Relatório deverá incriminar cerca de 70 parlamentares



O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), confirmou nesta terça-feira (8) que o relatório final a ser lido a partir das 9h desta quinta-feira (10) deverá considerar culpados cerca de 70 parlamentares acusados de pertencer à "máfia das ambulâncias", o esquema montado para vender veículos superfaturados a prefeituras contando com emendas de congressistas ao Orçamento da União.

O relatório, que deverá ser votado apenas na terça-feira (15), será concluído até esta quarta-feira (9) ao meio dia, a fim de que possa começar a ser impresso a partir das 14h. Para Biscaia, o relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), está de posse de informações e provas que dão toda a segurança à comissão para avaliar a participação no esquema dos cerca de 90 parlamentares denunciados e que foram convocados a prestar esclarecimentos.

As últimas dúvidas foram sanadas nesta terça durante depoimentos do principal envolvido no escândalo, Luiz Antonio Trevisan Vedoin, sócio-proprietário da Planam, empresa baseada em Cuiabá. Por vontade própria, Vedoin chegou a Brasília na segunda-feira, dizendo-se disposto a permanecer até a sexta. Trouxe provas contra cinco parlamentares em torno dos quais havia algumas dúvidas quanto ao recebimento de propinas, de acordo com o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE). Provas contundentes contra outros três serão entregues à CPI pelo juiz federal de Mato Grosso encarregado do caso, Jefferson Schneider.

A presença de Vedoin em Brasília, depois de um depoimento de sete horas na semana passada, não foi bem vista por Biscaia, que já considerava o caso devidamente esclarecido, e temia que a insistência em detalhes pudesse dar espaço à defesa de parlamentares com participação bastante evidenciada. Em virtude dessa possibilidade, Biscaia alertou o empresário sobre o risco de perder os benefícios da delação premiada prometidos pela Justiça. As reuniões de hoje entre Vedoim e membros da CPI serviram para sepultar essa desconfiança.

O resultado positivo da vinda do empresário a Brasília, segundo o presidente da CPI, foi o esclarecimento de pontos de divergência entre o primeiro depoimento à CPI e o que deu à Justiça Federal de Mato Grosso. Em relação a oito parlamentares, as incoerências foram definitivamente sanadas em conversa de Vedoin com o relator de sistematização, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Em princípio disposto a permanecer na cidade, o dono da Planam foi convidado por Biscaia a voltar a Mato Grosso já na noite desta terça-feira (8), já que aqui chegou a ser "assediado" por parlamentares no restaurante do Meliá. Biscaia manifestou preocupação com a segurança de Vedoin.

- Vedoin é um arquivo vivo, e estamos dando proteção a ele por meio da Polícia Federal - disse Biscaia.

Sigilo

O presidente da CPI dos Sanguessugas mostrou-se satisfeito com o fim do sigilo em torno das investigações do esquema das ambulâncias por parte da Justiça Federal, conforme ofício enviado à comissão pelo juiz Jefferson Schneider. Em tese, agora só estaria sob sigilo o conteúdo dos 57 inquéritos que correm sobre o caso no Supremo Tribunal Federal. Como as informações e provas constantes desses inquéritos também já foram obtidas pela CPI, o sigilo total na prática acabou.

Biscaia é de opinião que esse nível de transparência dará mais elementos imprensa e à sociedade para tomar conhecimento de um amplo esquema de corrupção que envolveu parlamentares, prefeitos e empresários, além de assessores e familiares de deputados e senadores, e geriu fraudulentamente cerca de R$ 150 milhões, numa avaliação preliminar.

O presidente da comissão explicou que nesta fase a CPI se concentrará na atuação dos parlamentares na venda de ambulâncias. As investigações em torno da participação de autoridades do Poder Executivo ficará para uma segunda fase, mas ele não adiantou se será depois das eleições de 1o de outubro.

08/08/2006

Agência Senado


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