Serra está a 4 pontos de Ciro









Serra está a 4 pontos de Ciro
Tucanos festejam e adversários já fazem planos de mostrar Patrícia Pillar na TV

BRASÍLIA - Os resultados da primeira pesquisa sobre a eleição para a Presidência divulgada pelo Ibope depois do início do horário eleitoral gratuito confirmaram a queda do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, e a subida do tucano José Serra. Esses movimentos já tinham sido detectados pelo Vox Populi, conforme antecipou ontem o Jornal do Brasil.

Ciro, que tinha 26% das intenções de voto na pesquisa anterior do Ibope - feita entre 17 e 19 deste mês - cai para 21%. Serra, que estava com 11% na mesma sondagem, ganha quatro pontos e aparece agora com 17%. Com isso, em cerca de uma semana a diferença entre os dois passou de 15 para quatro pontos percentuais.
O petista Luiz Inácio Lula da Silva subiu mais um ponto e se mantém na liderança, com 35%. Anthony Garotinho (PSB) continua em quarto lugar, com 11%. José Maria de Almeida (PSTU) vem com 1% e Rui Pimenta, do PCO, não foi citado.

Os votos em branco e nulos somaram 5%. Não souberam ou não quiseram opinar 10% dos eleitores ouvidos.
Na simulação para o segundo turno, Lula vence Ciro por 47% contra 41% - o que também é novidade. Em sondagens anteriores, Ciro perdia para Lula no primeiro turno, mas, nas simulações de segundo turno, aparecia à frente.

As entrevistas para a pesquisa foram realizadas nos dias 24, 25 e 26 deste mês (sábado, domingo e segunda-feira desta semana). Foram ouvidos dois mil eleitores em 145 municípios.

A pesquisa causou impacto na Frente Trabalhista. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) anunciou mudanças na campanha e disse que haverá resposta urgente aos ataques de Serra. Mas a principal novidade será a entrada de Patrícia Pillar pedindo votos para o marido.

Em entrevistas e debates, Ciro e os aliados da Frente Trabalhista não pouparão Serra, o governo Fernando Henrique Cardoso e as incoerências do PT light. ''Não podemos apanhar sem reagir, temos de explorar com firmeza o fim do discurso de oposição de Lula e bater firme nos tucanos'', afirmou Jefferson.

O candidato a vice de Ciro, Paulo Pereira da Silva, disse que ainda é cedo para adiantar como será a reação. ''Mas vamos ter que mudar muita coisa''.

Entre os tucanos o clima era de euforia. ''Não esperava que isso acontecesse tão rápido, já nesta semana'', comemorou Serra em conversa telefônica com os coordenadores. ''A pesquisa marcou a reviravolta necessária para garantir a vaga de Serra no segundo turno'', disse Milton Seligman. ''Não vamos mudar a campanha. Continuaremos a mostrar as propostas de Serra e fazer comparações entre ele e os adversários'', afirmou, por sua vez, Nelson Biondi, marqueteiro do PSDB.

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), festejou. ''Cantei essa bola primeiro''. Ele sempre disse que, na primeira pesquisa após o início do horário eleitoral, ''teríamos um aroma de vitória''. Agora, arrisca outra previsão: ''Até o dia 10 de setembro, passaremos o Ciro''. ''Sem dúvida, e isso evitará a debandada'', complementou o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).

O líder do PT, deputado João Paulo Cunha (SP), disse que a pesquisa mostra um quadro previsto anteriormente pela direção da campanha de Lula. Mas advertiu que é cedo para se fazer qualquer avaliação definitiva. Ele garante que nada muda na campanha de Lula com o novo cenário. ''Mas temos que ter muito cuidado com as surpresas. Quem estiver fazendo alguma análise definitiva, pode se frustrar'', frisou.


Sarney anuncia apoio a Lula
Ex-presidente se sensibiliza com promessa do PT de ressuscitar o vale-leite

BRASÍLIA - Agora é oficial. O ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), vai apoiar o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. A adesão foi formalizada ontem num encontro de quase uma hora na casa do senador, em Brasília. ''Luiz Inácio terá minha colaboração porque o Brasil hoje está dividido e ele, com sua experiência de negociação, ao contrário do que dizem, pode ser uma fonte de estabilidade'', justificou Sarney, observando que ficou sensibilizado com a promessa de Lula incluir no programa de governo o vale-leite instituído no seu governo e, depois, extinto.

O ex-presidente disse que seu apoio tem um caráter mais simbólico, pelo que representa na política nacional, e não resulta, necessariamente na adesão de sua filha Roseana Sarney, ex-governadora do Maranhão. ''Minha manifestação é de caráter nacional. A política do Maranhão hoje é chefiada pela minha filha e ela, que sempre andou pelos próprios pés, é quem tomará a decisão'', disse Sarney, que é o segundo ex-presidente a declarar apoio a Lula. O primeiro foi o governador de Minas, Itamar Franco.

Sarney disse que seu engajamento na campanha de Lula vai se limitar à interlocução com setores no exterior, no campo partidário e entre os militares. Ele afirmou que poderá levar o PMDB para o palanque do PT no segundo turno e que as alianças que Lula está compondo o levarão à Presidência.

Já Lula admitiu que evoluiu: ''Engana-se quem pensa que é possível ganhar as eleições e governar sozinho''.


Congresso retoma votações hoje
BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), marcou para a manhã de hoje a votação da Medida Provisória (MP) número 38, que trata do refinanciamento das dívidas das empresas públicas e privadas com o Fisco, o chamado Refis. Aécio se reuniu na noite de ontem com os líderes partidários para tentar chegar a um consenso em torno da matéria, que está trancando a pauta na Casa.

Caso consiga votar a MP, estará aberto o caminho para os deputados votarem o fim da cumulatividade do PIS/Cofins. No segundo dia do chamado ''esforço concentrado'', o presidente Aécio espera conseguir o quorum necessário à aprovação.

O governo já sinalizou que poderá editar uma Medida Provisória caso o Congresso não vote o fim da cumulatividade, batizado de minirreforma tributária. O Partido dos Trabalhadores já manifestou seu voto a favor, mas partidos da base aliada, como o PMDB e o PFL, ainda não fecharam questão em torno do tema.
Além da MP 38/02, o presidente da Casa pretende votar ainda a PEC 504/02, que autoriza os municípios a instituírem contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública.


Proibição ao governo gaúcho
PORTO ALEGRE - O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul concedeu ontem mandado de segurança impetrado pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul), concedendo liminar que proíbe o governo de realizar desapropriações por decreto, para fins de reforma agrária. O Executivo gaúcho já realizou 19 desapropriações por decreto desde 1999.

O diretor Jurídico da Farsul, Nestor Klein, afirmou que apesar de provisória, a liminar atende aos interesses dos produtores. O Gabinete de Reforma Agrária do governo do Estado só se pronunciará depois de receber o comunicado oficial da decisão.


Rosinha dispara na pesquisa do Ibope
Candidata ganharia já no primeiro turno

Se a eleição para o governo do Estado do Rio fosse hoje, a candidata Rosinha Garotinho(PSB) ganharia já no primeiro turno, de acordo com pesquisa do Ibope divulgada ontem. Rosinha está com 44% das intenções de voto, contra 15%, de Jorge Roberto Silveira (PDT), 11% de Benedita da Silva (PT) e 7% de Solange Amaral (PFL). Os outros candidatos, reunidos, somam 2%.

Comparada com a pesquisa anterior, do dia 13, Rosinha subiu 8 pontos percentuais, Jorge Roberto desceu 4 e Benedita, um. Solange ficou no mesmo patamar. O levantamento, o primeiro dentro do período de propaganda eleitoral - realizado entre os dias 22 e 25 - ouviu 1.200 pessoas em 35 municípios, com marge m de erro de 2, 8%, para mais ou para menos. Por isso mesmo, o Ibope considera que Jorge Roberto está tecnicamente empatado com Benedita da Silva. Pela mesma razão, a governadora do Estado do Rio também está tecnicamente empatada com Solange Amaral. A percentagem dos que não opinaram ou não sabem em quem votar é de 15%.

Num eventual segundo turno, Rosinha teria 55%, contra 28% de Jorge Roberto, e, na simulação com Benedita, ficaria com 59% contra 21%. Já quanto ao índice de rejeição, Jorge Roberto é o mais bem situado, com 9%, seguido por Solange Amaral (15%), Rosinha (17%) e Benedita (42%).

Para o Senado, quem lidera é Sérgio Cabral (PSDB), com 42%, seguido pelo bispo Marcelo Crivella (PL), com 24%. Depois, vêm, empatados, Leonel Brizola (PDT) e Artur da Távola (PSDB), com 16%.

O Ibope também ouviu os eleitores sobre o governo de Benedita da Silva. A maioria - 56% - desaprova a administração petista, enquanto 28% aprovam.

Os resultados da pesquisa do Ibope, com índices ruins para Benedita da Silva, levaram o seu vice, o cientista político Luiz Eduardo Soares, a criticar publicamente a condução da campanha e os programas do horário gratuito na TV. Para Luiz Eduardo, a situação ''é muito grave''.

''As circunstâncias da campanha deveriam forçar Benedita a ser mais audaciosa, ousada, arrojada. Não há saída, mesmo que, por natureza, nossa candidata tenha um comportamento mais comedido''.

As críticas mais severas de Luiz Eduardo, vão no entanto, para os programas na TV, que considera ''muito bons, tecnicamente'', mas improdutivos. ''O compromisso com a qualidade envolve um estilo que impermeabiliza a candidata, que a faz parecer com qualquer outro concorrente. Fica tudo despolitizado, deixando de aproveitar, por exemplo, a singularidade da história de vida de Benedita, como uma forma de ruptura com os padrões políticos vigentes''.

Baseado na sua própria experiência com pesquisas qualitativas, Luiz Eduardo diz que este critério, usado para orientar os programas, ''leva a um ardil conservador, que inviabiliza qualquer ousadia''.

''A saída de Benedita da Silva seria, ousar, surpreender, chocar, mostrar que ela é realmente muito diferente de todos os outros candidatos. Esta atitude poderia gerar uma rejeição, no primeiro momento, mas a tendência, posteriormente, seria a de surpreender o eleitorado positivamente'', analisa Luiz Eduardo.

No comitê da candidata, a análise da maioria dos militantes foi que Benedita se desempenhou, na TV Record, melhor do que no debate da TV Bandeirantes, mas sem atingir ainda a um ponto considerado satisfatório. Ela teria falhado sobretudo, ao não utilizar o bloco final, para responder à defesa das contas do governo de Anthony Garotinho, feita por Rosinha.


PT afasta Heloísa da TV
Senadora é censurada por apoio ap PC do B

MACEIÓ - Em confronto aberto com a coordenação da campanha do PT em Alagoas, a senadora Heloísa Helena foi proibida de participar do horário eleitoral do rádio e TV destinado à aliança PT, PL, PC do B e PMN. Uma gravação de 21 segundos da senadora petista com o candidato ao senado pelo PC do B, Eduardo Bonfim, foi censurada por ordem da coordenação da campanha do PT.

O coordenador da campanha, jornalista Ricardo Coelho, explicou os motivos da censura à presença de Heloísa Helena no programa e impôs as condições para participação da maior ''estrela'' do PT em Alagoas. ''Vamos conversar com os dirigentes do PC do B e explicar os motivos da nossa decisão. A Heloísa deve satisfações ao PT e aos eleitores alagoanos, não admitimos a posição dela de não se engajar na campanha do Lula e do Judson Cabral, candidato ao governo de Alagoas. Ou ela entra na campanha para pedir votos para todos os candidatos e utiliza seu prestígio para ajudar o partido ou está fora da campanha'', afirmou o jornalista.

Ricardo reconheceu que a divisão interna do PT pode tirar o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva da campanha em Alagoas. ''A visita do Lula ainda vai ser avaliada. Já estava complicada porque tínhamos definido que não aceitaríamos a presença do PL no nosso palanque, mas agora surgiu esse fator complicador. Não posso garantir que o Lula manterá a agenda de campanha em Alagoas'', esclareceu.

Em visita aos municípios do sertão alagoano, Heloísa Helena rebateu as críticas e explicou os motivos de não participar da campanha petista no Estado. ''Se não aceitei ser candidata ao governo de Alagoas, por não concordar com a aliança com o PL, não faz sentido pedir voto para o Judson Cabral. Se fosse para pedir voto, eu mesma seria candidata'', disse a petista.

A crise interna na campanha em Alagoas vai ser discutida hoje entre os coordenadores da campanha do PT e lideranças do PC do B, que vão defender uma acordo para suspender a censura à senadora.


Artigos

Cultura e preconceito
Candido Mendes

Cientista político
Quando se considera Lula incapacitado para a Presidência, por não ter cultura superior, ou mesmo secundária, está-se falando em nome de todos os brasileiros? Ou refletindo, mais uma vez, o clássico preconceito das elites? O petista já venceu outros medos análogos: o do candidato radical das esquerdas ou do ''lobo na pele de cordeiro'' fazendo depois de eleito o contrário do que prometia. O que se reclama, no fundo, é não ser o candidato da mesma classe que se considera a única em condições de reger os rumos do país.

O que está em causa, sim, é saber o que se requer de um presidente, frente à máquina moderna de governar, que supre o que não aprendeu na escola com uma perspectiva nova que se traz ao poder. Não importa tenha um candidato, ou não, a cultura-ornamento, nem o manancial teórico esperado. O que compensa, vantajosamente, um presidente-operário, nos símbolos enormes que traz ao governo, é uma identidade maciça entre governantes e governados, que escapa do país de donos e parasitas.

Lula oferece-nos dois privilégios: o de exatamente mudar o horizonte dos grupos dominantes e o de fazê-lo por uma expressão política que não é a de um aventureiro ou iluminado, num despropósito de ambição, ou num delírio exótico. Cresceu o candidato de par com a ascensão das classes trabalhadoras, a permitir ao enorme Brasil de fora do sistema a representação de um Brasil para si, até agora privativo do país instalado, que em boa fé indiscutível não se dá conta das suas vantagens e de até onde é desse mirante que julga os incapazes de ascender à chefia da nação.

O que mais se precisa num presidente, coberto e cercado de assessores, provido da ciclópica bateria de dados, são os verdadeiros bom senso e equanimidade. Deles Lula pode dotar o país por uma biografia que conhece de dentro, em tantas etapas de destituição e conquista, a larga maioria da população brasileira. O próprio do saber especializado do político é a visão concreta da realidade e sua administração em bem de todos. A do petista é a da migração do Nordeste em busca de trabalho; do começo da verdadeira luta operária no mais representativo dos seus espaços, qual o do ABC; do ganho do sindicato sobre o peleguismo; do enfrentar o movimento militar quando a greve era sinônimo da baderna implacavelmente reprimida; do ganho de liderança, no voto das assembléias; dos piquetes, arengas nas portas de fábrica, protestos e marchas em que encontrou o mais largo estuário da sociedade civil na luta pela redemocratização.

Lula foi ao Brasil ignoto. Não há sofisticação universitária que atinja o dó do conhecimento dos nossos ''precisantes'', nem candidato que chega ao Planalto, como Lula, exposto ao país de fundo, da fábrica que o mutilou, da cadeia que o prendeu, da praça que dominou. É esse o plus que faz a competência e a qualidade única de um chefe da nação. Os IBGEs já se encarregara m dos dados do conhecer e tornaram prescindíveis os saberetes do sistema, em bem do saber que nasce do corpo-a-corpo com o Brasil tão arredio à oratória dos presidentes anteriores, suas becas, suas cartolas, seus alamares e honoris causas.

O país está em via de vencer as convenções de uma elite cuja antiga hegemonia transmitiu-se, até, a boa parte do povo, nos padrões que peça a quem suba a rampa do Planalto.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora kramer

Andor carrega-se com vagar
Três constatações podem ser feitas a partir dos resultados das últimas pesquisas de opinião eleitoral: o horário gratuito na televisão tem peso considerável; intenções não são decisões imutáveis; a precipitação continua sendo uma péssima conselheira, além de companhia traiçoeira.

Posta a evidência de que ainda vale o velho dito de que quanto mais devagar carrega-se o andor melhor para a preservação da integridade do santo, permanecem desprovidas de crédito quaisquer manifestações de certeza absoluta a respeito do resultado do primeiro turno das eleições. Para o qual, cumpre ressaltar, ainda faltam quase 40 dias.

Natural que a queda de Ciro Gomes desacelere o entusiasmo de sua tropa, como é normal que os tucanos comemorem a subida de José Serra. Mas nada, por enquanto, sustenta eventuais convicções de que a alteração do quadro tenha sido definitiva.

Nesta longa e antecipada campanha eleitoral já se cometeram erros de avaliação suficientes: Roseana Sarney foi fenômeno imbatível, Lula ganhou no primeiro turno, polarizou com Serra o bastante para fazer dos dois os oponentes da fase final, Garotinho representou perigo latente, Ciro também venceu no primeiro turno, Serra abandonou a candidatura e, por último, a certeza inabalável era a de que Ciro e Lula disputariam o Planalto com discreta vantagem para o candidato da frente mais que trabalhista, amplíssima.

Tão imutável foi considerado este cenário que Tasso Jereissati, antevendo-se dono da sigla, abandonou cerimônias com o PSDB, arvorou-se em engenheiro de uma reaproximação entre Ciro e Fernando Henrique e deu ordem para que os ataques de José Serra fossem ignorados. A interlocução do embate deveria ser feita apenas com Lula, o adversário.

Exposta a precipitação de todos os autores, culpar a quem? Ao eleitor não fica bem, restando, então, conferir tal crédito ao imponderável. Mas este é um fator que só se apresenta como acidente ou resultado de fato surpreendente, inesperado.

Considerando que nada houve de inusitado, ou que não estivesse absolutamente programado - como a tática adotada pelo candidato tucano em relação a Ciro Gomes -, voltamos ao ponto inicial: o Brasil não é um cassino e a eleição não é jogo de azar.

Apostas que não levem em consideração o discernimento do eleitorado e sua capacidade de adaptar suas vontades ao desenrolar dos acontecimentos mostram-se pautadas por misto de leviandade, ligeireza de raciocínio, oportunismo, insegurança e medo de errar.

Como trata-se de um conjunto de circunstâncias insuficientes para produzir resultados, as pitonisas de plantão prestariam grande serviço ao país e à própria credibilidade se refreassem um pouco suas certezas e não as alterassem profunda e definitivamente em função das novas pesquisas.

Elas mostram um efeito: o do comportamento dos candidatos na percepção do eleitor. Mas não são capazes ainda de estabelecer, muito menos consolidar, as causas que o farão votar neste ou naquele.

Estas, daqui em diante, começarão a ficar mais bem delineadas à medida que os postulantes à vaga de presidente da República tenham suas características cotejadas pela observação mais interessada de um público que, até agora, se postava como mero espectador de um jogo de políticos e partidos.

Daí a impossibilidade real, concreta e objetiva de se fazer apostas sem incorrer no risco do desrespeito aos valores que são mais caros à emoção e à razão de quem vota.

À primeira vista, os tucanos acertaram na exploração do temperamento autoritário de Ciro Gomes. O que não quer dizer que não possam vir a perder a medida desse acerto e tornarem-se vítimas da própria armadilha.

Não custa lembrar que a soberba, o desdém pelo inimigo, o excesso de confiança na força da estrutura governamental e a desorganização interna levaram o PSDB ao improviso de uma campanha cujo eixo só veio a se firmar a partir do embate direto com Ciro Gomes.

E, convenhamos, é preciso mais que a falta de educação de um adversário para garantir a eleição de quem quer que seja.

Como é que é?
Nos programas eleitorais do PT e do PSDB há duas agressões auditivas. Uma peca por excesso, outra por escassez.

O tucano apresenta seu plano de emprego como ''projeto segunda-feira'', numa concepção otimista sobre o primeiro dia útil da semana tão sofisticada, que soa incompreensível.

Já a apresentação da equipe de Saúde de Lula causa boa impressão até o momento em que o candidato aparece dizendo que, com aquelas pessoas, tudo vai ''funcionar''. Sinceramente, arranha até a excelência da turma.


Editorial

ANDOR CARREGA-SE COM VAGAR

Três constatações podem ser feitas a partir dos resultados das últimas pesquisas de opinião eleitoral: o horário gratuito na televisão tem peso considerável; intenções não são decisões imutáveis; a precipitação continua sendo uma péssima conselheira, além de companhia traiçoeira.

Posta a evidência de que ainda vale o velho dito de que quanto mais devagar carrega-se o andor melhor para a preservação da integridade do santo, permanecem desprovidas de crédito quaisquer manifestações de certeza absoluta a respeito do resultado do primeiro turno das eleições. Para o qual, cumpre ressaltar, ainda faltam quase 40 dias.

Natural que a queda de Ciro Gomes desacelere o entusiasmo de sua tropa, como é normal que os tucanos comemorem a subida de José Serra. Mas nada, por enquanto, sustenta eventuais convicções de que a alteração do quadro tenha sido definitiva.

Nesta longa e antecipada campanha eleitoral já se cometeram erros de avaliação suficientes: Roseana Sarney foi fenômeno imbatível, Lula ganhou no primeiro turno, polarizou com Serra o bastante para fazer dos dois os oponentes da fase final, Garotinho representou perigo latente, Ciro também venceu no primeiro turno, Serra abandonou a candidatura e, por último, a certeza inabalável era a de que Ciro e Lula disputariam o Planalto com discreta vantagem para o candidato da frente mais que trabalhista, amplíssima.

Tão imutável foi considerado este cenário que Tasso Jereissati, antevendo-se dono da sigla, abandonou cerimônias com o PSDB, arvorou-se em engenheiro de uma reaproximação entre Ciro e Fernando Henrique e deu ordem para que os ataques de José Serra fossem ignorados. A interlocução do embate deveria ser feita apenas com Lula, o adversário.

Exposta a precipitação de todos os autores, culpar a quem? Ao eleitor não fica bem, restando, então, conferir tal crédito ao imponderável. Mas este é um fator que só se apresenta como acidente ou resultado de fato surpreendente, inesperado.

Considerando que nada houve de inusitado, ou que não estivesse absolutamente programado - como a tática adotada pelo candidato tucano em relação a Ciro Gomes -, voltamos ao ponto inicial: o Brasil não é um cassino e a eleição não é jogo de azar.

Apostas que não levem em consideração o discernimento do eleitorado e sua capacidade de adaptar suas vontades ao desenrolar dos acontecimentos mostram-se pautadas por misto de leviandade, ligeireza de raciocínio, oportunismo, insegurança e medo de errar.

Como trata-se de um conjunto de circunstâncias insuficientes para produzir resultados, as pitonisas de plantão prestariam grande serviço ao país e à própria credibilidade se refreassem um pouco suas certezas e não as alterassem profunda e definitivamente em função das novas pesquisas.

Elas mostram um efeito: o do comportamento dos candidatos na percepção do eleitor. Mas não são capazes ainda de estabelecer, muito menos consolidar, as causas que o farão votar neste ou naquele.

Estas, daqui em diante, começarão a ficar mais bem delineadas à medida que os postulantes à vaga de presidente da República tenham suas características cotejadas pela observação mais interessada de um público que, até agora, se postava como mero espectador de um jogo de políticos e partidos.

Daí a impossibilidade real, concreta e objetiva de se fazer apostas sem incorrer no risco do desrespeito aos valores que são mais caros à emoção e à razão de quem vota.

À primeira vista, os tucanos acertaram na exploração do temperamento autoritário de Ciro Gomes. O que não quer dizer que não possam vir a perder a medida desse acerto e tornarem-se vítimas da própria armadilha.

Não custa lembrar que a soberba, o desdém pelo inimigo, o excesso de confiança na força da estrutura governamental e a desorganização interna levaram o PSDB ao improviso de uma campanha cujo eixo só veio a se firmar a partir do embate direto com Ciro Gomes.

E, convenhamos, é preciso mais que a falta de educação de um adversário para garantir a eleição de quem quer que seja.

Como é que é?
Nos programas eleitorais do PT e do PSDB há duas agressões auditivas. Uma peca por excesso, outra por escassez.

O tucano apresenta seu plano de emprego como ''projeto segunda-feira'', numa concepção otimista sobre o primeiro dia útil da semana tão sofisticada, que soa incompreensível.

Já a apresentação da equipe de Saúde de Lula causa boa impressão até o momento em que o candidato aparece dizendo que, com aquelas pessoas, tudo vai ''foncionar''. Sinceramente, arranha até a excelência da turma.


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08/28/2002


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