Projeto da Assembléia poderá incluir aumento de alíquota










Projeto da Assembléia poderá incluir aumento de alíquota
Reajuste de dois pontos percentuais seria menor do que o previsto em proposta de 2001

O projeto da Assembléia Legislativa para enfrentar a crise da previdência estadual poderá incluir um aumento da alíquota de contribuição previdenciária dos servidores, atualmente definida entre 5,4% (inativos) e 7,4% (servidores da ativa).

Segundo o deputado estadual Cézar Busatto (PPS), que participou da comissão especial encarregada de discutir a crise do IPE, o reajuste chegaria a dois pontos percentuais.

O aumento elevaria as alíquotas de desconto para 9,4%, no caso dos servidores da ativa, e até 7,4% para os inativos. Atualmente, o funcionalismo contribui ainda com 3,6% destinados ao custeio da assistência médica.

O parlamentar salientou que o esse aumento seria menor do que o sugerido pela comissão dos três poderes que tratou do assunto entre 2000 e 2001. Apoiado pelo governo do Estado, o texto da comissão propunha um reajuste que variava de três pontos percentuais (para inativos e pensionistas) a 6,6 pontos percentuais (ativos).

Outra alternativa a ser apresentada por Busatto na reunião da comissão especial, marcada para o dia 26, é a abertura de uma negociação com o governo federal.

O deputado acredita que o Palácio do Planalto estaria disposto a transferir parte dos recursos que recebe do Estado como parte de um acordo para capitalizar o fundo transitório destinado a cobrir o déficit atual do sistema.

Mensalmente, 13,5% da receita líquida do Estado são utilizados para pagar a dívida com a União. Busatto prevê que a medida resultaria no ingresso de R$ 300 milhões anuais no fundo.


CNBB critica aproximação de PT com PL e Igreja Universal
Bispo teme que evangélicos exijam ministério em governo

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criticou ontem a aproximação do PT com os bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, filiados ao PL, em busca de uma aliança para a disputa da sucessão presidencial.

O vice-presidente da CNBB, dom Marcelo Cavalheira, está assustado com a possibilidade de a aliança vingar.

Dom Cavalheira também estranhou o fato de o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ter deixado o Ministério da Saúde justamente no auge da epidemia de dengue no país e mais de um mês antes do prazo final para desincompatibilização de ocupantes de cargos públicos, no dia 6 de abril.

A Igreja, que tradicionalmente tem se aliado ao PT em defesa de excluídos, sem-terra e índios, acompanha com preocupação a movimentação do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, em direção ao PL, porque o partido é um braço da Igreja Universal do Reino de Deus.
– O que vai significar isso de intervenção no programa do PT como proposta para a sociedade? – indaga o secretário da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB, Francisco Whitaker.
– Sabemos do risco que existe se elementos de uma Igreja, que é uma potência na mídia, exigirem um ministério – questiona dom Cavalheira.

O bispo ressalta que a igreja católica nunca reivindicaria cargos em governos. Para o secretário-geral da entidade, dom Raymundo Damasceno Assis, se a aliança se concretizar, o PT terá de se justificar diante de seus militantes, entre eles os católicos que pertencem ao partido. Ressalvando que à Igreja não cabe interferir em alianças, dom Raymundo afirma que o eleitor será orientado a votar em candidatos que “não pensem no próprio bolso”.

No Rio, grupos mais à esquerda do PT lançam hoje uma campanha nacional contra a aliança com o PL. Eles são contrários à tentativa da maioria do comando nacional da sigla de fazer do senador José Alencar (PL-MG) candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula.

O objetivo da iniciativa, que também tem o apoio de petistas de outros Estados, é tentar influenciar o diretório nacional, que discutirá a coalizão na próxima reunião. Na próxima semana, será emitido um manifesto de parte da bancada federal, também em oposição à aproximação entre petistas e liberais.


Olívio diz que partido é de centro-esquerda
O governador Olívio Dutra disse ontem, em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, que o PT é um partido de centro-esquerda.

A afirmação foi feita em resposta a um pedido do apresentador do programa, Armindo Antônio Ranzolin, para que comentasse a definição do presidente nacional do PT, José Dirceu (SP), de que o PT “já foi para o centro há muito tempo”. A declaração provocou reações e desmentidos dentro e fora do partido.

Inicialmente, Olívio atribuiu a frase a uma “leitura e interpretação” do que foi dito por Dirceu:
– Não, eu não tenho como palavras do José Dirceu, tenho como leitura e interpretação. E eu conheço a minha direção partidária e o companheiro José Dirceu e conheço também os debates internos que temos.

Em seguida, apresentou sua própria definição:
– O partido é partido de centro-esquerda, um partido socialista e democrático. Nós não temos o socialismo a não ser como o irmão siamês da democracia.

O PT busca uma aliança nacional com o PL, que indicaria o senador José Alencar (MG) para vice na chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, o jornal O Estado de S.Paulo publicou uma justificativa de Dirceu, em nota oficial:
– Não afirmei em nenhum momento que o PT já não era um partido de esquerda. O que reafirmo e reitero é que o PT quer uma aliança com o centro, com base num programa aprovado no Recife e que permite essa aliança.

As explicações de Olívio e Dirceu estão longe de encerrar a polêmica no interior do PT. Na edição de ontem do Jornal do Brasil, o filósofo Leandro Konder, identificado com as correntes mais à esquerda do partido, criticou duramente a aproximação com o PL e comparou a definição “centro-esquerda” a uma “meia gravidez”:
– No caso do PT, essa estranha classificação lembra a velha piada. Um partido de esquerda está, de certo modo, grávido de uma sociedade futura, mais livre e mais justa do que a atual. E um partido de “centro-esquerda” seria, então, um partido “meio-grávido”?


Serra deixa governo para abraçar campanha
Ministro chora, diz que saúde está no rumo certo e garante que governo fez sua parte no combate à dengue

Numa solenidade que reuniu 500 pessoas no Centro Cultural Banco do Brasil, o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), desligou-se ontem do cargo para se dedicar exclusivamente à campanha presidencial.

Emocionado, Serra chorou ao afirmar que nunca teve uma experiência tão gratificante quanto a de ser ministro da Saúde. Ele apontou uma série de avanços, mas admitiu não ter resolvido todos os problemas da área, como a dengue.

– A saúde está no rumo, entrou no caminho certo e não vai ser mais desviada desse caminho – afirmou para uma platéia que incluía 10 ministros de Estado, prefeitos e parlamentares até do PFL.
Ao transmitir o cargo para o secretário-executivo do ministério, Barjas Negri, Serra afirmou que o governo federal tem feito “mais do que sua parte” para conter a epidemia de dengue.

– É muito claro que a dengue não terá futuro no Brasil porque estamos multiplicando o número de agentes de saúde e de equipes de saúde da família para reforçar o combate à doença – disse.
Ele reconheceu que a dengue “recrudesceu”, mas frisou que o problema este ano, em comparação com 2001, só é mais sério no Rio, Estado responsável por algo entre 55% a 60% dos casos.

Foi uma solenidade muito bem cuidada, com direito a homenagens dos funcionários, dos agentes de saúde, de uma paciente trat ada de câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e até do cacique caiapó Raoni, que falou em sua língua e foi traduzido por outro índio.

– Estou aqui para falar que o trabalho dele foi muito bom e quero agradecer o ministro que liberou dinheiro para tratar dos meus parentes índios. Quero falar para o ministro que, quando for ocupar outro cargo grande, que trabalhar num lugar grande, continue ajudando os índios – disse Raoni.
O candidato tucano prestou contas de todos os programas bem-sucedidos do ministério e de sua maior vitória: a queda da mortalidade infantil de 50 para 30 crianças em cada mil nascidos vivos.

Serra não falou diretamente de sua candidatura presidencial, mas citou Shakespeare para comentar seu destino de candidato:
– Nossos desejos e os fatos podem ir em direções tão contrárias, que todas as nossas estratégias caem por terra. Nossos pensamentos nos pertencem, mas nossas ambições pertencem aos outros e são os outros que vão julgar.

O PSDB bancou a produção do vídeo que foi exibido aos convidados mostrando os feitos do ministro “que cumpriu as promessas feitas na posse”. Também pagou as despesas da montagem em grande estilo da solenidade, orçada em R$ 20 mil. No domingo, a candidatura de Serra vai ser lançada oficialmente numa pré-convenção no Hotel Nacional, em Brasília.


Frente pró-Ciro faz ato político em Brasília
O anúncio feito ontem da coligação em defesa da candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República, reunindo PPS, PDT e PTB, foi apenas político, ficando sem a oficialização por ausência de consenso entre os integrantes.

O manifesto, no qual seriam explicadas as afinidades capazes de unir ex-comunistas, ex-governistas e trabalhistas, não pôde ser divulgado por falta de acordo na definição dos termos do texto.

Demonstrando esforço para disfarçar o mal-estar, Ciro Gomes e os presidentes do PDT, Leonel Brizola, do PPS, o senador Roberto Freire (PE), e do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), lançaram a denominada Frente Trabalhista. Inicialmente Ciro e Brizola não atacaram os adversários, mas a determinação durou pouco. O fato de o candidato tucano à Presidência, José Serra, deixar o Ministério da Saúde em meio à epidemia de dengue foi criticado.

– A epidemia de dengue apenas começou. O ministro teria prazo até 5 de abril para se desincompatibilizar, mas preferiu deixar o cargo para cuidar de caraminholas eleitorais – disse Ciro.

Ao se referir aos seus principais adversários, Ciro citou indiretamente Serra e a candidata do PFL, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney. E afirmou que o PT está destinado a perder as eleições.

– Vamos cutucar a onça por dois lados. Um é o lado do poder oficial, o do econômico e o da grande mídia. O outro lado é o da oposição, escolhida para perder, os nossos bons amigos do PT, que involuntariamente acabam sendo manipulados para isso. Eles não têm culpa, a não ser pela imprudência por não perceberem esse jogo – afirmou ele.

Brizola reiterou os ataques às negociações entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva, o PL a Igreja Universal do Reino de Deus. Também disse que, para o candidato do PSB à Presidência, o governador do Rio, Anthony Garotinho, integrar a frente, teria de “entrar na fila”.

Aproximadamente 300 pessoas participaram do lançamento da coligação, num salão na Câmara dos Deputados, em Brasília. O PTB, que integrou a base governista até maio do ano passado, foi o último a anunciar seu apoio. Com elogios à sensibilidade do presidente Fernando Henrique Cardoso, Martinez ressaltou que o PTB não aceitaria indicar nomes para suceder Pimenta da Veiga, no Ministério das Comunicações, nem para presidir os Correios.

O objetivo da coligação é ampliar a frente atraindo o apoio do PST e PHS. Integrantes da frente afirmam que há conversas também com o PL e PSB – dissidentes que não confiam no avanço da candidatura de Garotinho. O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), também foi procurado para conversar.

O único membro do PTN, o deputado José de Abreu (SP), que declarou somente na hora que iria integrar a frente e, em seguida, se sentou em uma cadeira vaga na mesa, na qual estavam Ciro, Brizola, Freire e Martinez.

A coligação estimou ter 12 minutos diários no horário gratuito de rádio e TV.


Definidos debates no PT gaúcho
O governador Olívio Dutra e o prefeito da Capital, Tarso Genro, pré-candidatos do PT ao Palácio Piratini, irão se reunir com a executiva estadual do partido na segunda-feira.
O encontro, o primeiro desde o registro das duas pré-candidaturas, atende a uma convocação do diretório, que pretende apresentar as regras da disputa aos candidatos e oficializar a largada das campanhas.

Na manhã de ontem a comissão eleitoral do diretório regional, responsável pela organização das prévias do dia 17, esteve reunida pela primeira vez. No encontro foram definidas as datas dos cinco debates internos entre Tarso e Olívio (veja quadro). Segundo o secretário de organização do PT, Vitor Labes, os sete membros da comissão que coordena as prévias analisaram a regulamentação da disputa interna.


PFL ameaça recorrer de padronização de coligações
Tribunal estuda mudança

O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse ontem que o partido ingressará com ação de inconstitucionalidade contra a padronização de coligações para a eleição deste ano. A medida é estudada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Bornhausen afirmou que, depois de estabelecida, a norma dificilmente seria modificada. Disse, no entanto, que essa nova interpretação da lei não prejudicará a candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney:
– Roseana vai ganhar a eleição com qualquer regra. O problema não é de regra, e sim de voto.

O ministro das Minas e Energia, José Jorge, alertou para o risco de a nova interpretação produzir o que chamou de aliança branca. Se isso ocorrer, os partidos que terão candidatos a presidente irão sozinhos e os outros não vão querer fazer coligações no âmbito nacional para poderem ficar livres nos Estados.

O maior problema é que um partido não poderá usar o tempo de TV do aliado. Foi o que ocorreu com o PMDB, em 1998. A sigla apoiou Fernando Henrique Cardoso, mas seu tempo de TV não foi utilizado porque não houve formalização da aliança.


FH vai a cúpula na Suécia e tenta atrair investimentos
O presidente participa até amanhã de reunião de autoridades

O presidente Fernando Henrique Cardoso embarcou ontem para a Suécia, onde participará hoje e amanhã de uma reunião de cúpula sobre governança progressista, com chefes de Estado e de governo social-democratas de 13 países, incluindo Alemanha, França, Inglaterra, Portugal, Chile e Canadá.

FH vai aproveitar a viagem para tratar com o governo e o empresariado suecos de três assuntos prioritários para o Brasil: aumentar exportações, turismo e investimentos suecos no país. Hoje, o presidente toma café da manhã com o primeiro-ministro Gran Persson, almoça com personalidades e, à tarde, se reúne com empresários.

– O Brasil precisa ser muito mais incisivo para exportar para cá – disse o embaixador do Brasil em Estocolmo, Elim Dutra.

O volume do comércio exterior sueco é de US$ 175,5 bilhões, com superávit de US$ 15,5 bilhões, conforme dados de 2000. Os suecos são apenas 8,7 milhões, mas têm renda per capita de US$ 27 mil e importam metade do que consomem.

No caso da carne, o Brasil foi beneficiado não só pelo mal da vaca louca na Inglaterra e pela febre aftosa na Argentina, Uruguai e países europeus, mas pelo ingresso da Suécia na União Européia (UE), em 1995. Os suecos mantinham barreiras não-tarifárias para a carne, que for am derrubadas com a adesão às normas do bloco europeu. Já em relação aos produtos agrícolas, o ingresso da Suécia na UE prejudicou o Brasil. Com exceção de café, carne e madeira, a pauta de exportações é composta por produtos manufaturados. Café vem em primeiro lugar, com 22,1%, seguido por peças de aviões (12,6%), telefones celulares (11,4%), peças para motores (4,8%) e motores a diesel (4%).

A Embraer já vendeu quatro jatos para a Skyways e dois para a City Airline. As 180 empresas suecas instaladas no Brasil vendem cerca de US$ 6 bilhões por ano, têm investidos no país US$ 3 bilhões e planejam investir mais US$ 1 bilhão nos próximos cinco anos.

– Os suecos são exportadores de empresas – define o embaixador.

E de turistas. Os suecos costumam viajar para o Exterior duas vezes por ano. Não por iniciativa de operadoras brasileiras, mas suecas, eles começaram a desembarcar em Natal (RN), em 1999, em dois vôos charter semanais. No primeiro ano, foram 24 mil, e em 2000, 38 mil.


Artigos

Pequenas esperanças
Júlio Mariani

O Brasil é um país feito de muitos fatos que assustam e desanimam e de alguns poucos que realimentam as baterias quase descarregadas da esperança. Entre esses últimos merece destaque a notícia de que em São Paulo, o mesmo Estado que hoje centraliza a mais descontrolada criminalidade, o número de trabalhadores em atividade nas pequenas propriedades rurais teve aumento de 86% em 2001.

Mesmo que o número anterior de trabalhadores fosse pequeno, 86% é quase o dobro do que era antes, o que já é muito bom. O dado consta da Sondagem Agropecuária, levantamento da Fundação Getúlio Vargas e do Sebrae. A média de empregados por propriedade é hoje de 6,7 pessoas, dos quais 3,6 são contratados no núcleo familiar e 3,1 são de fora. O que tem motivado o aumento da oferta de empregos é a expansão das lavouras, sobretudo a de grãos.

Ora, aumento de empregos no campo é coisa raríssima neste país. As grandes fazendas podem aumentar a área plantada sem contratar mão-de-obra, mas as pequenas, carentes de financiamento para máquinas e equipamentos, apelam para o trabalho humano. E assim, ainda que pelas razões erradas, acabam contribuindo para melhorar o padrão de vida no Interior.

O êxodo rural transformou as cidades em amontoados de
casebres e de gente desesperada

Sabemos que boa parte da miséria brasileira se originou da mão-de-obra expulsa do campo. O êxodo rural, que alcançou dimensões espantosas na segunda metade do século passado, transformou as cidades em amontoados de casebres e de gente desesperada em busca de um emprego para o qual a grande maioria, acostumada apenas à labuta da roça ou a atividades de aldeia, não estava preparada. Resultado: milhões de infelizes, de desorientados e de desenraizados. Daí ao início de uma estatística criminal sem precedentes no mundo foi uma questão de tempo, e de pouco tempo.

A cidade é uma meretriz enfeitada de falsos brilhantes que só serve bem aos que podem pagar. O grande engano da migração em massa gerou a tragédia de que hoje participamos, perplexos e desnorteados como uma bando de carneiros que perdeu o seu pastor. Tal como os cidadãos alemães que fecharam os olhos ao extermínio de judeus e de comunistas durante o regime nazista, fomos abrindo mão do direito de usar os espaços públicos, transferindo-o aos criminosos. E nos refugiamos em guetos protegidos por exércitos privados, pagos de nosso próprio bolso.

Por isso é tão importante saber que nas pequenas propriedades rurais – quem sabe não apenas em São Paulo, mas também em outros Estados – estaria começando uma inversão do processo migratório. Mas para que uma tendência desse tipo crescesse e se consolidasse, seria preciso que a iniciativa de dar emprego deixasse de ser, no Brasil, um gesto temerário, tal a quantidade de encargos e de ameaças legais que pesam sobre o empregador.

Rezemos a Santa Rita de Cássia, que dizem ser capaz de defender as causas (quase) perdidas, pedindo que o campo brasileiro passe a ser um lugar de paz e trabalho.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Calçados e carne
Com apenas 9 milhões de habitantes, a Suécia tem um comércio exterior de fazer inveja ao Brasil, com seus 160 milhões de habitantes. A balança comercial sueca supera os US$ 150 bilhões. A relação com o Brasil é superavitária e a balança bilateral não chega a US$ 1 bilhão. “Muito pouco para a posição estratégica e econômica dos dois países”, reconhece o embaixador do Brasil na Suécia, Elim Dutra, gaúcho de Bom Jesus, e com uma experiência de mais de 30 anos na carreira diplomática.

Apesar da relação comercial bilateral ser ainda pequena, o embaixador, que está no posto faz apenas um ano, anima-se com as possibilidades na área do turismo e trata especialmente, com zelosa atenção, o que muito interessa para a economia do Rio Grande do Sul: aumento das exportações de calçados do Vale do Sinos e de carne bovina. Recentemente o embaixador designou emissário para fazer contatos com calçadistas gaúchos. O encontro, organizado pela Fiergs, segundo sua avaliação, foi extremamente produtivo. Em maio o embaixador Elim Dutra organiza uma missão empresarial brasileira para visitar a Suécia.

Por iniciativa do embaixador, importadores suecos estiveram visitando a Couromoda e as Feiras de Franca e Novo Hamburgo, e já foram feitas as primeiras importações de calçados brasileiros. “A Suécia compra todo calçado fora”, informa o embaixador. Mesmo que a Suécia como membro da União Européia tenha que obedecer aos regulamentos do bloco no comércio, e isso signifique barreiras ao agronegócio brasileiro, o embaixador garante que o país hoje é o maior importador de carne bovina do Rio Grande do Sul. Os problemas sanitários na Europa, com a doença da vaca louca e a aftosa na Argentina e no Uruguai, acabaram beneficiando o Brasil, admitiu Elim Dutra, que já definiu como prioridade no posto atenção para o comércio e para o turismo. Acredita mesmo que, se os exportadores brasileiros derem mais atenção à Suécia, a balança comercial bilateral pode duplicar, no médio prazo.


JOSÉ BARRIONUEVO

Brizola viabiliza candidatura de Ciro
Enquanto o PT confunde o eleitor na parceria com o PL do “bispo” Edir Macedo, numa guinada à direita, procurando assumir uma fisionomia moderada, Leonel Brizola come o mingau pelas bordas, como costuma dizer. A frente trabalhista assegurada com o seu aval recoloca Ciro Gomes na corrida presidencial, viabilizando sua candidatura. A reunião de PTB, PPS e PDT, ontem, em Brasília, resultou na definição do primeiro candidato à presidência da República, formalizando um bloco no Congresso Nacional com 65 deputados e 11 senadores. Viabilidade eleitoral de Ciro passa a atrair partidos menores, o que já aconteceu ontem com o PTN, somando tempo importante para os programas eleitorais de rádio e TV.

Tudo graças à sabedoria e à perspicácia dos 80 anos de Brizola, hoje sem pretensões eleitorais, mais preocupado em viabilizar uma alternativa à presidência sem atrelamento ao governo FH e sem o ranço ideológico que ainda marca o partido de Lula.

Sintonia na equipe
Os secretários Beto Albuquerque (Transportes) e Marco Maia (Administração) deram um belo exemplo de sintonia entre as duas pastas desenvolvendo um trabalho conjunto para viabilizar o reassentamento de 452 famílias que atualmente vivem em situação de risco ao longo da RS-118. Junto com a desapropriação de 18 hectares na Vila Vargas, em Sapucaia do Sul a um custo de R$ 630 mil, será iniciada a duplicação da RS-118, a chamada Rodovia do Progresso.
O Daer está encaminhando o projeto para o indispensável crivo da Fepam, que avaliará o impacto ambiental da obra, que será uma alternati va à já esgotada BR-116.

PL repudia aliança com PT
O PL gaúcho não aceita uma aliança com o PT. Pré-candidato ao Senado, o vereador Valdir Caetano, de Porto Alegre, avisa que a preferência do partido é pela candidatura do governador Garotinho, também evangélico como ele.

– Se algum partido anda de chapéu na mão procurando aliança, este partido é o PT, não o PL – comenta.

Semelhante é a posição do capitão Aroldo Medina, pré-candidato a governador, que nota interesse do PT nos 400 mil votos dos evangélicos. Confirma que o PL está sintonizado com Garotinho.

– Desenvolvemos uma ação estratégica permanente para tirar o PT do Piratini e não permitir que chegue ao Planalto.

Deputados recomendam que Tarso cumpra mandato
Os sete deputados estaduais que anunciaram ontem apoio à pré-candidatura de Olívio à reeleição entendem que Tarso Genro, adversário na hipótese da prévia, deve cumprir o mandato de prefeito da Capital até o final. Edson Portilho chegou a dizer que está convencido de que o prefeito vai retirar seu nome para preservar a unidade. Além de Portilho, Cecilia Hypolito, Dionilso Marcon, Elvino Bohn Gass, José Gomes, Ronaldo Zülke e Ivar Pavan apóiam o governador. Luciana Genro, Luis Fernando Schmidt, padre Roque e Maria do Rosário estão com o prefeito.

Pratini recebe apoio
Uma delegação de deputados do PPB esteve com o ministro Pratini ontem dando apoio à sua candidatura. Escolhido como porta-voz, Júlio Redecker avisa que se os próximos programas eleitorais não forem usados integralmente para promover a candidatura, haverá um rebelião com a destituição de Paulo Maluf e Delfim Netto do comando.

Mirante
• A Comissão de Segurança Pública instalada pelo Congresso vai trabalhar com seis subcomissões. O deputado federal Marcos Rolim será relator da subcomissão do sistema penitenciário.

• Rolim e José Genoino foram os mais votados pelos 59 deputados federais do PT para integrar a comissão.

• No primeiro dia de trabalho como ministro da Saúde, Barjas Negri prestigia o RS, presidindo a reunião do Conselho de Administração do Grupo Hospitalar Conceição. Hoje, às 9h30min.

• Deputado Elmar Schneider, do PMDB optou por permanecer na Comissão de Serviço Público. Mas não deixou de registrar da tribuna, olho no olho, que seu colega Alexandre Postal não honrou a palavra empenhada.

• Milton Zuanazzi informa que o PT examina a possibilidade de os ex-pedetistas votarem na prévia. Chico Vicente, secretário-geral do partido, da DS, está convencido por razões técnicas e políticas de que o voto da corrente trabalhista será autorizado. O grupo apóia Olívio.

• Zuanazzi deixa o hospital hoje, vencida a virose. Não recebeu ainda o resultado do exame de dengue.

• Polêmica à vista: o governo do Estado e a prefeitura de Porto Alegre devolveram verbas do Ministério da Saúde para o combate à dengue, nos exercícios de 1999 e 2000.


ROSANE DE OLIVEIRA

Ciranda eleitoral *
Quem viu o prefeito Tarso Genro e o governador Olívio Dutra de mãos dadas, dançando animados a ciranda de Lia de Itamaracá, a musa do final do Fórum Social Mundial, não imagina o quanto é acirrada a disputa entre os dois. Cerca de duas horas antes, Tarso tinha espinafrado o vice-governador Rossetto – cabo eleitoral número 1 de Olívio – em entrevistas às rádios Gaúcha e Bandeirantes, e reclamado do que classificou de boicote da TV Educativa a sua participação na abertura do Fórum.

Diante dos convidados, o PT preservou a unidade. Sentados lado a lado, Olívio e Tarso pareciam apenas bons companheiros. Chegaram a cochichar algumas vezes, deram-se as mãos e dançaram conforme a música. Uma jovem morena os separou minutos depois na dança da ciranda e a partir daí cada um sambou para o seu lado.

Encerrado o Fórum, a campanha interna passa a ocupar toda a agenda do PT. Se nenhum dos dois se retirar da disputa – o que parece difícil faltando 10 dias para o registro das candidaturas – a guerra será inevitável. A oposição aposta que o PT não conseguirá juntar os cacos depois. Com medo de gastar numa disputa interna a energia que precisará na eleição de 6 de outubro, os principais líderes do PT defendem o consenso. Só que ninguém quer ceder e cada ala acha que seu candidato tem mais chances de vencer.

Os defensores da candidatura de Olívio criticaram o prefeito por ter precipitado o debate, quando o mais conveniente seria manter a disputa adormecida até a realização do Fórum. E passaram a acusar Tarso de estar contribuindo para a divisão do partido – que dividido está desde a prévia de 1998.

Baseado em pesquisas que apontam menor índice de rejeição, Tarso está convencido de que tem mais chances de vencer a eleição. Líderes europeus que participaram do Fórum chegaram a aconselhar o prefeito a desistir da disputa, para não prejudicar o trabalho que vem fazendo na prefeitura, mas era tarde. As correntes que apóiam Tarso exigem que os filiados escolham o candidato. Se perder a prévia, Tarso continua na prefeitura e seus apoiadores partem para uma segunda briga, a da indicação do vice. Se ganhar, Tarso terá de renunciar ao mandato de prefeito até 4 de abril, correndo o risco de ficar sem mandato até 2006.


Correção: A coluna de ontem embaralhou as datas: o 1º Fórum Social Mundial foi realizado em 2001, e não em 1999.


Aviso: As férias estão começando hoje. Até a volta, em março.
  • Coluna publicada na edição de 6/2/2002. O colunista está em férias


    Editorial

    A OMS E A DENGUE

    A epidemia de dengue, cuja expansão está justificadamente preocupando as autoridades sanitárias brasileiras, acaba de se converter também em novo atestado negativo do país no Exterior. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está alertando os turistas que desejam visitar o Brasil sobre a ocorrência e os riscos da doença, somando essa epidemia aos alertas que já existiam em relação a febre amarela, malária, cólera e hepatite. A dengue deixou, por isso, de ser apenas uma epidemia que traz incômodos, mal-estar e às vezes morte, para se transformar também numa antipropaganda do país e num fator de prejuízos econômicos.

    A existência de milhares de infectados de norte a sul do país – especialmente no Rio de Janeiro e no Nordeste – está a exigir medidas realmente eficientes por parte das autoridades. A eliminação do mosquito transmissor se converteu, no entanto, em tarefa que deve envolver mais que os poderes públicos. Estes estão tentando agora colocar trancas de ferro nas portas arrombadas da saúde pública, embora em alguns setores pareça haver mais interesse em explorar eleitoralmente a epidemia do que em engajar-se na tarefa de erradicá-la. O avanço da dengue sobre o sul do país, que até agora vinha sendo poupado, exige de todos – autoridades e população – uma espécie de mutirão sanitário que envolva campanhas de esclarecimento, mobilização de funcionários de todos os níveis e adesão dos cidadãos quanto aos cuidados para evitar a proliferação do mosquito.

    O avanço da doença sobre o sul do país exige de todos
    uma espécie de mutirão sanitário

    O país precisa dessa cruzada coletiva para que não se reproduza em âmbito nacional o quadro de algumas regiões nordestinas onde, por falta de comunicação, perdeu-se a capacidade de controle e de prevenção da epidemia.


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    02/22/2002


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