PSDB ignora PFL e mantém Serra



 





PSDB ignora PFL e mantém Serra
O PFL tentou dar um ultimato ao PSDB mas não deu certo, só azedando ainda mais o clima entre os dois ex-aliados. Os tucanos rechaçaram a pressão dos pefelistas pela substituição do candidato à Presidência afirmando que a candidatura de José Serra não está sujeita a contestações, será mantida e vencerá as eleições.

Os dois partidos soltaram notas oficiais. O PFL defendendo a troca de Serra e o PSDB recusando qualquer pressão dos pefelistas. Na noite de anteontem, o PFL já tinha sugerido a troca durante jantar com o presidente Fernando Henrique no Palácio da Alvorada.

O PMDB, que indicará o candidato a vice na chapa de Serra, imediatamente se solidarizou com o PSDB e a guerra de notas paralisou o processo de reaproximação do PFL com o governo.

Jantar deveria marcar aproximação
O jantar no Alvorada deveria ter sido o início do processo de reconciliação entre PFL e PSDB. O desencontro na interpretação da conversa que reuniu Fernando Henrique e dirigentes dos dois partidos resultou na troca de notas. Irritado com as declarações do presidente do PSDB, José Aníbal, de que a adesão do PFL estava próxima e que em pelo menos 15 estados o apoio a Serra estava praticamente selado, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, soltou a primeira nota, pedindo a substituição de Serra por outro tucano que seja aceito pelos pefelistas. A reação foi rápida:

“A candidatura do senador José Serra não é um ato de vontade pessoal e não está sujeita a contestações ou ultimatos. Nasceu do acordo político das forças que respaldam o rumo dado ao país pelo atual governo. É uma candidatura para disputar e vencer as eleições para presidente da República”, rebateu Aníbal em outra nota, redigida após almoço com a direção do PMDB.

Aníbal se disse surpreso com a reação de Bornhausen, uma vez que o jantar de três horas transcorrera num clima amistoso.

— Tivemos um bom diálogo que poderia prescindir de notas — declarou Aníbal.

— O PFL na aliança é bem-vindo para apoiar Serra, mas ninguém mais vai atrás deles. Todos os gestos foram feitos, agora é a vez de eles decidirem para onde vão. O resto é marola — disse o líder do PMDB, deputado Geddel Vieira Lima (BA).

PFL apresentou pesquisa a FH
No almoço do PMDB com o PSDB, os dois partidos concluíram que não faz mais sentido os tucanos reafirmarem quase que diariamente que o candidato da aliança é Serra. Isso acaba por enfraquecer a candidatura, justamente num momento em que ela passa por dificuldades. Por isso, os dirigentes saíram dizendo que gostariam de ter o PFL na aliança mas por iniciativa dos próprios pefelistas.

Os pefelistas disseram ontem que, no jantar com Fernando Henrique, Bornhausen defendeu a tese de que, se não houvesse a troca do candidato, o governo poderia perder as eleições já no primeiro turno para o petista Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do PFL ainda entregou a Fernando Henrique o resultado de uma pesquisa que mostra que 87% dos parlamentares pefelistas apóiam a coligação com o PSDB mas só se o candidato for outro.

Também participaram do jantar com Fernando Henrique o coordenador da campanha tucana, Pimenta da Veiga, o vice-presidente do PFL, senador José Jorge, e os presidentes dos dois partidos.


Acaba hoje o prazo para tirar título
Hoje é o último dia para quem precisa tirar o título de eleitor ou transferir seu domicílio eleitoral. O prazo não será alterado e as zonas eleitorais da capital e do interior do estado funcionarão apenas das 11h às 19h. Os eleitores que estiverem na fila no horário de fechamento receberão senhas. Ontem, houve filas na maioria dos postos de alistamento do Rio. Os eleitores que quiserem alterar o endereço de seus títulos também devem procurar as Zonas Eleitorais

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) só deverá divulgar no fim de junho o número de novos eleitores. A previsão é de que o eleitorado cresça 5% este ano em relação a 2000. Com isso, cerca de 114 milhões de brasileiros estarão habilitados a participar da eleição.

Campanha pelo alistamento de jovens de 16 e 17 anos
O voto é obrigatório para quem tem mais de 18 anos. Quem completa 16 anos até o dia do primeiro turno da eleição, 6 de outubro, também está habilitado a tirar o título de eleitor, embora não seja obrigatório.

Nas duas últimas semanas, entidades estudantis fizeram campanhas para conclamar os jovens de 16 e 17 anos a se alistarem. Para tirar o título, o eleitor precisa apresentar a carteira de identidade. No caso de transferência, é necessário levar o título antigo. Quem não votar e não se justificar terá que pagar multa, cujo valor é decidido pelo juiz eleitoral.


PT discute programa de governo com a Fiesp
SÃO PAULO e RIO. A direção do PT começou ontem a procurar representantes de empresários para trocar idéias sobre as diretrizes de um possível governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem a cúpula petista foi pedir sugestões e levar seu projeto à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Os banqueiros também devem ser procurados.

— O que nos interessa são as idéias, não mais se elas são de esquerda ou de direita. Antigamente a esquerda era satanizada, talvez porque isso fosse útil para se ganharem eleições — disse o diretor de Competitividade Industrial da Fiesp, Mário Bernardini.

No Rio, onde participou do XIV Fórum Nacional, no BNDES, o presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva, elogiou a iniciativa, mas lembrou que as propostas ainda estão abertas.

— Os projetos ainda estão muito genéricos, não-aprofundados. Há pontos de convergência com o PT, assim como com outros partidos, como o PSDB. O importante é a construção de um projeto para o país — disse.

Idéias comuns sobre a reforma tributária
Na Fiesp, os petistas identificaram idéias comuns com os empresários em relação à reforma tributária, à política de desenvolvimento e ao combate à guerra fiscal dos estados.

— Na história recente do debate tributário, o PT teve com as entidades empresariais e de trabalhadores alguns acordos importantes do ponto de vista da desoneração da produção e principalmente do investimento — lembrou Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto e coordenador da equipe que prepara o programa de governo petista.

Segundo Palocci, Piva e diretores da Fiesp discordaram da proposta do PT sobre as privatizações e as medidas que precisam ser tomadas no setor elétrico.

Segundo o coordenador, não apenas banqueiros e empresários serão procurados, mas todos os segmentos da sociedade poderão participar da montagem do programa de governo de Lula. A visita aos bancos ainda não tem período marcado.

— Acho que não existe mais esse temor de mudanças. Queremos mudar, sim, e não abrimos mão de fazer uma proposta de mudança para o Brasil, porque achamos que essa é a expectativa do povo. Nossa intenção não é fazer um projeto que tranqüilize o mercado. Queremos fazer mudanças de maneira equilibrada, oferecendo segurança para esse processo de transição pelo qual o Brasil precisa passar. Nossa intenção é operar essas mudanças com os parceiros que constroem o Brasil dia-a-dia — disse o coordenador.

Programa ainda será debatido em conferência
Palocci afirmou que o programa petista, que antes de ser aprovado pela direção nacional será debatido numa conferência pública em junho, será um documento com propostas objetivas, para estimular o debate eleitoral e também deixar claro para a sociedade o que o partido pretende fazer e em quanto tempo.

— É lógico que queremos dobrar o salário-mínimo no primeiro ano de governo, mas isso não é possível. A economia não suport a uma mudança tão rápida. Precisamos dizer: é preciso crescer o salário-mínimo e vamos dizer em quanto tempo é possível elevá-lo efetivamente. Será um programa de metas, com compromissos — afirmou.

Documento foi elaboradoem dezembro, em Recife
O documento básico levado pelos petista foi uma cópia das “Diretrizes do programa de governo do PT”, aprovado no encontro nacional em dezembro, em Recife.

Os petistas já têm programadas visitas às federações das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro e de Minas.

Também vão à OAB e à CNBB para entregar o texto com as diretrizes. O partido já conversou sobre o mesmo tema com as centrais sindicais CUT, CGT e Força Sindical.


FH cobra de Tebet votação da CPMF
BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou um encontro com o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), no elevador do Palácio do Planalto, para fazer um apelo veemente aos senadores para que votem o mais rapidamente possível a emenda que prorroga a CPMF até 2004. Fernando Henrique e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, que estava ao lado, disseram a Tebet, que fora ao palácio para a cerimônia do Dia das Comunicações, que os prejuízos têm sido enormes.

O governo perde R$ 400 milhões por semana com a não-cobrança da CPMF, cujo prazo de validade termina em 18 de junho. Mas Tebet avisou ao presidente que nada podia fazer para apressar os prazos e que a aprovação da CPMF deve levar 45 dias. Hoje deve começar o processo de discussão da emenda na Comissão de Constituição e Justiça.

— E a CPMF? Como está? O prejuízo é enorme... — disse Fernando Henrique.

Malan reforçou o apelo, afirmando que o prejuízo está aumentando a cada dia. Tebet lembrou que há prazos de tramitação que precisam ser cumpridos e que só poderiam ser reduzidos com a concordância dos partidos. Mas o PFL, por exemplo, já avisou que vai apresentar emendas.

— Entendo a preocupação do presidente, mas só posso garantir que vamos dar um andamento normal à questão — disse Tebet.

O presidente do Senado afirmou que é contra a redução do prazo de 90 dias exigido para que a nova CPMF comece a ser cobrada. Com isso, ela só deve começar a ser cobrada em setembro.

— Demoraria muito para aprovar a redução da quarentena. Por isso, é uma medida inócua — disse.


Para Serra, pressão do PFL é apenas ‘uma estratégia de cacife partidário’
SÃO PAULO e BRASÍLIA. O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, desqualificou ontem a nota divulgada pela direção do PFL, que condiciona o retorno do partido à aliança governista à retirada de sua candidatura. Segundo Serra, a iniciativa não passa de “uma estratégia de cacife partidário”. A meta do PFL seria ganhar mais poder na negociação de uma chapa única à sucessão do presidente Fernando Henrique.

— É uma estratégia de cacife partidário. Um lance de natureza partidária, de acordo com os interesses do PFL. Só isso — afirmou ele.

Serra, que negocia a indicação de um integrante do PMDB para ser seu vice, evitou dizer se considera ou não necessária a adesão do PFL à sua candidatura:

— Não estou dizendo que o PFL é dispensável nem indispensável. Não vou dizer mais nada além do que já disse.

Almoço em homenagem a Olavo Setúbal
O pré-candidato do PSDB participou ontem, em São Paulo, de um almoço em homenagem ao banqueiro Olavo Setúbal, do Itaú. Apenas 22 pessoas foram convidadas, entre políticos (como o vice-presidente Marco Maciel e o presidente do PFL paulista, Cláudio Lembo), empresários e parentes de Setúbal. A única ausência foi a do governador Geraldo Alckmin.

Serra voltou a dizer que “não tem rigorosamente nada a ver” com as denúncias envolvendo o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, acusado de ter cobrado propina no processo de privatização da Vale do Rio Doce. O tucano não quis falar sobre quais seriam as razões que levaram o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, e o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros a endossarem as denúncias contra o ex-diretor do BB:

— Cada um deles pode dizer suas motivações e interpretações sobre o caso. Mas isso não tem rigorosamente nada a ver comigo. Não me traz prejuízo — disse Serra.

Serra, reconhecido, distribui acenos
O almoço foi numa sala envidraçada do Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque do Ibirapuera. A concentração de famosos chamou a atenção de quem estava no parque. Crianças ficaram com os rostos colados ao vidro. À saída, Serra distribuiu acenos.

— Não estou fazendo teste. Mas inegavelmente ficar em uma mesa diante de uma janela de vidro, vendo as pessoas saudando lá fora, foi uma experiência original. O almoço foi muito agradável — disse.

Manifestação para apresentar Henrique Alves
PSDB e PMDB decidiram marcar para a próxima semana o anúncio da chapa que disputará as eleições presidenciais num ato destinado a marcar a consolidação da aliança entre os dois partidos. Os aliados pretendem com o lançamento da chapa pôr um ponto final na tentativa que o PFL ainda faz para substituir o candidato Serra. Será realizada uma grande manifestação para apresentar a chapa José Serra-Henrique Eduardo Alves.

A escolha do deputado Henrique Eduardo Alves para vice não é oficialmente confirmada pela cúpula do PMDB, mas o partido no Rio Grande do Norte já decidiu quem vai substituí-lo na disputa para o governo estadual. O candidato será o atual governador Fernando Freire, que é filiado ao PPB, e também apóia Serra.

— Falta alinhavar coisas estaduais, mas os partidos estão cada vez mais integrados. Vamos marcar ainda nesta semana a data em que o nome do vice será anunciado. Será um grande encontro entre PSDB e PMDB — disse o coordenador da campanha de Serra, Pimenta da Veiga (PSDB-MG).


Garotinho recua e diz que Costa Leite ficará
SÃO PAULO. O pré-candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, considerou encerrada ontem a polêmica em torno do candidato a vice em sua chapa, Paulo Costa Leite, que trabalhou durante 11 anos no Serviço Nacional de Informação (SNI) durante o regime militar, como revelou reportagem da revista “Época” desta semana. Em entrevista ao “Programa do Jô” que foi ao ar ontem, Garotinho voltou atrás e reiterou a intenção de manter Costa Leite em sua chapa. Na véspera, ele ameaçara trocar o candidato a vice.

— Ele era assessor jurídico, um funcionário público, não há nada que o desabone. Para mim, não há mais nada a ser dito — disse Garotinho.

Garotinho receber carta de Costa Leite
O ex-governador do Rio recebeu ontem uma carta de Costa Leite. Nela, o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) diz que nunca escondeu suas atividades no serviço de arapongagem da ditadura e que falou abertamente sobre o assunto em pelo menos duas entrevistas publicadas recentemente. “A circunstância de ter trabalhado no SNI, por si só, não é desabonadora”, diz Costa Leite.

— Ele nunca me disse isso porque julgava que não havia nada de errado. Costa Leite dava pareceres jurídicos no SNI. Ele não pode ser condenado pelos erros cometidos por outros funcionários daquele serviço. Se ficasse comprovado que houve qualquer tipo de envolvimento com a tortura eu seria o primeiro a protestar. Meus dedos sabem muito bem disso — disse Garotinho, em referência à tortura que disse ter sofrido quando era militante do Partido Comunista.

Na entrevista a Jô Soares, o pré-candidato afirmou que a revelação não abalou nem provocou danos à sua candidatura:

— Até porque a escolha não é minha, mas do partido.

Durante a entrevista ao "Programa do Jô", Garotinho falou desde as denúncias de cobrança de propina na privatização da Vale do Rio Doce até as mudanças em seu penteado, mas centrou o foco em suas propostas de governo. Segundo ele, a retomada do crescimento econômico será prioridade em seu governo.

— A única saída que temos é fazer o país voltar a crescer 7%, 8% do PIB (Produto Interno Bruto) ao ano — afirmou.

Ele citou três medidas que considera fundamentais para fazer o Brasil voltar a crescer: redução dos juros, reforma tributária e aumento do crédito à indústria como forma de substituir importações.

— Por que o Brasil, que é o maior produtor de soja do mundo, vende soja barata e compra ração cara? O BNDES não poderia financiar a construção de uma fábrica de ração e assim agregar valor aos nossos produtos? — perguntou.

Jô pediu para Garotinho explicar a fama de populista e pôs em dúvida a eficácia de medidas como a construção do piscinão de Ramos.

— Foi uma coisa que funcionou logo de cara mas depois passou a mostrar problemas de segurança e higiene — disse Jô.

Garotinho não falou sobre a higiene do piscinão, mas tentou desmentir as notícias sobre o controle de facções do crime organizado no local.

— Fizeram uma pichação lá perto e no dia seguinte todo mundo foi ao piscinão de vermelho. É a face irreverente do carioca — disse.

Minutos depois, Jô perguntou por que Garotinho não resolveu o problema das mortandades de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas.

— Ninguém resolveu — respondeu Garotinho.

— Mas estou perguntando para você — retrucou Jô, arrancando aplausos da platéia.

O momento mais insólito, porém, foi quando Jô mostrou duas fotos em que o pré-candidato aparece com penteados diferentes. Na primeira, com o cabelo penteado para a frente e na segunda, usando gel.

— Meu filho Vladimir disse um dia que meu cabelo estava muito feio e sugeriu que eu fizesse como ele e usasse gel — respondeu.

Garotinho diz que é contra processo de privatizações
Além das perguntas de Jô, Garotinho respondeu questões formuladas pela platéia e por moradores do Rio (gravadas). Uma delas foi sobre o que pensava sobre o processo de privatizações do governo.

— Sou contra. O que eu defendo é a criação de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) para apurar as denúncias de que um assessor muito próximo do presidente cobrou propina — disse.

Falando sobre a questão das drogas, Garotinho fez propaganda de seu governo no Rio, dizendo que os depoimentos mostrados na novela "O Clone" foram feitos nas clínicas de recuperação construídas em sua gestão. Mas num depoimento gravado nas ruas do Rio, um dependente químico reclamou de ter sido expulso de uma dessas clínicas junto com outras 35 pessoas.

— Não foi na minha gestão — esquivou-se Garotinho.

Logo na entrada, antes do início das gravações, Garotinho foi recebido com gritos de "Lula" por algumas pessoas da platéia. Convidado por Jô a participar de um debate entre presidenciáveis, respondeu que sim.

— Tenho pouco tempo na TV e preciso participar de debates — afirmou.

Hoje Jô Soares entrevistará o petista Luiz Inácio Lula da Silva.


Artigos

Voar é preciso!
E.P. Barbosa da Silva

Alguns comentários, cada vez mais freqüentes, aparecidos na imprensa já me haviam feito sentir que algo de inusitado estava sendo cogitado sobre transportes aéreos. Agora, os jornais dos últimos dias deram-me a impressão de que algo de grave está ocorrendo com relação aos transportes aéreos no Brasil.

Depois do trágico 11 de setembro, foram conhecidas as perdas da aviação civil americana e a pronta ajuda do governo daquele país para cobrir os prejuízos diretos, em material e tráfego, bem como a disposição sobre financiamentos adicionais para sua recuperação.

O golpe de setembro foi cruel, mas a aviação civil internacional, como um todo, já estava precisando de uma revisão geral de suas normas de operação e concorrência. Um grande esforço fora feito desde a Conferência de Chicago (novembro de 1944), quando foram adotadas normas de concorrência, bem como critérios para que se abolisse a cut throat competition . Mas muita água já passou sob a ponte, depois de 1944.

No Brasil, o Departamento de Aviação Civil (DAC), oriundo do Ministério dos Transportes, passou para o Ministério da Aeronáutica, onde se instalou também, pouco mais tarde, a Cernai, com membros civis e militares, dada a necessidade de desenvolver critérios eqüitativos para as linhas que se anunciavam, tanto as nossas projetadas para o exterior quanto as dos países amigos que desejavam atrair passageiros de países dos cinco continentes. Dada a posição e dimensão do Brasil na América do Sul, houve necessidade de firme observância das “cinco liberdades” aprovadas em Chicago, bem como de critérios sobre capacidade e freqüência das empresas que buscavam atingir o mercado brasileiro e mercados mais distantes.

Linhas domésticas surgiram, exploradas por algumas empresas menores, quando eram atraentes os preços dos aviões DC3, mas foram diminuindo com o crescimento dos custos operacionais. As linhas de longo curso para o hemisfério, e para além-mar, acabaram sendo executadas pela Varig, pela Panair do Brasil e pela Cruzeiro do Sul. Ao tempo do brigadeiro Eduardo Gomes, quando já não mais existia a Cruzeiro do Sul, depois de cuidadosa avaliação das condições de manutenção, sobretudo no exterior, prevaleceu o sentido de responsabilidade pela segurança dos passageiros e do bom nome do Brasil, tendo então prevalecida a idéia de uma só empresa, sendo a Varig a escolhida.

Ao DAC cabe velar precipuamente pela racional expansão de rede de ligações internas, as quais acompanha com desvelo, de modo que, à medida que se expandem as concentrações urbanas, estabeleçam-se, com prudência, os principais eixos de comunicações internas.

Sem necessidade de mais uma Agência Nacional de Aviação e muito menos de dois mil funcionários anunciados, basta uma breve revisão do Código Brasileiro do Ar para evitar a proliferação de empresas antieconômicas, sempre abertas a uma guerra de preços que já destruiu tantas outras.

Torna-se imprescindível criar condições para que o “instrumento designado”, a empresa que representará o Brasil nas grandes rotas internacionais, possa ser visto como um símbolo de empresa nacional, desde que, a exemplo das exportações de que tanto carecemos, sejam abolidos os altos custos que se foram desenvolvendo com o tempo, do combustível até os juros de seus aviões.

Desde que haja bom serviço e sobretudo segurança, não deveremos hesitar em limitar o excesso de capacidade nas linhas negociadas. Os aviões americanos têm a parte mais substancial do tráfego de suas linhas apoiada no seu mercado interno.

O Brasil deve combater a guerra de tarifas, pois os grandes gigantes podem sustentar seu excesso de capacidade nas pontas das diversas linhas que têm sido admitidas no Brasil. É de duvidar-se que o load factor que dizem poder manter em grande número de freqüências, a custo de múltiplos artifícios, vai ser atingido em fair competition com outras linhas dentro do continente ou para a Europa.

Creio que nossas autoridades não deixarão de lembrar-se também de que a segurança que se deve garantir não pode ser oferecida ao passageiro com o atual excesso de taxação interna e a miragem de preços forjados que escapem à vigilância que a Iata por tantos anos fez observar.

As considerações que acabo de fazer podem ser criticadas à luz do que se tem praticado nos últimos 30/40 anos. Mas sem que se limite a superposição de linhas internas, sem que se tenha a coragem de dar condições a uma empresa responsável para representar o Brasil, com segurança, no exterior, veremos a nossa aviação sucumbir, como já vim os acontecer com a navegação de cabotagem e a de longo curso.

A simplificação da burocracia, a objetividade na operação de portos e aeroportos exprimirão a vontade da sociedade de retomar com segurança seu lugar nos céus e nos mares, além de divisas, alimentando uma economia pujante que só pode ser levada a reboque se os brasileiros não forem sensíveis à sua vocação de grandeza.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO - Tereza Cruvinel

Comando maior
Deu-se mal o PFL quando apostou que o caso Ricardo Sérgio estava lhe oferecendo a oportunidade de exigir a substituição do candidato do PSDB, José Serra. Errou na forma e no tempo, não esperando sequer a decantação do primeiro impacto da denúncia. Espantar o fantasma da substituição foi um ganho residual do PSDB nesta história, mas, fora isso, o partido revela-se despreparado e desorganizado para lidar com as adversidades da campanha.

Além das providências para sanear a candidatura, tirando-a da agenda negativa que já a perseguia antes da eclosão do caso em cartaz, como a introdução de um vice na paisagem, está em curso uma ampliação do comando de campanha, com a agregação de três nomes de peso. São eles o secretário-geral da Presidência, Euclides Scalco, que teria ação limitada pelo cargo, o ex-senador José Richa e o ex-governador Tasso Jereissati. Ainda que a citação deste último nome cause estranheza, teria sido ele vencido pelo espírito partidário e convencido pelo presidente Fernando Henrique da importância de seu real engajamento.

Dispensável repetir o que até os vereadores proclamam, que partido é o pilar de toda disputa eleitoral. Ainda que já tenha passado em outros testes de unidade e organicidade, nesta sucessão o PSDB perdeu o sentido tribal. A desestruturação tem origem nas disputas pela candidatura presidencial, nas competições regionais e na própria adversidade eleitoral. José Aníbal, presidente do partido, de espírito guerreiro e combativo, tem agido como um general sem tropa, forçado a atirar para todo lado. Na eclosão do caso Ricardo Sérgio, acabou atirando para dentro do partido, no ministro Paulo Renato. Como pontos de apoio, o candidato e ele têm tido apenas o coordenador de campanha, Pimenta da Veiga, e o líder Jutahy Júnior, que, sendo muito próximo de Serra, acaba se contendo para não ferir suscetibilidades tucanas.

Teria partido do presidente a decisão de incluir Richa, Scalco e Tasso no comando da campanha e de cobrar a ordem unida do PSDB, antes que seja tarde. Pois ainda que tenha baixado um pouco ontem a poeira levantada pela revelação tardia de um pedido de propina não investigado, nas próximas pesquisas Serra perderá pontos ou continuará estagnado. Há tempo para crescer, dizem os tucanos da boca para fora, lembrando que a campanha de fato só começa em agosto. Mas sabem que o momento de construir alianças é agora. E que os aliados só correm para quem demonstra competitividade. Um grupo de petebistas estava se acercando. Recuou, esperando para ver o que acontece.Lula acende duas velas no programa que vai ao ar amanhã. Uma para as mulheres, que o apóiam menos do que os homens. Outra para os empresários, entre os quais acha que tem crescido.Fernando Henrique candidato?

Por que mesmo o PFL insiste na substituição de José Serra por outro nome tucano? Estaria pensando em quem, se nenhum nome mais competitivo que o de Serra surgiu na fase da seleção? E por que o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, além de ter sugerido a troca no jantar de anteontem à noite no Alvorada, fez questão de divulgar uma nota revelando o que disse no encontro?

Talvez tenham sido estas perguntas que fizeram circular intensamente ontem uma velha e sempre desacreditada conversa sobre a possível recandidatura do presidente Fernando Henrique. Falava o zunzum de algo já conhecido. Que o presidente dispõe de parecer de um grande jurista garantindo que ele ainda tem direito a uma reeleição. Por tal entendimento, o primeiro mandato não conta, pois foi conquistado sob a antiga regra. O primeiro, sob novo sistema, seria o atual, que lhe daria direito a uma reeleição, como diz a emenda aprovada.

Este foi exatamente o expediente jurídico usado por Fujimori no Peru. Muito improvável que FH, tão orgulhoso de sua trajetória de democrata, lance mão dele. Mas o parecer existe e muitas vezes o presidente brincou que poderia tirá-lo da gaveta, no auge das dificuldades para escolher o candidato tucano. Em conversa com O GLOBO, no ano passado, ele confirmou que já lhe oferecem tal parecer, mas que até por realismo jamais faria uso dele. “No poder também ocorre a fadiga de material”.

A outra notícia que correu no Congresso dava conta de uma consulta ao TSE, feita ou a fazer por um governador que se encontra na mesma situação do presidente. Foi eleito em 1994, reeleito em 1998 e não se afastou do cargo em abril. No bloco governista, há pelo menos quatro nesta situação: Siqueira Campos (PFL-TO), Jaime Lerner (PFL-PR), Almir Gabriel (PSDB-PA) e Amazonino Mendes (PFL-AM).

Uma flor da incerteza eleitoral, tudo indica, mas atacou algumas mentes.DO DEPUTADO Delfim Netto sobre o chamado “risco Lula”: “O spread andou subindo em todo o mundo, não acredito que o Lula seja uma ameaça tão poderosa assim. Agora subirá de novo no Brasil por conta das revelações tenebrosas sobre o processo de privatização. Pretextos. Quem está assustando mesmo é a herança do Real, que deixará qualquer presidente de saia justa”.


Editorial

HORA DO EQUILÍBRIO

Muita energia e tempo têm sido desperdiçados nas discussões em torno de denúncias. A mais recente resgata o processo de privatizações da Vale do Rio Doce e do setor de telefonia, e junto com ele traz, em primeiro plano, Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil. Trata-se de pessoa ligada aos tucanos paulistas, para alguns dos quais trabalhou como arrecadador de recursos em campanhas políticas.

Ricardo Sérgio é personagem antigo em histórias de bastidores sobre supostas cobranças de propinas na venda de empresas públicas. O importante é que o Ministério Público Federal e a Corregedoria-Geral da União já foram acionados para apurar se o ex-diretor do BB praticou algum crime, direta ou indiretamente. Não faz de fato sentido convocar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o caso — aliás, como reconhecem setores da oposição. Uma CPI provocaria ainda mais atrasos na pauta de votação do Congresso, onde a lentidão com que tramita a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) tem garantido perdas futuras na arrecadação federal de R$ 400 milhões semanais.

Outro risco é o de uma “guerra de dossiês” deflagrada por tucanos enraivecidos com o que consideram uma operação de cartas marcadas contra o candidato José Serra. Seria um desserviço ao processo eleitoral, pois prejudicaria o imprescindível debate sobre os projetos de governo dos candidatos. A única guerra admissível é a dos dossiês de propostas para o país.


Topo da página



05/08/2002


Artigos Relacionados


PSDB mantém Serra colado no governo

Arthur Virgílio anuncia que PSDB mantém obstrução às votações

Lula vai a 61%; Serra mantém 32%

PSDB lança Serra semana que vem

PSDB se une e Tasso vai ao lançamento de Serra

PSDB paga despedida de Serra