PSB apóia Lula e PFL vai de Serra
PSB apóia Lula e PFL vai de Serra
Alianças fechadas para o segundo turno não garantem, no entanto, apoio incondicional para os candidatos do PT ou do PSDB
O quadro para o segundo turno da eleição presidencial, no dia 27, vai se definindo e os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) conseguiram ontem ampliar suas alianças eleitorais. Lula recebeu a declaração de apoio de Anthony Garotinho, que ficou em terceiro lugar na disputa presidencial, e do seu partido, o PSB.
Na campanha de Serra, a principal conquista foi o apoio do PFL. A cúpula do partido se reuniu em Brasília para definir seu posicionamento no segundo turno e decidiu recomendar voto no tucano. Com isso, em caso de vitória de Serra, o PFL garantirá sua participação no governo.
Nos dois casos, entretanto, os apoios foram feitos com ressalvas. Antigas divergências políticas impediram tanto o PSB quanto o PFL de fecharem o apoio incondicional.
O PFL, que ontem decidiu recomendar o voto em Serra, foi obrigado a liberar todos os seus filiados que não concordarem com a decisão para apoiarem Lula contra o tucano.
A medida foi necessária para evitar um racha, já que importantes líderes regionais do partido, como os senadores eleitos Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Roseana Sarney (PFL-MA), se recusam a pedir votos para Serra. Em função de divergências com o PSDB ou pessoais com Serra, ACM apoiou Ciro e o clã Sarney ficou com Lula no primeiro turno.
O próprio presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, evitou dizer se iria trabalhar ativamente na campanha de Serra. Essa tarefa deve ficar com o pefelista mais próximo ao PSDB, o vice-presidente Marco Maciel, que se elegeu senador por Pernambuco.
Garotinho isola o PT
No caso de Garotinho, ele disse que apóia Lula, mas se recusa a subir no mesmo palanque onde estiverem os integrantes do PT do Rio, como a governadora Benedita da Silva, por exemplo.
Os dois, que se elegeram pela mesma chapa em 1998, romperam politicamente e se tornaram adversários na política fluminense. No domingo, a mulher de Garotinho, Rosinha, venceu Benedita no primeiro turno na disputa pelo governo estadual.
"Nós não vamos subir no palanque onde estiver o PT do Rio", disse Garotinho ontem, acrescentando que iria preparar palanques próprios do PSB para receber Lula em comícios durante a campanha do segundo turno.
O ex-governador do Rio e o presidente de seu partido, Miguel Arraes, declararam o apoio a Lula, mas a posição do partido deve ser oficializada somente hoje, após o encontro da Executiva Nacional, em Brasília.
Garotinho descartou completamente a possibilidade de apoiar Serra e disse que o PSB não ficaria neutro nesse segundo turno. "Há uma grande possibilidade da oposição ter um resultado extraordinário na eleição".
"Essa questão de apoiar o PT é nacional. Entendemos que essa questão nacional é prioritária para defender o nosso País. Esse governo Fernando Henrique Cardoso foi muito ruim, maltratou o povo brasileiro e nós não vamos apoiá-lo", disse. "Fiz a minha campanha à esquerda do Lula. Como iria apoiar o Serra?", perguntou.
Garotinho disse que não vai impor condições ao apoio, apenas vai deixar claro as diferenças entre os programas de cada legenda. Segundo ele, a intenção é marcar a posição do PSB sobre cinco temas: acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), Alca (Área de Livre Comércio das Américas), base aérea de Alcântara (no Maranhão), salário mínimo e o tratamento às Forças Armadas. Miguel Arraes iria se encontrar ainda ontem com o presidente do PT, José Dirceu, para expor os cinco pontos divergentes dos dois partidos.
Apuração chega ao fim
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou, ontem, às 10h, o fim da apuração da eleição presidencial (veja os números finais no quadro abaixo). A apuração durou 65 horas, tendo sido iniciada na noite de domingo, após o encerramento da votação em todo o País.
O resultado ainda não foi proclamado oficialmente pelo TSE porque os partidos ou os candidatos ainda podem pedir a recontagem dos votos.
O eleitor que não compareceu às urnas no domingo, tem até o final de dezembro para justificar o voto. Mas, no dia 27, data do segundo turno, pode votar para presidente e para governador, nos estados onde o pleito não foi ainda decidido.
Segundo a Justiça Eleitoral, o eleitor que deixar de votar em três turnos consecutivos terá seu título cancelado. Para quem estiver no exterior, o prazo de justificação é de 30 dias, contados do retorno ao Brasil, apresentando o bilhete de passagem de retorno e o passaporte. Se o eleitor não fizer a justificativa ou se o pedido não for aceito pela Justiça Eleitoral, será cobrada multa arbitrada pelo juiz.
Segundo turno sem debates
TVs descartam o pool para um único programa, como quer o PT. Serra volta a desafiar e criticar Lula
Tudo indica que o eleitor ficará sem debates entre os candidatos ao segundo turno da eleição presidencial. A divergência entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que quer participar de apenas um debate, e José Serra (PSDB), que aceita participar de três programas, não tem solução e as três emissoras (Record, Bandeirantes e Globo) não admitem a possibilidade de um pool para um único debate.
Ontem, Serra voltou a chamar Lula para participar do maior número possível de debates no segundo turno. O tucano criticou a afirmação do petista de que ele só poderia participar de um debate devido à falta de tempo na campanha. "Eu não creio que o candidato a presidente precise de dois dias para se preparar para o debate. Ou então, será que ele precisa primeiro aprender as questões para ensaiá-las? Estou estranhando a resistência do PT a debates. Qual é o problema? Há alguma coisa a esconder? Eu não creio", disse Serra, que ontem se reuniu com lideranças do PSDB, PMDB e PPB, para ampliar suas alianças para o segundo turno.
Mas o candidato do PT dificilmente aceitará participar de debates com Serra, na televisão. O presidente do partido, José Dirceu, disse ontem ao presidente do PSDB, José Aníbal, que é uma tradição nas eleições brasileiras quem está na frente da disputa não comparecer a esse tipo de evento, citando o exemplo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
As diretorias de jornalismo das três emissoras de televisão que agendaram debates entre os candidatos afirmaram ontem que ainda trabalham com a possibilidade de realização dos debates. Elas descartaram, no entanto, a possibilidade de formar pool para um único debate.
Nenhuma das emissoras havia recebido, até ontem, qualquer comunicação formal da anunciada mudança nos planos de participação do candidato petista, que havia se comprometido em comparecer aos estúdios da Bandeirantes, da Record e da Globo para debates no segundo turno. Na Record e Bandeirantes continuam agendadas reuniões marcadas para hoje com assessores da campanha de Lula, para discutir detalhes do debate.
A direção de jornalismo da Globo informou que aguarda, ainda esta semana, os assessores de Lula e de Serra para discutir as regras do debate. As emissoras se recusaram a comentar a possibilidade de formação de pool para um debate, proposto por Lula e Dirceu.
Estratégia é evitar ataques
Para cientistas políticos, a decisão de Lula de não participar de debate é uma estratégia política para evitar deslizes na reta final da campanha. Luiz Pedone, professor do Departamento de Ciência Política da UnB, compara este momento ao jogo final da Copa do Mundo de 2002.
"Quando o Brasil estava ganhando por 2x0, recuou, não precisava partir para o ataque", define o professor. Ele explica que qualquer deslize pode ser prejudicial ao candidato do PT. Para Pedone, é natural que José Serra parta para o at aque : "Ele está atrás nas pesquisas, está por baixo, então não tem nada a perder".
David Fleischer, também professor da UnB, acredita que o PT deve tomar muito cuidado com os prováveis ataques do tucano. Contudo, as acusações podem ser revertidas a favor de Lula. "Se o PT souber trabalhar nos eleitores a idéia de que Lula estará sujeito a muitos ataques nos debates, deve conseguir evitar o prejuízo".
Fleischer calcula que Lula precisa conquistar em torno de 10% a mais de votos do que obteve no primeiro turno. "Ele precisa ter uma reserva para se garantir, pois pode haver uma transferência de votos para o representante do PSDB", diz.
Segundo o advogado Humberto Ribeiro Soares, autor do livro Direito Eleitoral Moderno, não existe nenhum impedimento jurídico às exigências feitas por Lula. Ele acredita que as condições do petista são um pretexto. "Acredito que se ele não participar, possivelmente terá um prejuízo maior porque Serra vai se aproveitar para atacá-lo e colocá-lo em situações difíceis".
Lula degusta vinho que vale um Fiat
Com R$ 7 mil, um trabalhador poderia almoçar todos os dias, durante 19 anos seguidos, num dos restaurantes populares que existem hoje no Rio de Janeiro e e no DF, onde uma refeição completa sai por R$ 1. Um Fiat Mille 1997, um dos carros preferidos dos brasileiros, também custa R$ 7 mil.
É justamente esse o preço – R$ 7 mil – de uma garrafa do vinho Romanée-Conti, safra de 1997, que o candidato do PT ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, escolheu, na madrugada da última sexta-feira, para comemorar com amigos a sua participação no debate entre os presidenciáveis na TV Globo.
Junto com Lula, no restaurante Osteria Dell` Angolo – um dos mais caros do Rio –, estavam personalidades como o cantor Gilberto Gil e a atriz Giulia Gam. O vinho foi um presente de Duda Mendonça, o marqueteiro de Lula (que antes participou das campanhas de Paulo Maluf, em São Paulo).
O Romanée-Conti, degustado por Lula junto com seus companheiros de mesa, é conhecido simplesmente como "o vinho mais cobiçado do mundo". Ele é produzido na tradicional região da Borgonha, na França.
"Foi, sem dúvida uma bela escolha para uma comemoração especial", avalia Carolina Maia, uma das sócias da importadora Vintage, de Brasília. Segundo ela, contudo, uma pessoa mais experiente na mesa de Lula poderia ter alertado que a safra de 1997 é ainda muito jovem para ser consumida.
O certo, na avaliação de Carolina, seria ter pedido um Romanée-Conti de 1990, por exemplo. O único problema é que a conta ficaria quatro vezes maior. "De qualquer maneira, é um grande vinho, seja de que ano for", ressalta Carolina.
Nas lojas de Brasília, não é fácil encontrar um exemplar da garrafa escolhida por Lula. Isso porque a vinícola francesa só concorda em fornecê-lo para quem compra, também, todas as outras marcas da empresa, o que torna o custo praticamente inviável.
Mas quem quiser provar o Romanée-Conti, e tiver dinheiro sobrando no bolso, pode conhecê-lo nos restaurantes mais refinados da cidade, como o Piantella, da 202 Sul (que emprestou gentilmente, à reportagem do Jornal de Brasília, a garrafa que aparece na foto acima, da mesma safra degustada por Lula).
O Romanée-Conti foi descrito, pelo crítico Robert Parker, como uma bebida de "aromas celestiais e surreais". O especialista Marcelo Copello, por sua vez, o classificou como um vinho de "raça e finesse, com grande complexidade de aromas, fino, delicado, porém estruturado e complexo".
Pode parecer incrível, mas existem vinhos até mais caros do que o Romanée-Conti. É o caso, por exemplo, do francês Petrus, cujos exemplares mais antigos só podem ser comprados em leilões e "não têm preço", segundo os especialistas.
Roseana Sarney passa por uma nova cirurgia
Ex-governadora retira do seio nódulo que fora constatado em plena campanha para o Senado
A senadora eleita Roseana Sarney (PFL-MA) está internada no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde deverá ser submetida a uma cirurgia para a retirada de um nódulo no seio direito.
Roseana passa por exames para avaliar a extensão do nódulo. A cirurgia será realizada pelo médico José Aristodemo Pinotti, eleito deputado federal pelo PMDB de São Paulo. A operação deve durar cerca de duas horas e meia.
O nódulo no seio direito foi detectado há 15 dias por meio de um auto-exame. Em nota, Roseana disse que decidiu aguardar o resultado das eleições para evitar que o fato fosse explorado politicamente pelos adversários.
O drama das cirurgias e o sofrimento de Roseana Sarney são pouco conhecidos pela maioria. A partir dos 20 anos, a senadora recém-eleita fez 15 cirurgias, entre elas, a de retirada do útero e do ovário, também em 1998. Roseana chegou a declarar, no início deste ano, que tinha dúvidas de que sairia viva daquela operação.
A saúde também a fez interromper os estudos na Suíça. Voltou com 20 anos ao Brasil por problemas no útero. Em 1982, aos 25 anos, ficou sabendo de que não poderia ter filhos e até mesmo uma inseminação artificial era considerada gravidez de risco.
Tudo isso exige de Roseana cuidados rigorosos com a sua saúde. Ela realiza exames de sangue de dois em dois meses e faz um check-up completo a cada quatro meses.
Na primeira cirurgia, Roseana retirou um cisto no ovário. Depois disso, ela extraiu outro cisto do ovário e fez quatro cirurgias para retirar pólipos do intestino. Em 1982, a hoje recém-eleita senadora pelo Maranhão retirou um ovário.
Em 1998, em plena campanha para se reeleger governadora, foi operada em junho para a retirada de um nódulo do pulmão. E, em julho, fez uma cirurgia para retirar papilomas do seio direito e outra para a extração do útero, do outro ovário e das trompas. Dez dias depois, por causa de aderências intestinais no pós-operatório, sofreu uma nova intervenção cirúrgica. Dessa vez, foram retirados 40 centímetros do intestino.
Em 2000, voltou à sala de cirurgia. Em abril, foi operada para recompor uma fratura no joelho esquerdo e, em outubro, retirou um nódulo benigno do seio direito.
Ex-presidente promete subir no palanque
O senador José Sarney (PMDB-AP) chamou ontem de "cacoete de campanha" as declarações do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, de que só apoiaria o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, caso o petista não tivesse o apoio de Sarney.
"Eu vejo isso com uma certa surpresa, porque o governador Garotinho procurou-me no mês de maio, se não me engano, no dia 21, em minha casa, pedindo meu apoio e, ao mesmo tempo, tenho recebido dele e da sua esposa, a governadora eleita no Rio de Janeiro, Rosinha, as maiores demonstrações de apreço e consideração pela minha pessoa e pela minha atuação na vida política brasileira. De modo que eu acho que isso é apenas um cacoete de campanha", disse Sarney, no final da tarde, ao chegar ao Hospital Sírio Libanês para acompanhar a cirurgia de sua filha Roseana.
O senador garantiu porém, que vai subir no palanque de Lula, ao lado de qualquer outro político, mesmo Garotinho. "Eu não tenho restrição com ninguém. Estou fazendo meu apoio ao Lula independente de qualquer restrição pessoal, de qualquer problema de ajuste ou de compromisso. Meu compromisso é com o País, e isto me move, em termos de consciência, a apoiar o Lula", declarou.
Sarney afirmou que seu apoio tem um "valor significativo" para a campanha petista. Ele declarou também que tentará atrair colegas do seu partido. "Desde o início, disse que não concordava com a decisão do PMDB de apoiar o ministro José Serra, e o que eu vou fazer é reunir todos os companheiros que têm a mesma posição e conjugadamente adotarmos essa posição para ajudar na vitória do Lula", afirmou.
Preços sobem, diz IBGE
A inf lação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou um leve crescimento de agosto para setembro, mas seu núcleo, que leva em conta apenas os chamados preços livres, avançou pela terceira vez seguida este ano e se tornou o maior, desde março de 1999.
É o que mostram os cálculos do economista Ricardo Braule, um dos membros do conselho do Sistema de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Enquanto o IPCA avançou de 0,65% para 0,72% entre os dois meses, o núcleo saltou de 0,64% para 1,07%. Em março de 1999, dois meses depois da mudança de regime cambial ocorrida em 13 de janeiro, o núcleo medido pelo economista havia cravado 1,6%, depois de ter ficado em 1,3% no mês anterior. Braule explica que estes dois meses de 1999 foram "absolutamente atípicos" por terem sucedido a desvalorização do câmbio.
"A situação no front inflacionário não piorou pouco, mas drasticamente, já que o núcleo da inflação aumentou pelo terceiro mês consecutivo", comentou Braule. O economista avalia que o repasse do dólar aos preços foi um dos principais motivos de pressão. Segundo ele, não houve outro motivo para explicar a pressão.
Venda de carros importados cai
As vendas de carros importados caíram 13,8% em setembro em comparação ao mês anterior. Os dados foram divulgados ontem, no Salão do Automóvel de São Paulo, pela Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva).
As dez marcas afiliadas à entidade comercializaram 519 unidades no mês passado, o pior patamar registrado desde 1991.
No acumulado dos nove primeiros meses deste ano, as vendas estão em queda de 37,2% em comparação ao mesmo período do ano passado, com 7.356 veículos vendidos.
Fantasma da dívida assusta investidores
Só este mês, o governo terá de pagar R$ 3,1 bilhões e mercado teme desvalorização de títulos públicos
Somente este mês, o governo vai ter de desembolsar US$ 3,1 bilhões para pagar parte de sua dívida interna, indexada em dólar. Deste total, US$ 2 bilhões terão de ser pagos dez dias antes da eleição. O vencimento da dívida já está mexendo com o mercado. Ontem, o dólar foi negociado em alta de 3,88%, atingindo R$ 3,90 e fechando em R$ 3,875.
Para os economistas, esta alta é provocada pela especulação. "O fato de parte da dívida estar atrelada à moeda americana provoca nervosismo no mercado. Os bancos procuram fazer com que o dólar fique mais alto para ganharem mais", diz Carlos Roberto de Castro, presidente do Conselho Federal de Economia.
Os credores (especialmente os bancos) querem saber, neste momento, se o governo vai pagar sua dívida. Numa primeira tentativa, o Banco Central lançou títulos públicos no mercado para fazer a rolagem da dívida. Mas não obteve muito sucesso. Anteontem, o BC conseguiu rolar apenas 16,4% do valor que terá de pagar a seus credores.
O economista Miguel Ribeiro, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), explica que para protelar o pagamento da dívida, o governo teria de oferecer juros mais atraentes. Isto, segundo ele, não parece ser a vontade do BC e os credores também estão com medo de não receber lá na frente, por ainda não estar definido o cenário político para o próximo ano.
Para o economista Jorge Arbache, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, o governo deve rolar parte da dívida e pagar uma outra parte. O calote não é cogitado pelos economistas ouvidos pelo Jornal de Brasília. Eles também não acreditam que o vencimento da dívida venha trazer turbulência maior no mercado.
"A cotação do dólar deve cair nos próximos dias", acredita Miguel Ribeiro. A oscilação da moeda norte-americana, segundo ele, tem a ver com a especulação provocada também pelo quadro eleitoral que será definido no segundo turno.
O governo, segundo ele, tende a pagar a dívida com dinheiro do seu próprio caixa. Isto porque, se emitisse mais moeda para pagar o que deve, o governo estaria causando um outro problema: aumento da inflação.
A dívida pública interna brasileira totaliza R$ 870 bilhões, que representam 60% do Produto Interno Bruto (PIB). Os credores do governo são os próprios bancos, empresas e os aplicadores de fundos de investimento.
Fundos perdem aplicações
Para economistas, não existe o risco de que o governo altere regras dos fundos de investimento ou mexa com a poupança.
Temendo uma queda no valor dos títulos emitidos pelo governo, origem das perdas que sofreram no final de maio, os investidores estão fugindo dos fundos de investimento. A preocupação é que se repita a retração no valor de mercado desses títulos, que compõem a maior parte do patrimônio dos fundos.
Para os economistas, não existe o risco de o governo alterar regras dos fundos de investimento, e muito menos mexer na poupança, em face do vencimento da dívida pública interna. O aumento dos juros, para fazer a rolagem da dívida, também parece uma hipótese descartada pelo governo, pelo menos neste momento.
O BC determinou que os bancos aumentem de 50% para 75% o capital próprio em posições compradas em dólar. "Para se adequar à determinação, os bancos estão vendendo mais dólar. A medida adotada pelo Banco Central é correta e deveria ter feito baixar o dólar, mas isto ainda não ocorreu", lamenta o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro.
Além do calote, da rolagem e do pagamento da dívida, o governo tem ainda a alternativa de aumentar o compulsório dos bancos para cumprir seus compromissos financeiros. "O calote é muito pouco provável com qualquer presidente eleito", observa o economista Jorge Arbache, da UnB.
A hipótese mais plausível seria a rolagem, até diante da indefinição eleitoral. A idéia seria jogar a dívida para o próximo presidente.
O secretário do Tesouro Nacional, Eduardo Guardia, afirmou, ontem, que não tem visto problema na rolagem da dívida pública. Segundo ele, a procura por títulos públicos tem até aumentado, em razão da volatilidade do mercado.
Em média, o Tesouro tem colocado no mercado R$ 2 bilhões em títulos por semana. ''Isto mostra a recuperação do mercado de títulos públicos'', disse. Ele admitiu, no entanto, que a colocação ainda está abaixo dos vencimentos.
Empresas escapam de FGTS adicional
O Supremo Tribunal Federal concedeu ontem liminar pedida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), reconhecendo o direito das empresas de não recolher, no ano passado, 0,5% sobre a folha de pagamento e 10% a mais da multa por demissões sem justa causa. Essas contribuições estão previstas na Lei Complementar nº 110 e se destinam a cobrir parte das indenizações – as que estão sendo pagas agora – pelos expurgos nos saldos do FGTS ocorridos nos planos Verão e Collor.
Presidente convoca equipe econômica
Foi a preocupação com a nova disparada do dólar, ontem, que levou o presidente Fernando Henrique Cardoso a convocar a equipe econômica para uma reunião no Palácio da Alvorada, no final da manhã, seguida de almoço. O objetivo foi fazer uma avaliação dos últimos problemas, como crescimento do risco Brasil e alta da taxa da inflação, para que se pudesse discutir uma estratégia de ação. O governo começa a achar que essa fase poderá se estender durante todo o período do segundo turno.
Despencam lucros da Fiat no Brasil
Depois de fechar 2001 com lucro de R$ 225 milhões, a Fiat vive um ano difícil no Brasil e deverá encerrar 2002 com um resultado bem menor. "Fazer lucro não será fácil; devemos fechar no azul, mas num azul não muito forte", disse o superintendente da montadora na América Latina, Alberto Ghiglieno. O executivo não atribui a queda no lucro diretamente ao dólar, mas à retração total do mercado brasileiro de veículos . "O problema é que a alta do dólar gera um clima de incerteza no consumidor", explicou.
R$ 3 milhões para pesquisa com gás
O Ministério da Ciência e Tecnologia e o CNPq estão convocando os autores de propostas no âmbito do Programa de Estímulo à Fixação de Recursos Humanos de interesse dos Fundos Setoriais (Proset), para o setor de petróleo e gás natural (CT-Petro). Os recursos são da ordem de R$ 3 milhões. Os candidatos não poderão ter vínculo empregatício com entidades nacionais e atuarão em regiões consideradas mais carentes como Norte, Nordeste ou Centro-Oeste.
Artigos
Onde foi parar o Lula?
Sylvio Guedes
Quem viu o programa eleitoral de Lula pela TV pode confirmar. Não há ali operários, pobres, desvalidos, desdentados ou sem-terra. O Brasil do Lulinha paz e amor só tem espaço para os modernos escritórios onde seu staff de elegantes e globalizados intelectuais e acadêmicos pensam o novo Brasil socialista. Bah!
Queira ou não (e ele quer muito), Lula tornou-se parte da elite política brasileira. Aquela minoria que vive da política porque é graças a ela que conseguem estabelecer e ampliar suas diferenças em relação ao restante da população. É por meio da política que fazem valer seu estilo de vida.
Lula é hoje a própria imagem da prosperidade capitalista, da afirmação do modelo econômico e da democracia burguesa brasileira. Um filho de nordestinos fugidos da seca que veste ternos Armani, saboreia vinhos de 7 mil reais, distribui sorrisos e apertos de mão, beija as criancinhas pobres e doentes e mantém a filha estudando no exterior – como as princesinhas da elite que eram mandadas à Suíça para aprender boas maneiras. Lula anda em carrões com vidros fumê (o povo não o vê lá dentro) e motorista e viaja em jatinhos. Então, me digam: como diferenciá-lo de ACM? Pelas boas intenções? Delas, o inferno está cheio! Pelo passado? FHC foi socialista, lembram-se?
Tão gritante transformação torna irresistível a comparação de Lula com Napoleão, protagonista do clássico da crítica política A Revolução dos Bichos, do inglês George Orwell. Escrito há quase 60 anos, o livro conta como os animais de uma fazenda britânica rebelaram-se contra os humanos exploradores e, inspirados pelo slogan socialista "Todos os animais são iguais", assumiram os meios de produção e derrubaram a tirania humana.
Napoleão, um porquinho forte e audaz que assume o comando da fazenda (sátira de Stálin), começa revolucionário, intransigente, idealista e solidário. Termina o livro com os mesmos vícios dos humanos que tanto condenava.
Na terrível alegoria do capítulo final, Napoleão, já andando sobre duas patas apenas, usando cartola, fumando charutos e bebendo uísque, une-se aos antigos donos da fazenda para que os porcos possam explorar os outros animais. E o ideal revolucionário é reescrito na porta do estábulo: "Todos os animais são iguais. Porém, alguns animais são mais iguais que os outros".
Lula-lá nem chegou efetivamente lá, mas, para chegar lá, não hesitou em receber apoios dos donos da fazenda (ACM, Sarney, Quércia...). Beijado pela princesa do poder, o sapo barbudo de 89 se transformou no Lulinha paz e amor dos vinhos borgonha e dos ternos Armani. Quem sabe ele não vai agora ensinar regras de etiqueta ao sem-terra José Rainha? Semana que vem, falo de Serra.
Colunistas
CLÁUDIO HUMBERTO
Dirceu planeja presidir a Câmara
Sem descuidar da campanha do segundo turno, Lula e o presidente do PT José Dirceu desenham o esquema de poder, num provável governo petista. Reeleito em São Paulo com mais de meio milhão de votos e respaldado pela expressiva nova bancada do partido, Dirceu planeja candidatar-se à presidência da Câmara dos Deputados. A idéia é que ele seja parceiro de Lula no jogo do poder, e não apenas um assessor com fama de mandar mais que o chefe, mas demissível com uma canetada.
Fatura liquidada
Fernando Henrique aguardava ansioso, ontem, as primeiras pesquisas sobre o segundo turno. Ele acha que José Serra terá chance se tiver pelo menos 35% das intenções de voto, contra um máximo de 55% de Lula. Vantagem maior dos petistas – avalia FhC – torna a reversão impossível.
Ministro Palocci
Decidido: em caso de vitória de Lula, o coordenador do programa de governo do PT Antônio Palocci renunciará ao cargo de prefeito de Ribeirão Preto (SP), um dos maiores orçamentos do País. Deve ser o ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência da República.
Filho pródigo
Afastado da chefia da Agência Brasileira de Inteligência (sic) desde o escândalo do grampo telefônico no BNDES, o coronel Ariel de Cunto deve ter feito falta ao general Alberto Cardoso. Logo após a eleição do dia 6, ele foi chamado de volta à Presidência da República.
Bola fora
Perdeu a eleição para deputado estadual no Paraná o cartola Onaireves Moura (PSD), aquele que foi cassado na Câmara, em Brasília, e preso em Curitiba, acusado de tramóias na federação de futebol local. Usou um slogan que mais parecia confissão: "Devo tudo à bola". Teve 6.339 votos.
Filha de valor
Todos reconhecem o talento de Verônica Serra para os negócios, como ter sido sócia da IRR, holding sediada em Genebra para atrair investimentos. Mas não fica bem para a filha do candidato tucano ter no currículo participação na Via Katalix, empresa de e-commerce do grupo Telefónica.
Ausência
Exatos 4.955 eleitores pernambucanos queriam que um ilustre candidato do PST fosse eleito deputado federal. Seu nome: Ninguém.
BB não honra cheque...
O Banco do Brasil não honrou um cheque administrativo de US$ 11 milhões assinado por dois gerentes seus. Depositado, o cheque voltou: era roubado (alínea 28). Os gerentes pediram demissão e sumiram. O dinheiro também. O BB nem sequer prestou queixa à polícia e o prejuízo ficou por conta do cliente que confiou no banco: a Mobile IQ, empresa brasileira de software.
...e vira réu em processo
A Mobile IQ desenvolveu software para uma empresa americana e pediu para ser paga no Brasil. Com o dinheiro, comprou o cheque administrativo na agência de Água Rasa, São Paulo, assinado pelos seus dois gerentes. O BB não honrou o cheque e responde a processo por danos morais estimado em R$ 24,5 milhões, sem contar os US$ 11 milhões que se escafederam.
In vino, veritas
Rola a polêmica sobre o caríssimo vinho Romanée Conti que Lula bebeu para comemorar em Ipanema sua vitória no primeiro turno. A garrafa custou R$ 6 mil. Quem pagou a conta foi o marqueteiro Duda Mendonça, juram os assessores. Grana da campanha?
Dieta de votos
Em greve de fome contra supostos crimes eleitorais no Tocantins, o deputado tucano Paulo Mourão está revoltado é com a greve de votos do seu eleitorado. Politicamente confuso, Mourão transitou da UDR ao PSDB, ligando-se depois ao grupo político no estado que votou em Lula do PT.
Governo laranja
Com medo de perder para Luiz Henrique (PMDB) no segundo turno, Esperidião Amin (PPB) entregou o governo catarinense a Jorge Bornhausen e ao PFL. Tenta demonstrar, sem chances de êxito, que nada teve com o humilhante quarto lugar de Paulo, filho de Jorge, na disputa para o Senado.
Negócios eleitorais
As locadoras de automóveis festejam o período eleitoral. A Master Auto Rental, uma das maiores do setor, aumentou os negócios em 33%, por conta das campanhas. "Este período é o nosso Natal", comemora Eduardo Vannuchi, diretor da rede. O setor faturou R$ 1,89 bilhão no ano passado.
Lular é...
...não ter medo de subir em palanque. Depois de cair do seu, durante a campanha, Garotinho decidiu evitar o do PT. Taí uma boa desculpa.
Saddam na cabeça
Parece até o Ibope: pesquisa indica que 99.96% dos iraquianos aprovam o governo de Saddam Hussein. Os 0.04% restantes foram enterrados. Vivos.
Humor negro
Não se pode negar: a diretoria da TAM tem senso de humor. Ontem, a empresa - cujos aviões Fokker 100 andam caindo pelas tabelas e até peças das aeronaves se desprendem em pleno vôo – anunciou a intenção de abrir uma empresa de manutenção de aviões. Vai ter fila de clientes na porta.
Poder sem pudor
Bajulação perdedora
Armando Falcão era candidato do PSD ao governo do Ceará, em 1954, mas precisava da bênção do chefe do partido. Falcão foi à casa do velho:
- Senador, precisamos definir o vice. Entendo que deve ser o dr. Crisanto.
- Quem?
- Dr. Crisanto Pimentel, seu filho...
O velho deu um murro na mesa e se levantou, irritado:
- Chega de puxa-saquismo!
Falcão perdeu o vice e a eleição, para Paulo Sarazate (UDN).
Editorial
REVISÃO NA AGENDA DO GOVERNO
Seja quem for o próximo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva ou José Serra, ele terá de fazer da negociação sua melhor arma. Com o orçamento amarrado e pouca margem para manobras financeiras, a missão maior do próximo ocupante do Palácio do Planalto será preparar estruturalmente o País para uma inserção vantajosa no ciclo de crescimento global que deve ter início no fim do ano que vem.
Grande parte da arrecadação do Brasil está comprometida com pagamento de dívidas, e isso limita bastante a ação do presidente. As mudanças práticas para desonerar exportações e tentar distribuir benefícios já foram feitas pelo atual governo.
O que se inicia em 2003 deve retomar a agenda esquecida nos últimos anos: a das reformas. E para isso, é necessário entendimento com os parlamentares, pois são mudanças que não dependem de decretos e canetadas. Mexer nas estruturas tributária, previdenciária e política da Nação exige esforço político e responsabilidade. Dará muito trabalho, mas não há outra saída para que o País possa se tornar menos dependente de financiamentos externos.
O próximo presidente sabe que não terá um início de governo opulento, mas que poderá dar o primeiro passo rumo à modernidade. Lula e Serra devem ter bem clara sua missão, e espera-se que não caiam na tentação de prometer o impossível aos cidadãos brasileiros.
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10/10/2002
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