PSB negocia apoio a Lula em troca de alianças









PSB negocia apoio a Lula em troca de alianças
Para fechar acordo, socialistas querem que o PT dê aval a seus candidatos em 6 Estados

RIO – O comando nacional do PSB já esboça reservadamente as pré-condições para retirar a candidatura do governador do Rio, Anthony Garotinho, à Presidência da República, e apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com seu espaço de aliança nos Estados limitado pela decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que verticalizou as coligações, os socialistas exigem, para o casamento com os petistas, o apoio aos candidatos do PSB a governador no Rio – onde Garotinho tentaria a reeleição –, Pará, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Amapá.

Mesmo com as declarações públicas de Garotinho negando a possibilidade de reaproximação com o PT, o acordo começou a ser esboçado, sem alarde, e os contatos já foram iniciados. Numa conversa por telefone, na semana passada, com o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), Garotinho deu indícios de estar aberto a conversar. Pediu a Dirceu que contenha os ataques feitos ao seu governo pelo PT do Rio. Em outro telefonema, o presidente do PSB, Miguel Arraes, manifestou a Dirceu simpatia pela possibilidade de reaproximação com os petistas.

A direção do PSB tem recebido pressões de deputados, candidatos à reeleição, que temem as conseqüências, em suas campanhas, da decisão do TSE. Das seções do Rio Grande do Sul e de São Paulo têm sido feitos alguns dos mais fortes apelos pela união com o PT. Lançada para a corrida ao governo paulista, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), por exemplo, já admite nos bastidores apoiar o colega José Genoíno (PT) ao Palácio dos Bandeirantes. “Minha candidatura sofreu um forte abalo”, afirmou.

Um dos que não descartam a possibilidade de Garotinho desistir em troca do acordo nacional para preservar candidaturas socialistas nos Estados é o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa. “Apoiamos Lula em três eleições e seria fundamental o PSB, neste ano, mostrar o seu rosto; agora, num quadro desses, temos de fazer uma avaliação com o pé no chão”, disse Lessa, que não poderá reeditar, em seu Estado, a aliança que o apóia, formada pelo PSDB, PV e PDT.

O governador de Alagoas admitiu que a reaglutinação da esquerda, com a retirada de Garotinho, pode ser uma saída. “Essa decisão do TSE abre caminho para uma coligação que já estava descartada, porque todos tinham candidato próprio”, observou.

Mesa – Apesar das rusgas, a cúpula do PT admite a possibilidade de apoiar concorrentes do PSB em alguns Estados para reforçar a campanha de Lula com tempo na TV e palanques mais consistentes. “Do nosso ponto de vista, o que importa é restabelecer a mesa de diálogo com o PSB para construirmos uma aliança que governe o País”, argumentou o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP). “É fato que temos debilidades eleitorais em vários Estados e, assim, não podemos lançar candidatos próprios apenas na base do achismo”, completou Lula, esperançoso no acordo.

João Paulo contou que as conversas estão bem-encaminhadas e disse não temer conflitos no Rio, onde os dois partidos vivem às turras e a vice-governadora Benedita da Silva (PT) é candidata à sucessão de Garotinho. “Primeiro temos de montar um encaminhamento conjunto. Depois a gente vê os nomes para os governos”, comentou. Na prática, os petistas aguardam que Garotinho reivindique a vaga de vice na provável chapa encabeçada por Lula.

Ainda assim, alguns dirigentes do PSB repetem que a candidatura presidencial de Garotinho é irreversível. “Não tem retorno”, resumiu o presidente do PSB fluminense, deputado Alexandre Cardoso (RJ). Mas, enquanto ele insistia em que a primeira-dama Rosinha Matheus concorrerá ao governo do Rio, o próprio Garotinho afirmava que ela pode retirar-se do páreo para apoiar o PMDB, caso o partido lhe dê aval.

Garotinho se encontrou ontem com Arraes, em Brasília. Publicamente, declarou que não desistirá, embora admita estar recebendo pressões. “Mas essas pessoas não são a totalidade do PSB, e, num regime democrático, a maioria vence”, despistou. “Desistam da possibilidade de eu desistir: sou candidato e vou ganhar.”

Arraes, por sua vez, reconheceu as grandes dificuldades enfrentadas pela legenda. Mais: disse que na reunião da executiva nacional do PSB, a ser realizada hoje, tentará “convencer” pré-candidatos aos governos a manterem seus nomes nas disputas estaduais.


Itamar diz ter certeza de que FHC sabia de ação
Segundo governador, ministro da Justiça não tomaria decisão sem informar presidente

BELO HORIZONTE - O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, pré-candidato do PMDB à sucessão presidencial, disse ontem ter certeza de que o presidente Fernando Henrique Cardoso, ao contrário do que declarou, tinha conhecimento antecipado da ação da Polícia Federal no caso da empresa Lunus Serviços e Participações, de propriedade da governadora Roseana Sarney, presidenciável do PFL, e de seu marido, Jorge Murad.

Classificando como "mentira deslavada" a alegação de Fernando Henrique de que desconhecia o assunto, Itamar lembrou que já foi presidente da República e que sabe que o ministro da Justiça é o "chefe da Polícia Federal".

Para o governador, o ministro - no caso, Aloysio Nunes Ferreir, que confessou ter sido informado sobre a operação da PF na Lunus antecipadamente - "não comete nenhuma ação, por menor que seja, mas com grande reflexo, sem que o presidente da República saiba".

"Evidentemente, nenhum ministro da Justiça e nenhum presidente pode impedir uma ação determinada pelo Judiciário", ponderou Itamar. "Mas, dizer que não sabia, só se ele (Fernando Henrique) estava tomando banho e a água do chuveiro estava muito forte."

Elogios - Itamar fez, ainda, elogios a Roseana, com quem disse conviver "desde o tempo em que era senador". Ele disse que, caso a governadora opte por deixar a base de apoio ao governo, poderá ser aliada dele e de outros representantes das oposições.

"Ela continua uma mulher que defende o governo, porque o seu partido faz parte da base governamental, tem ministros do governo, portanto, ela só vota com o governo", disse. "Agora, se ela vier para a rua para defender as teses que as oposições defendem, não apenas eu, a gente vai ficar satisfeito.

Entretanto, é preciso que antes de falar tenha de haver a praticabilidade dessas ações", acrescentou.


Garotinho revela oferta de dossiê contra Roseana
BRASÍLIA - O governador do Rio, Anthony Garotinho, pré-candidato do PSB à Presidência, disse ontem que um interlocutor do governo federal o procurou para oferecer documentos que sugeriam a ligação da empresa da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), e de seu marido Jorge Murad, com desvios de recursos da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Garotinho garantiu que não ficou com os papéis porque não tem interesse em se envolver com "algo sem procedência".

O encontro de Garotinho com o suposto interlocutor do governo teria ocorrido poucos dias antes da operação de busca e apreensão comandada pela Polícia Federal na empresa Lunus Serviços e Participações.

"Uma pessoa do Rio de Janeiro me ofereceu os documentos e disse que tinha ligação com o governo federal", afirmou Garotinho, que não revelou o nome de quem o procurou. De acordo com o governador, alguns dos papéis continham informações que ele considerou de "baixo nível".

"Provavelmente, a pessoa bateu em outra porta", disse Garotinho, que assegurou ter recebido há quatro anos proposta semelhante para ter acesso ao chamado Dossiê Cayman - papelada falsificada que atribuía a propriedade de uma empresa em paraíso fiscal ao presidente Fer nando Henrique Cardoso, o senador José Serra (PSDB-SP), o governador Mário Covas e o ministro Sérgio Motta.


PFL se rebela e decide não votar CPMF hoje
Atitude, tomada em solidariedade a Roseana, vai atrasar cronograma de votação do governo

BRASÍLIA - O PFL se rebelou e resolveu não votar hoje a emenda constitucional que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 31 de dezembro de 2004. A decisão, tomada em solidariedade à governadora do Maranhão e sua pré-candidata à Presidência, Roseana Sarney, provocará um atraso de uma semana no cronograma de votação da emenda. Com isso, ocasionará à União uma perda de no mínimo R$ 420 milhões, equivalente à arrecadação semanal com a CPMF.

O PFL resolveu obstruir a votação do segundo turno da CPMF até amanhã, quando a executiva nacional do partido se reunirá para decidir se rompe com o governo Fernando Henrique Cardoso. Os pefelistas deixaram claro, no entanto, que votarão a favor da prorrogação da contribuição. "Vamos votar a favor da CPMF mesmo que o PFL venha a romper com o governo", garantiu seu líder na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE). "Só não queremos votar a emenda esta semana para deixar claro que há uma crise", completou.

A decisão de não votar a CPMF antes da reunião da executiva foi tomada durante reunião da bancada na Câmara com Roseana. Os deputados resolveram solidarizar-se com ela, contra a ação da Polícia Federal, que fez uma devassa na empresa de sua propriedade e de seu marido, o secretário de Planejamento do Maranhão, Jorge Murad.

Acordo rompido - O líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), no entanto, não concordou com a idéia de obstruir o segundo turno de votação da CPMF. Agripino argumentou que foi feito um acordo com o governo, que aceitaria retirar a urgência na votação do projeto de lei que prevê modificações na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em troca de garantir a aprovação rápida da prorrogação da CPMF. "Fizemos um acordo e acordo é para ser cumprido."

Surpreendido com a atitude dos pefelistas, os líderes governistas na Câmara fizeram um apelo ao partido para que desistisse da obstrução. "As candidaturas passam, mas Brasil fica e, por isso, interromper a votação agora não é um bom serviço para o País", chegou a argumentar o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG). "Mas sem o PFL fica muito difícil votar a CPMF", reconheceu.

A interrupção na cobrança é a principal preocupação do Palácio do Planalto.

"Estamos no fio da navalha do tempo e sem os votos do PFL não vamos conseguir aprovar a contribuição esta semana", reconheceu o secretário-geral da Presidência, ministro Arthur Vírgilio. "Como votar a CPMF sem os votos da maior bancada?", completou o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP).

Vácuo - Arthur Vírgilio chegou a ir até a casa de Roseana, para pedir-lhe que convencesse o PFL a voltar atrás. "Não sou eu quem decidiu isso e sim o partido", reagiu a governadora. "O PFL é um partido equilibrado e não está prejudicando o País em nada", completou. Para Aécio, o "vácuo" de uma semana sem cobrança da CPMF é um risco. "Pode ter gente se aproveitando disso para lavagem de dinheiro."

A prorrogação da CPMF precisava ser votada em segundo turno hoje pela Câmara para seguir para o Senado, presidido por Ramez Tebet (PMDB-MS), onde também tem de passar por duas votações. A emenda precisaria ser aprovada até dia 18 para que a prorrogação começasse a valer em 18 de junho. A vigência da atual CPMF termina dia 17 de junho e, como as contribuições só entram em vigor 90 dias depois de aprovadas, o governo contava com apenas duas semanas de tramitação. Agora, com a decisão do PFL, isso se tornou impossível.

O governo calcula que o custo do atraso de uma semana, em termos de perda de arrecadação, será de R$ 420 milhões. Técnicos da Câmara alertaram para o fato de que a perda de arrecadação pode chegar a R$ 840 milhões. O motivo é que o último turno de votação da emenda no Senado deve cair na Semana Santa, época em que o Congresso geralmente fica vazio.


Roseana ameaça abandonar campanha
Governadora quer que partido rompa com governo para continuar na disputa presidencial

BRASÍLIA - A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, fez um ultimato ao PFL: ou o partido rompe com o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso ou ela retira sua candidatura à Presidência. "Se o partido considera oportuno afastar-se do governo, vou disputar a eleição. Se o partido acha que deve permanecer, permita-me retirar minha candidatura", afirmou Roseana aos deputados e senadores das regiões Norte e Nordeste, de Minas e de São Paulo, com os quais se reuniu ontem. A declaração foi confirmada pelo líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN).

Para Roseana, no caso de o partido optar pela permanência no governo, seus companheiros estariam demonstrando preferência pela candidatura do senador José Serra (PSDB-SP) e desprezando a sua. Ela atribui a Serra, a alguns dos assessores dele e ao ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, a ação da Polícia Federal, que na sexta-feira apreendeu documento na empresa de que é sócia com seu marido, Jorge Murad.

A executiva nacional decidirá amanhã se opta por Roseana ou pelo governo.

Até agora, segundo Agripino, a quase unanimidade dos deputados e senadores garantiu apoio a Roseana, mas alguns pedem mais negociações.

Situação difícil - Agripino, que acompanhou a governadora em todas as reuniões com as bancadas, reconhece que o PFL está numa situação difícil. "Se ficarmos no governo, perderemos nossa candidata", afirmou o senador. O deputado José Carlos Aleluia (BA), secretário-geral do PFL, também participou de todas as reuniões e disse que o partido exige a demissão do ministro da Justiça. Segundo Aleluia, Aloysio é o maior responsável pela busca na empresa Lunus Serviços e Participações, da qual Roseana é dona, com 88% do capital.

O jurista Celso Bastos avaliou, em entrevista publicada ontem pelo Estado, que Roseana violou a Constituição ao permanecer na condição de sócia majoritária de uma empresa com interesses na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Só isso, segundo ele, seria suficiente para que fosse aberta contra ela uma ação civil pública.

Roseana disse que não responderia aos comentários do jurista, porque essa é uma atribuição de seus advogados. Afirmou ainda que, oportunamente, divulgará toda a relação de bens que possui.

Conseqüências - Como ocorre toda vez que uma grande crise atinge um dos partidos da base de sustentação do governo, o Congresso sofre as conseqüências.

Por causa das exigências de Roseana, a Câmara não conseguiu votar nenhum dos pedidos de urgência para a apreciação, hoje, de sete projetos para a segurança pública. Também não deve ser votada hoje, em sessão extraordinária, a emenda que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2004.

De acordo com os parlamentares que conversaram com a governadora, ela fez um apelo a eles para que não atrapalhassem a CPMF. "Não quero ser qualificada de chantagista", justificou.

Nas várias reuniões teve ontem com parlamentares - hoje é a vez dos representantes do Sul e do Sudeste -, Roseana mostrou-se muito firme, de acordo com os relatos dos deputados e senadores. "Se ficarmos fracos, haverá perda irreparável para o PFL", disse ela, segundo o deputado Pauderney Avelino (AM), vice-líder do partido. "Diante da firmeza dela, nós nos encorajamos", afirmou o deputado.


PFL prefere esperar para fazer avaliação de estrago
BRASÍLIA - A ação de busca e apreensão da Polícia Federal na empresa da governadora Roseana Sarney e a divulgação de que seu marido, Jorge Murad, é investigado por supostas fraudes na Sudam, provocaram abalos na candidatura presidencial do PFL. Até os mais otimistas acham que será preciso esperar algum tempo para medir o impacto do terremoto.

Às pressas, o PFL encomendou uma pesquisa para saber o alcance do estrago e se será possível reverter a situação, mostrando Roseana como vítima de uma "truculência do Estado". Para o ministro da Previdência, Roberto Brant, os adversários de Roseana usaram uma "bomba atômica" para atacá-la. "Quando a gente tem uma bomba atômica, de efeito tão devastador, não a detona; apenas avisa para o inimigo que ela existe e pode ser acionada." Brant identifica como adversários assessores do candidato José Serra, e livra o presidente Fernando Henrique Cardoso de qualquer envolvimento.

A idéia, por enquanto, é insistir na tese de que, por ser governadora, Roseana tem foro privilegiado e só o Superior Tribunal de Justiça (STJ) pode decidir a respeito de sua empresa. O mandado cumprido pela PF foi expedido pela Justiça Federal do Tocantins, que concentra as investigações da Sudam.

Para o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), o fato de não ter sido respeitado o foro privilegiado é o maior exemplo da "arbitrariedade cometida contra Roseana".


Sarney fará discurso para defender a filha e responsabilizar governo
BRASÍLIA - No discurso que fará hoje na tribuna, o senador e ex-presidente da República, José Sarney (PMDB-AP), vai responsabilizar o governo pela operação de busca e apreensão de documentos na empresa de sua filha, a governadora do Maranhão e presidenciável do PFL, Roseana Sarney, e de seu marido, Jorge Murad.

Ele dirá que tem provas do envolvimento de integrantes do governo no episódio e lembrará que, há cerca de dois meses, avisou o presidente Fernando Henrique Cardoso de que não aceitaria nenhum tipo de provocação contra a candidatura de sua filha.

Um senador que leu o discurso adianta que o tom é o de quem quer o rompimento do PFL com o governo - apesar de vir de um peemedebista. "Sarney vai defender que o presidente da não pode se omitir da responsabilidade sobre o que ocorre em seu governo, além de cobrar explicações do ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira", contou.

Amigo de longa data, o senador Edison Lobão (PFL-MA) disse que apenas uma vez viu Sarney tão indignado: "Foi quando ele deixou a presidência do PSD por se sentir traído pelo partido."


Artigos

Jovem voluntário, escola solidária
Frei Betto

Minha escola não é uma instituição destinada a formar, apenas, profissionais qualificados para o mercado de trabalho. Em seus pressupostos éticos e em sua metodologia pedagógica, procura formar cidadãos, e não consumidores; homens e mulheres altruístas, e não egocêntricos; pessoas abertas ao contexto social em que vivem, e não voltadas ao próprio umbigo.

A transmissão do patrimônio cultural está indissociavelmente vinculada à formação do caráter, segundo valores que nem sempre coincidem com os que regem a ideologia da competitividade a qualquer preço. Adota-se o primado da solidariedade. É uma escola cujos alunos editam um jornal; conhecem a vida familiar dos funcionários e procuram ajudá-los, como no reforço escolar de seus filhos; asseguram, em cada classe, uma bolsa-escola a um jovem empobrecido, graças a recursos de suas próprias famílias.

Minha escola é um centro conectado à comunidade circundante, de modo a reduzir a distância entre texto e contexto, saber e compromisso social, e introduz no currículo, como tema transversal, a cultura e a prática do voluntariado. É, portanto, uma Escola Solidária, que participa de campanhas de combate à fome, à aids, à dengue, etc. No inverno, recolhe agasalhos e os distribui aos desabrigados e, na época do Natal, coleta tudo aquilo que muitas pessoas guardam em casa sem fazer uso e, graças à venda daqueles produtos a preços módicos, ajuda o centro comunitário do bairro.

Não se restringe, porém, ao mero assistencialismo. Debate, entre professores, alunos, pais e funcionários, as causas dos problemas sociais; convida políticos de diferentes partidos para palestras; forma a consciência crítica; mantém contato com movimentos populares e ONGs vinculados aos excluídos; conhece as conexões que unem a conjuntura nacional à internacional. Organiza eventos ecumênicos com representantes de todas as denominações religiosas, favorecendo aos alunos uma boa formação quanto às espiritualidades vivenciadas pelo povo brasileiro.

Voltada à formação de cidadãos conscientes e participativos, a Escola Solidária empenha-se, a começar pelas populações empobrecidas que lhe são vizinhas, na alfabetização de adultos; incentiva os alunos a ler para idosos e enfermos, em asilos e hospitais; promove jogos e atividades esportivas com crianças carentes; oferece à comunidade serviços como horta e farmácia comunitárias; primeiros socorros; educação sexual, etc.

É também uma Escola Solidária, que ensina a preservar o meio ambiente, reciclar o lixo, economizar água e energia, promovendo excursões e campanhas contra todas as formas de poluição, da tóxica à sonora. Cada um de nossos alunos adotou uma árvore do bairro, mantendo-a sob cuidados e vigilância.

Ela jamais fica fechada um período do dia e, nos fins de semana, abre suas instalações para festas cívicas e religiosas; eventos comemorativos; gincanas educativas; atividades esportivas; cursos de formação para a cidadania; oficinas semiprofissionalizantes, como costura, culinária, chaveiro, bombeiro, cabeleireiro, manicure, massagens terapêuticas, fitoterapia, etc.

Forma os estudantes para situações de emergência, estabelecendo parcerias com instituições como a Defesa Civil, de modo a torná-los aptos a prestar ações solidárias em caso de enchentes, incêndios, seca prolongada, endemias (dengue), etc.

Nas férias e nos feriados, promove visitas de estudantes e professores a áreas carentes do município (favelas) e do País (Vale do Jequitinhonha, semi-árido do Nordeste, assentamentos agrícolas, etc.), desenvolvendo ali mutirões voluntários de educação para a cidadania, através de filmes, apresentações teatrais, vídeos, minicursos de primeiros socorros, higiene no lar, saúde, hábitos alimentares, direitos do consumidor, da criança e do adolescente, etc.

Onde fica essa escola que suscita, no jovens, iniciativas altruístas e voluntárias? Ora, por enquanto, tem endereço em minhas utopias pedagógicas.

Mas tudo indica que se transformará em realidade, pois no próximo dia 15 de março, às 10 horas, a ONG Faça Parte, monitorada por Milú Villela, fará o lançamento, na Assembléia Legislativa de São Paulo, do projeto Jovem Voluntário, Escola Solidária.


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

Soberania
Sim, a gente vai aprendendo. Aos trancos e barrancos, às vezes até lutando contra si mesmo: pois não há propriamente limites traçados, e ao mesmo tempo há uma profusão de limites, cuja legitimidade é difícil de discernir. A própria palavra democracia, como traduza-la literalmente? Vai-se ao dicionário: o velho Cândido de Figueiredo assim reza: "Soberania popular; governo do povo; influência do povo na governarão pública; classe social compreendendo o operariado e a população ínfima."

(Grego: demokrateia. Já Laudelino Freire diz: DEMOCRACIA (do grego demokratia) 1) governo em que o povo exerce a soberania; 2) A influência do povo no governo de um Estado. 3) Sociedade livre em que prepondera a influência popular. 4) O povo, as classes populares. 5) O partido democrático; a política ou a doutrina democrática.

O nosso inesquecível Aurélio repete a raiz grega, as definições dos livros mais velhos, e diz mais : "Doutrina política baseada nos princípios da soberania popular, e a distribuição eqüitativa de poder, ou seja: regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral pela divisão dos poderes e pelo controle da autoridade, i.e., dos poderes de decisão e execução." E, ainda o Aurélio: "Democratismo, ditadura. 3) País cujo regime é democrático. As classes populares, povo proletariado. Democracia autoritária (Ciência política) Sistema de governo surgido após a Primeira Grande Guerra, em geral anticomunista, firmado na supremacia do poder executivo em relação aos demais poderes. Democracia popular. Designação comum aos regimes políticos monopartidários, dominantes nos paises da área socialista."

São definições de gramáticos, claro. Mas mestre Aurélio, mais politizado, já fala de deformações de conceito de democracia, tais como a autoritária e a popular. Assim, como se vê, as definições não correspondem bem à realidade, a realidade é que tenta se adaptar às definições. D. Pedro II, o imperador democrático, convivia legalmente com a escravidão e, quando a aboliu, foi derrubado. E Getúlio, com a sua constituição "polaca", também se dizia democrata. Stalin, o mais sinistro tirano do século, se pretendia chefe de uma democracia popular.

Assim mesmo a gente insiste. Tergiversa num ponto, avança demais em outro, mas há sempre a intenção de acertar.

É, de vez em quando há um escorrego; esse assunto de censura, por exemplo, é justamente um dos mais delicados na convivência com a democracia. Até onde vai o seu direito de falar e a sua obrigação de calar a boca? Há aquela definição excelente que diz: "O direito do cidadão acaba onde começa o direito dos outros." Contudo, essa fronteira é vasta, porque, muitas vezes são fluidas, ou colidem. Como no caso de se recolher, ou não, em abrigos, durante a noite, os chamados meninos de rua. Eles têm o direito à liberdade de ir e vir; mas, sendo menores, não estarão sob a tutela dos pais ou do Estado? E o cinto de segurança? O cidadão não tem o direito de correr riscos, se assim quer? Mas a obrigação da lei é impedir o suicídio. E então? E o voto obrigatório? Será democrático obrigar o cidadão a votar? E o voto do analfabeto? Sendo o voto secreto e o eleitor analfabeto, como obrigá-lo a escolher numa lista impressa, o nome e o número do seu candidato - se é que ele tem candidato.

Na verdade, a conquista da democracia é quase tão árdua e inacessível quanto a conquista do Reino dos Céus. O mérito único do cristão e pecador é esforçar-se por alcançá-lo; mas chega a ser até presunção pecaminosa petender tê-lo obtido. Assim, no plano social, será democracia. A virtude está no esforço, na luta constante contra os abusos, as violências, no respeito ao ideal social. Como dizia o nosso hoje tão esquecido brigadeiro Eduardo Gomes: "O preço da democracia é a eterna vigilância..."


Editorial

A POLÍCIA MOSTRA RESULTADOS

Bem-sucedidas operações conduzidas pela polícia de São Paulo começam a transformar o ofício do crime, em suas várias modalidades, em atividade de alto risco. Ontem, depois de interceptar, com autorização judicial, conversas feitas em telefones celulares a partir de presídios onde ainda prevalece o Primeiro Comando da Capital (PCC), a polícia impediu que membros da organização criminosa, segundo as primeiras informações, assaltassem um avião que transportava valores, no aeroporto de Sorocaba. Os criminosos, com a ousadia de sempre, fretaram um ônibus e, com a cobertura de duas caminhonetes e duas motos, seguiam para Sorocaba quando foram interceptados pela polícia. No confronto, 12 bandidos morreram e 3 fugiram. Note-se que, desta vez, a polícia montou uma operação que envolveu cerca de 50 homens sem que houvesse vazamento de informação que facilitasse a fuga dos bandidos.

Essa operação bem-sucedida não é caso isolado. Nas últimas duas semanas os policiais paulistas capturaram seis quadrilhas especializadas em seqüestros.

Anteontem foi presa a "quadrilha do Capão Redondo", assim chamada porque nesse bairro moravam os líderes do bando que seqüestrava moradores da Granja Julieta e do Brooklin. No sábado, policiais de Suzano prenderam dois seqüestradores e libertaram a refém, uma estudante de 16 anos. Poucas horas depois os demais integrantes da quadrilha foram presos. Na sexta-feira, a Polícia Militar prendeu duas mulheres e três homens quando seqüestravam pai e filho em Santo Amaro. Na semana passada policiais civis de Osasco prenderam todos os integrantes de uma quadrilha de seqüestradores libertando a refém, uma diretora de escola. No começo da semana passada, duas outras quadrilhas também tinham sido presas, uma delas responsável por vários seqüestros na região do ABC e na de Rio Grande da Serra.

A polícia mudou seus métodos de atuação depois do seqüestro e assassinato do prefeito Celso Daniel. O esclarecimento desse caso, bem como a prisão de Wanderson Nilton de Paula, o Andinho - com o que se esclareceu também o caso do assassinato do prefeito de Campinas, Toninho do PT -, passou a ser ponto de honra para a polícia. As polícias civil e militar passaram a trabalhar em mais estreita colaboração. O policiamento ostensivo aumentou. Formaram-se forças-tarefas para elucidar casos mais complicados e os resultados não tardaram.

Como os fatos estão provando, a polícia de São Paulo tem profissionais competentes. O trabalho que estão desenvolvendo é o primeiro passo para a reabilitação da imagem de uma instituição cuja capacidade e integridade eram postas em dúvida pela população até poucas semanas atrás. Essa reabilitação exige cortes profundos para limpar as corporações dos maus profissionais que se deixaram corromper. Tramita, na Assembléia Legislativa, um projeto de iniciativa do Executivo que abrevia o processo de exclusão dos maus policiais das fileiras da Polícia Militar. Aprová-lo rapidamente será a melhor contribuição que o Legislativo poderá dar ao esforço de recuperação da imagem e da eficiência da polícia.


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03/06/2002


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