Ser vice de alguém com 7% é impraticável, diz Roseana









Ser vice de alguém com 7% é impraticável, diz Roseana
Em SP, governadora ironiza Serra e grava hoje programa de TV do PFL

A pré-candidata do PFL à Presidência da República, Roseana Sarney, negou ontem, em São Paulo, a possibilidade de ser vice em uma chapa encabeçada pelo ministro da Saúde, José Serra (PSDB), caso se mantenha o atual favoritismo da governadora do Maranhão registrado nas pesquisas de intenção de voto.
"É impraticável alguém com 21% ser vice de outra pessoa com 7%", afirmou a governadora.
Na primeira pesquisa Datafolha de 2002, divulgada há dez dias, Roseana tem 21% das intenções de voto, dois pontos percentuais a mais do que em dezembro, enquanto Serra ficou com 7%, o mesmo percentual do levantamento anterior.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve a liderança, com 30%, mas, num eventual segundo turno, perderia para a pefelista por 46% a 40%.

Roseana, entretanto, não descarta a manutenção da aliança PFL-PSDB, firmada em 1994, desde a primeira candidatura presidencial de Fernando Henrique Cardoso. "Nada é impossível em política", disse.
Estrela da propaganda eleitoral do PFL, que voltou a ser exibida anteontem, Roseana disse que as referências à crise argentina e à desunião da classe política não são críticas veladas a Lula ou aos tucanos. "O programa expressa apenas o meu ponto de vista", declarou a pré-candidata.

Crise tucana
A pré-candidatura de Serra, que será lançada oficialmente hoje, em Brasília, gerou uma crise no PSDB, que se dividiu entre os apoiadores do ministro e os do governador do Ceará, Tasso Jereissati, que acabou desistindo da disputa interna. Roseana também disse não temer os ataques dos adversários. "Já apanho há muito tempo", declarou.

Em São Paulo desde a manhã de ontem, Roseana chegou à cidade oficialmente para gravar o programa de TV do PFL, que vai ao ar no próximo dia 31, com duração de 20 minutos. A agenda de ontem, porém, foi completamente modificada e a governadora acabou nem entrando no estúdio.

Ela encontrou à tarde integrantes da direção do jornal "O Estado de S.Paulo" e, à noite, se encontraria com o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita. Roseana esteve acompanhada do senador Jorge Bornhausen (SC).
Para hoje, além das gravações, estão previstas novas visitas a veículos de comunicação. Amanhã à tarde, a governadora tem consulta marcada com o ginecologista José Aristodemo Pinotti, devendo retornar a São Luís no sábado.


"Tudo pode acontecer", diz Itamar sobre vice de Serra
De olho no "outro lado do rio", governador admite chapa com ministro

O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), admitiu indiretamente ontem que poderia formar uma chapa com José Serra, que oficializa sua pré-candidatura hoje pelo PSDB. E deixou em aberto seu leque de alianças possíveis, na oposição e na situação.

"Tudo pode acontecer", disse, questionado se aceitaria uma vaga de vice de Serra, representante do governo que o peemedebista combate desde 98, quando assumiu o governo mineiro.

Nos últimos dias, empresários de São Paulo lançaram a idéia, que não foi rebatida por Itamar. "Há várias possibilidades. Hoje eu me preocupo mais com o outro lado do rio [bloco governista" do que com o nosso próprio lado. Está curioso saber o que está acontecendo lá, estou vendo de binóculo", disse. Questionado se "atravessaria o rio", o governador disse que, se fosse o caso, construiria uma pinguela, uma ponte ou iria a nado mesmo. "A outra margem está muito mais interessante."

O ex-presidente elogiou Serra, dizendo que ele não foi seu ministro devido a "circunstâncias". O ministro da Saúde é, ao lado do presidente da Câmara, Aécio Neves, os únicos tucanos que mantêm diálogo com o governador.

Itamar afirmou que "gosta muito do PT" e que tem muitos amigos nele. Anteontem, o presidente nacional da legenda, José Dirceu, havia dito ter certeza de que Itamar caminhará com a oposição.

"Não há mais intermediários nas minhas conversas. A partir de agora, só converso eu", disse Itamar. Ele anunciou que na semana que vem vai a São Paulo se encontrar com o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) e com Dirceu. "Vou me encontrar também com uma figura mineira, que está do outro lado da margem [na situação"", disse, sem citar o nome.

O assédio a Itamar tem dois motivos: ele tem entre 5% e 9% das intenções de voto, segundo o Datafolha, e governa o Estado com o segundo maior colégio eleitoral do país. Ele voltou a negar ser pré-candidato à reeleição.


PT quer aliança com governador já no 1º turno
O PT intensificou os contatos com o governador Itamar Franco (PMDB-MG) para fechar uma aliança já no primeiro turno da eleição. Anteontem, o presidente da legenda, José Dirceu, conversou por telefone com Itamar, durante visita a Belo Horizonte.

Os dois trataram apenas de "amenidades", mas programaram uma nova conversa para a semana que vem em São Paulo.

Avalia-se entre os petistas que a cada dia escasseiam as chances de Itamar concorrer à Presidência. O partido considera concretas as possibilidades de ele sair candidato à reeleição ou ao Senado, apesar de ele ter reafirmado que não deve concorrer ao governo de Minas. Nesses casos, Itamar receberia o apoio do PT desde o início.

Em troca, ele apoiaria Lula para presidente. Sabendo da imprevisibilidade do mineiro, o partido de Lula prefere esperar o que vai acontecer, mantendo os canais abertos, mas sem se precipitar.
O PT sonha com o apoio de Itamar para "cercar" o eleitorado mineiro, segundo colégio eleitoral do país. Isso envolveria ainda a indicação do senador mineiro José Alencar (PL) como vice de Lula.


PSDB demonstra unidade forçada
O ministro José Serra (Saúde) lança sua pré-candidatura em um clima de unidade partidária extraída a fórceps. O PSDB tem uma união formal e não de fato.

Tasso Jereissati só aceitou comparecer ao evento depois de Aécio Neves ter feito um apelo. Tasso está contrariado com Serra e com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Julga que os dois foram desleais em articulações para derrubar sua pré-candidatura.

O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, só foi convidado por Serra ontem. Paulo Renato manifestou um apoio sem entusiasmo. Ele é outro ex-presidenciável que acha que Serra o bombardeou durante anos. Empenhado em ser candidato a senador por São Paulo, não aceitará participar da elaboração do programa de governo de Serra.

Aécio ontem à noite não tinha confirmado presença, mas o fato é que não quer alimentar o temor de Serra de que pretenda disputar o Planalto se o ministro não decolar. Ele foi o articulador central da operação que fez Tasso mudar de opinião e prometer comparecer.

Em conversa na semana passada, Aécio recebeu um pedido de FHC: ajudar Serra. O presidente está preocupado com o que chama de falta de habilidade da direção do PSDB e do círculo mais próximo do ministro da Saúde.

FHC considerou um erro da direção do PSDB excluir Tasso de antemão do lançamento, como ficou decidido em reunião na semana passada, e também condenou os ataques diretos a Roseana desferidos por serristas radicais.

FHC e Aécio estão convencidos de que Serra deve receber todas as chances para deslanchar porque, se continuar empacado nas pesquisas, não poderá acusar os tucanos de boicotá-lo.

O ministro da Saúde tem reclamado do partido. Diz que não aceita receber candidatura com prazo de validade. FHC e dirigentes tucanos acreditam que Serra terá de mostrar até maio viabilidade de superar Roseana. Leia-se: maior intenção de voto e capacidade de fechar alianças.

Na última pesquisa Datafolha, o ministro da Saúde obteve 7%. Roseana atingiu 21% e mostrou pela primeira vez ser capaz de derrotar o PT no segundo turno.

Para atender Serra, FHC e Aécio conduziram as articulações que prometem transformar um ato simples, como previsto inicialmente pela cúpula, num evento maior, com a presença de desafetos, como Tasso, Paulo Renato e a família Covas -o governador Mário Covas, morto em março, defendia a candidatura de Tasso.

Dada a demonstração de unidade, ainda que algo forçada, o sucesso de Serra passará a depender apenas dele, avaliam FHC, Aécio e demais dirigentes tucanos.


Para PFL e PMDB, ministro sobe, mas não abala Roseana
Peemedebistas estudam adiar prévia para esperar desempenho de Serra

A avaliação das cúpulas do PFL e do PMDB é que o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), crescerá nas pesquisas de intenção de voto a partir de hoje, dia do anúncio oficial da sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.

Pefelistas e peemedebistas acreditam que o tucano deverá atingir logo o patamar de 10%. Nas últimas pesquisas do Datafolha, Serra variou entre 7% e 8% nos cenários principais. A taxa de 10% foi alcançada esporadicamente e em cenários menos prováveis.

Para PFL e PMDB, essa previsão de crescimento dará fôlego a Serra, mas não será suficiente para abalar a candidatura da pefelista Roseana Sarney, governadora do Maranhão, nem para tirar os peemedebistas de cima do muro.

Há um consenso entre pefelistas e peemedebistas de que um percentual de intenção de voto na casa dos 15% pode mudar o jogo da sucessão a favor de Serra. O número mágico precisaria ser atingido até maio. No último levantamento do Datafolha, o tucano obteve 7%, contra 21% de Roseana.

Se Roseana mantiver uma dianteira tão grande, a tendência do PMDB será fechar com ela por pragmatismo. Mas os peemedebistas querem que Serra cresça e que Fernando Henrique Cardoso dê um apoio mais enfático ao ministro. A cúpula peemedebista quer FHC de avalista de uma sonhada aliança PMDB-PSDB.

O partido pode até adiar a prévia marcada para 17 de março, se Itamar desistir de disputá-la. Com isso teria mais tempo para decidir entre Serra e Roseana.

Apesar de prever um crescimento imediato de Serra, o PFL avalia que será difícil o ministro da Saúde atingir 15%. Dirigentes do partido apostam na boa presença de TV da governadora Roseana para segurar o índice de intenção de voto dela e neutralizar as investidas do tucano.

Um dos estrategistas da campanha de Roseana diz que Serra é o político brasileiro que teve mais exposição positiva de mídia nos últimos dois anos. Mesmo assim, fala esse pefelista, Serra não deslanchou nas pesquisas.

A intenção do PFL é evitar perder pontos, tentando segurar os eleitores tucanos que se dizem inclinados a optar por Roseana -34% dos simpatizantes do PSDB, segundo o Datafolha.

Se Roseana se mantiver na faixa dos 20%, dificilmente Serra conseguirá espaço para crescer, avaliam os pefelistas. Os comerciais de TV de Roseana, que estão no ar bem na semana de lançamento de Serra, já trazem ataques indiretos da pefelista ao tucano.

Um exemplo é a peça que diz que um presidente não pode ser um presidente só do Estado de São Paulo. Os pefelistas insistem em carimbar Serra como um político voltado para a defesa dos interesses paulistas e contrário ao desenvolvimento do Nordeste. O ministro rebate as acusações.


Serra se diz disciplinado; inimigos vêem antipatia
Pergunte-se a José Serra o que ele acha de José Serra e este paulista de 59 anos até 19 de março, casado, pai de dois filhos, ministro da Saúde e pré-candidato do PSDB à Presidência responderá:
"As pessoas pensam que eu sou muito inteligente. Mas eu sou só razoavelmente inteligente. O que eu sou mesmo é muito disciplinado e muito aplicado."

Seus adversários, e até alguns amigos, diriam também que é egocentrado, obsessivo, antipático, com mania de perseguição e um gosto demasiado pelo poder.

Serra, de fato, valoriza o exercício do poder, o que explica a fama de que "se mete em tudo" e parte das dificuldades que encontra para se firmar como candidato indiscutível -e, se dependesse dele, amado - do PSDB.

Ministro da Saúde, foi Serra quem incendiou a reação do governo à crise energética. Temia que o "apagão" fosse o passaporte para um final melancólico do governo Fernando Henrique Cardoso. E, claro, influísse negativamente na sucessão.

Chegou a namorar a idéia de ser o ministro do "apagão", pois, vencendo a crise, chegaria à eleição de 2002 em condição privilegiada. Mas o risco era grande. E FHC tinha outros planos.

Serra estreitou suas relações com o FHC durante o exílio no Chile, quando o presidente já era um intelectual reconhecido internacionalmente. A relação entre os dois é de amizade, mas permeada por uma boa dose de competição e muita provocação.

Onze anos mais velho e muito mais bem-humorado, FHC adora fazer piada sobre Serra. Sempre que não quer responder a uma questão, escapole: "Isso eu não falo. Senão o Serra me mata".

Certa ocasião, numa conversa com jornalistas no Alvorada, o presidente pediu à assessoria para não ser interrompido. Mas um ajudante-de-ordens pediu desculpas e avisou que Serra insistia para falar com FHC ao telefone.

O presidente fingiu que atendia e passou o telefone para um dos jornalistas. A primeira intervenção do ministro deliciaria os que dizem que ele é egocentrado: "O que vocês estão falando de mim?"

Sempre que pode, Serra dá o troco. Em um fim de semana no Alvorada, FHC perguntou a ele o que estava lendo. O ministro disse que nada de importante e depois explicou a um amigo: ele sabia que FHC queria elogios a uma entrevista sua a uma revista. E ele não daria essa colher-de-chá ao presidente. Algum tempo antes, fora objeto de extensa reportagem da mesma revista. FHC não fizera um mísero comentário.

Ministro do Planejamento (no primeiro mandato), Serra ficava em seu gabinete monitorando a agenda do presidente sempre que tinha despacho no Planalto. Só ia quando recebia sinal verde do então secretário-geral Eduardo Jorge, que ficava uma arara: "Quem ele pensa que é? Tem que ficar sentadinho aí, esperando como qualquer ministro". Não ficava.

FHC e Serra se espicaçam, mas sempre se acertam no final, e a história de ambos é recheada de alianças contra adversários e, muito especialmente, aliados. O ex-governador Mário Covas sabia melhor do que ninguém. A campanha de 1989 lhe foi ingrata, e FHC e Serra cruzaram os braços.

Para FHC, Serra errou ao desdenhar o Plano Real em 1994 e passou dos limites em 1998 ao emitir uma nota técnica culpando a área econômica por cortes dos gastos na área social. Para Serra, o presidente foi quem o apunhalou pelas costas ao declarar que fora contra o Plano Real.

O maior cabo eleitoral de Serra no governo provavelmente é Ruth Cardoso. Aos amigos, Ruth explica sua predileção: simplesmente, considera Serra bem preparado para a Presidência.

Serra costuma dizer que não sabe onde suas relações com Tasso Jereissati se desencaixaram e que não contribuiu em nada para essa situação.

Após Covas declarar apoio à candidatura de Tasso, Serra e Tasso se encontraram em São Luís, num evento patrocinado pela governadora Roseana Sarney (PFL-MA): "Parabéns", disse Serra, com um sorriso irônico.
Tasso aparentou surpresa: "Por quê?" Serra fingiu naturalidade: "O seu aniversário não foi há alguns dias?" E Tasso: "Ah, bom! Esperei seu telefonema". Serra não abdicou da última estocada: "Pensei que você estava na Bahia..." O baiano Antonio Carlos Magalhães, do PFL, era um dos patronos da candidatura Tasso.

Consistência intelectual é algo que até os mais ferrenhos inimigos reconhecem em Serra. Mas o que mais aborrece o ministro da Saúde é a avaliação de que "seria um bom presidente, mas é um mau candidato".
Serra parece carregar imensa dif iculdade para distinguir o que é ser simpático do que é ser antipático. Certa vez, quando era deputado (1987-1995), ligou para um amigo na praia, preocupado com a própria recondução para líder da bancada do PSDB.

O amigo fez sondagens na bancada federal e detectou sinal amarelo. Deputados reclamaram que Serra passava por eles sem olhar. Ao saber, Serra reagiu: "E qual o problema?" Esperava ser votado por suas qualidades, não pela simpatia. Na Câmara, Serra fez uma bancada de amigos, que era pluripartidária, e que mantém ainda hoje: Miro Teixeira (PDT), Nelson Jobim (PMDB), José Genoino (PT) e Sigmaringa Seixas, ex-tucano hoje no PT. Também dela fazia parte Luís Eduardo (PFL), que morreu em 1998.

A maioria dos amigos de Serra em Brasília tem uma história de esquerda. Ele deu a petistas postos-chave na Saúde. Mas o tucano também tem relações à direta: Delfim Netto (PPB-SP), com quem conversa com frequência, e Ronaldo Caiado (PFL-GO), o criador da UDR (União Democrática Ruralista).

Embora revele descrença, Serra, do signo de Peixes, se impressiona com previsões. Segundo seu mapa astral, às 12h de hoje o sol estará na casa 10, o que indica apoio do poder. É do que Serra mais precisa no momento. O mapa, feito por Getulio Bittencourt, astrólogo dos ex-presidentes Tancredo Neves e José Sarney, diz que o apoio da população está escondido. Mas o mapa que vale é o da data da convenção de junho.


Artigos

Garimpo ideológico
Vinicius Mota

SÃO PAULO - Qual é o "exemplo argentino" que o PFL pretende transmitir com as suas novas propagandas? Responder à questão no terreno tático não é difícil. A Argentina é um símbolo manipulado pela imagética pefelê para tentar convencer o eleitorado de que o facciosismo na política, seja ele de caráter partidário, ideológico ou regional, conduz à tragédia.

Não importa que o diagnóstico esteja errado -foi justamente a tediosa mesmice da política argentina que empurrou o país para o precipício. A maioria dos brasileiros está impedida de raciocinar nesses termos. O que vale mesmo é a identificação dos facciosos, que é imediata para o PT e matizada -restrita ao campo dos informados e dirigida ao dos políticos- para José Serra e sua pretensa pecha de paulista "antinordestino".
Diga-se de passagem que os petistas comem o pão que eles próprios amassaram. Dividem o mundo entre "éticos" e corruptos; põem ratos a roer a bandeira brasileira; procuram despertar na classe média uma piedade primitiva pela pobreza, ao feitio da utopia regressista de Rousseau. É o time do colégio disputando o basquete do conservadorismo contra a seleção norte-americana. Aí vão perder feio.

Voltando ao "exemplo argentino" dos pefelistas, chamam a atenção as suas preciosas pedras de ideologia, que só vêm à luz depois de algum garimpo. A contraposição entre a imagem da população em fúria na Argentina e a de uma Roseana Sarney sóbria em cerimônia militar é sugestiva. Promete segurança e ordem contra a baderna.

Lapidando a matéria bruta se chega ao diamante dessa pedagogia do exemplo. Nas ruas, os argentinos saqueiam supermercados, bloqueiam rodovias e depredam agências bancárias. Nos gabinetes, um governo azoinado declara moratória, quebra contratos com empresas privatizadas e tenta impingir perdas aos bancos. O "exemplo argentino" ameaça o absolutismo da propriedade privada.
Surge das profundezas o PFL, o partido da direita brasileira.


Colunistas

PAINEL

Outra frente
O PSDB tentará dar hoje uma aparência de unidade em torno da candidatura José Serra, mas o clima interno continua ruim. Além de Tasso Jereissati, Eduardo Azeredo (MG) também reclama, e muito, do ministro. Não gostou de saber que ele mantém contatos estreitos com o adversário Itamar Franco.

Mão dupla
Líder na corrida para o governo, Azeredo mandou avisar Serra de que não aceitará a repetição das campanhas de 94 e de 98, quando FHC ficou em cima do muro em Minas para contemporizar com Itamar. "Serra deveria se preocupar em obter o apoio do partido. Acho que ele precisará dos nossos votos."

Camaradagem eleitoral
Depois de telefonar para seus antigos desafetos Tasso Jereissati e Paulo Renato, José Serra começou a ser chamado pelos tucanos de "Gasparzinho", o fantasminha dos quadrinhos que vivia tentando fazer amigos.

Guerra de audiência
O PFL reservou para hoje, dia do lançamento da candidatura Serra, as duas propagandas mais bem avaliadas nas pesquisas qualitativas. Roseana vai aparecer na TV falando de programas sociais de seu governo para tentar neutralizar a superexposição do tucano nos telejornais.

Disputa direta
Serra disse ontem a aliados que inicia hoje uma batalha particular com Roseana (PFL). Ele precisa ultrapassá-la nas pesquisas até junho para ser o único candidato governista. Apenas se vencer essa etapa o tucano passará a pensar em Lula (PT).

Velório tucano
Um empresário que chegou ontem a Brasília ficou decepcionado com a monotonia da cidade: "Pensei que fosse encontrar cabos eleitorais tucanos no aeroporto e faixas de José Serra pela cidade. Mas não há nada. Nem parece que a candidatura será lançada amanhã (hoje)".

Proposta indecente
Renan Calheiros foi a Minas ontem com a intenção de pedir a Itamar (PMDB) que desista de sua pré-candidatura. Aliados do governador dizem que ele não teria coragem para tanto. No PMDB, o senador é um dos maiores defensores de uma aliança com o PFL de Roseana.

Ganhar tempo
Nos próximos dias, a cúpula governista do PMDB deverá procurar Pedro Simon e Raul Jungmann, os outros pré-candidatos à Presidência, para também pedir que desistam.

Namoro liberal
Garotinho (PSB) encontrou-se ontem no Rio com Valdemar Costa Neto (PL) para discutir a sucessão. Lula conta com o apoio do PL, mas, se o governador crescer mais nas pesquisas, poderá tomar uma rasteira.

Plano B
Amanhã, Garotinho estará em SP para reunir-se com Erundina. A ex-prefeita vai dizer a ele que não disputará o governo. O PSB deverá lançar Márcio França, prefeito de São Vicente.

Festa de noivado
O PMDB e o PSDB baianos selam sua aliança hoje desfilando juntos na lavagem do Bonfim. Os tucanos apoiarão Benito Gama (PMDB) ao governo. Em troca, o PMDB promete fazer campanha para Serra, mesmo que o partido se alie a Roseana.

Ego inflado
O ministro José Jorge (Minas e Energia) carregava ontem um jornal de Pernambuco, seu Estado, que trazia na capa duas notícias boas para ele. A manchete era a suspensão do racionamento no Carnaval. Logo abaixo, havia foto de um posto em Recife com o litro da gasolina a R$ 1,28.

Visita à Folha
Benjamin Steinbruch, presidente do conselho de administração da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e do grupo Vicunha, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço.

TIROTEIO

Do senador José Alencar (PL-MG), cotado para ser o vice de Lula (PT), sobre as candidaturas governistas à Presidência:
- O Brasil precisa começar a praticar a alternância de poder. Até como medida de combate à corrupção.

CONTRAPONTO

Cabo eleitoral
O ministro Sarney Filho (Meio Ambiente) passou o último fim de semana na Bahia. Na balsa que o levava à praia de Trancoso, ele encontrou conhecidos e começou a falar de política.
Questionado sobre a intenção de sua irmã, Roseana, de disputar a Presidência, Sarney Filho demonstrou preocupação:
- Sofri muito no governo do papai, não quero sofrer de novo com a minha irmã.
Os amigos perguntaram em quem ele votará, caso Roseana não se candidate.
- Não tenho nada contra o Serra e nem contra o Lula. Poderia votar no Lula - respondeu.
Um ambulante que vendia cerveja na balsa ouviu a conversa e aproximou-s e do ministro:
- Lula? O doutor está certo. Eu também vou votar no Lula para mudar esse país!
Constrangido, Sarney Filho encerrou a conversa com os amigos e se trancou no carro.


Editorial

FALHA RENITENTE

Mais uma vez, verifica-se que há planos de saúde privados que estão atuando ao arrepio da lei e desrespeitando o consumidor. Levantamento realizado pelo Grupo Pela Vidda, ONG de defesa de vítimas da Aids, com 28 empresas revela que portadores das chamadas doenças preexistentes não conseguem receber tratamento imediato e completo, como determina a legislação.

Pela lei 9.656, de 98, os planos não podem mais recusar cobertura a pessoas que já sofriam de certas moléstias antes da assinatura do contrato. Para esses casos, prevêem-se duas alternativas. O usuário pode escolher entre uma carência de dois anos para os procedimentos relacionados à doença preexistente e o pagamento de um agravo, uma mensalidade maior, hipótese em que ficaria com cobertura total e imediata.

Na prática, porém, as empresas não oferecem a opção do agravo. Afirmam que há dificuldades para calcular o valor das prestações diferenciadas. A desculpa até faria sentido se a lei tivesse sido aprovada há meses. Não é o caso. Já se vão quase quatro anos da sanção do diploma.

Levantamento análogo feito em 2000 já havia apontado para o problema de os planos não oferecerem a opção do agravo. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) autuou 24 empresas. Devido a recursos, até hoje nenhuma multa foi paga.

É incrível que a ANS não consiga fazer as empresas de saúde cumprirem um item básico da lei. Não interessa a ninguém criar dificuldades adicionais para um setor que já não vai bem, como o da saúde suplementar. Mas isso não é razão para deixar que empresas escolham as leis que respeitarão e as que ignorarão.

A saúde pública é dever do Estado. A má qualidade dos serviços abriu espaço para o sistema complementar. Não se pode negar às pessoas o direito de recorrer a serviços privados, mas isso não isenta o poder público de cumprir a sua função de agente regulador, sobretudo quando o poder das partes é tão desigual.


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01/17/2002


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