Promulgação de PEC que cria novos tribunais é decisão política, diz juiz indicado ao CNJ



Não há nenhuma inconstitucionalidade na criação de tribunais por emenda constitucional. A avaliação é do juiz federal Saulo Casali Bahia, que teve sua indicação para integrar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no biênio 2013-2015 aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) nesta quarta-feira (17). A indicação, feita pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), teve como relator o senador Pedro Taques (PDT-MT).

VEJA MAIS

Segundo Saulo Casali, a decisão de promulgar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 544/2002, que cria mais quatro tribunais regionais federais é política. A Constituição não fixa prazo para que o presidente do Congresso convoque sessão destinada à promulgação.

Aprovada na Câmara, a PEC 544/2002 cria os Tribunais Regionais Federais das 6ª, 7ª, 8ª e 9ª Regiões, com sede em Curitiba, Manaus, Belo Horizonte e Salvador. A proposta foi alvo de críticas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, que disse que a criação dos tribunais foi aprovada de "maneira sorrateira". Ele também manifestou preocupação com o "gigantismo" do Judiciário.

Alguns parlamentares também sustentam que a medida é inconstitucional, pois a iniciativa de criação dos tribunais seria do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por meio de projeto de lei.

Em sua sabatina na comissão, Saulo José observou que o artigo 96 da Constituição atribui aos tribunais superiores a criação de outros tribunais, mas ressaltou que a possibilidade não é excluída pelo parágrafo 4º do artigo 60, que trata da elaboração de emendas constitucionais.

- Acho que não há qualquer inconstitucionalidade. O ex-presidente do STF [Supremo Tribunal Federal], Carlos Ayres Britto também pensa assim. O próprio CNJ, em 2010, deliberou por 9 votos a 12 acelerar o processo de criação dos tribunais regionais federais por nota técnica, que acabou não sendo expedida porque dependia do plenário – afirmou em resposta aos senadores.

O STF também já examinou medida cautelar em ação de inconstitucionalidade, em que vários votos consideraram a possibilidade de PEC regular a matéria, disse Saulo Casali. O juiz observou ainda que a PEC que originou a Emenda Constitucional 45/2004, da Reforma do Judiciário, não foi proposta pelos tribunais e ainda assim extinguiu os tribunais de alçada.

- Defendo a não inconstitucionalidade, sinceramente, mas não duvido que ela possa vir a ser decidida. As palavras têm certa plasticidade e podem ser interpretadas das mais variadas formas – disse.

Saulo Casali disse que há uma questão política na criação dos tribunais e apontou o uso de argumentos de política em uma decisão de natureza judiciária.

- Houve grande dissenso entre os órgãos de cúpula e de base do Judiciário em relação à criação dos tribunais. Até agora, o STJ foi insuficiente para conter essa pretensão. A proposta não saiu do Conselho de Justiça Federal. O STJ se divide a respeito. Terminou o Congresso aprovando a criação dos tribunais por três quintos – disse.

Saulo José comparou a criação dos tribunais à proposta de reforma política, no que diz respeito à fidelidade partidária. Na ocasião, afirmou, muitos reclamaram que o STF fez uma reforma à revelia do Congresso, e talvez agora o Congresso tenha feito uma reforma no campo do Judiciário, um pouco à revelia dos seus órgãos da cúpula.

- Justificar politicamente essa questão não é difícil. O congestionamento [de processos] na Justiça Federal é maior que em todos os outros órgãos do Judiciário. A situação exige uma intervenção, que foi a criação dos novos tribunais – afirmou.

Após a exposição do juiz, Pedro Taques (PDT-MT) observou que a criação de tribunais por PEC realmente não ofende as clausulas pétreas do artigo 60 da Constituição, mas discordou da posição do juiz.

- A Constituição estabelece o autogoverno dos tribunais, que deve ser consequência de sua independência. Logo, logo cada um vai querer um tribunal para chamar de seu. É preciso criar tribunais regionais federais, mas em porteira que passa um boi, passa a boiada - alertou.

Sem refutar o argumento do senador, Saulo Casali reiterou que a criação dos novos tribunais é uma questão política e que compete à cúpula do Legislativo a conclusão desse processo.

- Nada proíbe que o Congresso Nacional aprove uma PEC que interfira na Previdência. Mas, na medida em que isso cause impacto financeiro para o Executivo, vamos ter um impasse. O Congresso vai insistir. Juridicamente, o Congresso pode. Se, politicamente, ele vai insistir, é outra avaliação. O problema hoje é notadamente político, e podem ser encontradas soluções políticas diversas – concluiu.



17/04/2013

Agência Senado


Artigos Relacionados


Promulgação de PEC que cria novos tribunais federais está indefinida, diz Renan Calheiros

Parlamentares pedem promulgação da PEC que cria tribunais

PEC cria quatro novos Tribunais Regionais Federais

Congresso promulga emenda que cria novos tribunais federais

CCJ sabatina juiz indicado para o STJ

CCJ sabatina juiz indicado para o STJ