, Porto Alegre já é governada pelo PT desde 1989. Já existe uma cultura. A máquina funciona independentemente de quem for o prefeito. Ao se candidatar ao governo, Tarso está seguro de que a administração vai continuar.

ZH – Como o senhor pretende reverter a suspeita de que o senhor não ultrapassa o teto de 30% dos votos?
Lula – Em 1989, eu tive 47% dos votos. Existiu um teto em 1994, em função de uma realidade que era o Plano Real, e em 1998. É importante lembrar que Brizola e o ex-governador Orestes Quércia acabaram em 1994. Eu sobrevivi. Poderemos tranqüilamente chegar aos 50% dos votos.


Ibope mede intenção de voto para presidente
Duas mil pessoas foram entrevistadas

O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, manteve a liderança, e a cand idata do PFL, Roseana Sarney, caiu quatro pontos percentuais na mais recente pesquisa Ibope/CNI sobre intenção de voto para a Presidência.

O levantamento foi divulgado ontem em Brasília pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), senador Fernando Bezerra (PMDB-RN).

Conforme a pesquisa, José Serra (PSDB) se mantém em segundo lugar, mas também perdeu pontos: caiu de 19% para 16%. O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), subiu da quarta para a terceira posição, saltando de 11% para 14%.

Roseana Sarney (PFL), que antes estava atrás de Serra, caiu para a quarta posição, saindo de 17% para 13%. Como a margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais, pode-se considerar que a governadora do Maranhão, Serra e Garotinho estejam empatados tecnicamente em segundo lugar.

O candidato do PPS, Ciro Gomes, manteve-se em quinto lugar em relação à pesquisa anterior, mas caiu um ponto percentual, ficando com 6% das intenções de votos.
– É evidente que os fatos afetam Roseana Sarney. Creio que se ela não tiver resposta para as acusações será ainda mais afetada. Se as respostas convencerem a sociedade, ela retornará à posição em que estava – disse Bezerra.

A CNI avalia que, assim como Roseana está em queda, Serra tem muito espaço para crescer.
O Ibope ouviu 2 mil eleitores entre os dias 14 e 18 deste mês em todo país. A mesma pesquisa aponta que o índice de eleitores que não souberam ou não quiseram opinar subiu de 9% para 15%, o que, segundo Bezerra, reflete o momento de indecisão do eleitorado.

No dia 11 de abril, a CNI apresentará aos cinco candidatos melhor colocados na pesquisa a Agenda da Indústria para o Futuro, publicada pela entidade.


Dez secretários planejam concorrer
Tendência no Piratini é que substitutos assumam as pastas

Dos 25 cargos de primeiro escalão do governo estadual, pelo menos 10 deverão ser substituídos no dia 5 de abril em razão das eleições.

A ordem do governador Olívio Dutra é que os novos secretários mantenham a linha administrativa anterior. A tendência é os substitutos assumirem as vagas, a fim de dar caráter técnico ao primeiro escalão nos últimos oito meses de governo.

Duas reuniões foram realizadas esta semana para tratar das substituições. Na próxima semana, Olívio deverá anunciar o novo secretariado. Quase todos os secretários dispostos a concorrer já fizeram suas indicações, com exceção de José Hermeto Hoffmann (Agricultura) e Lucia Camini (Educação), que não quiseram informar seus sucessores.

– O governador disse que não é hora de inventar – informou o secretário dos Transportes, Beto Albuquerque (PSB), que disputará a Câmara dos Deputados, para ilustrar o critério de definição dos substitutos.

Entre os indecisos estão os secretários do Interior, Dirceu Lopes, e da Cultura, Luiz Marques, que consultam suas bases em Rio Grande e no meio cultural, respectivamente.


Olívio apóia Rossetto para vice de Tarso
O governador Olívio Dutra apontou ontem o vice-governador Miguel Rossetto como a melhor alternativa de vice na chapa de Tarso Genro às eleições de outubro.

– Rossetto será um elo importante entre o primeiro e o segundo governos da Frente Popular no Estado – disse o governador.

Para Olívio, Rossetto “desponta como um bom nome porque, além de estar acima de qualquer corrente interna do PT, tem densidade, competência, fraternidade e dedicação”. Conta ainda a favor do vice-governador “a experiência acumulada no primeiro governo”. Rossetto pertence à corrente Democracia Socialista (DS).

O governador, derrotado pelo prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, nas prévias do PT para a escolha do candidato ao Piratini, disse que a disputa é caso encerrado, porque “o partido reafirmou que é possível reeleger o projeto de governo sem necessariamente reeleger o detentor do cargo”.
– Deixo de ser pré-candidato e passo a ser cabo eleitoral do companheiro Tarso – afirmou.

Olívio descartou a possibilidade de concorrer como candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. O governador reafirmou que não pretende concorrer a nenhum cargo este ano e que cumprirá seu mandato até o final, em janeiro de 2003.

– O vice de Lula deve ser uma figura que tenha compromissos com a democracia e a radicalidade da participação popular. Não precisa ser do PT, e o melhor é que seja de outro partido – afirmou, sem revelar nomes da sua preferência.

Embora o nome de Rossetto concentre o maior número de indicações entre as correntes do PT, a confirmação do vice-governador na chapa de Tarso depende de acertos internos. Na manhã de ontem, representantes da DS reuniram-se com aliados para discutir a indicação de Rossetto.
Segundo o deputado estadual Ronaldo Zülke, um dos coordenadores da DS, embora o nome do vice-governador desponte entre as correntes que apoiavam a reeleição de Olívio, a escolha de um candidato ainda depende de negociações.

– De fato, quem mais representa a nossa posição para continuar o projeto petista de governo é Rossetto. No entanto, o ex-prefeito Raul Pont não pode ser esquecido – afirmou Zülke.

Outros apoiadores de Olívio defendem a indicação do deputado estadual Ivar Pavan, da Ação Democrática, e do secretário de Habitação, Ary Vanazzi, da Articulação de Esquerda. A definição do vice que acompanhará Tarso na eleição de outubro ocorrerá no encontro estadual do PT marcado para os dias 6 e 7 de abril.


Emília tenta assegurar candidatura no PT
Senadora não aceita escolha pelo critério de antigüidade

A senadora Emília Fernandes está tentando convencer o PT a estabelecer critérios para a escolha dos candidatos do partido ao Senado na eleição deste ano.

Até o encontro estadual do PT, marcado para os dias 6 e 7 de abril, Emília vai buscar apoio dos principais expoentes de cada corrente do partido.

Ontem, durante café da manhã com o prefeito de Porto Alegre e candidato, Tarso Genro, Emília propôs que seja aberto um debate para saber quais dos nomes até agora lançados têm mais chance de concorrer ao Senado.

– O conteúdo de um candidato se mede pelo discurso e pela prática e não pelo tempo de partido – disse a senadora.

Com menos de um ano de filiação, a senadora está em desvantagem na briga pelas duas vagas, principalmente em relação ao deputado federal Paulo Paim e ao chefe da Casa Civil, Flávio Koutzii.

Emília propõe aos líderes petistas que seja levada em conta a necessidade de dar continuidade ao seu trabalho desenvolvido no Senado. Também coloca entre os critérios de escolha a densidade eleitoral e a importância de ter um representante do Interior e um da Região Metropolitana na chapa.

Emília recebe hoje o primeiro apoio oficial de uma corrente do PT a sua candidatura. O recém-criado grupo Pólo de Esquerda, integrado pelo superintendente da Metroplan, Jorge Branco, e pelo deputado Roque Grazziotin, anuncia o apoio às 13h.


Câmara repudia agressão a vereador
Pinheiro e família serão protegidos

Depois de visitar o vereador Juarez Pinheiro (PT), acompanhado dos líderes de todas as bancadas, o presidente da Câmara Municipal, José Fortunati (PDT), divulgou uma nota de solidariedade ao colega ferido.

Pinheiro foi agredido a socos e pontapés na noite de quarta-feira, quando saía de um bar na Cidade Baixa. Fortunati disse que a Câmara vai garantir a segurança do petista e de sua família até que o incidente seja esclarecido pela polícia. Pinheiro deve ficar afastado da Câmara por, no mínimo, uma semana.

O vereador, que sofreu fratura no braço esquerdo e escoriações pelo corpo, vinha recebendo ameaças a partir de sua atuação como presidente da CPI que investigo u irregularidades no Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre (MFMPA). Pessoas relacionadas ao trabalho da comissão também receberam ameaças, e algumas registraram queixas na polícia. Uma testemunha foi agredida às vésperas de prestar depoimento à CPI.


Mães adotivas têm direito à licença
Proposta vai à sanção do presidente

Por unanimidade, o Senado aprovou ontem um projeto que estende a licença maternidade e o pagamento de salário-maternidade às trabalhadoras que adotarem crianças de até oito anos.

A matéria deve agora ser encaminhada à sanção do presidente Fernando Henrique Cardoso.

A duração da licença dependerá da idade da criança. Para as que tiverem menos de um ano, as mães adotivas terão licença de 120 dias – o mesmo período dado às mães naturais. Na adoção de crianças de um a quatro anos, a licença será de 60 dias. Na faixa entre quatro e oito anos, o benefício será de 30 dias.

Para a relatora da matéria na comissão de Assuntos Sociais do Senado, Marina Silva (PT-AC), o projeto atende ao princípio constitucional e ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

– Ao filho natural é assegurado o direito ao convívio da mãe. O mesmo direito deve ser atribuído ao filho adotivo – disse.


Artigos

Democracia ou anarquia?
Geraldo G. Gomes da Silva

O desejo de um governo que atenda às necessidades do seu povo e que trabalhe pelo crescimento de sua nação parece estar sendo confundido com a exigência de governantes submissos a qualquer tipo de manifestação popular.

Atualmente vivemos um momento de descontrole social e político inaceitável. A reivindicação dos direitos legais foi há muito ultrapassada pelo abuso de atitudes descabidas que vão desde a invasão de propriedades privadas até a ocupação de locais públicos, incluindo os meios de transporte coletivos e o bloqueio de estradas, prejudicando milhares de cidadãos que nada têm a ver com tais manifestações. A cada dia surgem novos nomes para os grupos que praticam tais formas, incorretas, de protestos. Os governantes estão absolutamente perdidos e impotentes, pois permitiram, e por vezes incentivaram, uma liberdade ilimitada a qualquer tipo de manifestação política ou popular.

Como podem exigir direitos grupos que não cumprem com os seus deveres e não respeitam os direitos alheios?

Isto não é democracia, é anarquia. Manifestantes de qualquer natureza e por qualquer causa simplesmente desconsideram as legislações e fazem, impunemente, as suas próprias leis. Qualquer pessoa que ousar invadir uma propriedade privada, acampar numa praça ou impedir o funcionamento dos meios de transporte públicos será punida, exceto se estiver travestida de manifestante em busca de possíveis direitos legais.

Ora, como podem exigir direitos grupos que não cumprem com os seus deveres e não respeitam os direitos alheios?

O que deveriam ser reivindicações de condições adequadas ao exercício de atividades sociais e profissionais tornaram-se verdadeiras revoluções completamente descontroladas e inconseqüentes. No entanto, tais movimentos têm sido aceitos como legítimos, o que incentiva fortemente a continuidade e a ampliação de suas ações. No meio de tamanha bagunça perde-se a noção do certo e do errado; qualquer um acha-se no direito de exigir o que bem entender, usando, para isto, os meios de que dispuser. Os cidadãos que cumprem com os seus deveres, pagam impostos e respeitam os direitos alheios estão sendo vítimas destas barbáries. Se formas selvagens de manifestações continuarem sendo tratadas da maneira como estão, alcançarão em breve um estado de descontrole irreversível.

Faz-se necessária a ordenação de toda e qualquer manifestação política ou popular, evitando, sempre que possível, o desrespeito às leis vigentes. Há de haver razões legítimas e objetivos definidos; assim sendo, poder-se-á lograr grande benefício para o crescimento social.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Juros e produção
O ex-ministro Luís Carlos Bresser Pereira tem insistido que o Plano Real continua incompleto porque as taxas de juros no país estão muito acima do suportável pelo setor produtivo e muito superiores às taxas praticadas em países com economias em crise como Argentina e Polônia, por exemplo. Assim é que não existem muitas razões para festejar a decisão do Banco Central na tímida redução decidida na reunião do Comitê de Política Monetária, nesta semana. O ministro Pedro Malan, segunda-feira, havia antecipado a decisão, durante a palestra aos empresários gaúchos na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul.

Não é apenas o custo financeiro que asfixia a economia brasileira ao promover uma brutal transferência de renda do setor produtivo para os bancos, cujos lucros confirmam esse desequilíbrio. Outro fator que neutraliza os ganhos em produtividade é a pesada carga tributária que reduz a competitividade da exportação de matérias-primas e manufaturados. O ministro Pedro Malan também prometeu, na passagem pela Fiergs, que este ano será aprovada a reforma tributária. Por que somente agora? As desconfianças em torno das repentinas “bondades” governamentais e a curiosidade dos agentes produtivos é saciada pela simples explicação de que este é um ano de eleições e elas, quase sempre, operam “milagres”.

Nesta semana, também inspirados na proximidade do pleito, os presidentes da Câmara e do Senado garantiram que dentro de 40 dias será aprovado o fim da cumulatividade das contribuições sociais (PIS/Cofins). Não chega a ser a reforma tributária sonhada, mas terá sua utilidade na redução de custos. Por isso tudo, é possível que a pregação do ex-ministro Bresser Pereira, batendo sempre na necessidade de conclusão do processo de estabilidade econômica, via redução das taxas de juros e simplificação e redução da carga tributária.

O governo, que está jogando todas as fichas na ampliação do mercado externo às exportações brasileiras, também opera no campo político para corrigir distorções como a cumulatividade das contribuições sociais. Sérgio Amaral, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que lidera missão empresarial na Argentina e já tem preparada incursão à China, entrou em campo para garantir o fim da cumulatividade desses tributos. Surpreendentemente, faltando apenas nove meses para acabar seu segundo mandato, Fernando Henrique Cardoso e equipe desengavetam iniciativas que deveriam estar em vigor faz bastante tempo.


JOSÉ BARRIONUEVO

Mistério sobre o caixa da Fazenda
Até o deputado Bernardo de Souza, sempre comedido, perdeu a paciência durante o depoimento do secretário da Fazenda, Arno Augustin, na Comissão de Finanças da Assembléia. O secretário foi evasivo e deu respostas diferentes dos números publicados no Diário Oficial sobre a dívida pública do Estado. Augustin voltará à Assembléia para falar sobre o rombo de R$ 1,4 bilhão no Caixa Único, tema de uma subcomissão da Assembléia, que deve pautar os debates na Casa.

Meninas de escolas serão deputadas por um dia
Na segunda-feira, 55 meninas de cinco escolas gaúchas, sorteadas, vão exercer por um dia a atividade parlamentar: haverá uma palestra de uma líder feminista no início da manhã, participam de reunião de líderes, de debates preparatórios, do exame de projetos, com pronunciamentos da tribuna. A iniciativa é da deputada Iara Wortmann, ex-secretária da Educação, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, com o objetivo de aproximar mais o Legislativo da sociedade.
Uma iniciativa elogiável da Assembléia na formação da cidadania e para despertar o surgimento de novas lideranças.

Rolim mexe na execução penal
De autoria do deputado Marcos Rolim, do PT, o projeto de reforma da lei de execução penal foi aprovado pela comissão mista do Congresso, formada para elabortar alternativas de enfrentamento à violência e à criminalidade. O projeto foi saudado pelos deputados como uma proposta ousada, capaz de mudar o sistema penitenciário brasileiro.
Rolim assegura que, se sua proposta for transformada em lei, vai fazer com que o sistema penitenciário deixe de ser “essa infindável série de horrror, humilhação, violência e morte”. A proposta depende agora de colocação na ordem do dia para votação do plenário.

Troca de comando
Uma imagem vale mais do que mil palavras. Assim o deputado Francisco Appio (PPB) iniciou seu pronunciamento em que define com “antológica” a charge publicada esta semana em Zero Hora, de Marco Aurélio. Lamentou não poder pedir a transcrição da imagem nos anais da casa. Sob o título Troca de Comando, aparece o deputado Dionilso Marcon com o quepe da Brigada e o comandante da corporação com o boné dos barrageiros. Pelo poder de mando de Marcon sobre o comando da BM, Appio pediu, ironizando, que o petista assegure o aumento do efetivo de brigadianos para a região de Vacaria e protestou contra a humilhação a que foi submetido um oficial da Brigada.

Bordignon explica relação de filiados
O prefeito de Gravataí, Daniel Bordignon, garante que não existem mais de 300 filiados ao PT trabalhando para a prefeitura, em todos os níveis e funções, estáveis, CCs ou contratados. Observa que os 1.054 contratos emergenciais procuram suprir deficiências especialmente na área da saúde e da educação, em funções não preenchidas com os 955 concursados que ingressaram na prefeitura. Também no que se refere às gratificações, elas seriam destinadas a quem exerce chefia nos contratos emergenciais. Tudo com a aprovação da Câmara, onde o prefeito tem maioria.

Para os deputados
O presidente do Sebrae gaúcho, Eudes Missio, e o presidente do Sebrae nacional, Sérgio Moreira, vão comandar o encontro com deputados estaduais, federais e vereadores de Porto Alegre, segunda-feira, às 8h30min, no Sheraton. O evento inaugura uma fase importante da entidade na defesa de políticas públicas em benefício do empreendedor de pequeno porte no Estado. Mais de 50 deputados confirmaram presença, no anúncio de uma nova estratégia do Sebrae nas diversas regiões do Estado.
Vale a pena interromper roteiros eleitorais para participar do evento.
Na Câmara, o líder do PMDB, vereador Jones Martins, está com dificuldade para obter as relações atualizadas de quem foi contratado e dos que são filiados ao PT. Está encaminhando pedido de informações ao prefeito.

Atentado
A violência contra Juarez Pinheiro, um dos mais combativos vereadores de Porto Alegre, é provável que tenha conotação política. Presidente da Câmara, José Fortunati leva o caso ao secretário Bisol, às 10h. É grave.

Homenagem a Esther
O representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, abriu as portas de sua residência no Lago Sul, em Brasília, para um jantar em homenagem à nova presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara, deputada Esther Grossi (PT). Compareceram deputados de diferentes partidos, representantes de Ministérios, jornalistas e o senador Suplicy.

Estilac não aceita pressão para sair
O vereador Estilac Xavier garante que não está nas suas cogitações largar a liderança do PT na Câmara, avisando que só a bancada teria poder para revisar esta posição. A mudança sugerida pelos vereadores Marcelo Danéris e Helena Bonumá, diante da futura posse de João Varle, não foi aceita pelo atual líder.
O vereador Oliboni também defendeu ontem a permanência de Estilac na liderança. No caso de mudança, quem assumiria o cargo não seria Marcelo Danéris, pela sua condição de suplente. Citou Renato Guimarães, Gerson Almeida e Guilherme Barbosa, titulares que ocupam cargos no secretariado, que poderiam assumir o cargo.
Se as diferenças que tem com a DS, corrente de Verle, não prejudicarão sua ação como líder do governo, Estilac – assim como José Fortunati, na presidência da Câmara – terá que se empenhar em administrar o tempo, dividido entre a campanha de Tarso e sua candidatura a deputado estadual.

Mirante
• Os futuros secretários de Olívio são ilustres desconhecidos. Caberá a eles conduzir os últimos nove meses de um governo derrotado pelo próprio partido, em dias de turbulência.

• Ex-secretário Cezar Schirmer estranha que a Coorlac, controlada pelo PT, não tenha sido invadida. O preço do leite é o mesmo.

• Deputado José Ivo Sartori está atento à proposta da Coorlac, que pretende se desfazer do patrimônio herdado da Corlac, em prazo inferior aos 10 anos estabelecidos em lei. Não passa.

• Vice-presidente do TJE, Élvio Schuch Pinto recebe hoje, às 18h30min, o título de Cidadão Gravataiense.

• Flávio Koutzii comemora seu aniversário hoje no Clube Farrapos. Koutzii, que em 1986 fez 250 mil votos como candidato ao Senado, volta a buscar a oportunidade de concorrer ao cargo, iniciando uma nova etapa em sua carreira política.


ROSANE DE OLIVEIRA

Cuidado com as pesquisas
Todas as pesquisas divulgadas nos últimos dias sugerem que a foto daqueles pacotes de notas de R$ 50 apreendidos no escritório da empresa Lunus implodiu a candidatura da governadora Roseana Sarney à Presidência da República. A curva da evolução de voto de Roseana é descendente em todos os levantamentos e o índice de rejeição da governadora aumentou de 38% em dezembro para 50% em março, de acordo com a pesquisa do Ibope divulgada ontem.

Convém tomar cuidado com as pesquisas e não atribuir importância excessiva às suas “revelações”. Elas refletem um momento. E têm margens de erro tão elásticas que o resultado pode não ser nada daquilo que a primeira leitura sugere. Não é possível sequer afirmar com certeza quem está em segundo, terceiro e quarto lugar.

Tome-se o caso das duas últimas pesquisas conhecidas. A do Vox Populi foi feita entre os dias 10 e 13 de março. A do Ibope, entre 13 e 18. Na primeira José Serra tem 20%. Na mais recente, 16%. Seriam 4 milhões de votos de diferença entre uma outra. A margem de erro do Ibope é de 2,2 pontos percentuais, e a do Vox Populi, de 3 pontos. Equivale a dizer que o índice de Serra no Vox Populi estaria entre 17% e 23%. No Ibope, entre 13,8% e 18,2%.

Nunca se saberá se as pesquisas de hoje estão certas ou erradas porque a eleição só ocorrerá daqui a mais de seis meses e muita água ainda vai rolar na campanha eleitoral. A queda de Roseana tem uma explicação lógica: ela está sob fogo cerrado desde 1º de março, a imagem do R$ 1,34 milhão encontrado no seu cofre foi exibida dezenas de vezes em todas as emissoras de TV e a origem do dinheiro não foi devidamente explicada.

Mas, como explicar a queda de Lula, que perdeu – segundo o Ibope – sete pontos percentuais entre dezembro e março? Tomados ao pé da letra esses índices significariam que mais ou menos 7 milhões de eleitores mudaram de idéia e desistiram de votar no candidato do PT. E isso num período em que o único fato negativo envolvendo sua candidatura foi a polêmica da aliança com o PL. Polêmica restrita aos líderes do PT, diga-se de passagem.


Editorial

PROTESTO CONTRA A SOCIEDADE

Convocado em nível nacional por líderes sindicais, o dia de manifestações contra as mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) acabou incluindo justamente os trabalhadores entre os principais prejudicados. Além de paralisarem linhas de ônibus e de trens já nas primeiras horas da manhã, os organizadores do movimento recorreram a táticas condenáveis como o bloqueio a acessos importantes a grandes cidades. Com isso, impediram que uma parcela consi derável da população pudesse chegar a tempo ao trabalho, ao local de estudo e mesmo a aeroportos e bancos, tanto pela escassez de transporte público como pelos imensos congestionamentos provocados, num flagrante desrespeito à liberdade de ir e vir dos cidadãos. É lamentável que um direito constitucional como o de livre manifestação acabe sendo usado contra a própria sociedade.

Paralisações como as lideradas ontem pela Central Única de Trabalhadores (CUT) são legítimas em qualquer democracia, desde que se pautem pelo respeito à lei e à razão. Seria impensável que tentativas como a de adequação da legislação trabalhista às exigências atuais do mercado de trabalho pudessem ser recebidas sem restrições por parte de algumas entidades sindicais. A simples rejeição a uma mudança que perdeu o caráter de urgência no Senado nas negociações para a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), porém, não autoriza ninguém a impor transtornos a um número tão considerável de brasileiros.

Não é justo que a população venha a assumir o ônus de
pretensões sem limites das corporações

Se encontram dificuldades de abrir mão do que consideram conquistas – algumas das quais consistem hoje em visíveis entraves à geração de emprego –, líderes sindicais deveriam ao menos tentar ousar nas formas de protesto. Não é justo que a população venha a assumir o ônus de pretensões sem limites das corporações. Mesmo na defesa de direitos que possam ter-se tornado anacrônicos, é importante que líderes sindicalistas possam ousar, buscando formas de chamar a atenção para suas causas sem tumultuar a vida de trabalhadores e sem impor prejuízos econômicos a um país que já os têm em níveis além do recomendável.

Na falta de disposições claras a respeito dos limites da greve, protestos como os de ontem acabam chamando a atenção para a facilidade com que são suspensas atividades do governo – de aulas normais na rede pública de ensino à produção de petróleo, passando pelo transporte ferroviário. É inaceitável que os contribuintes acabem submetidos a transtornos como o de ontem, simplesmente porque o poder público não se dispõe a fixar regras claras e porque não há disposição por parte de algumas lideranças em recorrerem ao bom senso.


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03/22/2002


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