Sarney lembra vida de Euclides da Cunha e morte de Getúlio



O senador José Sarney (PMDB-AP) lembrou nesta segunda-feira (24) a vida trágica de Euclides da Cunha e sua obra máxima, o livro Os Sertões. No mesmo discurso, abordou a sucessão de eventos que culminaram, em 24 de agosto de 1954, com o suicídio do presidente Getúlio Vargas e o desencadeamento de uma enorme crise política.

Enquanto o assassinato de Euclides da Cunha completou 100 anos no dia 15 de agosto. A morte de Getúlio está fazendo 55 anos nesta segunda.

Sarney recordou que à época do suicídio de Vargas era um jovem filiado à UDN e, no Rio de Janeiro, acompanhou aqueles acontecimentos. Ele disse que o seu partido não esperava que o criador do Estado Novo se suicidasse. O golpe, em sua opinião, "foi um grande golpe político aplicado à UDN".

- Afonso Arinos dizia que a bala que atravessou o coração do Getúlio tinha atingido a União Democrática Nacional. Tancredo Neves, numa visão mais otimista, dizia que a bala que atravessou o peito do Getúlio elegeu Juscelino Kubitscheck de Oliveira - disse o senador.

Ao traçar um breve histórico da vida pública de Getúlio, Sarney disse queele talvez tenha sido uma das figuras mais meteóricas da política brasileira. No Rio Grande do Sul, rememorou o senador, Getúlio era tido como "um político bisonho", que não se destinava a ter um grande futuro. Foi deputado estadual e, mais tarde, eleito deputado federal, assumiu a presidência da Comissão de Finanças como solução para uma briga, que chegou "às vias de fato", entre o deputado Lindolfo Collor - avô do atual senador Fernando Collor (PTB-AL) - e o então governador de São Paulo.

O senador contou que, por conta do cargo, Getúlio também acabou sendo escolhido para ser o ministro da Fazenda. Na época, a pasta era tradicionalmente destinada ao Rio Grande do Sul. Segundo Sarney, nesse momento começou a ascensão de Getúlio. Foi eleito para a presidência da Província do Rio Grande do Sul e, em seguida, liderou a Revolução de 1930. Em seguida, na negociação com os tenentes, conduzida por Oswaldo Aranha, Getúlio se compromete a criar o Ministério do Trabalho, por eles defendida, recebendo o seu apoio para a Presidência da República.

- Daí vem, na realidade, a vocação de Getúlio; chegando ao âmbito federal, transforma sua personalidade, aquele homem bisonho do Rio Grande do Sul transforma-se num homem esperto, que passava a rasteira em todo mundo. Getúlio passa a executar um governo que tinha o social como prioridade. Ele teve um período brilhante, marcou a vida brasileira durante aquele tempo. Envolvido com os problemas que chegaram em 1954, ele encontrou a solução política de entregar sua própria vida, no meio de uma grande crise política - disse o senador.

Euclides

Sarney também discorreu sobre a vida e a obra de Euclides da Cunha e ressaltou o seu "estilo inconfundível, forte" de fazer literatura, que já era sentido quando escrevia para o jornal O Democrata, aos 19 anos de idade. O senador observou que Euclides gostava de carregar tudo que dizia com uma grande base de conhecimentos científicos.

- Era esse estilo que ele vem desenvolver no seu livro, que é um livro fundamental na literatura brasileira. Muitos dizem que é o maior livro da literatura brasileira, eu diria que ele está entre os dez maiores da literatura brasileira, porque aí nós teríamos que falar do Grande Sertão Veredas; teríamos que falar do livro de Joaquim Nabuco, Um Estadista do Império; teríamos que falar também nos livros do nosso Machado [de Assis], enfim não vamos entrar nessa discussão.

Sarney assinalou que Euclides da Cunha, nascido no Rio de Janeiro, foi um jovem muito pobre, tinha temperamento muito forte e foi cadete da Escola Militar. Iniciou seus estudos na Escola Politécnica, mas por falta de recursos, voltou à Escola Militar onde protagonizou um gesto de revolta contra o ministro do Exército. Mais tarde, a versão oficial foi de que Euclides tivera um "ataque de loucura".

Expulso da Escola Militar, relata o senador, Euclides vai para a Província de São Paulo, onde o acolhe Júlio de Mesquita, que era o diretor da Província de São Paulo. Ali ele começa a escrever como repórter e prepara-se para voltar à Escola Politécnica, onde faz os exames preparatórios.

- Ele mesmo sempre disse que tinha uma grande vocação para engenharia e, ao mesmo tempo, vai como repórter para a Província de São Paulo, onde teve a grande oportunidade de sair para cobrir a Guerra de Canudos, de onde foi possível escrever, baseado naquelas reportagens que fez, Os Sertões - disse.

Mas imediatamente a República é proclamada, registra o senador, e, no dia 19, Euclides, é reintegrado às Forças Armadas e ao seu lugar de cadete.

Sarney salientou o encontro de Euclides com Ana, filha do tenente-coronel, Sólon Ribeiro, e com quem se casou oito meses depois. O casal foi morar numa pensão onde também residiam dois colegas cadetes, Dilermando de Assis e seu irmão Dinorá. Nesse período, Euclides cumpriu muitas missões, uma delas na Amazônia, onde foi o encarregado de demarcar a fronteira do Brasil com o Peru.

O Senado editou um livro a partir das anotações, artigos e textos escritos por Euclides sobre esse trabalho. O livro tem o título de Paraíso Perdido, o mesmo que Euclides pensou em dar a um livro que não chegou a escrever.

- Nas inconstantes viagens ele volta e começou a ficar com muitos ciúmes da mulher, inclusive porque ele desconfiava que dos cinco filhos que tinha, um não era dele e sim do Dilermando. O Dilermando era loiro e o menino era loiro. E aí começou a sua amargura. Ele se separa a mulher, comunica ao filho Quindim que vai separar-se; ele já estava tuberculoso e vivia um estado meio febril. Pede aos seus primos um revólver, vai para o subúrbio da Piedade, onde moram seus irmãos, e começa a perguntar aonde é a casa que está o Dilermando. Encontra finalmente a casa e é recebido pelo irmão dele; ele então atira, fere o Dinorá e trava um tiroteio com o Dilermando.

Sarney acrescentou que o processo sobre esse flagrante tem duas versões conflitantes. Apesar disso, Dilermando foi absolvido por legítima defesa. Anna casa-se com Dilermando e com ele vive sete anos e tem filhos. Alguns anos depois, o filho Quindim tenta vingar a morte do pai e atira em Dilermando, mas também é morto pelo padrasto. O filho mais velho de Euclides, Sólon, também é assassinado no Acre por um criminoso.

- Assim, a tragédia marca a vida desse grande homem. E a tragédia desses episódios do começo da sua vida e da sua morte se apequena, torna-se menor diante da grande compreensão e do domínio formal que o escritor passa a ter na literatura brasileira. Ninguém pode ultrapassar a obra que define a nacionalidade do Brasil por excelência, que é, como eu disse, Os Sertões.

O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) disse, em aparte, que a imprensa brasileira esqueceu-se da data que lembra a morte de Getúlio Vargas. Ele assinalou que seus assessores gastaram um ano e meio na pesquisa de documentos sobre a participação do Congresso Nacional da delimitação da fronteira Brasil-Peru. Esse material deu origem ao livro editado pelo Senado. Mesquita também revelou que foi Sarney quem encaminhou a obra para o Conselho Editorial.



24/08/2009

Agência Senado


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