Propaganda do PT ataca Jarbas
Propaganda do PT ataca Jarbas
Novas inserções do partido, que serão exibidas a partir de hoje no rádio e na TV, reforçam os ataques ao Governo Jarbas. PT também vai brigar para garantir seu programa
Ameaçado de perder o direito de veicular o seu novo programa partidário, marcado para o dia 10 de setembro, o PT estadual começa a exibir, hoje, em TV’s e rádios, as inserções de propaganda política. Apesar do mistério sobre a linha das primeiras inserções, os petistas não escondem que vão “jogar duro” com o Governo Jarbas Vasconcelos e destacar a vinculação do governador ao Governo FHC. Embora os petistas façam suspense, é praticamente certa a manutenção do jabuti, que irritou a Jarbas e o PMDB, no último programa, simbolizando a figura de um Governo “devagar, já parando”.
Por conta das denúncias e insinuações de irregularidades no Governo Jarbas, o procurador-regional Eleitoral, Francisco Rodrigues, decidiu atender ao pedido do PMDB, despachando parecer ao TRE – na última quarta-feira – recomendando a cassação do programa do PT do dia 10 de setembro e a utilização de parte do tempo para a defesa do governador. As inserções de propaganda, porém, estão fora da ameaça de punição e as de hoje e segunda-feira já estão prontas.
“É surpresa, mas queremos chamar a atenção. Vamos jogar duro, destacar nossa oposição aos governos estadual e federal”, revela o secretário-geral do PT, Aloísio Camilo.
As inserções de hoje, na TV, totalizam um minuto e meio, entre 19h30 e 22h. Camilo adianta que o PT tem direito a 40 minutos para distribuição em inserções em setembro. Serão oito dias com inserções totais de 3min30s, três dias com 3 minutos e um dia com um minuto e meio. “O jabuti virou um astro, não pode sair. Ele é uma surpresa. Caso chegue, será bem devagar”, brincou Camilo.
Os petistas pretendem fazer das inserções uma extensão do programa do dia 10 de setembro. A cassação do programa pode reforçar essa proposta. Ontem, dirigentes do partido se mostravam irritados com a posição do procurador-eleitoral. “O governador Jarbas quer transformar o Governo em uma ditadura. Ele quer ser o ACM (ex-senador baiano) de Pernambuco, impedindo a voz da oposição. Quer cassar o direito do PT dizer o que pensa do Governo dele”, protestou de Brasília, onde participa de encontro petista, o deputado estadual Paulo Rubem, um dos mais contundentes contra Jarbas no último programa.
Pré-candidato do PT a governador – terá inclusive espaço nas inserções para falar de suas ações –, o secretário de Saúde do Recife, Humberto Costa, define como “injusto e preocupante” o parecer do procurador. “Agora, é proibido por lei criticar o Governo Jarbas. Assim fica difícil fazer política. Como vai ser a propaganda em 2002? Esse parecer é totalmente favorável ao Governo”, disparou.
Filiação de evangélicos ao PSDB enfraquece Anthony Garotinho
Se depender do PSDB estadual, o pré-candidato do PSB à Presidência da República, governador evangélico Anthony Garotinho (RJ), pode dar adeus aos votos dos cerca de 600 mil evangélicos pernambucanos. A filiação de 146 líderes religiosos ao PSDB, oficializada ontem, deve assegurar aos tucanos um grande reforço eleitoral.
Na cerimônia, na Assembléia Legislativa, não faltaram orações e elogios aos caciques tucanos, especialmente ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Também foram endereçadas bênçãos ao governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e ao prefeito do Recife, João Paulo (PT). Marcaram presença o secretário Sérgio Guerra (Projetos Especiais), o deputado estadual Israel Guerra e o empresário André Lucena, apontados como articuladores das filiações.
Em seu discurso, o pastor Horácio Domingos (ex-PSB) afirmou que a filiação representa a certeza da conquista de milhares de votos. “Somos mais de 600 mil em todo o Estado. Fazer a cabeça do eleitor é fácil, mas conseguir convencer pastores e outras lideranças é mais difícil. Por isso estamos felizes em saber que conseguimos”, comemorou. “Mas não quero dizer que a adesão dos pastores signifique que adotaremos a prática de curral eleitoral. Com as lideranças devidamente esclarecidas sobre as propostas do partido, será mais fácil conscientizar nossos irmãos sobre o melhor voto”, explicou.
Horácio Domingos garantiu que os rumores indicando um acordo dos evangélicos com a candidatura Garotinho não passa de especulação. A declaração foi reforçada pelo pastor Edmilson Monteiro (ex-PPB). “Temos que ter cuidado ao analisar a candidatura de Anthony Garotinho. Não é só porque ele é evangélico que vamos lhe oferecer apoio irrestrito. Estamos nos filiando ao PSDB e agora as decisões terão que ser discutidas com o partido”, disse.
Sérgio Guerra anunciou que o PSDB pretende ampliar ainda mais sua base nesse segmento da sociedade. “Não existe nenhum tipo de preconceito e acreditamos que a chegada desses líderes religiosos vai significar um fortalecimento num segmento importante da população”.
Ala governista do PMDB vence a primeira batalha
Os governistas impõem primeira derrota ao presidente do PMDB, Maguito Vilela, mantendo a convenção nacional do partido para o próximo dia 9, em Brasília
BRASÍLIA – A ala governista e os independentes do PMDB que se opõem à candidatura do governador de Minas Gerais, Itamar Franco, ao Palácio do Planalto venceram a primeira batalha ontem, derrotando o presidente interino do partido, senador Maguito Vilela (GO) na reunião da Executiva Nacional.
Com apenas um voto contrário, os partidários da candidatura do deputado Michel Temer (SP) à presidência do partido, derrotaram Maguito mantendo a convenção nacional que escolherá a nova direção partidária no dia 9. Também empurraram o desembarque peemedebista do Governo FHC para janeiro de 2002, quando o partido escolherá seu candidato à sucessão presidencial.
O resultado agrada em cheio o Planalto. Afinal, o presidente Fernando Henrique Cardoso programa para dezembro a reforma ministerial, em que os candidatos às eleições gerais do ano que vem serão trocados por técnicos e colaboradores do círculo íntimo do presidente. Neste caso, o debate sobre o afastamento automático do Governo no momento da escolha do candidato do PMDB ao Planalto será desnecessário, porque o desembarque dos políticos já terá ocorrido.
Mas os governistas derrotaram a proposta de prévias para a escolha do candidato em novembro, como propusera o candidato Michel Temer, com o argumento de que não haveria tempo para organizar a eleição que envolverá cerca de 200 mil filiados em todo o Brasil.
“Foi uma reunião cordial e de alto nível”, resumiu o líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Maguito limitou-se a conduzir os trabalhos, eximindo-se de votar, e a executiva peemedebista decidiu incluir na pauta oficial da convenção apenas duas propostas: o lançamento da candidatura própria na corrida presidencial e a realização das prévias em 20 de janeiro. “Acato as decisões da maioria. Democracia é assim”, resumiu Maguito ao final do encontro, ao garantir que não retirará seu nome da disputa.
Itamar, que prometera ir a Brasília e fazer campanha para elegê-lo presidente do partido, não apareceu. Mas Maguito soube logo cedo que não contaria com o apoio do governador.
Ao cobrar a presença de Itamar, em conversa com o chefe do escritório de representação do Governo de Minas em Brasília, Israel Pinheiro Filho, o senador Mauro Miranda (PMDB-GO) acabou furioso com o pragmatismo da resposta. “A candidatura do Maguito não existe e o governador de Minas, como representante do povo mineiro, não pode e não vai se expor em uma derrota humilhante. Os amigos de Itamar garantem que ele já está de malas prontas para ingressar no PDT. Já estamos organizando o diretório do PDT em Minas e levando muitos companheiros.”
Pesquisas estimulam PFL a ter candidato próprio a presidente
BRASÍLIA – O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), reafirmou ontem, em reunião da Executiva, que o partido vai ter candidato próprio à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na próxima semana, a Executiva do PFL fará uma reunião mais ampla, com a presença de presidentes de diretórios regionais, para analisar os resultados da pesquisa de opinião encomendada ao instituto Vox Populi.
O PFL ficou animado com o resultado da pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) ao instituto Sensus. Na pesquisa, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), aparece tecnicamente empatada em segundo lugar com o presidenciável Ciro Gomes (PPS) com 14,1% das intenções de voto para a Presidência da República.
Em maio de 1999, o partido decidiu em convenção lançar candidato próprio nas eleições de 2002. Na época, o então senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) era cotado como o principal nome da legenda à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso.
No entanto, o partido vem tentando se cacifar para ter novamente a vice-presidência na chapa governista. Nessa estratégia, Bornhausen vem defendendo a realização de eleições primárias entre os pré-candidatos dos partidos da aliança que elegeu FHC.
Senado aprova projeto sobre propaganda eleitoral
BRASÍLIA – O Senado aprovou ontem, em votação simbólica, o substitutivo do senador José Agripino (PFL-RN) ao projeto de lei do presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que estabelece que o tempo de propaganda gratuita no rádio e na tevê será rateado entre os partidos, levando-se em conta a representação eleita para a Câmara. Hoje, o que conta é o número de deputados existentes no início da legislatura, em fevereiro, o que dá a eles quatro meses para trocar de legendas. Bornhausen acha que esta é uma medida saneadora contra o troca-troca de legendas no início da legislatura.
As mudanças poderão valer para a eleição de 2002, se os deputados aprovarem o projeto até 5 de outubro. Pelo projeto, o início da campanha eleitoral será transferido para 16 de agosto, em vez de 5 de julho, mas, seis dias antes, será vedado às emissoras transmitirem programas apresentados ou comentados por candidatos escolhidos na convenção.
Agripino teve de negociar a aprovação do substitutivo com o PT, já que a sigla não aceita a idéia de Bornhausen de reduzir para 35 dias o prazo da propaganda eleitoral gratuita. O texto mantém o período de hoje, de 45 dias.
Outras modificações sugeridas são as seguintes: a escolha dos candidatos e a deliberação sobre coligações deverão ser feitas entre 10 de junho e 5 de agosto do ano das eleições; o registro das candidaturas terá de ser pedido à Justiça Eleitoral até 10 de agosto.
Aumenta pressão para Jáder renunciar
BRASÍLIA – O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado deve votar o parecer da comissão recomendando a abertura de processo contra o presidente licenciado do Senado, Jáder Barbalho (PMDB-PA), no próximo dia 11, uma semana antes da data em que ele prometeu reassumir o cargo. A estratégia do presidente do conselho, senador Geraldo Althoff (PFL-SC), é mais uma entre as que estão sendo examinadas pelos parlamentares para impedir Jáder de submeter a eles e à instituição a mais esse constrangimento. Outra tática do conselho é a de tentar convencer Jáder a renunciar.
Mesmo a ala mais próxima de Jáder, encabeçada pelo líder Renan Calheiros (PMDB-AL), reconhece que não há condições para o presidente licenciado retomar o comando do Legislativo. Renan evita se pronunciar sobre o assunto, mas deixa claro que não acredita na volta de Jáder à presidência. Segundo ele, os próximos dias serão cruciais para resolver o impasse.
O coordenador da comissão, senador Romeu Tuma (PFL-SP), prometeu entregar o parecer na próxima quinta-feira. Ele e seus colegas, Jéfferson Péres (PDT-AM) e João Alberto de Souza (PMDB-MA), poderiam estender os trabalhos até o dia 17. Mas vão se esforçar para concluir as investigações a tempo de votar o parecer antes de Jáder Barbalho levar adiante sua idéia de reassumir a presidência.
Tuma e Peres estão dispostos a não entrar em choque com João Alberto, que, mais de uma vez, confessou a situação difícil em que se encontra por ter de decidir sobre o futuro político de um correligionário. Se ele mantiver essa linha até o fim, é praticamente certo de que vai apresentar um parecer separado, cabendo aos membros do Conselho de Ética escolherem entre uma ou outra posição.
Na próxima segunda-feira, Tuma vai ouvir, em Belém, o ex-diretor e o ex-gerente do Banpará, Hamilton Guedes e Marcílio Guerreiro, além de três pessoas que teriam sido beneficiados com recursos desviados do banco.
Colunistas
Pinga-Fogo - Inaldo Sampaio
“Por que só eu?”
Joaquim Francisco não está levando a sério pressões políticas para acelerar sua definição. Está decidido a disputar um cargo majoritário pelo PFL ou por outro partido, mas como o prazo para troca de legenda é 6 de outubro dispõe de tempo de sobra para amadurecer a sua decisão, e irá consumi-lo integralmente. Sobre sua suposta indefinição, criticada por várias lideranças, perguntou:
1) “Fernando Henrique já disse quem é o candidato dele a presidente da República?”; 2) “Garotinho é candidato a presidente ou a governador do Rio?”; 3) “Roseana Sarney é mesmo a candidata do PFL ou apenas emprestou seu nome para cacifar o partido?”; 4) “O PMDB terá candidato próprio ou vai se aliar ao PSDB?”; 5) “Marco Maciel será candidato a senador ou a deputado federal?”; 6) Ciro Gomes será candidato ou comporá uma chapa com Itamar?”
Mais: 7) “O PTB fica mesmo com Ciro Gomes ou poderá voltar para os braços do governo?”; 8) “Jarbas é candidato à reeleição, ao Senado ou vai para casa após concluir o seu mandato?”. Diante dessas múltiplas indefinições, o deputado não vê motivo algum para estar sendo cobrado sobre o seu futuro. Até porque, disse ele, não vai precipitar-se. Tem ainda 35 dias pela frente para aprofundar as suas conversas, e desse “script” não arredará o pé.
Ganhando corpo
O PFL começou a levar a sério a candidatura de Roseana Sarney (foto) à presidência da República depois da última pesquisa do instituto Sensus, em que ela apareceu em 3º lugar. Próxima quarta, segundo o líder Inocêncio Oliveira, os presidentes dos 27 diretórios regionais do partido irão reunir-se em Brasília com dirigentes do instituto “Vox Populi” para tomarem ciência do potencial de crescimento da governadora do MA. André de Paula (PE) vai estar lá.
Bezerros 1
“Ele não está só na sua luta porque faz um trabalho sério e digno”, disse ontem Laís Teixeira, presidente da Associação do Ministério Público de Pernambuco, sobre a atuação do promotor André Silvani na comarca de Bezerros. O prefeito Lucas Cardoso (PFL) se diz “perseguido” pelo promotor e representou contra ele na Corregedoria do MP.
Bezerros 2
Do advogado Dario Peixoto sobre o prefeito Lucas Cardoso (PFL) ter dito ontem que a cidade de Bezerros poderá transformar-se numa “nova Exu”: “Ele está desatualizado. Exu tem um passado de glórias que é pouco divulgado, perdendo espaço na mídia para a lembrança de uma guerra insana que acometeu suas famílias. Uma das quais, a minha”.
Fora do PPS mas fechado com Ciro Gomes
Carlos Wilson comunicou ao Senado seu desligamento do PPS e sua filiação ao PTB mas garantiu que continua apoiando Ciro Gomes para presidente da República. Lula, que já contava com o apoio dele, não deve ter gostado.
Com os olhos voltados para a segurança
Pedro Eurico (PSDB) ainda acabará secretário de Defesa Social. Próxima 3ª estará em Pesqueira com a CPI da Violência, para apurar a morte de dois índios, devendo também dar uma espiada no funcionamento da comarca.
Alheio ao ato
André Campos, presidente do PTB, estranhou as críticas do vereador Liberato Costa Júnior (PMDB) à sua pessoa por não ter comparecido, dia 24, a uma sessão em homenagem aos 47 anos da morte de Getúlio Vargas. “No partido não houve essa sessão e se ela ocorreu em outro local eu não fui convidado”, disse ele.
Marcha à ré
Marco Aurélio Medeiros, vice-presidente nacional da Força Sindical e coordenador regional do Centro de Solidariedade ao Trabalhador, será mesmo candidato a deputado estadual pelo PFL. Conversou com Marco Maciel sobre a possibilidade de sair do partido mas o vice-presidente não o liberou.
Co-autor do projeto de lei que obriga a Receita a corrigir em 35,29% a tabela do imposto de renda, Pedro Eugênio (PPS) entrou em pânico. É que o ministro Martus Tavares (planejamento) já avisou aos congressistas: se passar, cortará R$ 2 bi do OGU de 2002, basicamente nas emendas dos parlamentares.
No intuito de fustigar Roberto Magalhães (PSDB), o deputado Antonio Mariano (PFL) disse alto e bom som, ontem, na Assembléia Legislativa, que o “campeão de votos” em PE para a Câmara Federal será Inocêncio. O deputado José Augusto Farias (PSB), que estava próximo, emendou: “Só perderá mesmo pra Dr. Arraes”.
Zé Dirceu chega hoje ao Recife como candidato à reeleição à presidência do PT. Aproveita sua estada em PE para conversar sobre a gestão de João Paulo, que sofre questionamentos por parte de gente do próprio governo. Do sucesso ou fracasso das gestões petistas dependerá, e muito, o futuro de Lula em 2002.n
Cândido Miranda (Sindifisco) começa a perder força no seio da sua categoria. Isso ficou muito claro ontem durante a assembléia dos fazendários em que se analisou a contraproposta que foi oferecida pelo governo. Os que queriam o fim da “greve-tartaruga”, e foram derrotados, suspeitam que Miranda estaria a serviço de algum projeto político.
Editorial
Contra a intolerância
Começa, nesta sexta-feira, em Durban (África do Sul), a 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, sob os auspícios da ONU. O Brasil, país que padece de graves distorções de fundo social e étnico, participa do evento com delegação de 50 representantes e um programa que inclui propostas de políticas públicas para garantir o acesso de afro-brasileiros às universidades, inclusive com cotas de vagas; privilégios, nas licitações públicas, a empresas que empregam negros, homossexuais e mulheres; aprovação do Estatuto do Índio que tramita no Congresso Nacional; expulsão de invasores das terras remanescentes de quilombos; criação de um conselho nacional contra a discriminação racial; reconhecimento oficial, pelo Estado brasileiro, de que a escravidão de negros e índios, e a maginalização de seus descendentes, são violações aos direitos humanos; participação de atores negros na publicidade oficial; criminalização de toda discriminação baseada na opção sexual; campanhas de prevenção à violência contra mulheres e crainças; ações conjuntas do governo e iniciativa privada para dar maior acesso de representantes de minorias a vagas no mercado de trabalho.
Um programa bonito, que merece apoio, embora longe da realidade brasileira. Um ponto considerado polêmico é o das cotas de vagas em universidades; criadas nos Estados Unidos, nos ano 60, porque ali negros eram barrados nas escolas superiores com base unicamente na cor de sua pele. Para que negros, índios e outras vítimas de discriminação tenham nais fácil acesso à universidade, o caminho é a justiça social; oferecer oportunidades aos marginalizados, inclusive acesso pleno ao ensino fundamental e médio. Pelo menos, o nosso país se mostra aberto aos problemas e interessado em resolvê-los. Enquanto os EUA estão praticamente boicotando a conferência, para evitar atritos com aliados como Israel (os países árabes querem que se reconheça que Israel discrimina racialmente os palestinos e árabes em geral).
Estados africanos vão propor indenização para os descendentes de escravos traficados para as Américas durante cerca de 400 anos; a exemplo das indenizações concedidas a judeus espoliados na Europa, a japoneses detidos em campos de concentração, nos EUA, durante a 2ª Guerra Mundial etc. O ex-presidente Ahmed Ben Bella, líder da guerra de independência da Argélia (ex-colônia francesa), propõe que essa reparação se traduza em ajuda mais consistente aos países da África Negra. Ele acha que mais importante é o reconhecimento do tráfico de negros para as Américas e da escravidão como crime contra a humanidade; seguido de reparação em forma de contribuição efetiva para o desenvolvimento da África.
De fato, além de não ser fácil encontrar um meio de concretizar a indenização aos descendentes de escravos, uma reparação mais ampla se impõe, pois os países desenvolvidos se arrogaram o direito de colonizar (o que não está muito longe de escravizar) a África e boa parte da Ásia. Quando tiveram que trocar o domínio direto das colônias por controle econômico, deixaram plantadas ali sementes de guerras tribais infindáveis (que impossibilitam o desenvolvimento), traçando arbitrariamente as fronteiras dos novos países, misturando povos hostis ou dividindo territórios tradicionalmente reconhecidos como unidades. A Guerra do Golfo nunca teria acontecido se a Grã-Bretanha não tivesse criado o Kuwait, que sempre fez parte do Iraque.
A conferência é importante, embora seus bons efeitos demorem a aparecer. Reúne os 189 países que fazem parte da ONU. Seus organizadores esperam publicar declaração que garanta tratamento mais adequado e justo às minorias. A índia Azelene Kaingang, socióloga, representante das Organizações Indígenas do Brasil na nossa delegação a Durban, considera preconceituosa a legislação indigenista brasileira, que ainda vê o índio como incapaz, 501 anos depois do Descobrimento.
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08/31/2001
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