Projeto de Rigotto é vencer guerra fiscal









Projeto de Rigotto é vencer guerra fiscal
Novos investimentos no Estado seriam solução para desemprego

Na segunda entrevista da série com os candidatos a governador no Jornal do Almoço, da RBS TV, e no programa Conversas Cruzadas da TVCOM, Germano Rigotto (PMDB) disse que se for eleito entrará na guerra fiscal para atrair investimentos e gerar empregos.

O candidato destacou a necessidade de o Estado “voltar a crescer”.

O candidato foi entrevistado durante 10 minutos no Jornal do Almoço e uma hora e cinco minutos no Conversas Cruzadas. Rigotto iniciou a entrevista no JA se apresentando como uma opção para acabar com a polarização no Estado:

– Apresento um projeto novo, que se constrói acima das divisões. Acima do britismo e do petismo.

O candidato disse ainda acreditar que pode criar um “ambiente para o Estado recuperar o espaço que perdeu”. Rigotto não quis fazer comentários sobre a saída de Antônio Britto do PMDB. Disse que tanto no governo de Britto quanto no de Olívio há erros e acertos, mas atribuiu a derrota em 1998 à atitude “prepotente e personalista” do candidato do PPS:

– Britto errou na forma de agir. Perdeu porque se afastou da sociedade. Faltou diálogo – disse.

Para resolver o problema do desemprego, o peemedebista apresentou como solução a busca de novos investimentos aliada à manutenção da matriz produtiva do Estado:

– Vamos entrar na guerra fiscal com política fiscal e incentivos fiscais.

Perguntado sobre seus projetos para segurança pública, Rigotto criticou o governo do Estado afirmando que há pouco investimento na área e muita interferência política:

– A auto-estima da Brigada e da Polícia (Civil) está lá embaixo. Não temos política de segurança pública. Se mistura política partidária com segurança pública.

Para a saúde, o candidato argumenta que tem que ser cumprido o que a Constituição determina, o repasse de 10% da receita tributária líquida para o setor:

– Nos últimos dois anos, não foram repassados nem 7%.

Na noite de segunda-feira, o candidato apresentou suas propostas de governo para os estudantes da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), no campus de Canoas.


Ibope mostra quadro estável
Só dois dos quatro candidatos registraram aumento em relação ao levantamento anterior

A mais recente pesquisa Ibope mostra um quadro de estabilidade na disputa pela Presidência.
Só dois dos quatro candidatos registram oscilação numérica em relação ao levantamento da semana passada. Ainda assim os índices ficam dentro da margem de erro da pesquisa, de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lidera com 34%. Na semana passada, o petista aparecia com 33%. Já o candidato da Frente Trabalhista (PDT-PPS-PTB),Ciro Gomes, se mantém com 27%. José Serra (PSDB) subiu de 11% para 12%. O tucano está em empate técnico em terceiro lugar com o candidato Anthony Garotinho (PSB), que nas últimas quatro rodadas da pesquisa se mantém com 11% da preferência entre os eleitores.

Também a simulação de segundo turno permanece praticamente inalterada. Ciro venceria Lula por 47% a 42% – na pesquisa anterior, o candidato da Frente Trabalhista venceria por 46% a 41%. Num eventual segundo turno contra Serra ou Garotinho, o petista seria o vencedor em ambas simulações.

Estabilizado no resultado geral, o quadro revela algumas modificações segmentadas para as quais a diretora do Ibope Opinião, Márcia Cavallari, chama a atenção. A preferência por Ciro caiu entre os eleitores de nível superior (passou de 41% para 36%) e média (de 34% para 29%). Nas mesmas faixas, Serra subiu de 11% para 14% e de 7% para 11%.

Em compensação, o candidato da Frente Trabalhista cresceu nos segmentos de menor escolaridade (de 19% para 23% entre os que cursaram até a 4ª série do Ensino Fundamental) e renda (de 20% para 26% entre os que recebem até dois salários mínimos).

– São oscilações que eventualmente poderão resultar em tendências nas próximas rodadas – disse Márcia.

A pesquisa foi encomendada pela Rede Globo e divulgada no Jornal Nacional. Foram ouvidas 2 mil pessoas entre os dias 10 e 12 em todo o país.


Ciro afirma que dólar cai a partir de amanhã
Durante sabatina promovida pela Folha de S. Paulo ontem, o candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, disse que o dólar deve cair depois de amanhã.

– Anotem – afirmou o candidato.

Ciro justificou sua previsão dizendo que, amanhã, vencem cerca de US$ 2,5 bilhões em títulos cambiais.

– Qualquer US$ 100 milhões você faz o dólar subir. Tão seco, tão enxuto está o mercado. Eles estão especulando – acusou Ciro.

Perguntado sobre quem seriam “eles”, os que lucram com a especulação, Ciro disse:
– Os carregadores dos títulos cambiais, quem sabe disso é o Banco Central, eu não tenho informação para dizer.

Ciro declarou também que, se for eleito, vai substituir o vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele defendeu a realização de três provas durante o Ensino Médio – o aluno faria uma prova por ano para ser avaliado e chegar à universidade.

– É mais meritocrático – afirmou Ciro, repetindo palavra usada em debate sobre o assunto na semana passada, na Universidade de Brasília (UnB), quando se posicionou contra o regime de cotas para negros.

Segundo ele, o vestibular é injusto porque é possível que o estudante passe o ano inteiro estudando e, no dia da prova, não se sentir bem e não conseguir aprovação no exame.
O candidato defendeu a continuidade de universidades públicas gratuitas, para compensar os gastos que a classe média tem com segurança pública, plano de saúde e escola básica e fundamental.

Ciro elogiou a decisão do ministro da Educação, Paulo Renato Souza, pela criação do provão, que avalia os cursos superiores no país.

– Felicito o ministro Paulo Renato por ter quebrado a inércia e introduzido o princípio de avaliação – afirmou.

O candidato disse, no entanto, que é preciso “ser mais drástico” para fechar cursos sem “eficiência técnica”.


FH recebe candidatos na segunda-feira
Objetivo do presidente é tranqüilizar investidores

Numa iniciativa inédita na história das transições de governo desde 1985, o presidente Fernando Henrique Cardoso receberá na segunda-feira, no Palácio do Planalto, os candidatos à Presidência Ciro Gomes (PPS), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Anthony Garotinho (PSB) e José Serra (PSDB) para discutir a situação econômica do país.

Dos quatro principais candidatos a sua sucessão, FH espera obter garantias de que os pilares da política econômica – câmbio flutuante, metas de inflação e equilíbrio fiscal – serão mantidos. O objetivo é tranqüilizar o mercado, que voltou a se agitar a partir de sexta-feira apesar do anúncio do empréstimo de US$ 30 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O anúncio dos encontros começou ontem a reduzir o nervosismo dos investidores. Depois de uma forte subida inicial, a cotação do dólar fechou em R$ 3,165, depois de ser negociado a R$ 3,26 na abertura, pela manhã (leia reportagens nas páginas 5, 16 e 24). A intervenção do Banco Central (BC) e rumores de que Ciro teria declarado a intenção de manter Armínio Fraga à frente da instituição caso fosse eleito, depois desmentidos, contribuíram para a recuperação.

– É preciso que os candidatos tomem consciência do que está sendo feito e manifestem seu apoio ao país. Acho que eu, como presidente da República, tenho essa responsabilidade além de quaisquer outras – af irmou FH ontem em Brasília, sem deixar claro se isso significa compromisso público e formal com metas acordadas com o FMI.

O presidente deixou claro que interessa ao país baixar a taxa de juros, mas que isso só será possível depois da estabilização do câmbio da reabertura de linhas de crédito.

– O nosso interesse neste momento é baixar a taxa de juros, na medida do possível. Para que isso seja possível é preciso fazer com que exista uma taxa de dólar mais razoável e que as linhas de crédito sejam restabelecidas – explicou.

Para o ministro da Fazenda, Pedro Malan, a rodada de encontros de Fernando Henrique com os candidatos é um sinal de “maturidade política”.

– Estou certo que as conversações serão positivas para o país e seu futuro – disse o ministro no Seminário Nacional sobre Execução Fiscal, no BC.

As reuniões, que começaram a ser preparadas no final de semana pelo Palácio do Planalto, estavam inicialmente agendadas para amanhã, mas o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, alegou problemas de agenda e forçou o adiamento para segunda-feira. FH faz questão de receber todos no mesmo dia, por uma hora cada um, a fim de evitar acusações de favorecimento. Dos encontros, também participarão Fraga, Malan e o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente. Cada presidenciável poderá levar no máximo dois assessores.

Os candidatos de oposição mostraram cautela ao comentar o tema. Em palestra na Associação de Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB), Ciro chegou a negar que tivesse sido convidado para reunião com o presidente, embora tenha dito que aceitaria a convocação. Falando em nome de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente nacional do partido, deputado José Dirceu (SP), disse em nota que o petista e a sigla “não aceitarão jogo de cena”. “Não contem conosco para um jogo de cena que oculte ao povo brasileiro a necessidade de mudanças fundamentais no rumo do Brasil”, afirmou. O candidato do PSB, Anthony Garotinho, disse que só participaria do encontro se soubesse a pauta específica a ser tratada.

– Não quero passar para a opinião pública que estou em concordância com uma situação que eu sei que vai estourar lá na frente – afirmou.

O anúncio dos encontros teria irritado o candidato do PSDB, José Serra. Segundo amigos do tucano, as reuniões mostrariam falta de confiança de FH na candidatura.


Investidores vêem reunião com cautela
Ao contrário da euforia provocada pelo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), predomina a cautela no mercado quanto às conversas do presidente Fernando Henrique Cardoso com os candidatos a sua sucessão.

Mesmo na melhor hipótese – a de que os resultados sejam neutros ou positivos –, declarações tranqüilizadoras podem não ser suficientes para baixar o estresse no câmbio, avaliam especialistas.

– Pode ser que dê certo, mas está claro que o mercado não está satisfeito, porque não desconfia só dos candidatos, mas de que o Brasil, de fato, tenha dinheiro para pagar suas contas – diz Alexandre Barros, diretor da consultoria Early Warning, especializada em risco político.

Para Barros, a iniciativa de FH é uma admissão de que não acredita em vitória do candidato governista na eleição. Segundo o consultor, o tucano José Serra não queria a antecipação da transição. Se tudo corresse bem, esse tipo de reunião só teria sentido depois do pleito, já com o sucessor definido. A conversa com todos sinaliza que qualquer um pode ganhar, explica Barros.
– As conversas também podem servir como uma penitência do presidente, que precipitou a crise quando, no dia 20 de maio, comparou o Brasil à Argentina – argumenta.

O consultor, que costuma ser procurado por investidores estrangeiros em busca de aconselhamento, afirma que o problema principal do país hoje é ter muito dinheiro para pagar e poucos recursos disponíveis. A sensação é de que não haverá dólares para todos a um preço razoável:
– A porta de saída de moeda estrangeira no Brasil está estreita.

A avaliação é sustentada pelo presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP), Carlos Alberto Bifulco, que considera os dados objetivos da economia como principal preocupação:
– Está faltando dólar. Todos estão reduzindo sua exposição aos países emergentes, e o Brasil tem uma situação fiscal complicada. Todo ano fecha na tangente seu balanço de pagamentos.

Além de uma dívida externa total ao redor de US$ 230 bilhões, o país tem um estoque de investimento estrangeiro direto de mais US$ 200 bilhões, o que significa “um problema de US$ 400 bilhões” para o mundo, diz Bifulco. Para ele, os resultados das reuniões dos candidatos com o presidente, se forem positivos, podem ajudar a reduzir um pouco a tensão:
– Precisa ficar claro que vão respeitar contratos e pagar as dívidas. Se saírem do encontro com Fernando Henrique dizendo que o momento exige ponderação, vai ser bom. Se não, será inócuo. Se criticarem, será negativo.

Zeina Latif, economista sênior da Área de Pesquisa e Estudos Macroeconômicos do BBV Banco, avalia que a iniciativa do presidente é bem-vinda para ajudar a aliviar as tensões no cenário político. A expectativa é de que o encontro contribua para “atenuar o estresse da descontinuidade”.
Segundo a economista, todos os discursos ainda estão “um pouco dúbios”, embora Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mais preocupado em conquistar o eleitorado de centro, venha mostrando mais flexibilidade do que Ciro Gomes (PPS). Ontem, Ciro voltou a afirmou que “não é domesticável”.

– O presidente eleito vai ajustar rapidamente o discurso – diz Zeina.


Responsabilidade conjunta
O encontro dos candidatos à sucessão presidencial com Fernando Henrique não é suficiente, mas um importante passo em busca de dias menos turbulentos no mercado financeiro nacional. Se os políticos deixarem as audiências com FH prometendo respeito aos contratos firmados, inclusive no que se refere às condições e às datas acertadas, o cenário deve ficar um pouco menos nervoso.
A especulação tenderia a diminuir, baixando o dólar, com cotações – totalmente irreais – nestes últimos dias que nem os US$ 30 bilhões acertados no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) conseguiram domar. Ontem, por exemplo, a moeda norte-americana acumulou a terceira alta consecutiva após o fechamento do acordo, encerrando o dia a R$ 3,165.

Neste momento de busca de estabilização, é preciso que os candidatos digam, sem meias palavras, qual o seu compromisso com a economia e mostrem, ou pelo menos deixem mais claro, como vão gerir a política econômica a partir de janeiro. Mais transparência neste momento de incertezas auxiliaria no combate à nova onda de alta do dólar.

Para superar as turbulências do câmbio, é preciso também retomar pelo menos uma parte das linhas de crédito, quase zeradas no momento. Muitas empresas estão em busca de dólares para saldar empréstimos no Exterior diante da expressiva redução de crédito, em decorrência da aversão ao risco. Situação agravada pelo fraco desempenho da maior economia do mundo e também dos escândalos contábeis que macularam gigantes corporações norte-americanas.
Os bancos, especialmente os estrangeiros, que tinham linhas de crédito para a exportação e para as empresas com débitos em dólares, praticamente fecharam as portas para o Brasil. As empresas não conseguem rolar suas dívidas, por exemplo, e, para quitá-las, buscam dólares. Hoje, a diminuição das linhas para o crédito à exportação é evidenciada como uma razão importante na alta da moeda norte-americana. Pouca oferta, vale a máxima de sempre: os preços sobem.

Logo depois de firmado o acordo com o FMI, era esperado que as instituições financeiras retomassem as opera ções em pouco tempo. Os mais otimistas diziam que, no dia seguinte, algumas linhas já estariam disponíveis. Certo mesmo é que os bancos precisam retomá-las no menor prazo possível para não aumentar a pressão no câmbio. Enquanto isso não ocorre, o Banco Central anuncia sua disposição de oferecer linhas de crédito à exportação via bancos para suprir a demanda das empresas brasileiras. Os recursos devem sair das reservas internacionais do país – US$ 39 bilhões no início da semana. Com isso, se espera redução da pressão no câmbio.


PDT fecha cerco a prefeitos indecisos
Antônio Britto definiu ontem no PTB a reunificação da Frente Trabalhista no Estado em torno de seu nome

Na tentativa de evitar dissidências entre os 79 prefeitos do PDT, o presidente nacional do partido, Leonel Brizola, destacou o deputado federal Pompeo de Mattos para fazer um trabalho de convencimento dos possíveis rebeldes contra o apoio ao candidato do PPS, Antônio Britto.
Após passar por mais de 10 municípios, o parlamentar calcula que pelo menos 30% dos prefeitos do partido estão indecisos ou tendem a apoiar o PT em vez de Britto.

– É em cima destes indecisos que o PT está fazendo pressão para o apoio a Tarso – reclamou Pompeo.

Segundo o deputado, questões como coligações locais com o PT são o que mais geram dúvidas sobre apoiar ou não Britto. A esses prefeitos, Pompeo tem tentado explicar que o melhor seria subir no palanque do PPS, e o menos pior seria ficar neutro. Sobre os que decidirem apoiar Tarso, Pompeo avisa:
– Estes serão estudados caso a caso pelo partido.

Enquanto o PDT busca se unir em torno de Britto, o PTB deu mostras ontem de estar fechado com o candidato do PPS. Entre aplausos e abraços, representantes do PPS e do PTB sacramentaram a aliança em favor de Britto.

Nem era preciso esperar os 42 minutos de conversa a portas fechadas para saber o final do encontro no início da tarde, na sede do PTB, na Capital. Desde a chegada, deputados dos dois partidos festejavam a formalização da aliança branca – o vencimento do prazo legal proíbe uniões partidárias formais.

Acompanhado do candidato a vice, Germano Bonow (PFL), e do senador e candidato à reeleição José Fogaça (PPS), Britto chegou ao prédio da Travessa do Carmo, no bairro Cidade Baixa, às 12h25min. Convidado, subiu ao segundo andar do prédio. Da sacada, o candidato posou para fotógrafos com uma bandeira petebista. O líder do PTB no Estado e candidato ao Senado, deputado Sérgio Zambiasi, não participou do encontro.

Em entrevista coletiva, após o encontro, Britto deixou aberta a possibilidade de o PTB integrar um eventual governo. O diretório da sigla se reunirá às 14h de hoje no Hotel Everest, na Capital, para ratificar o apoio. No encontro, o partido deve discutir 14 pontos de propostas que devem ser encaminhadas ao PPS, a serem acrescentados ao programa.


Programa está sendo discutido
O plano conjunto do candidato a governador do PPS, Antônio Britto, já tem até nome: Plataforma de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado.

O texto começou a ser elaborado ontem à tarde, na primeira reunião entre o coordenador da campanha de Britto, Nelson Proença (PPS), e o presidente estadual do PDT, Pedro Ruas. Do Rio, o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, acompanhou por telefone a conversa, realizada na casa de Ruas.

O dia escolhido para anunciar o plano de governo do canddidato do PPS será 24 de agosto, aniversário de morte do presidente Getúlio Vargas. O local, será São Borja, berço do trabalhismo, onde Getúlio está sepultado. Depois do lançamento do plano, uma carreata percorrerá quase 200 quilômetros, até Uruguaiana, com a presença de Brizola, Britto e do candidato à Presidência do PPS, Ciro Gomes.

Brizola volta hoje ao Estado para uma nova reunião com a executiva do PDT, conselho político e parlamentares, desta vez para discutir os pontos que os trabalhistas esperam ver contemplados no plano de Britto. O PDT vai sugerir investimento em recuperação das estradas – em especial a duplicação da BR-386 –, reabertura e construção de novos Cieps, investimento na Metade Sul e programa de habitação na periferia das maiores cidades gaúchas.

Apesar da definição de uma comissão paritária para elaboração do programa conjunto, liderada por Ruas e Proença, Brizola e o próprio Britto deverão participar. No final da tarde de hoje, líderes do partido deverão se encontrar com o comando da campanha de Britto.


PMDB perde mais um vereador denunciado
Hamilton Silva deixou partido

A bancada do PMDB na Câmara Municipal de São Leopoldo, formada por sete vereadores até a eclosão de denúncias de corrupção, no dia 12 de julho, perdeu ontem mais um integrante.

Hamilton Silva, atualmente sob suspeita de receber propina na eleição da presidência do Legislativo em 2000, decidiu deixar o partido, até então com a maior representação na Câmara. Seu colega Moacir Soares, que também apareceu nas imagens supostamente combinando pagamentos no esquema, deve decidir esta semana se permanece ou não na sigla.

Até segunda-feira, nenhum dos dois havia sido citado nas denúncias, que incluem outros nove vereadores daquela legislatura. Silva inclusive participava da Comissão Processante aberta na Câmara para investigar o caso. As imagens reveladas anteriormente não os envolviam. Desta vez, no entanto, Silva e Soares aparecem conversando sobre o assunto com Mário D’Ávila, que em 2000 era assessor do então presidente da Câmara, Joni Jorge Homem (PFL).

As imagens foram gravadas por microcâmera instalada pelo próprio Ávila no gabinete da presidência, na época. Os pagamentos mensais chegavam a R$ 2,5 mil a alguns dos parlamentares sob investigação na Promotoria Especializada Criminal, em Porto Alegre.

Além de Silva, Fernando Henning, Fernando Fusquine, Adão dos Santos e a atual presidente da Casa, Iara Cardoso, já haviam deixado o PMDB. Com exceção de Iara, todos estão sob suspeita de participação no escândalo.

A presidente da Casa deverá ingressar hoje no Tribunal de Justiça do Estado (TJE) com um pedido de cassação da liminar que impediu o prosseguimento dos trabalhos da comissão processante na Câmara. A liminar foi obtida há dois dias por Fernando Henning. A medida ocorreu enquanto não é julgado o mandado de segurança, que poderá extinguir a comissão. Uma das alegações foi a de que um dos integrantes da comissão, Silva, tornou-se esta semana suspeito no caso.


Artigos

De novo a segurança
Olívio Dutra

Em sua edição de quinta-feira, 8/08, Zero Hora voltou a abordar, em editorial, a questão da segurança pública, com o viés da crítica preconceituosa ao nosso governo. Enxerga divergências com nosso candidato onde não há. Nos atribui a sandice de culpar a imprensa pelos problemas da segurança pública. Consideramos a questão da segurança um problema sério e construímos uma política responsável nesse sentido, com investimentos consideráveis, modernização das polícias militar e civil, treinamento e contratação de pessoal. A visão reducionista das causas sociais e econômicas da criminalidade não é nossa, embora reconheçamos a sua importância no sentido de que a deterioração do tecido social e o crescimento da miséria andam de mãos dadas com o crime. O que só é resolvido com políticas de desenvolvimento econômico, social e político.

O fato é que nossos adversários, motivados por posições ideológicas, são apoiados pela abordagem dos veículos da RBS. Toda nossa política de integração da Brigada Militar e da Polícia Civil, necessária e fundamental para o combate à criminalidade, é vista como “tentativa de destruição das polícias”. Ora, essa abordagem reforça a defesa de uma estru tura de segurança pública arcaica, na qual prevalecem os interesses de corporações e, em não raras circunstâncias, pior do que isso. Essa abordagem é vendida para a população como “resistência ao desmonte da Brigada Militar e da Polícia Civil”. Um exemplo: Zero Hora do dia 11 de julho estampa na contracapa, espaço nobre do jornal, foto de meia página com manifestantes contrários à transferência do comando cercando o prédio do QG da BM, com a seguinte legenda: “Políticos, moradores do Centro e associações de classe de soldados e oficiais da BM discordam da decisão, suspensa por ordem judicial”. A título de esclarecimento: não há decisão judicial suspendendo a transferência.

Se tal “maniqueísmo” existe, ele pertence aos nossos adversários

Outro exemplo desse tipo de análise é o lamentável episódio entre a BM e bandidos no qual morreram um capitão e um sargento. Nosso governo lamenta profundamente as perdas que não se limitam à corporação, mas fazem sofrer as famílias. Entretanto, é importante frisar que fatos como este podem ocorrer justamente quando se trata de um ativo combate à criminalidade, mesmo com colete à prova de bala, armamento e treinamento adequados. No entanto, o episódio é tratado no Jornal do Almoço do dia 7 de agosto com a seguinte afirmação: “Ninguém tem segurança, nem mesmo os que fazem segurança”.

Finalmente, cabe a pergunta: onde está o “maniqueísmo ideológico” que o editorial tenta nos atribuir? Pensamos, ao contrário, que, se tal “maniqueísmo” existe, ele pertence aos nossos adversários, que em nenhum momento se dispuseram a dialogar pragmaticamente conosco sobre projetos que têm como objetivo a construção de uma política de segurança adequada ao nosso tempo, na qual os comandos, as inteligências e a operação sejam integrados. E se tenha uma corregedoria única e independente das polícias, com carreira própria. Aliás, não há nada mais simples de entender-se que polícia não pode investigar polícia. Tivemos que retirar a urgência do projeto sobre esse assunto na Assembléia, senão ele seria derrotado. Essa é uma pauta com reconhecimento nacional, inclusive do Ministério da Justiça. Por falar nisso, o Rio Grande do Sul é um dos Estados menos violentos no ranking do ministério, o 23º, embora seja o quarto em população.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Transição e especulação
Nem mesmo a confirmação do encontro de Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente Fernando Henrique Cardoso para discutir os termos do acordo firmado recentemente com o Fundo Monetário Internacional, marcado para a próxima segunda-feira, acalmou o mercado financeiro, que continua sob forte pressão especulativa. Se o Banco Central está mantendo a ração diária de dólares, não há justificativa técnica de que a falta da moeda americana seja responsável pela sua valorização sobre o real. Não é a primeira vez que o principal líder do PT e seu candidato às eleições presidenciais subirá a rampa do Palácio do Planalto. Neste ano, Lula e a cúpula do Partido dos Trabalhadores esteveram com Fernando Henrique para pedir apoio federal na solução do rumoroso caso Celso Daniel, o prefeito de Santo André que era o coordenador da campanha de Lula. O Ministério Público de São Paulo pediu à polícia investigações complementares porque, com base em provas testemunhais, está convencido de que a morte do prefeito foi, como se diz no jargão policial, “queima de arquivo”.

O governo está preocupado com a transição. Se a turbulência no mercado financeiro continuar, o presidente que sairá eleito das urnas, em outubro, terá sérias dificuldades para administrar a economia no início de 2003. Por isso a pronta aceitação dos candidatos de oposição até aqui favoritos, conforme avaliam as pesquisas de intenção de votos, para conversar com Fernando Henrique Cardoso sobre as condições da economia e os compromissos externos, especialmente com o FMI. O problema é que o processo político vulnerabilizou o país quanto à credibilidade, patrimônio maior para qualquer governo e qualquer economia que dependa de poupança externa para garantir seu crescimento. As desconfianças, aliadas à pressão especulativa, formam o cenário desfavorável ao câmbio, setor mais sensível e mais sujeito às investidas dos especuladores domésticos e internacionais.


JOSÉ BARRIONUEVO

Britto e Rigotto prometem guerra fiscal para atrair investimentos
Os dois primeiros entrevistados no Conversas Cruzadas, da TVCOM, Antônio Britto e Germano Rigotto, foram incisivos: se vencerem a eleição, vão entrar de corpo e alma na guerra fiscal. Mesmo ressalvando que preferem a reforma tributária, os dois sustentam que não há outro meio de atrair investimentos. E estão convencidos de que a única forma de aumentar a receita é trazendo empresas para o Estado.
Tarso Genro será entrevistado hoje. Vale a pena conferir o que pensa sobre o assunto.

Dom da ubiqüidade
Impossibilitado de comparecer ao encontro com Britto, ontem, devido a compromissos como presidente da Assembléia, Sérgio Zambiasi espreita da parede a chegada dos deputados do PPS e do PFL, no encaminhamento da parceria que será referendada hoje pelo diretório estadual do PTB. O cartaz com a foto de Zambiasi está por todos os lados na sede do partido e na bancada da Assembléia, ficando registrada sua imagem em todas as fotos.
Ao final da reunião do diretório estadual, hoje, o PTB pretende encaminhar a Leonel Brizola algumas contribuições para o plano de governo a ser estabelecido no final da tarde.

Cherini quer ser líder
Em nome da unidade partidária, Giovani Cherini até pode assumir em definitivo como líder da bancada do PDT. Mais por insistência do que por ser alguém que possa substituir o combativo Vieira da Cunha, que renunciou ao cargo por discordar da aliança com Britto.

Sexta-feira, Cherini entregou a Brizola uma lista com 18 prioridades, segundo ele recolhidas em suas andanças pelo Interior. Na verdade, apenas colocou na lista várias propostas suas como deputado, que não representam nem mesmo o pensamento da sua bancada, como é o caso da defesa das emancipações. No lugar da Metade Sul, colocou a Metade Norte como prioridade. Coisa de líder.

Baderneiros tentam invadir Assembléia
A deputada Luciana Genro (PT), que participava da manifestação, não fez nenhum movimento para impedir a baderna provocada por um grupo de jovens que comemorava os 10 anos do Fora Collor. Em nada lembravam os cara-pintadas que tomaram as ruas no impeachment do caçador de marajás de forma ordeira, uma manifestação que contagiou os jovens em todo o Brasil. Um dos momentos mais sublimes da história da democracia brasileira, em 1992, virou uma caricatura ontem no ato de vandalismo, com remessa de ovos contra o prédio da Assembléia e na tentativa de arrebentar com chutes e correntes a parede de vidro da entrada. Em meio à farra, os baderneiros gritavam desaforos e faziam gestos obscenos para as recepcionistas.

Altos funcionários do governo, postados em frente ao Palácio Piratini, se deleitavam com o espetáculo, sem tomar a iniciativa de acionar a Brigada, sempre bem postada nos dias de manifestações pacíficas de servidores públicos.

Ninguém entendeu – provavelmente nem os moleques, alguns menores de idade – qual era exatamente o inimigo que combatiam com tanto ardor, naquele ataque ao parlamento. Na escola não lhes ensinaram que é um poder plural, base da democracia, onde se fazem as leis.
Concluída a manifestação, o caminhão de som, postado junto à praça, convocou os militantes para uma reunião no comitê da deputada Luciana Genro, que, seguramente, em nada ajudou a campanha do pai, candidato a governador.

Comício de mulheres
Inspirada no encontro realizado em São Paulo, segunda-feira, a deputada Yeda Crusius (PSDB) já programa um megaevento com a presença de Rita Camata e de Ruth Cardoso para Porto Alegre. Convidada para a mesa principal no Clube Pinheiros, lotado de mulheres, Yeda acredita que o RS poderá oferecer uma resposta melhor ainda. No encontro Rita Camata foi incumbida por José Serra de comandar a área social do governo, cujas metas deverão ser anunciadas no encontro que está sendo programado para Porto Alegre, compensando o adiamento da concentração que seria realizada hoje.

Mirante
• Juici Marinho Passini, que comanda a 24ª Coordenadoria do PDT (Santa Maria), entregou a Nelson Proença, presidente do PPS, o apoio uníssono a Britto de 22 municípios da região.

• Foi encaminhada pelo TJE para apreciação do governador a lista tríplice para desembargador dentro do quinto constitucional dos advogados. São eles: Rogério Leal, José Bernardo Boeira e Cézar Dias Neto. Leal é o que reúne os melhores predicados.

• O vereador João Dib abraçou a campanha de Jair Soares a deputado. u Sereno Chaise comanda do 4º andar do Banrisul a conquista dos desgarrados do PDT. Garante uma dezena de prefeitos para Tarso.

• Tanto Britto quanto Rigotto acham que há muito pouco o que cortar nas despesas. Como definem a situação das finanças públicas como crítica, não se sabe de onde tiram o otimismo exibido na campanha.

• Vereador Sebastião Melo apresentou uma série de projetos com o objetivo assegurar um mínimo de autonomia à Câmara. Vale conferir a votação da LDO na sessão de hoje.


ROSANE DE OLIVEIRA

Um golpe na segurança do trânsito
Não poderia ser mais apropriada a data escolhida pela Assembléia Legislativa para promulgar uma lei da qual os deputados deveriam se envergonhar: 13 de agosto, um dia mal visto no calendário, mesmo quando não cai em sexta-feira. Sob os aplausos dos infratores e dos lenientes com o desrespeito ao Código de Trânsito Brasileiro, o presidente da Assembléia, Sérgio Zambiasi, promulgou ontem a lei que prevê a extinção dos pardais nas rodovias gaúchas.

Às vésperas de encerrar seu mandato, os deputados prestaram um desserviço à segurança no trânsito. Imaginam que estão fazendo uma grande coisa ao liberar a velocidade nas estradas, substituindo os pardais por lombadas eletrônicas “em locais de comprovação técnica de grande incidência de acidentes”. Quantas vidas será preciso sacrificar para que determinado ponto seja considerado digno de merecer uma lombada eletrônica? E quem garante que os vândalos não queimarão as lombadas eletrônicas, como fazem regularmente no interior do Estado?

A mensagem subliminar do projeto é: diminua a velocidade ao se aproximar da lombada. Nos outros trechos pode correr à vontade, senhor motorista, que risco de multas não há.

Os infratores podem achar que a vida é sua e têm o direito de correr riscos. Seria uma afirmação aceitável, se não colocassem em risco a vida de outras pessoas, que respeitam as leis e não têm tendências suicidas.

São desconhecidos os estudos técnicos que embasaram o projeto do deputado Elmar Schneider. Os mais respeitados especialistas em segurança do trânsito recomendam os pardais para controle de velocidade nas estradas. Dizem os defensores do projeto que os pardais não educam. É verdade, mas se os motoristas tivessem educação, respeitariam as placas de limites de velocidade, mesmo que não estivessem sujeitos a multas. A educação para o trânsito é um processo que começa na família e pode ser aperfeiçoado na escola. Barbados e senhoras que não respeitam limites de velocidade só podem ser contidos com um choque no bolso.

Poucos temas têm sido tratados na campanha eleitoral de forma tão rasteira como o dos controladores de velocidade. Dizem os adversários dos pardais que eles só servem para arrecadar. Pois se é isso, muito simples: boicote-se o pardal. Não é preciso passeata, nem comício. Basta respeitar os limites, e o faturamento do controlador de velocidade será zero.

A esperança agora é a Justiça, a quem o governador Olívio Dutra promete recorrer para derrubar essa lei oportunista. A competência para legislar sobre trânsito é federal, e os deputados gaúchos exorbitaram de suas funções.


Editorial

DESIGUALDADES RESISTENTES

Na origem tanto da excepcional expansão dos mercados registrada na última década como da crise instalada hoje em economias desenvolvidas e em desenvolvimento, a globalização tem contribuído para registrar outros fenômenos que se prestam para reflexões. Levantamento recém divulgado em Genebra pela Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) conclui que 29 das 100 maiores economias do mundo não são países, mas empresas. Ao mesmo tempo, mostra que as grandes corporações crescem num ritmo superior ao de muitas nações. O fato deve ser considerado ao mesmo tempo positivo e inquietante, pois colabora para corroborar a impressão de que o processo de internacionalização promove o crescimento, mas é incapaz de fazer com que ele se propague de forma equânime.

Com base em dados de 2000, o organismo das Nações Unidas revela que a importância econômica das empresas multinacionais não pára de crescer. De 1990 até agora, as maiores economias do planeta ampliaram de 3,5% para 4,3% a sua fatia no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Em conseqüência, o que se constata hoje é a particularidade de uma ExxonMobil equivaler a quase um Chile e mais que um Paquistão, ou de as economias do Uruguai e da Guatemala, juntas, se aproximarem da Toyota. O ranking, no qual o Brasil aparece como a nona economia do mundo, inclui o cálculo de salários e benefícios pagos pelas empresas, além de amortização, depreciação e do pagamento dos juros, para permitir a comparação com os países e deixar transparecer as desigualdades.

Distorções na globalização devem ser enfrentadas e não servir só para reforçar argumentos de seus opositores

Distorções na globalização devem ser enfrentadas e não servir só para reforçar argumentos de seus opositores. A crise nas megaempresas de alta tecnologia num primeiro momento e, mais recentemente, das grandes corporações norte-americanas da área de comunicação e energia elétrica, mostrou que o processo de internacionalização dos mercados pode até se retrair, mas não tem mais volta. A globalização, porém, não pode chamar a atenção apenas dos países em desenvolvimento pela velocidade com que propaga os prejuízos. Precisa se mostrar particularmente sob o ponto de vista dos ganhos, hoje ainda restritos em demasia aos países em desenvolvimento.

Nesse sentido, é importante que o exemplo de megacorporações bem-sucedidas inspire os projetos de expansão de nações ainda estagnadas ou mesmo em processo de contração de suas economias. No momento em que a crise de âmbito internacional impõe mais realismo aos mercados, é oportuno que a busca de saídas venha a contemplar também a preocupação com a redução de desigualdades que acabam condenando a população de muitos países ao sofrimento permanente.


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08/14/2002


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