Ruralistas rejeitam Lula
Ruralistas rejeitam Lula
Os grandes produtores rurais acreditam que Lula traria intranqüilidade ao setor, caso eleito presidente da República, segundopesquisa encomendada pela Confederação Nacional de Agricultura (CNA) ao Instituto Vox Populli. Setenta e oito por cento dos entrevistados disseram que Lula poderia comprometer o aumento da produção agrícola. De acordo com o levantamento, 31% dos entrevistados disseram que o ministro da Saúde, José Serra, traria menos incerteza ao setor. Ciro Gomes (PPS) ficou em segundo lugar, com 27% e a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), em terceiro lugar com 21%. Cerca de 36% dos produtores acreditam que Ciro é o pré-candidato que conhece melhor os problemas do setor e 39% acham que Lula é o que mostra menor conhecimento. A pesquisa foi realizada com 12,5% dos produtores rurais (13.486 ao todo), que controlam 85% da produção agrícola brasileira e 75% da produção pecuária nacional.
PT discute prévias
A possibilidade de disputa prévia entre Lula, Suplicy e o prefeito de Belém Edmilson Rodrigues dominará a discussão no encontro do partido, no Recife
Apesar de não estar oficialmente na pauta do 12º Encontro Nacional do PT, a discussão sobre as prévias para a escolha do candidato do partido à presidência da República deve ofuscar outros debates, como a definição da política de alianças para as eleições de 2002 e as propostas para o programa de governo. Até domingo, cerca de 600 delegados petistas vão discutir estas e outras questões em Recife. Ainda não há consenso sobre a necessidade de se realizar prévias. Até agora dois candidatos estão inscritos para a disputa: o senador Eduardo Suplicy (PT) e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. Lula, o favorito, líder de todas as pesquisas eleitorais, continua o clima de suspense.
Existe um grupo que não vê necessidade de disputa porque Lula aparece nas pesquisas com mais de 30% das intenções de voto e poderia se desgastar ao disputar uma prévia. Já um outro setor do partido apóia a atitude de Suplicy e Rodrigues porque acha que uma disputa entre possíveis candidatos petistas teriam a função de ‘‘oxigenar’’ o partido.
Ontem, em Recife, o presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, deu sinais de irritação com a possível manutenção das prévias.‘‘O problema não é saber se vai ter prévias ou não. A pergunta que tem de ser feita é se o partido tem dúvidas de quem deve ser o candidato a presidente’’, ressaltou. O PT encontra-se em uma situação delicada porque o partido não pode simplesmente dispensar as prévias. Faz parte da tradição petista escolher os respectivos candidatos desta forma e uma escolha fora desse critério seria considerada antidemocrática.
O melhor caminho seria convencer Suplicy e Edmilson a desistirem da disputa, mas os dois dão sinais de que não pretendem recuar. O senador paulista já preparou um discurso onde explica aos delegados os motivos de sua inscrição. Já o prefeito de Belém tem chamado de autoritário o grupo de Lula, a tendência ‘‘Articulação’’, que domina a direção do PT. ‘‘Se o companheiro Edmilson quiser fazer debate programático, ele vem aqui, discute, vota-se e aprova-se. O que não dá, e isso é grave, é o prefeito querer uma prévia para marcar posição’’, criticou Lula.
Para ganhar tempo, o presidente do PT de São Paulo, Paulo Trateshi, pretende propor a prorrogação da data limite para a inscrição de candidatos marcada inicialmente dia 17 de dezembro. A idéia é fixar a data em fevereiro porque as prévias estão marcadas para o dia 3 de março. ‘‘Se houver um esforço para Suplicy e Edmilson desistirem, os dois acabam cedendo’’, disse um membro do partido.
Lula promete não ‘‘mover nem uma palha’’ sobre a possibilidade de o partido adiar a data de inscrição dos pré-candidatos. O que se comenta nos bastidores do encontro é que o seu nome será inscrito à sua revelia. Presidentes de diretórios estaduais farão a inscrição no domingo, quando Lula já tiver deixado Recife.
Governo remaneja R$ 1,2 bi
O governo liberou ontem R$ 1,2 bilhão em recursos orçamentários para os ministérios gastarem ainda neste ano. As áreas mais beneficiadas foram: Integração Nacional (R$ 311 milhões), Desenvolvimento Urbano (R$ 309 milhões), Saúde (R$ 274 milhões) e Transportes (R$ 142 milhões). Esses ministérios são estratégicos porque investem principalmente em obras - saneamento, habitação, infra-estrutura e estradas - e programas que dão visibilidade ao governo às vésperas de ano eleitoral. O secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Guilherme Dias, negou motivos políticos para a liberação.
Oposição quer mínimo de R$ 220
Depois de perder a bandeira do salário mínimo para os governistas, a oposição tenta recuperar espaço político. Os partidos de oposição fecharam questão no mínimo de R$ 220 e ameaçam impedir a votação do Orçamento da União de 2002, se o governo não aceitar a proposta. No final da tarde de ontem, líderes da oposição se reuniram com os líderes do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), e no Congresso, Heráclito Fortes (PFL-PI), para negociar as propostas. Os líderes do governo disseram que a oposição precisa identificar as fontes de financiamento do aumento do mínimo.
Ela empatou
Roseana consolida-se como a melhor opção conservadora na disputa contra Lula e reforça entre os governistas a impressão de que cada partido da aliança terá seu candidato no primeiro turno
A governadora Roseana Sarney (PFL), do Maranhão, alcançou o petista Luís Inácio Lula da Silva na pesquisa de intenção de voto para presidente da República divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). No levantamento, feito pelo Instituto Sensus, Roseana empata com Lula na simulação de primeiro turno em que é apresentada como o único candidato da base governista: ela com 26,7%, ele com 26,9%. Tem empate técnico também se o candidato do PSDB é o governador do Ceará, Tasso Jereissati. E fica a menos de quatro pontos percentuais de Lula se a hipótese tucana é o ministro da Saúde, José Serra (veja quadro ao lado). No cenário simulado para o segundo turno, Roseana vence Lula por 42,7% a 38,4%. O petista derrota todos os demais candidatos, por diferenças que variam de 4 a 40 pontos percentuais. A margem de erro do estudo é de 3 pontos percentuais.
O Instituto Sensus, de Belo Horizonte, fez pesquisas para a CNT desde o ano passado. Com relação à rodada anterior, de outubro, Lula teve uma queda de quase cinco pontos percentuais: 31,8% para 27,1%, na lista que tem Roseana e José Serra. Nessa mesma lista, Roseana subiu também cinco pontos: 19,1% para 23,7%. Na análise do Sensus, a principal causa da subida de Roseana é que a pesquisa coincidiu com os últimos dias de maior exposição de Roseana nos programas eleitorais do PFL. Na pesquisa CNT/Sensus, nenhum dos nomes que disputam a legenda do PSDB demonstrou fôlego para enfrentar o candidato da oposição. Nem o ministro José Serra, da Saúde, nem o governador Tasso Jereissati, do Ceará, chegou perto do desempenho do petista. Qualquer dos dois que encarnasse a candidatura governista, sem Roseana na disputa, daria à aliança um modesto quinto lugar — 8,9% com Serra, 5% com Tasso —, e deixaria a briga pelo segundo lugar entre Ciro Gomes (PPS) e Itamar Franco (PMDB), oscilando na faixa dos 12% a 14%. Nos dois casos, Lula venceria com folga no primeiro turno, obtendo mais de 31% dos votos, e repetiria a performance no segundo.
Os números reforçam a tese defendida pelo presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), de que a aliança governista deve ser dissolvida no primeiro turno, com o lançamento de candidaturas próprias por cada um dos partidos, para ser recomp osta mais adiante em torno do candidato que tiver mais condições de manter o grupo no poder. Para o PMDB, aliás, esta pode ser a única alternativa para não rachar antes mesmo do primeiro turno.
Embora tenha se decidido pela candidatura própria, em convenção, a cúpula do PMDB está às voltas com a insistência do governador mineiro, Itamar Franco, em disputar as prévias em março de 2002. O PMDB governista trabalha para fazê-lo desistir. Caso contrário, pode até lançar o nome de Michel Temer para as prévias, na tentativa de unificar o partido. Assim, terá condições mínimas para compor com outras legendas da base governista — quem sabe até no primeiro turno.
Para o PFL, o jogo está duplamente empatado. Se sair sozinho com Roseana, concorrendo paralelamente com Serra ou Tasso, tem tudo, até agora, para polarizar a disputa com Lula. Mesmo assim, o presidente da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC), continua defendendo a manutenção da aliança ainda no primeiro turno. Desde que o candidato não seja de oposição, como Itamar Franco.
‘‘Lançar candidatura isolada não é bom para ninguém’’, diz Bornhausen. Ele teme que a campanha produza um desgaste nas relações entre os partidos aliados e os impeça de compor no segundo turno. ‘‘O processo não significa só a eleição. Significa governar. E quem garante que uma campanha eleitoral não pode separar os que hoje são aliados, impedindo que eles se unam depois?’’
Eufórica com o resultado da pesquisa, Roseana Sarney também defendeu, ontem, que seja mantida a aliança em torno de um candidato governista. ‘‘Os números da pesquisa são uma afirmação de que, se a base aliada indicar um candidato de consenso, ele poderá vencer as eleições’’, afirmou, sem querer citar a si mesma.
O PSDB, que compõe com o PMDB e o PFL o tripé de sustentação do governo, vive desde já um dilema em torno da possibilidade de candidaturas isoladas. Partido do presidente da República, é impensável para o PSDB abrir mão de disputar a sucessão de Fernando Henrique encabeçando uma chapa — ainda que seja sozinho. Ao mesmo tempo, seus dois principais nomes não emplacaram até agora nas pesquisas, e apenas assistem ao crescimento da pefelista como alternativa entre os aliados.
Alguns tucanos já começam a acreditar que, no final das contas, o PFL e o PMDB, com candidaturas aparentemente independentes, legarão exclusivamente ao PSDB o estigma da continuidade, enquanto estarão liberados para criticar o governo do qual fazem parte.
Em Recife, onde participa do Congresso Nacional do PT, Lula disse ontem não acreditar que Roseana Sarney consiga manter-se nas alturas das pesquisas por muito tempo. Segundo ele, os números atuais são fruto da super-exposição da governadora nos programas do PFL na televisão. ‘‘Nem a Coca-Cola usou a quantidade de propaganda que Roseana teve na TV nos últimos tempos’’, comentou Lula. Ele aposta que, quando ficarem claros para a população os vínculos políticos da governadora maranhense — filha do ex-presidente José Sarney e aliada do ex-senador Antonio Carlos Magalhães —, as intenções de voto arregimentadas por ela neste primeiro momento irão diminuir.
COMO FOI FEITA A PESQUISA
O Instituto Sensus ouviu 2 mil eleitores entre 6 e 11 de dezembro. A amostra é composta por entrevistados de 195 municípios de 24 estados. Os resultados são rechecados com 20% da amostragem. A metodologia garante à pesquisa um índice de confiança de 95%. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa, mensal, é feita por encomenda da CNT.
Brasília cria 5 mil empregos
A taxa de desemprego no Distrito Federal caiu de 20,4% em setembro para 19,4% em outubro. De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) feito pelo Dieese e Secretaria do Trabalho, isso significou uma diminuição no número de desocupados de 189,9 mil para 181,7 mil pessoas. Ao todo, foram criados cinco mil postos de trabalho, principalmente na Administração Pública, Comércio e Construção Civil. Esses setores compensaram demissões ocorridas nos setores de Serviços e Indústria de Transformação. Outro fator que ajudou a diminuir a taxa de desemprego foi a saída de 3,2 mil pessoas do mercado de trabalho. ‘‘Quando as pessoas param de procurar emprego, pelo aumento da renda familiar ou por desestímulo, acabam causando uma diminuição da taxa de desemprego’’, explica Lílian Arruda. Em outubro, a População Economicamente Ativa (PEA) do Distrito Federal foi calculada em 926,3 mil pessoas, contra 929,5 mil pessoas em setembro.
Artigos
Mudar para ficar igual
Arlete Salvador
Há várias leituras possíveis sobre o desempenho da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, na pesquisa CNT/Sensus de intenção de voto para presidente da República, divulgada ontem. Nenhuma delas é boa para a porção tucana do governo. Além dos números em si, que revelam um aumento das preferências por ela, o movimento dos eleitores traz outro aviso. Apesar de ser integrante do PFL, a outra face do governo, a governadora é vista pelos eleitores como uma alternativa eleitoral de oposição. Tanto que chega a tirar votos do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Há uma clara rejeição aos nomes identificados com o governo e, para o eleitor médio, governo, por enquanto, é o PSDB. Roseana e o PFL fizeram um bom trabalho no programa gratuito de televisão, escondendo sua filiação partidária e suas ligações políticas. O tom oposicionista do seu discurso foi suave, contemporizador. Para o eleitor descontente com o governo e desconfiado de Lula, o nome de Roseana soou atraente.
É provável que, com o tempo e a campanha, essa vinculação entre Roseana e o governo fique mais evidente na cabeça do eleitor e a posição da governadora nas pesquisas sofra algum abalo. Mesmo assim, o PSDB poderá estar em maus lençóis. Se os partidos da aliança governista disputarem mesmo a eleição com candidatos próprios no primeiro turno, caberá aos tucanos encarnarem sozinhos o papel de representantes do governo. Tarefa nada fácil para qualquer nome do PSDB, mesmo com um pacto de bom-companheirismo entre os ex-aliados durante a campanha. Embora em tom educado, como o de Roseana, é certo que os adversários reforçarão a imagem de distanciamento do governo.
Há uma ironia nesse eventual cenário eleitoral. As forças conservadoras, que de uma forma ou outra apoiaram e participaram de todos os governos anteriores, militares ou não, disputariam os votos com um discurso de oposição e propostas sociais de esquerda. Esse não é um cenário novo. Ele vem se repetindo desde o descobrimento do Brasil. Trata-se de uma hipótese recorrente na história política recente, em que as forças conservadoras mudam (ou prometem mudar) para manter tudo como está, em especial, o governo.
Editorial
Passo adiante
O Brasil deu passo importante na política nacional antidrogas. Em fórum promovido pelo governo federal nesta semana, os participantes apresentaram documento com propostas para dar novo tratamento ao consumo e tráfico de entorpecentes. Com ele, inicia-se longa caminhada que, espera-se, dote o país de meios eficazes de enfrentar um dos mais preocupantes flagelos da sociedade, responsável pelo cortejo de corrupção, violência e mortes que se alastra dia após dia.
Ponto alto da nova política é a visão holística do problema. Fica para trás a concentração de esforços na repressão policial. Enfatiza-se a prevenção do uso, o tratamento dos dependentes e a redução dos danos sociais e físicos causados pelo consumo.
O dependente passa a ser visto como doente que precisa de cuidados médicos, não de cadeia. Se praticar delito sob efeito da droga, receberá penas alternativas. Prestará serviços à comunidade e se submeterá a tratamento psicológico.
O traficante, ao contrário, terá penas maiores e mais severas que as previstas na lei atual. Ele dissemina a droga na sociedade, fazendo dos jovens as maiores vítimas. Mais: o narcotráfico movimenta enormes somas. Com elas, domina territórios, elege parlamentares, corrompe autoridades de todos os níveis e poderes.
Vale o exemplo mais recente. Vídeo exibido pela tevê mostra investigadores de polícia do Departamento de Investigação sobre Narcóticos, da Polícia Civil, extorquindo dinheiro e facilitando a venda de drogas na Cracolândia, no bairro Santa Ifigênia, região central de São Paulo. É preocupante. Profissionais pagos pelo contribuinte para protegê-lo abusam do poder e aliam-se ao crime. Prática semelhante se registra de norte a sul do Brasil.
O combate à droga constitui tarefa hercúlea. Não pode ser entregue apenas ao governo. Como frisou o presidente Fernando Henrique Cardoso ao anunciar a nova política, deve-se concentrar esforços para combater a demanda ‘‘refazendo as relações valorativas no município, na família, na escola, no contato direto e até indireto, pelos meios de comunicação de massa’’. É, pois, responsabilidade de todos.
Num próximo passo, impõe-se proceder a aperfeiçoamentos na ação governamental. Um deles é distinguir usuário eventual de viciado. Dispensar-lhes o mesmo tratamento pode acarretar conseqüências indesejáveis. Seria o mesmo que considerar alcoólatra uma pessoa que, num jantar, tenha abusado do uísque. É visão equivocada.
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12/14/2001
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