PSDB corre para obter apoio do PFL a Serra



 





PSDB corre para obter apoio do PFL a Serra
Preocupação é o risco de vitória de Lula já no primeiro turno, caso Ciro ou Garotinho desistam

BRASÍLIA - Os estrategistas da campanha presidencial do PSDB já estão trabalhando um "plano B" na corrida sucessória. Avisam, porém, que o plano alternativo não envolve a troca do candidato José Serra por outro tucano, como sugeriu a cúpula do PFL na semana passada. Assustados com a subida de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto, tucanos e peemedebistas querem reforçar a candidatura Serra com o apoio do PFL o mais rápido possível. O reforço só no segundo turno pode vir tarde demais.

"Temos de evitar surpresas e estar preparados para liquidar a disputa já no primeiro turno, se possível", diz o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), ao salientar que os pefelistas "jogam" num segundo turno que pode não acontecer. O PSDB quer se precaver contra uma mudança no cenário da disputa, capaz de dar novo impulso à candidatura do PT. Diante das pressões para que o candidato do PSB, Anthony Garotinho, desista da candidatura - somada à crise na Frente Trabalhista que abriga o candidato Ciro Gomes (PPS) -, os tucanos temem que a eleição acabe sendo decidida no primeiro tempo. Não são os únicos.

"Se houver alguma desistência no campo da oposição, em favor de Lula, o risco de a eleição se definir no primeiro turno será grande", concorda o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP). À mesma conclusão chegou a cúpula do PFL. O partido encomendou pesquisas sobre dois novos cenários temidos pelo PSDB: Ciro ou Garotinho fora da disputa.

Com apenas três candidatos, o resultado foi um só. Nas duas simulações em que Ciro ou Garotinho não aparecem, a preferência por Lula, hoje na faixa dos 47%, sobe a no mínimo 54%. "A leitura desses números é a vitória de Lula no primeiro turno", resume o secretário-executivo do PFL, Saulo Queiroz.

'Cabine de luxo' - Nenhuma conversa com os pefelistas até agora foi conclusiva. O clima hostil a Serra ainda é predominante. Foi o que deixou claro o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), que arrancou gargalhadas da platéia pefelista, em meio a uma sisuda reunião de cúpula, com uma frase de deboche: "Nesse Titanic eu não embarco nem em cabine de luxo."

A cabine de luxo que setores do PSDB acenaram ao PFL foi a possibilidade da vaga de vice de Serra, opção que o candidato já descartou. Ao mesmo tempo em que o candidato tucano garantia a aliança preferencial com o PMDB no fim da semana, os pefelistas insistiam na tese de que não há quem (ou o que) faça o PFL apoiar Serra integralmente.

Não é bem assim. Um importante pefelista conta que o comando partidário está sendo pressionado por empresários, banqueiros e investidores ligados ao PFL, que temem o cenário do turno único, com Lula na cabeça. Segundo o político, os que preferem ver Serra na Presidência têm procurado o presidente nacional do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), com apelos em favor da recomposição da aliança. Argumentam, sobretudo, que a candidatura Garotinho não deverá se sustentar.

Má vontade à parte, o sinal claro da distensão no relacionamento entre tucanos e pefelistas foi dado em São Paulo esta semana. Lá, os dois partidos fecharam aliança na corrida estadual, em torno da reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin, e do senador Romeu Tuma (PFL). Um alento para o líder do PSDB no Senado, Geraldo Melo (RN), que alerta para o fato de que as alianças não podem ser feitas apenas em função de duas posições, a Presidência e a Vice-Presidência.

"Eu defendo o cumprimento do compromisso do PSDB com o PMDB, assegurando-lhe a vice, mas me integro na linha de pensamento dos que consideram que a presença do PFL é fundamental", diz Melo. Ele avalia que é necessário e urgente que a candidatura Serra ocupe o espaço político hoje reservado ao presidente Fernando Henrique Cardoso. "O PFL é importante não só por sua força política, mas também porque representa um canal para grande parte do eleitorado que votou em Fernando Henrique e cuja fixação com a candidatura José Serra é prioridade para nós", completa o líder.


Planos do PT esbarram na herança de Garotinho
Um mês após assumir governo do Rio, Benedita enfrenta greve, críticas à PM e ataque de petistas

RIO - O PT completa amanhã seu primeiro mês no governo fluminense.

Com dificuldades de caixa e sem o domínio da máquina, a administração petista vive as contradições de um partido de oposição que virou governo.

Não conseguiu o fim da greve do magistério, que completará dois meses, revogou aumentos de algumas categorias e enfrentou uma rebelião contra o assassinato de uma criança, supostamente por um policial.

"Não estamos abrindo mão de nossos princípios: quem teve aumento justo, como os professores, vai receber", diz o secretário de Educação, William Campos, da corrente Articulação. Ele não vê contradição entre o discurso tradicional do partido e o que tem sido feito. Os petistas atribuem boa parte dos problemas à herança que receberam do ex-governador Anthony Garotinho (PSB).

Os professores e funcionários da área estadual de ensino exigem o pagamento de planos de cargos e salários, cujo cumprimento ganharam na Justiça. O PT aponta como um avanço a nova disposição de negociar com os grevistas, uma vez que Garotinho não recebia o sindicato da categoria. Mas, no Diário Oficial do dia 30, Benedita publicou um novo decreto com outro cronograma para o pagamento do plano, de acordo com a faixa salarial, variando de 3 a 12 meses.

Para o Sindicato Estadual de Profissionais de Ensino (Sepe) foi uma medida autoritária, que prejudicou as negociações.

Campos alega que o decreto foi baixado pois, após 30 de abril, é vedada a concessão de aumentos. O secretário-executivo do gabinete de Benedita, Marcelo Sereno admite, porém, os limites da proposta: "Claro que o decreto é pior que o do ex-governador. Ele não tinha responsabilidade com pagamento."

Benedita pediu que a Assembléia devolvesse mensagens enviadas pelo antecessor sobre plano de cargos e salários do funcionalismo e sustou reajustes de cinco categorias.

Na área de segurança pública, mais contradições. Uma operação da Polícia Militar na Favela da Grota, na Zona Norte, resultou na morte de Marcelo Apolinário Nunes, de 11 anos. Moradores se rebelaram, depredaram ônibus e enfrentaram a PM. Ironicamente, o incidente foi no dia em que o governo lançou um plano de segurança, que tem entre as prioridades reduzir balas perdidas.

Burocratas - No PT fluminense, até agora pacificado, começam a surgir críticas. Afirma-se, por exemplo, que o governo não sabe negociar com grevistas. Para o deputado Chico Alencar, que integra a corrente Refazendo, rival da Articulação de Benedita, o argumento de falta de recursos não satisfaz. "Como colocaram burocratas que não são petistas em setores-chaves, a transparência, a exibição dos gastos, não aconteceu."


Idéia é um 'despropósito', diz Sarney
Preocupado em resgatar estilo magistrado, senador se considera incapaz de sentir ódio

PARIS - Para o senador José Sarney (PMDB-AP), que está em Paris, é um "despropósito" falar em bancada do ódio na próxima legislatura do Congresso. "Tenho absoluta incapacidade para o ódio", afirmou o senador, o mesmo que há dois meses fez um discurso irado no Senado contra o governo.

Sarney continua convencido de que sua filha, Roseana, foi vítima de uma armação política - "o País sabe disso" -, mas hoje parece mais preocupado em resgatar a imagem do ex-presidente de estilo magistrado. "Guardo maior respeito pelo cargo que ocupei", diz. "Não seria a estas a lturas que iria rever minha atitude."

Estado - A eventual eleição de nomes como Jader Barbalho, Antonio Carlos Magalhães, Fernando Collor e Roseana Sarney dará maior visibilidade ao Senado?

Sarney - O Senado reúne nomes expressivos da política brasileira, ex-governadores, ex-ministros de Estado, um ex-presidente da República, para não falar de outras figuras com longa experiência na vida pública. Cada um se comporta da maneira que melhor lhe convém. É um despropósito pensar-se numa unidade de procedimentos entre as pessoas, tendo como pretexto o ódio contra o adversário. No meu caso, mesmo quando certas amizades se dissolvem, o que é natural na vida dos políticos, continuo respeitando as pessoas pelas quais tive estima.

Estado - Mas um eventual governo Serra não poderia atrair uma bancada do ódio no Senado?

José Sarney - Os horizontes não apontam para a eventualidade de tal governo.

Pelo menos, as pesquisas de opinião pública não deixam antever isso. No mais, como já disse tantas vezes, tenho absoluta incapacidade para o ódio.

Estado - A bancada do ódio não poderia surgir e prosperar no quadro do novo Congresso?

Sarney - Acho que isso não tem nenhum sentido, até porque a premissa dessa proposta é absolutamente descabida, já que é baseada no pressuposto de um governo que as pesquisas continuam não prevendo. A situação sucessória está longe de ser definida.

Estado - O senhor considera o episódio da Lunus superado?

Sarney - Não quero tratar desse assunto. Em suma, tudo vai ser esclarecido.

Estado - Como será a atuação da família Sarney?

Sarney - Essas generalizações a propósito da família Sarney são impróprias, para não dizer orientadas. Há outras famílias que possuem vários de seus membros integrados na vida política, sem que se dê a elas essa visão clânica, tribal. Quanto à Roseana, ela sempre caminhou com seus próprios pés. Tem seu próprio destino e vai continuar exercendo a parcela de liderança que obteve na vida pública, independentemente de qualquer orientação minha. De qualquer forma não creio na constituição de um bloco com essa natureza particular, tendo como motivação o espírito de ressentimento que nunca alimentamos. Roseana foi vítima de uma armação política, o País sabe disso.

Estado - O governo não será um alvo permanente?

Sarney - Eu seria parcial, estaria atentando contra a realidade política do momento, pior, contra a vontade soberana dos eleitores que ainda não se pronunciaram nas urnas, se ousasse predizer que governo o Brasil terá no próximo ano.


Com 'São Paulo', Brasil entra para clube restrito
É um dos oito países com o poder de fogo da aviação naval embarcada

O porta-aviões A-12 São Paulo, da Marinha do Brasil, é o único de sua classe no continente. De certa forma, o navio coloca o País no restrito clube das nações que podem contar com o estratégico poder de fogo da aviação naval embarcada.

Em todo o mundo apenas oito marinhas mantêm porta-aviões: as dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, Itália, Espanha, Índia e Brasil. A Argentina aposentou na década de 90 o veterano 25 de Mayo, contemporâneo do igualmente desativado Minas Gerais. Ambos são versões leves desenvolvidas por estaleiros ingleses nos anos 40.

Em operação plena, o A-12 São Paulo será o líder de um Grupo de Batalha formado por navios diversos como contratorpedeiros, fragatas lança-mísseis e submarinos. Sobre a frota de combate, haverá no futuro aviões de controle do espaço aéreo do tipo R-99A de alerta avançado, baseado na plataforma do ERJ-145, da Embraer. Esses jatos eletrônicos sairão de bases em terra.

O A-12 desloca 32,5 mil toneladas, leva 1.030 tripulantes mais os 670 integrantes da unidade de aviação.

O caça embarcado é o jato AF-1 Skyhawk. A Marinha comprou no Kuwait 23 unidades do pequeno, robusto e ágil subsônico americano. Equipado com tanques extras, dois canhões de 20 mm, bombas, mísseis ou foguetes pode atingir alvos a 800 quilômetros de distância. O 25 de Mayo argentino empregou o Skyhawk nos anos 80. Uma de suas hipóteses de ataque era o bombardeio a portos e bases militares no sul do Brasil.


Com 'São Paulo', Brasil entra para clube restrito
É um dos oito países com o poder de fogo da aviação naval embarcada

O porta-aviões A-12 São Paulo, da Marinha do Brasil, é o único de sua classe no continente. De certa forma, o navio coloca o País no restrito clube das nações que podem contar com o estratégico poder de fogo da aviação naval embarcada.

Em todo o mundo apenas oito marinhas mantêm porta-aviões: as dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, Itália, Espanha, Índia e Brasil. A Argentina aposentou na década de 90 o veterano 25 de Mayo, contemporâneo do igualmente desativado Minas Gerais. Ambos são versões leves desenvolvidas por estaleiros ingleses nos anos 40.

Em operação plena, o A-12 São Paulo será o líder de um Grupo de Batalha formado por navios diversos como contratorpedeiros, fragatas lança-mísseis e submarinos. Sobre a frota de combate, haverá no futuro aviões de controle do espaço aéreo do tipo R-99A de alerta avançado, baseado na plataforma do ERJ-145, da Embraer. Esses jatos eletrônicos sairão de bases em terra.

O A-12 desloca 32,5 mil toneladas, leva 1.030 tripulantes mais os 670 integrantes da unidade de aviação.

O caça embarcado é o jato AF-1 Skyhawk. A Marinha comprou no Kuwait 23 unidades do pequeno, robusto e ágil subsônico americano. Equipado com tanques extras, dois canhões de 20 mm, bombas, mísseis ou foguetes pode atingir alvos a 800 quilômetros de distância. O 25 de Mayo argentino empregou o Skyhawk nos anos 80. Uma de suas hipóteses de ataque era o bombardeio a portos e bases militares no sul do Brasil.


Wall Street mantém cautela em relação ao Brasil
Bancos alegam que só estão protegendo os clientes, diante da alta de Lula nas pesquisas

Na semana passada, um solavanco dos mercados deixou os presidenciáveis brasileiros de cabelo em pé. Quase em sintonia, três bancos e a maior corretora do mundo puseram um pé atrás em relação ao Brasil, depois que duas pesquisas seguidas indicaram um avanço inesperado do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas intenções de voto.

No balanço da semana, o dólar subiu 1,56%, chegando a R$ 2,41. A bolsa caiu 3,56% e o C-Bond, o título da dívida externa brasileira mais negociado, perdeu 2,2%. Candidatos acusaram os bancos americanos de tentar manipular o mercado e influenciar as eleições brasileiras.

Na verdade, a atitude dos bancos não foi excepcional. Bancos e corretoras mudam suas recomendações de investimento o tempo todo e era até surpreendente que estivessem tão otimistas com o Brasil até agora, com Lula - cujo partido tem uma história de defesa da moratória da dívida externa - subindo nas pesquisas eleitorais.

Mas o efeito Lula não acabou de vez com o otimismo do mercado em relação ao Brasil. Enquanto a corretora Merrill Lynch e os bancos Morgan Stanley, ABN Amro e Santander rebaixaram suas recomendações para o País na semana passada, quatro outras instituições financeiras (ING Barings, J.P. Morgan, Barclays e Dresdner) reafirmaram suas apostas otimistas.

Índice - Todos os bancos que recomendaram menos investimentos em títulos brasileiros ao longo da semana estavam aconselhando uma superexposição ao Brasil anteriormente. Os bancos usam como referência um índice que agrupa títulos da maioria dos mercados emergentes, o EMBI, compilado pelo J.P. Morgan. A proporção de títulos de cada país nas carteiras dos bancos e de seus clientes difere do EMBI conforme as oportunidades de investimento que cada investidor prefere perseguir.

Até a semana passada, e sses bancos que "rebaixaram o Brasil" estavam recomendando uma exposição maior que a do EMBI para os títulos brasileiros, aconselhavam o investidor a ficar overweight - ou acima do peso - nesse investimento. Esse otimismo fez a cotação do título da dívida externa renegociada, o C-Bond, aproximar-se recentemente de 83,5% do valor de face, o maior nível desde antes da crise russa, em meados de 1998.

O que os bancos fizeram foi reduzir suas recomendações para neutra, ou marketweight, dentro do peso do mercado. Ou seja, passaram a recomendar que os investidores tenham na carteira o mesmo volume que o Brasil representa no EMBI: 23,17%. Estariam pessimistas se recomendassem menos que isso.

O banco holandês ABN Amro reagiu à indignação dos políticos brasileiros, alegando que está só protegendo o investimento dos seus clientes, o que é sua obrigação. Bombardeados nos últimos tempos não só por terroristas, mas também por seus clientes e as autoridades americanas, por não terem previsto choques como o estouro da bolha de ações de tecnologia e o colapso da Enron, seja por incompetência ou interesse próprio, os bancos de Wall Street não estão em condições de ousar em suas recomendações de investimento.

A Argentina - cuja moratória foi amplamente alardeada muitos meses antes de realmente acontecer, permitindo que grande parte dos investidores estrangeiros retirasse seu investimento antes do colapso - já sentiu o peso dessa nova realidade em Wall Street. Portanto, o Brasil, apesar de todo o otimismo, provavelmente não poderá contar muito com a velha exuberância irracional de Wall Street neste ano de eleição.

Um típico investidor em títulos de países emergentes consultado pelo Estado conta que vendeu parte dos seus títulos brasileiros há duas semanas, mas manteve o resto durante a "tormenta" atual. "É claro que a gente sempre se arrepende de não ter vendido quando os preços caem", diz o investidor.

"Lula deve ser levado a sério. Não se deve achar que ele vai necessariamente perder como sempre", opina. O investidor, que falou no anonimato, diz que não considera Lula "um demônio', mas teme "que ele não seja apto para a tarefa". Então, diz, o Brasil está sendo sábio em "testá-lo antes de elegê-lo ou derrotá-lo, mesmo que isso pressione os mercados financeiros".

Pergunta- O investidor diz que gostaria de perguntar duas coisas ao candidato: "Sr. Lula, se fosse confrontado com a situação que (Fernando) de la Rúa (ex-presidente argentino) enfrentou no ano passado, o que teria feito?"

Segunda pergunta do investidor: "Se for eleito em outubro, e os juros dos eurobônus brasileiros estiverem em 15%, o que o senhor faria? Reestruturaria a dívida? Pediria ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI)? Usaria as reservas para pagar a dívida externa e se voltaria ao mercado doméstico para obter crédito? Declararia moratória?"

Para o investidor, se o candidato do PT respondesse com slogans dogmáticos, mostraria que não está preparado para o cargo. "Mas, se ele mostrar que entendeu como os mercados de crédito funcionam, e que aceitou a lógica do mercado, talvez o Brasil possa sobreviver caso Lula seja eleito. O perigo real é esperar até a eleição para responder à última pergunta."


Artigos

A terceira liberdade
Fernando Pedreira

Hoje é dia de eleições. Na França, e não, ainda, no Brasil. Mas o que está acontecendo por lá, neste exato momento, não deixa de ser um relevante exemplo, também para nós, brasileiros.

Quem ganha? Parece não haver sombra de dúvida de que ganha Chirac; resta saber por quanto.

Quarta-feira última, dia 1.º, em Paris, as passeatas contra Le Pen reuniram mais de 1 milhão de pessoas. A passeata a seu favor, a favor do ultradireitista, embora posta sob a proteção de Joana d'Arc, não passou dos 10 mil.

Mas passeatas, ainda mais em Paris, cidade-mãe de todas as passeatas, são uma coisa; outra coisa são eleições no país inteiro. Não custa fazer as contas. No primeiro turno, a ultradireita (Le Pen, Megret) teve, em números redondos, 20%; um significativo avanço, em relação a resultados anteriores.

A direita clássica, vale dizer, liberais e neoliberais (Chirac, Bayrou, Madelin), recebeu 30%. A esquerda oficial, moderada (Jospin, Chevenement, Hue), 25%. E a extrema esquerda, trotskista (de onde, ironicamente, veio o próprio Leonel Jospin quando moço), cerca de 10%. Os verdes e os nanicos levaram o resto.

A partir desses números de base, corre o pleito de hoje, que é, obviamente, menos uma eleição pró-Chirac do que contra Le Pen. Na verdade, Chirac tem desta vez aquilo que sempre quis ter e, até agora, não havia podido alcançar: a oportunidade de representar a França inteira, contra a extrema direita, supostamente a anti-França. Tal como, em 1940, aconteceu com seu falecido mentor e chefe, Charles de Gaulle, que se opôs ao marechal Pétain.

Há 62 anos, De Gaulle representava uma pequena minoria rebelde, exilada em Londres. Mas dessa pequena minoria nasceu a vitória e, mais tarde, a União Européia, contra a qual se ergue Le Pen. As multidões que desfilaram em Paris, quarta-feira, indicam o caminho da Europa e do mundo, mas nem por isso se deve deixar de reconhecer que nem tudo está bem no melhor dos mundos possíveis. É provável que o resultado final das urnas de hoje não deixe de registrar, entre a minoria perdedora, não só o radicalismo reacionário de Le Pen, mas os descontentamentos e perplexidades de muitos, não só na França, mas em toda parte.

A moda, hoje, é ser cético e descrente, mas não há dúvida de que vivemos tempos exaltantes e fecundos. Ainda há três ou quatro semanas, na London Review of Books, um ensaio do professor Quentin Skinner, de Cambridge, nos falava do "terceiro conceito de liberdade", fundamento da democracia e da moderna cidadania. Skinner é um ensaísta meticuloso e paciente. Contradita as teses, em geral dominantes, de Hobbes (e de Isaiah Berlin) e vai buscar a democracia e a liberdade em suas raízes romanas; em Tácito, Tito Lívio, Salústio.

No Digesto da lei romana, ensina ele, somos, em primeiro lugar, informados de que, diante da lei, as pessoas ou são escravos ou cidadãos livres. Vem, a seguir, uma definição formal de escravidão: "Escravidão é uma instituição da lei das nações por força da qual, contrariamente à natureza, certos indivíduos são sujeitos ao domínio de outros indivíduos." Daí decorre, segundo o mesmo texto, uma definição de liberdade individual. Se, numa sociedade civil, somos todos ou livres ou escravos, então um cidadão livre deve ser aquele que não está sob o domínio de nenhum outro e é, portanto, capaz de agir segundo seu próprio juízo ou direito.

Foi esse entendimento da liberdade política que levou ao choque, no século 17, lembra Skinner, entre o Parlamento e a Coroa e à fatal crise de 1642 que resultou na queda e posterior execução de Carlos I. O Parlamento, isto é, a representação popular, queria assumir o controle da milícia. O rei anunciou que, se uma lei nesse sentido fosse adotada, ele a derrubaria com seu poder supremo, no caso chamado de Negative Voice, um veto absoluto e irrecorrível.

O Parlamento não se conformou e suas razões foram expostas nas Observações publicadas por Henry Parker, em julho daquele ano. Se a Coroa pode bloquear a legislação com sua Negative Voice, escreveu ele, isso reduz o Parlamento a um estado de dependência diante da vontade do rei. Submetemos a seu juízo soberano e supremo vidas, liberdades, Leis e Parlamentos e assim assumimos, na verdade, a condição de servos ou escravos...

A essência da discussão, diz Skinner, está em que a liberdade é restringida pela dependência - o que importa numa maneira nova de ver as relações entre a liberdade dos cidadãos e a constituição do Estado, que deve refletir a vont ade da maioria. Decorre daí a convicção - crucial não só para a revolução inglesa do século 17, mas para as revoluções americana e francesa do século seguinte - de que só podemos ter liberdade individual se vivermos numa república autogovernada. Viver como súditos de um soberano é viver como escravos, conclui Skinner.

Lembra ainda o professor a adoção pelo Congresso americano da Declaração de Independência, de Thomas Jefferson, em julho de 1776. A Declaração consagra os direitos do homem e do cidadão, mas por que é dita de Independência?

Independência de quê? Independência - responde o professor - da Coroa britânica, da qual os americanos eram, até ali, dependentes. Eis aí o que justifica e explica a revolução americana. Se você depende da boa vontade de um terceiro para exercer seus direitos, conclui-se que - mesmo no caso em que seus direitos sejam respeitados - você está, na verdade, vivendo em estado de servidão.

Eis aí o terceiro conceito de liberdade. Não há liberdade verdadeira se há dependência; se a liberdade deixa de ser um direito do cidadão para ser uma graça, uma mera concessão do poder soberano. Tácito, lembra Skinner, chama ainda a atenção para o fato de que a servidão leva inevitavelmente ao servilismo e conduz a nação inteira à atrofia moral e a uma abjeta condição de subserviência e medo.

Eis aí o que parece especialmente oportuno assinalar num momento como o atual, ainda dominado pelas repercussões do 11 de setembro de 2001 e pela excessiva rigidez das atitudes conseqüentemente assumidas por Bush e por seus assessores da Casa Branca. É possível que o susto provocado na opinião pública européia e ocidental, pelo primeiro turno das eleições francesas, seja, afinal, salutar e benéfico e nos conduza a uma reação mais consentânea com os princípios políticos que estão na raiz da democracia ocidental.


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

As várias faces da violência
Diz todo mundo, mostra-se na TV, que São Paulo, Rio - e todas as grandes cidades brasileiras atravessam uma fase de incrível violência. As pessoas se matam nas ruas, nas favelas e nas avenidas, como o cinema conta que se matava em Chicago de Al Capone.

É verdade. Mas o pior é que não é só aqui. Não é um fenômeno particular. A violência ataca o mundo inteiro. Agora mesmo, a Alemanha, ainda está em estado de choque com a chacina no colégio Gutenberg, em Erfurt: um ex-aluno, revoltado porque fora expulso pela falsificação de um atestado médico, em apenas l5 minutos disparou 40 tiros na escola, matando 16 pessoas, entre alunos, professores e funcionários do colégio, suicidando-se depois.

Alguns dos 12 professores foram mortos como numa execução: o garoto assassino exigiu que eles ficassem de joelhos antes de matá-los com um tiro na cabeça.

Depois dessa tragédia, que abalou toda a Alemanha, retorno às aulas, agora, é sob o domínio da tensão e do medo: de repente, os professores começaram a levar a sério ameaças de alunos descontentes com notas baixas. Num ginásio de Varel, perto de Bremen, a prova de conclusão do curso foi realizada sob forte proteção policial: o diretor do ginásio recebeu uma carta em que um aluno ameaçava suicidar-se e levar com ele o maior número possível de alunos e professores. A carta revela que o autor é um fanático religioso. Ele disse que faria tudo por ordem de Deus.

No Oriente Médio - Europa, França e Bahia - só se briga, só se mata - é só tocar com o dedo um ponto do mapa-múndi, e se vai encontrar sempre sangue correndo, fogo queimando.

E daí? Mas será que não foi sempre assim? As guerras foram sempre o tema dominante na História. A verdade é que desde que o mundo é mundo, vivemos sob a marca da violência. Todo bicho maior usa o direito de matar o bicho menor, e os do mesmo tamanho batalham mortalmente entre si. Até no lar, doce lar. Mamãe castiga o bebê. Como? Com uma palmada. Ele não sabe falar, mas sabe que dói: violência educativa. Aliás, tudo não começou no Gênesis, quando o primeiro filho do primeiro casal humano matou o irmão? Eram só eles dois, mas eram dois machos, Caim sentiu que devia acabar com Abel para ficar o senhor da futura tribo.

Sim, hoje a violência é demais, e isso é terrível. A gente tem medo de mandar as crianças para a escola, de deixar os filhos adolescentes saírem para o futebol, morre-se de medo quando os jovens se juntam num bar, à noite, para um chopinho. Quem tem família tem medo de tudo! E com razão, o medo é justificado. Grande parte dos pais já teve a prova amarga na própria carne.

E volto à minha velha tese: esse agravamento da violência no mundo inteiro é porque tem gente demais neste dito mundo. Até as florestas da Amazônia, da África, da Austrália fervilham de índios, de negros, de "aborígines", como diziam os ingleses colonizadores. Os quinhões de terra e comida para cada um vão ficando cada vez menores, mais magros, e então se briga.

E isso sem falar na situação dramática dos espaços urbanos. E fora a violência pelo espaço e pelo pão, ainda existe a violência pela pura diversão, como espetáculo. Haverá nada mais brutal do que uma tourada? E o boxe? Milhares de pessoas enlouquecidas ante dois brutamontes seminus, se matando aos socos?

Nas batalhas modernas acabaram-se os combates a espada e lança, depois que se inventou a pólvora. E depois se inventou a dinamite, ainda mais mortífera. E logo se chegou à bomba atômica: uma só mata milhões. E se ainda se mantém uma paz relativa, em muitas partes da Terra, é porque uns têm medo dos arsenais dos outros. Já pensou na quantidade imensa de explosivos que existe armazenada nesses arsenais espalhados por todo o mundo? Daria, talvez, para liquidar não só com o nosso planeta, mas com todo o sistema solar!

Nos hinos e nos discursos, nas pregações religiosas clamamos que "somos todos irmãos". Verdade. Somos irmãos, desde Caim e Abel.


Editorial

UM GOLPE CONTRA O COMÉRCIO AGRÍCOLA

A lei agrícola aprovada pelos deputados federais dos Estados Unidos, na quinta-feira, é mais uma grave ameaça ao comércio internacional e a milhões de famílias que têm na agropecuária, em todo o mundo, um meio de sobrevivência. A maior parte dessas famílias vive em nações em desenvolvimento e muitas delas sairiam da pobreza, segundo o Banco Mundial, se pudessem vender seus produtos em condições mais justas.

Mas a lei americana, que ainda será votada no Senado, é prejudicial também aos contribuintes e à maioria dos pequenos agricultores dos Estados Unidos. Os verdadeiros beneficiários são grandes proprietários e grandes empresas, que ficarão com a maior parte dos US$ 180 bilhões que o governo destinará ao agronegócio nos próximos dez anos, US$ 73,5 bilhões a mais do que o montante previsto antes dessa lei. Os subsídios estimulam a superprodução e derrubam os preços internacionais.

Dois dos mais importantes jornais americanos condenaram o projeto. O Washington Post publicou quinta-feira um editorial intitulado "Parem a lei agrícola", classificando os subsídios como "enormes e improdutivos". Segundo o New York Times, a nova lei será "um lamentável retrocesso a algumas das piores políticas do passado".

A política americana ameaça não só as economias menores e mais pobres, mas também as que vêm investindo intensamente para ganhar eficiência e competitividade. No Brasil, o superávit comercial do agronegócio deve chegar este ano a US$ 21 bilhões, 10% mais que o do ano passado, segundo projeção do governo federal. Em 1996, o saldo foi US$ 12,1 bilhões.

Confirmado o desempenho previsto para 2002, terá havido um crescimento de 75% em 7 anos.

Em 20 anos, a produção nacional de grãos e oleaginosas praticamente dobrou, enquanto a área cultivada quase não cresceu. Também houve um aumento notável de eficiência na produção animal. Se o agronegócio brasileiro depender apenas de sua eficiência, poderá continuar, nos próximos anos, ocupando espaços crescentes no mercado mundial. Mas sua expansão poderá ser prejudicada pelas barreiras comerciais e pelos subsídios mantidos no mundo rico. A alteração dessas políticas, defendida pelo Brasil e por dezenas de outras nações em desenvolvimento, poderá ser muito dificultada, nos próximos anos, pela ação unilateral dos Estados Unidos.

Congressistas americanos, sensíveis a um lobby que representa principalmente grandes agricultores e empresas que aparecem na lista das maiores da revista Fortune, vêm-se esforçando para impedir a liberalização do comércio agrícola. No projeto de lei sobre Autoridade para Promoção Comercial, que dará ao Executivo poderes para negociar acordos internacionais de comércio, os congressistas embutiram uma lista de 297 produtos sujeitos a restrições.

Segundo os funcionários da Representação Comercial dos Estados Unidos, encarregados da negociação de acordos, nenhum produto será previamente excluído de qualquer discussão, mas é evidente que os entendimentos serão dificultados na OMC e na Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Os negociadores europeus terão igualmente problemas para negociar a liberalização agrícola, mesmo que tenham interesse nesse resultado. O assunto está sendo tratado nas conversações entre União Européia e Mercosul.

A pressão dos agricultores europeus contra a abertura é muito forte. No começo da campanha eleitoral francesa, o presidente Jacques Chirac passou seis horas e meia no Salão da Agricultura de Paris.

Nem o acordo agrícola da Rodada Uruguai de negociações comerciais, encerrada em 1994, vem sendo cumprido. Nos Estados Unidos, o subsídio aos produtores de soja foram multiplicados por quatro em cinco anos, embora, pelos acordos, não pudessem ter aumentado. Se essa regra fosse respeitada, não se poderia acionar até dezembro de 2003 os países que subvencionassem a agricultura.

Esse dispositivo, denominado Cláusula de Paz, foi violado. O Brasil pode acionar os Estados Unidos na OMC, mas o governo, embora com pareceres favoráveis, ainda não iniciou o processo.

O que está esperando?


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05/05/2002


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