Reflorestadores querem política específica para o setor



Em audiência pública da Comissão de Revitalização do Rio São Francisco realizada nesta quarta-feira (5), Antônio Pontes Fonseca, diretor-presidente da empresa Calsete Siderurgia reivindicou a implantação de uma política florestal que assegure linhas de crédito com taxas de juros e prazos de carência "compatíveis com a atividade de reflorestamento". Caso contrário, alertou ele, em poucos anos haverá falta de carvão vegetal para a produção do ferro-gusa, largamente utilizado no Brasil nos setores automotivo, siderúrgico e petroquímico, entre outros.

Antônio Fonseca, juntamente com José Batuíra de Assis, secretário-executivo da Associação Brasileira de Florestas Renováveis (Abracave), e Luis Eduardo Furiati Lopes, diretor-executivo do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer) advertiram para o fato de que atualmente Minas Gerais - o estado que mais produz ferro-gusa no país, refloresta apenas cerca de 30 mil hectares, enquanto colhe em torno de 150 mil hectares/ano.

- Esse quadro poderá nos levar a um "apagão" no setor, dentro de cinco a seis anos - afirmou José Batuíra de Assis.

Apesar de Minas Gerais empregar técnicas de reflorestamento reconhecidas como as mais modernas mesmo a nível internacional, Antônio Fonseca denunciou, com a concordância dos outros dois convidados, a existência de "um forte preconceito" contra o reflorestamento e "mais ainda em relação ao eucalipto". Citando artigos publicados por professores das universidades de Agronomia de Viçosa e Lavras e da Universidade de São Paulo, ele procurou rebater "os mitos contra o eucalipto".

Ao contrário do que se divulga, explicou, o eucalipto não produz ressecamento e perda da fertilidade do solo e a morte de animais, assim como o carvão vegetal não é nem nunca foi responsável pelo desmatamento de florestas naturais. Prova disso, acrescentou Antônio Fonseca, é que Minas Gerais, apesar de ser o maior produtor nacional de carvão vegetal, possui, atualmente, uma área de florestas naturais maior do que as de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, onde não existe essa atividade.

José Batuíra de Assis ressaltou que, entre os anos de 1995 e 2002, o reflorestamento teve uma participação de 10% nas exportações, assegurou 500 mil empregos diretos e 6,5 milhões de indiretos, respondendo por aproximadamente 8,5% da ocupação da população economicamente ativa. Para ele, enquanto o Brasil teve uma política de incentivos fiscais voltada para o setor, as atividades de reflorestamento atingiram 6 milhões de hectares, hoje reduzidos a 4,8 milhões.

O senador Waldeck Ornélas (PFL-BA), relator da comissão, observou que, ao contrário da sua expectativa, que era a de ouvir respostas para a conservação das matas ciliares na bacia do Rio São Francisco, defrontou-se com um novo problema, o das dificuldades para o reflorestamento.



06/06/2002

Agência Senado


Artigos Relacionados


Representantes dos povos do cerrado querem política específica para o bioma

Proposta de lei específica para o setor teatral será debatida na CE

GERALDO MELO APELA A FHC POR POLÍTICA ESPECÍFICA PARA O NORDESTE

Representantes de cinco regiões debatem política específica para quilombolas

Representantes do setor ferroviário querem parceria para o sistema melhorar

Técnicos querem política habitacional para o país