Senadores querem diminuir obstruções de pauta causadas pelo excesso de edição de medidas provisórias



O Senado iniciou as votações desta semana com uma pauta obstruída pela presença de 13 medidas provisórias editadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As MPs passam a ocupar o começo da fila na ordem do dia de votações sempre que se completam 46 dias desde a sua edição. Passam então a tramitar em regime de urgência e, por isso, nada pode ser votado antes que o Plenário delibere sobre elas.

A situação não é inédita e já provoca, entre a maioria dos senadores, a sensação de que é preciso adotar providências rápidas para evitar que a Casa se veja impedida de legislar e votar os seus próprios projetos. Este ano, por exemplo, somente uma proposição de autoria de senador foi aprovada pelo Plenário. Além de diminuir o que muitos classificam como "excesso de MPs" editadas pelos sucessivos presidentes da República, desde a criação desse mecanismo pela Constituição de 1988, os parlamentares consideram essencial mudanças nas normas de tramitação das medidas.

Para o senador Tião Viana (PT-AC), o governo Lula não tem abusado da edição de medidas provisórias. Ele credita a maioria das MPs atuais a uma "herança que temos que administrar":

- O número atual de medidas expressa um represamento de governos anteriores. Somos vítimas dos erros de ordenamento administrativo do passado. Todos os governos têm sido, aliás. Um após o outro - disse.

Como forma de contornar os constantes entraves na pauta de votações, Tião Viana acha que um passo importante seria o envio das MPs, alternadamente, às duas Casas do Congresso.

- Sou favorável a que todas as matérias legislativas submetidas pelo governo ao Congresso sejam apreciadas alternadamente. Isso daria mais agilidade e equilíbrio ao trabalho da Câmara e do Senado - observou.

Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), o senador Edison Lobão (PFL-MA) considera que os presidentes deveriam editar menos MPs. "Todos abusaram dessa prerrogativa", ressalta ele, que aponta duas soluções para reduzir os efeitos da constante presença de medidas provisórias sobrestando a pauta do Senado:

- Devemos encontrar um meio de abreviar o processo de votação, já que ele hoje ainda é muito lento e burocratizado. Além disso, o problema pode diminuir sensivelmente se a Câmara dos Deputados aprovar o projeto do senador José Jorge (PFL-PE) que determina o ingresso alternado das MPs nas duas Casas do Parlamento.

O senador Jefferson Péres(PDT-AM) afirma que, em função do acúmulo de MPs na pauta, "o Senado já não legisla mais". Para ele, um antídoto para o que ele considera um excesso de edição de MPs pelo Executivo seria o Congresso questionar a sua admissibilidade:

- Se a MP não atende os pré-requisitos de relevância e urgência, o que é tão comum, deveria o Parlamento simplesmente se recusar a apreciá-la - disse Jefferson.

Adversário declarado das medidas provisórias, o líder do PDT no Senado advoga a exclusão desse mecanismo do texto constitucional.

- Só as constituições da Itália e do Brasil dão essa prerrogativa ao Executivo. Se todos os demais países democráticos funcionam tão bem sem elas [as MPs], por que não nós? - indaga o senador.

O vice-líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PMDB-PB), defende o reestudo do assunto pela própria CCJ. Ele se dispõe a propor que os senadores formem uma comissão temporária para buscar uma tramitação mais descomplicada e rápida das MPs.

Apesar de admitir que "há excessos" na edição de medidas por parte do atual governo, ele ressalta que essa característica não é exclusiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- Todos editaram medidas demais, muitas das vezes sem levar em conta a urgência e relevância dos assuntos abordados - reconhece o senador Suassuna.




25/03/2004

Agência Senado


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