SENADORES APONTAM NEGÓCIOS ENTRE JUIZ NICOLAU E GRUPO MONTEIRO DE BARROS
O relator da CPI do Judiciário, senador Paulo Souto (PFL-BA), disse que não aceita as explicações dadas pelo sócio da Ikal, Fábio Monteiro de Barros Filho, de que não tinha relações pessoais com o juiz Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do TRT de São Paulo. O relator apresentou, durante o depoimento de Fábio Monteiro de Barros, vários documentos atestando contratos de corretagem entre o juiz e a empresa Monteiro de Barros, que controla a Ikal, despesas pagas pela Monteiro de Barros ao juiz, nos Estados Unidos, bem como documentos e cartas de uma corretora norte-americana comprovando a compra de um imóvel em Miami, para Nicolau.- Tudo isso denota uma intimidade não muito comum entre o contratado, no caso a Ikal, e o contratante, o TRT de São Paulo, e não considero essas relações legítimas - afirmou Paulo Souto.O presidente da CPI, senador Ramez Tebet (PMDB-MT), também encontrou contradições no depoimento.- Ele centrou seu depoimento no fato de que a licitação estava dentro da lei e que a obra do fórum trabalhista de São Paulo não foi superfaturada. Depois de dizer que não mantinha relações pessoais com o juiz Nicolau, caiu em contradição ao reconhecer que mandou alguém arrumar um apartamento para ele em Miami - afirmou Tebet.Um total de US$ 8 mil foram pagos pela Monteiro de Barros a título de comissão pela corretagem na venda do apartamento de Miami, segundo o senador Paulo Souto, a Lauro Bezerra, um contato da empresa nos Estados Unidos. Fábio Monteiro de Barros negou que a empresa tenha agido no ramo da corretagem, afirmando que Lauro Bezerra causou-lhe muitos problemas, tendo, inclusive, falsificado documentos da Monteiro de Barros e até a sua assinatura em papéis relativos ao imóvel.Segundo as explicações do depoente, ele apenas contatou Lauro Bezerra para ajudar Nicolau, a pedido deste último, a arranjar um local em Miami que seria alugado ao juiz para que este levasse sua filha a um tratamento médico nos Estados Unidos. A partir desse episódio, acrescentou, Nicolau e Lauro Bezerra desenvolveram relações pessoais e Bezerra passou a cobrar várias despesas do juiz à empresa Monteiro de Barros.Ramez Tebet, Paulo Souto e o senador Geraldo Althoff (PFL-SC) perguntaram por que a Monteiro de Barros pagava as contas do juiz nos Estados Unidos se nada tinha a ver com elas, conforme alegava. Fábio Monteiro de Barros disse que Lauro Bezerra quis confundir as contas pessoais do juiz com as suas, nos documentos enviados à CPI, e que desaprovou o fato de ele ter agido em nome da empresa para comprar o apartamento de Nicolau em Miami. Acrescentou que não vivia pagando as contas de Nicolau, só autorizou alguns pagamentos de serviços, dada a insistência de Lauro Bezerra.Depois de mais apresentações de documentos, Paulo Souto disse que a empresa também pagou US$ 80 mil para o juiz Nicolau, segundo informações prestadas à CPI, de Miami, por Lauro Bezerra. Esse pagamento, acrescentou, foi feito da seguinte forma: uma entrada de US$ 20 mil mais seis prestações de US$ 10 mil. Foi quando o depoente disse que sofreu chantagem, chegou a fazer ocorrência policial e também comunicou o fato ao tribunal.
29/06/1999
Agência Senado
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