Serra recupera 13 pontos e empata com Ciro









Serra recupera 13 pontos e empata com Ciro
Datafolha mostra que tucano encurtou de 14 pontos para 1 a diferença em relação ao rival

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, diminuiu em 13 pontos, em menos de duas semanas, a diferença entre ele e o adversário Ciro Gomes (PPS) na disputa pelo segundo lugar da corrida sucessória, segundo dados divulgados ontem pelo instituto Datafolha. Agora, ele tem 19% e está praticamente empatado com Ciro, que tem 20% das intenções de voto. O petista Luiz Inácio Lula da Silva permanece líder, com 37%.

O resultado confirma a ascensão do presidenciável tucano após o início do horário eleitoral gratuito, no dia 20. A diferença entre os dois é inferior à margem de erro da pesquisa, de 2 pontos porcentuais (para mais ou para menos), o que configura empate técnico. Lula não oscilou. O candidato do PSB, Anthony Garotinho, aparece isolado em quarto lugar. Ele perdeu dois pontos e está com 10%.

De acordo com o instituto, Ciro mantinha o segundo lugar desde o fim de julho. O candidato perdeu o maior porcentual de votos entre eleitores de nível superior e de renda acima de 10 salários mínimos.

Migração – Nesses segmentos, o ex-governador do Ceará perdeu, respectivamente, 13% e 11%. Lula herdou a maior parte dos eleitores de maior renda descontentes com Ciro. Entre os eleitores mais ricos, em relação à pesquisa anterior, o petista cresceu 10 pontos (tem 42%) e Serra, 3 (tem 20%). Ciro fica com 27% das preferências.

Segundo o Datafolha, no levantamento foram ouvidas 2.581 pessoas, em 148 municípios do País. Todas as simulações de segundo turno são vencidas por Lula.

Os dados apurados nos dias 15 e 16 indicavam empate entre o petista e Ciro, ambos com 45% das intenções de voto. Agora, Lula derrota o candidato do PPS por 48% a 41%. A vantagem de votos do petista sobre uma eventual disputa com Serra oscilou negativamente dois pontos. Lula tem 51% e o tucano 39%. A vantagem sobre Garotinho seria ainda maior: 54% contra 33% das preferências.

Desprezo – Informado dos novos números em Montes Claros, interior de Minas Gerais, onde chegou ontem no início da noite, Ciro desprezou os números, afirmando que, no Brasil, as pesquisas eleitorais têm baixos índices de confiabilidade e problemas metodológicos.

Ele declarou, em seguida, que a maioria dos institutos de pesquisas tem envolvimento com os comitês eleitorais e que não tem medo de que os resultados das pesquisas afastem aliados ou financiadores de sua campanha.

Em São Paulo, onde chegou no início da tarde, procedente de Porto Alegre, o candidato José Serra não quis fazer comentários sobre sua subida. Mas no comando do PSDB a constatação foi a de que a estratégia de atacar o rival no horário eleitoral surtiu efeito. Serra não apenas alcançou o adversário como o grau de rejeição a Ciro cresceu 8 pontos: 25% dos eleitores dizem que não votariam no ex-governador de jeito nenhum. Mas as taxas de Lula e Serra, nesse item, são maiores: respectivamente 31% e 27%. O Datafolha demonstrou ainda que, entre os eleitores que assistiram a pelo menos um dia de horário eleitoral gratuito, 17% admitiram ter alterado o voto.


Serra volta a atacar 'atraso' e 'inexperiência'
Candidato não cita Ciro nem Lula, mas faz duras críticas a rivais em comício em Porto Alegre

PORTO ALEGRE - Ao participar de comício na sexta-feira à noite, em Porto Alegre, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, voltou a fazer duros ataques a seus adversários, embora não tenha mencionado o nome de Ciro Gomes (PPS) nem o do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Em discurso animado, diante de cerca de 4 mil pessoas, em uma escola de samba, o tucano afirmou que a candidatura de um de seus rivais "reúne tudo aquilo que o Brasil tem de mais atrasado e mais antigo com embrulho novo, com embrulho para presente" e que "lá estão aqueles que têm experiência em se perpetuarem no poder, de bloquear as mudanças, de manter o atraso neste País".

Em outro momento, numa evidente referência ao PT, afirmou que "muita gente desse lado merece respeito, mas oferece a esperança sem a experiência, para não dizer algumas experiências malogradas, como o Estado do Rio Grande do Sul" - uma menção ao atual governador gaúcho Olívio Dutra (PT). A noite foi organizada pelo candidato a deputado federal Eliseu Padilha (PMDB). Serra pediu votos para a eleição de bancadas fortes na Câmara e no Senado.

"Precisamos de gente decente do nosso lado", advertiu, na quadra da escola Imperadores do Samba.

"Governar o Brasil significa governar com maioria para poder governar bem, com apoios leais, com maiorias estáveis", afirmou. Organizada por Padilha, a festa acolheu Serra e outros nomes da coligação PSDB-PMDB no Estado. Ao final, por volta de 23h30, o tucano e sua vice sambaram com a madrinha da bateria e passistas.

Patrícia - Desde que subiu nas pesquisas, Serra viu aumentar o número de políticos em seu palanque. Na quadra da Imperadores do Samba, anteontem, estava o senador Pedro Simon (PMDB-RS), ex-pretendente a vice na chapa tucana. Simon elogiou Rita Camata, afirmando que, além de bonita, ela é capaz. E acabou fazendo referências à atriz Patrícia Pillar, namorada e principal cabo eleitoral de Ciro.

Ao lado de Rita, afirmou: "Não é por ser atriz da Globo, Rita foi uma grande deputada. E não será primeira-dama não, será vice-presidente encarregada da questão social."

Serra lembrou então que, no tempo da ditadura, acompanhava de longe a atuação de Simon como um dos líderes da resistência democrática no Sul.

"Aprendi a admirá-lo a distância", afirmou.


Ciro conclama Minas a tirar “barões paulistas”do poder
Em Belo Horizonte, candidato propõe fim do ‘atual modelo’, que seria controlado por SP

BELO HORIZONTE – O candidato a presidente Ciro Gomes (PPS) propôs ontem que seja destruído o “atual modelo de poder que concentra uma oligarquia de barões paulistas”. A frase foi dita em uma entrevista à TV Alterosa, logo depois de ele ter afirmado que “Minas é, junto com o Rio Grande do Sul, o Estado mais importante no equilíbrio da federação brasileira”.

Em continuação, o presidenciável do PPS conclamou os mineiros a participar de seu projeto (a destruição desse modelo de poder): “Eu conto, profundamente conto, senão eu não quero nem ser presidente, com a sensibilidade do povo de Minas para essa grande tarefa.”

Os comentários de Ciro foram feitos quando um jornalista lhe perguntou qual seria a estratégia de sua candidatura em Minas, onde ele vem perdendo a vantagem que tinha sobre o rival José Serra. Sabe-se que o jornal Estado de Minas está para publicar novos números que apontariam um empate técnico entre os dois no eleitorado mineiro.

Nos outros compromissos, em Belo Horizonte, Ciro manteve contatos com correligionários da Frente Trabalhista e voltou a disparar sua artilharia contra o candidato José Serra (PSDB). Rotulou de “piada de salão” e “insulto à inteligência do povo brasileiro”, a promessa do tucano de criar 8 milhões de empregos.

Adesão – Em sua agenda estava um encontro para receber a adesão de deputados do PMDB, que apóia José Serra (PSDB) e PPB. A campanha da Frente Trabalhista no Estado, no entanto, sofreu significativa baixa.

A candidata do PPS ao Senado, Júnia Marise, renunciou na noite de sexta-feira à disputa, alegando falta de recursos financeiros para prosseguir na campanha

Em Brasília, o comando de sua campanha entrou na noite de sexta-feira, junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com um agravo solicitando a suspensão do direito de resposta concedido ao presidenciável José Serra (PSDB) no programa da Frente Trabalhista.

A decisão do ministro Peçanha Martins se deve ao uso que Ciro fez de uma cena de luta “telecatch” no início de seu espaço no horário eleitoral – que vem justamente em seguida ao final do programa de Serra. A cena foi considerada uma ofensa pelo PSDB.


Eu e Patrícia somos um casal bastante feliz’, reage candidato
Tendo sempre ao seu lado a mulher, a atriz Patrícia Pillar, o presidenciável participou de uma caminhada na região noroeste de Belo Horizonte. Pouco antes, aproveitando a presença dela, ele reagiu ao modo como a imprensa tratou o episódio do dia anterior, em São Paulo, em que declarou que Patrícia tinha um papel importante na campanha, o de dormir com ele. O candidato classificou “parte da imundície política” as críticas que recebeu.

“Eu e Patrícia somos um casal bastante feliz e acho que dá para notar. Costumamos brincar muito.

Somos muito felizes e eu não vou contar a vocês as brincadeiras que ela faz comigo”, afirmou o presidenciável, abraçado à mulher, durante uma tumultuada visita ao Mercado Central. “Para ela eu peço desculpas, não pela brincadeira que nós estamos acostumados a fazer, mas porque ela está vendo agora, de perto, o que a imundície política no Brasil hoje consegue fazer. Até mesmo uma relação pessoal como a nossa, bonita, baseada no amor, na alegria de viver, na superação de graves desafios juntos, tenta-se manipular na estrutura pesada de propaganda do governo para fazer intriga contra mim.”

Patrícia rebateu as críticas de feministas que condenaram duramente a declaração de Ciro. “Meu marido é maravilhoso. Se elas tivessem o marido que tenho, não precisariam ficar falando”, contestou. “Ciro é verdadeiro, ele não é empacotado para a venda, para uso externo”. Segundo ela, o povo brasileiro prefere a sinceridade “a um político mentiroso, que forja a sua personalidade para enganar as pessoas.”


Lula promete fazer em 4 anos “o que não foi feito em 10”
Em discurso em Ribeirão Preto, petista prometeu ‘revoluções’ no emprego e educação

RIBEIRÃO PRETO – Diante de cerca de 15 mil pessoas, em comício na sexta-feira em Ribeirão Preto, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu “revoluções” no emprego e na educação se for eleito.

“Vamos fazer em quatro anos o que não fizeram em dez”, afirmou, em um breve discurso, que durou pouco mais de dez minutos.INTERTITULO/INTERTITULO

Cansado por causa da extensa agenda realizada na quinta-feira no Rio de Janeiro, o petista decidiu se poupar em Ribeirão e concentrar forças para o debate entre os presidenciáveis amanhã, na TV Record. Ele passaria o fim de semana sem agenda pública para descansar.

Pela terceira vez na campanha, seu comício foi embalado pela dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. “Temos mais uns 11 shows nessa campanha e, até terminar, eu vou estar cantando e eles (a dupla) vão estar fazendo o discurso no meu lugar”, brincou Lula.

Desta vez, o petista até dispensou a participação que sempre faz no show da dupla, na hora em que é tocada a música Meu País. A canção é usada pelo marqueteiro Duda Mendonça no horário eleitoral de rádio e TV do presidenciável.

INTERTITULO/INTERTITULOO comício de Ribeirão reuniu a cúpula petista, com a presença do prefeito licenciado da cidade e coordenador de programa de governo de Lula, Antônio Palocci, da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e dos candidatos da chapa majoritária petista no Estado.

Críticas – Ao contrário de Lula, o candidato do PT ao governo paulista, deputado José Genoíno, fez um discurso inflamado, com duras críticas aos adversários Geraldo Alckmin e Paulo Maluf. Ele chegou a referir-se a Maluf como “aquele fascista que, quando fala em segurança, está fazendo demagogia”.


Artigos

A maneira certa de mudar um regime
James A. Baker III

Embora possa haver poucas evidências de que o Iraque tenha ligações com a Al-Qaeda ou com os ataques de 11 de setembro, não há dúvida de que seu atual governo, sob Saddam Hussein, não passa de um regime fora-da-lei, que viola as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, embarcou num programa de desenvolvimento de armas de destruição em massa e é uma ameaça à paz e à estabilidade tanto no Oriente Médio como, diante do risco de proliferação dessas armas, em outras partes do globo. As nações amantes da paz têm a responsabilidade moral de lutar contra o desenvolvimento e a proliferação de armas de destruição em massa por criaturas malévolas como Saddam Hussein.

Devemos isso aos nossos filhos e netos, e travar essa batalha é, e deve continuar a ser, uma importante prioridade de política externa para os EUA.

Portanto, mudar o regime do Iraque é a política do atual governo americano, assim como foi a de seu antecessor. Em vista disso, a questão que cabe aos responsáveis pela elaboração da política dos EUA resolver não é se deve ser usada a força militar para alcançar esse objetivo, mas como isso deve ser feito.

Operações secretas foram tentadas antes, mas todas fracassaram. Os grupos iraquianos de oposição não são bastante fortes para cumprir essa tarefa. Nem se chegará lá com uma revolta interna, seja do exército ou da população civil. Teríamos de ter uma sorte extraordinária para depor os líderes da cúpula infiltrando no Iraque um pequeno comando de ataque relâmpago. E esse tipo de investida envolve riscos políticos significativos para o governo, como o presidente Jimmy Carter descobriu em abril de 1980.

A única maneira realista de levar a efeito a mudança de regime no Iraque é usando a força militar, com tropas terrestres suficientes para ocupar o país (inclusive Bagdá), depor a atual liderança e instalar um novo governo. Quem quer que pense que podemos promover uma mudança de regime no Iraque com menos que isso simplesmente está fora da realidade. Nem pode ser feito a baixo custo, pois exigirá forças substanciais e muito tempo para deixá-las em condições de agir. Na Guerra do Golfo Pérsico tivemos mais de 500 mil americanos, além dos soldados dos nossos muitos aliados. Haverá baixas, provavelmente bem mais que naquela guerra, uma vez que os iraquianos estarão lutando para defender sua pátria. Lamentavelmente, também haverá mortes de civis. Enfrentaremos o problema de calcular por quanto tempo teremos de ocupar e administrar um país tão grande e turbulento e que tipo de governo ou administração se seguirá. E será difícil encontrar Saddam Hussein e seus principais asseclas - levamos duas semanas para localizar Manuel Noriega no Panamá, um país pequeno onde tínhamos bases militares.

A menos que façamos as coisas da maneira certa, haverá custos para outros interesses da política externa americana, incluindo nossas relações com praticamente todos os demais países árabes (e até com muitos dos nossos habituais aliados na Europa e em outras partes), e talvez até para nossa principal prioridade, a guerra contra o terrorismo.

E, por fim, o custo financeiro para o contribuinte norte-americano de um empreendimento militar dessa magnitude. A Guerra do Golfo Pérsico custou em torno de US$ 60 bilhões, mas conseguimos convencer nossos diversos aliados naquela campanha a arcar com boa parte dos gastos.

Então, como deveríamos proceder para realizar a mudança de regime no Iraque?

Embora os EUA pudessem ter sucesso, deveríamos tentar ao máximo não entrar nessa empreitada sozinhos, e o presidente deveria rejeitar as idéias dos que o aconselham a fazer isso.

Os custos em todas as áreas serão bem maiores, bem como os riscos políticos, tanto no plano doméstico quanto internacional, se terminarmos por entrar nessa campanha sozinhos ou com apenas um ou dois países.

O presidente deveria fa zer de tudo para que seus conselheiros e assessores parassem de discutir suas divergências em público e tentar pô-los a todos de acordo.

Os EUA deveriam advogar a adoção pelo Conselho de Segurança da ONU de uma resolução, simples e direta, exigindo que o Iraque se submeta às inspeções impostas a qualquer momento e em qualquer local, sem exceções, e autorizando o emprego de todos os meios necessários.

Embora tecnicamente seja verdade que a ONU já tem autoridade legal suficiente para lidar com o Iraque, o fato de não ter agido quando Saddam Hussein expulsou seus inspetores enfraqueceu essa autoridade. Agora é necessário obter nova autorização, tanto do ponto de vista político como prático, o que ajudará a atrair apoio internacional.

Algumas pessoas argumentarão, como em 1990, que, se recorrermos à autoridade da ONU e não conseguirmos nada, isso enfraquecerá nossa causa. Discordo. Ao nos propormos a proceder dessa forma estaremos fazendo o que é certo, tanto política quanto substantivamente. Nossa posição moral se elevará ao mais alto grau e lançaremos a responsabilidade pelo apoio a um regime fora-da-lei e pela proliferação de armas de destruição em massa sobre os países que votarem contra. A história será um severo juiz para os que preferem fazer negócios a fazer o que é certo. E, mesmo que não consiga nada no Conselho de Segurança, o governo ainda estará livre - citando o escárnio do Iraque às resoluções da comunidade internacional e, talvez, o artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que garante o direito das nações à autodefesa - para pesar os custos versus benefícios de seguir em frente sozinho.

Outros alegarão que essa abordagem ofereceria uma saída para Saddam Hussein, pois ele poderia concordar e, depois, usar a mesma tática de "trapacear e recuar" que usou durante a primeira inspeção ao seu regime. Justamente por isso não nos devemos deter. Na primeira vez que ele recorresse a tal tática, lançaríamos mão de quaisquer meios necessários para mudar o regime. E a comunidade internacional teria de ser informada, durante o debate no Conselho de Segurança, de que essa é a nossa política.

Deveríamos reconhecer francamente que o nosso problema para levar a bom termo a mudança de regime no Iraque é agravado pelo modo como a nossa política em relação à guerra árabe-israelense é vista no mundo inteiro.

Lamentavelmente, tanto em política internacional como interna, a impressão causada é mais importante que a realidade. Não podemos permitir que a nossa política para o Iraque seja associada ao conflito árabe-israelense, como Saddam Hussein cinicamente insiste em fazer, da mesma maneira que em 1990 e 1991. Mas para evitar isso temos de agir de forma afirmativa, agressiva e também justa e equilibrada, para implementar a visão do presidente sobre um acordo para o conflito árabe-israelense, como ele expôs no seu discurso de junho. Isso significa, é claro, reformas palestinas e o fim das táticas terroristas. Mas significa também a retirada das forças israelenses para as posições ocupadas antes de setembro de 2000 e a suspensão imediata das atividades envolvendo assentamentos.

Se quisermos mudar o regime do Iraque, teremos de ocupar o país militarmente. O custo político, econômico e de vidas poderá ser muito grande. Mas será minorado se o presidente conseguir trazer uma coalizão internacional para a retaguarda desse esforço. Fazer isso também ajudará a continuar contando com o apoio do povo americano, pré-requisito necessário para o sucesso de qualquer política externa.


Editorial

A MARCHA DA INSENSATEZ

Nas últimas semanas, os Estados Unidos têm mostrado ao mundo uma paisagem política que beira a esquizofrenia: quanto mais se adensam no país as objeções à pretendida invasão do Iraque, com mais obstinação a linha-dura de Washington faz soar os tambores da guerra. Dentro do governo, são os civis - notadamente, o vice-presidente Dick Cheney, o secretário de Defesa Donald Rumsfeld, o seu segundo Paul Wolfowitz e a assessora de Segurança Nacional Condoleezza Rice, com as suas respectivas coortes de falcões, como Richard Perle, um veterano da era Reagan, conhecido como "Príncipe das Trevas" - que formam na vanguarda dessa operação que parece ter tudo para ser a mais nova "marcha da insensatez", como a falecida historiadora americana Barbara Tuchman denominou a sucessão de erros fatais cometidos pelos poderosos da Terra, "de Tróia ao Vietnã".

Ainda no âmbito do governo, a avaliação cuidadosa da miríade de problemas que tenderão a espoucar antes, durante e depois da ofensiva ficou predominantemente a cargo dos militares, a começar do secretário de Estado Colin Powell, dos chefes do Estado-Maior Conjunto e dos escaldados profissionais do Pentágono que vazam para a imprensa informações sobre a enormidade que será levar adiante a obsessão verdadeiramente freudiana pela qual o presidente George W. Bush está possuído - a de derrubar o ditador Saddam Hussein para completar o serviço que o seu pai deixou a meio caminho na Guerra do Golfo, em 1991. Graças a esses vazamentos, o público americano soube que os cenários traçados admitem o envio de até 100 mil soldados ao Oriente Médio e que o conflito, de duração e desdobramentos incertos, poderá custar algo como US$ 60 bilhões.

No Senado, até representantes republicanos na Comissão de Relações Exteriores levantam dúvidas fundamentadas sobre a rationale e os resultados possíveis da ofensiva. Na imprensa, nos meios acadêmicos e nos inúmeros think-tanks voltados para questões estratégicas, a oposição aos planos da Casa Branca já deixou de ser monopólio dos liberais. Recentemente, por exemplo, o conselheiro de Segurança Nacional de Bush-pai, o general da reserva Brent Scowcroft, publicou um artigo intitulado, simplesmente, Não ataquem Saddam. E mesmo o ex-secretário de Estado James A. Baker III, a figura com mais ascendência sobre o primeiro presidente Bush, embora defenda a eliminação do "regime delinqüente" de Hussein, aconselha os Estados Unidos a não fazê-lo sem reunir previamente amplo apoio internacional, por meio das Nações Unidas, e obter a retirada das tropas israelenses dos territórios palestinos.

Mas Bush-filho ainda reluta em condicionar o ataque à aprovação prévia do Congresso americano, que dirá da ONU, e manda seu vice, Cheney, declarar que, ou os EUA atacam o Iraque assim que possível, ou Saddam, "muito em breve", terá armas nucleares. Por isso, os riscos da inação seriam "maiores do que os da ação". Na realidade, nenhum risco supera o da simplificação do problema. E o problema não é, evidentemente, subestimar a malignidade do ditador iraquiano, mas ignorar as proporções do incêndio que se propagará a partir do mundo árabe, desde a Arábia Saudita, cujos poços de petróleo estarão na mira de Saddam, se os EUA aplicarem unilateralmente a doutrina da "autodefesa preventiva" de W. Bush.

O egípcio Hosni Mubarak, presidente do país que mais recebe ajuda americana em todo o mundo, depois de Israel, decerto sabe o que está dizendo quando advertiu os Estados Unidos de que "se atacarem o Iraque, nenhum líder árabe será capaz de conter a explosão de ódio das massas". Apoiados apenas pelo governo britânico - na contramão do sentimento da maioria dos ingleses - e pelo Estado-cliente Israel, os Estados Unidos terão contra si até a casa real saudita, porque de outro modo ela se desmanchará como um castelo de areia. Mesmo entre os americanos, o entusiasmo pela invasão diminui, diante de um cenário de baixas significativas nas tropas nacionais. A situação, enfim, envolve um cruel paradoxo. Não se acredita que Saddam, se não for atacado, tome a iniciativa suicida de usar contra a América (ou contra Israel) as armas de destruição em massa que esteja produzindo. Mas, na hipótese de que existam e possam ser lançadas, é certo que, invadido o Iraque, ele "morrerá atirando" o que tiver de mais devastador, no alvo que puder atingir. Ou seja, ao fim e ao cabo, os Estados Unidos liquidarão Saddam, mas não sem antes, provavelmente, pagar um preço tão elevado que fará da operação toda um ato de insanidade.


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09/01/2002


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