Serra promete criar 8 milhões de vagas
Morre o ex-deputado Brusa Netto
Aos 88 anos, ex-parlamentar teve uma parada cardíaca ontem em Porto Alegre
Morreu ontem, em Porto Alegre, aos 88 anos, um dos fundadores do MDB gaúcho, o ex-deputado estadual João Brusa Netto (PMDB). O político teve uma parada cardíaca às 16h30min em seu apartamento, localizado no centro da Capital. O corpo de Brusa Netto está sendo velado na Assembléia Legislativa e será enterrado hoje às 17h no cemitério João XXIII. O governo do Estado decretará luto oficial por três dias.
Nascido em Caxias do Sul em 28 de fevereiro de 1914, o ex-deputado vivia em Porto Alegre há mais de 50 anos. Segundo informações dos familiares, ele se preparava para entrar no banho na tarde de ontem quando chamou a mulher, Odete, porque estava se sentindo mal. Além da esposa, o político deixa uma filha, dois netos e três bisnetos.
Considerado por amigos e companheiros de política um arquivo o vivo da história dos partidos, o “professor”, como era chamado carinhosamente filiou-se ao PTB em 1945, partido pelo qual se elegeu pela primeira vez, em 1962. Quatro anos mais se reelegeu pelo MDB – partido que ajudou a fundar ao lado do senador Pedro Simon (PMDB) e de outros nomes. Em 1969, teve o seu mandato cassado e os seus direitos políticos suspensos pelo AI-5.
– Era uma das últimas grandes legendas do trabalhismo. Foi um dos principais líderes do PTB e do governo Brizola. Tinha verdadeira paixão pela educação e era um defensor do ensino técnico. Foi meu irmão, meu confidente e meu conselheiro. Foi um grande amigo – disse Simon ontem, por telefone, de Brasília.
Pedro Simon lembrou ainda que, depois da morte de Ajadil de Lemos, em janeiro desse ano, Brusa Netto era uma das últimas legendas do trabalhismo. O presidente estadual do PMDB, Cézar Schirmer declarou que mesmo com a idade, o ex-deputado sempre esteve na linha de frente da política gaúcha.
– Era um exemplo de homem público. Alguém que sempre manteve seu espírito de luta e sua devoção ao Rio Grande e ao Brasil – declarou.
O candidato ao governo do Estado pelo PPS e ex-governador pelo PMDB, Antônio Britto, disse não lembrar de nenhuma decisão importante desde o MDB que não tenha passado por Brusa Netto.
– Funcionou sempre como professor, consultor e o articulador das posições do PMDB, mesmo quando sua presença não era notada pelo público e pela imprensa. Escolheu viver nos bastidores e foi fundamental – concluiu Britto.
Brusa Netto foi assessor de Arlindo Pasqualini, fundou e dirigiu o jornal A Época, de Caxias do Sul, atuou no serviço público como diretor do abrigo de menores de Porto Alegre, foi subsecretário estadual da Educação no governo de Leonel Brizola e representante do Rio Grande do Sul no Conselho Federal de Educação. Em 1995, entrou para a galeria dos deputados eméritos da Assembléia Legislativa e um quadro com a sua foto foi colocado em um dos salões do prédio do Palácio Farroupilha, ao lado de outros três ex-colegas que também já receberam o título: Carlos Santos (1988), Carlos de Britto Velho (1989) e Cândido Norberto (1995).
No ano passado, durante as comemorações dos 40 anos da Legalidade, o ex-deputado recebeu das mãos do governador Olívio Dutra a Medalha Negrinho do Pastoreio. Brusa Netto foi indicado para a distinção pela Comissão do Acervo de Lutas contra a Ditadura.
O QUE ELES DISSERAM
Pedro Simon, senador pelo PMDB
"Era uma das últimas grandes legendas do trabalhismo. Foi meu irmão, meu confidente e meu conselheiro. Foi um grande amigo"
Cézar Schirmer, presidente estadual do PMDB
"Um exemplo de homem público, alguém que sempre manteve seu espírito de luta e sua devoção ao Rio Grande do Sul e ao Brasil. Um batalhador incansável e que, apesar da idade, mantia-se na linha de frente"
Antônio Britto, candidatos ao governo do Estado pelo PPS
"Eu não soube de nenhuma decisão importante do MDB e do PMDB no Rio Grande do Sul que não tivesse passado pelos conselhos e pela sabedoria política de Brusa Netto"
Serra promete criar 8 milhões de vagas
O candidato do PSDB a presidente da República, José Serra, prometeu ontem criar 8 milhões de empregos nos próximos quatro anos, caso seja eleito.
A proposta consta do programa de governo do tucano apresentado ontem. Serra também se comprometeu a promover um crescimento econômico de 4,5% ao ano e a completar os projetos do presidente Fernando Henrique.
Para gerar as vagas, o eventual governo de Serra pretende implementar um conjunto de medidas. Entre as ações previstas, estão “correções de rumo” para que a economia cresça e aumente a procura por trabalhadores.
– Não só porque o trabalho garante renda e consumo ao trabalhador e sua família, mas também porque valoriza as pessoas e aproveita seu potencial de contribuição para a sociedade – diz um dos trechos do documento de 79 páginas divulgado na tarde de ontem, em São Paulo.
O programa cita também que não basta crescer. É necessário estimular setores que têm maior capacidade de geração de emprego, como a agricultura, indústria de consumo e turismo. Além disso, a ampliação dos programas nas áreas de educação e saúde abrirá, conforme o projeto, uma grande quantidade de novos postos de trabalho, de cerca de 5,6 milhões.
Outro aspecto ressaltado no programa é a preocupação com a segurança pública. Para dar mais tranqüilidade aos brasileiros, Serra admite modificar artigos da Constituição.
Serra quer a criação de um Ministério da Segurança Pública, de uma Polícia Federal fardada e de treinamentos constantes para policiais, além da construção de presídios federais com 6 mil novas vagas.
O programa de Serra não estabelece a origem dos recursos necessários para a sua implementação. O candidato praticamente não dormiu ontem para checar e conferir os números e metas do projeto de governo.
CONFIRA AS PROPOSTAS
Combate ao desemprego
• Crescimento de 4,5% em média, entre 2003 e 2006. A meta é a criação ao todo de 8 milhões de empregos, incluindo empregados diretos e indiretos no país.
• Ampliação dos programas de qualificação profissional e melhora no nível de educação
• Ampliação da oferta de crédito, atingindo 1,2 milhão de empreendedores, com o valor de R$ 1,2 bilhão até 2006
•Flexibilização da legislação trabalhista
• Criação do Sistema de Amparo ao Trabalhador, com informações sobre o mercado de trabalho, além do pagamento do seguro-desemprego nos postos de atendimento ao trabalhador
Economia
• Diminuição do déficit em conta corrente para 2% PIB (hoje está acima de 4%) por meio da obtenção de superávits comerciais
• Aumento das exportações e substituição de importações
• Desenvolvimento de uma política de comércio exterior mais ativa por meio da criação do Ministério do Comércio Exterior e do Desenvolvimento e medidas como desoneração das exportações
• Redução dos juros para 6% a 7% em meados da década
• Prioridade ao Mercosul como zona de livre comércio
• Eliminação da cumulatividade de tributos
• Restituição dos impostos cobrados ao longo da cadeia produtiva, como ICMS
Segurança
• Criação do Ministério da Segurança Pública, ao qual ficarão subordinadas a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, com o objetivo de promover o combate ao crime organizado
• Implantação em âmbito nacional do sistema de informação de segurança pública, uniformizando o registro de ocorrências policiais
• Criação de uma central de mandados de prisão em âmbito nacional
• Criação do braço fardado da Polícia Federal e aumento do efetivo de 8 mil para 20 mil profissionais
• Ampliação das funções das guardas municipais, nos termos da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) em tramitação no Congresso
• Revisão do Código Penal, do Código de Processo Penal e da Lei de Execuções Penais
• Fim das “antiquadas” férias forenses
Educação
• Ampliação do acesso de crianças de quatro a seis anos à pré-escola, com a criação de 4 milhões de novas vagas
• Erradicação do analfabetismo dos jovens e adultos com menos de 30 anos
• Ampliação em 20% do número de famílias atendidas pelo programa Bolsa-escola
• Aumento em 50% do número de alunos no Ensino Superior até 2006
• Ampliação em 20% das vagas nos cursos diurnos nas instituições federais de Ensino Superior e dobrar a oferta nos cursos noturnos universitários
Saúde
• Acréscimo de 30 mil equipes no Programa de Saúde da Família e 15 mil equipes ao Programa de Saúde Bucal. Expansão do SUS e investimento em saneamento
• Ampliação da distribuição gratuita de medicamentos e duplicação dos recursos do programa de Assistência Farmacêutica Básica
• Aumento do número de transplantes, de 7.200 para 11.300 em 2006
• Redução da mortalidade infantil de 29,6 para menos de 20 por mil crianças nascidas vivas. No Nordeste, a intenção é reduzir dos atuais 44 para 22 por mil nascidas vivas
• Transferência de R$ 3 bilhões a fundo perdido para municípios investirem em saneamento básico
Competititividade
• Ampliação do gasto em pesquisa e desenvolvimento de 1% do PIB para 1,32% do PIB em 2006
• Concessão em quatro anos de R$ 1 bilhão nas linhas de crédito para pesquisa e desenvolvimento
Previdência
• Melhora do atendimento aos segurados da Previdência, especialmente na concessão de benefícios, que terá seu prazo médio reduzido de 16 para cinco dias
• Apoio ao projeto de lei complementar, em tramitação no Congresso Nacional, que estende aos demais servidores públicos o Regime Geral de Previdência do INSS, com o teto de 10 salários mínimos para o pagamento das contribuições de benefícios
Reforma Agrária
• Parceria com organizações e movimentos sociais para concluir todos os projetos de assentamento que o governo federal diz ter criado desde 1995
• Manutenção da média de três anos entre a chegada à terra e a titulação do lote
• Obtenção de terras para assentamentos por meio de desapropriação de terras improdutivas, além de preenchimento de vagas em projetos de assentamento já criados
Cultura
• Ampliação das linhas de financiamento à indústria cultural, em conjunto com o BNDES e o Banco do Brasil
• Desenvolvimento de um programa nacional de combate à pirataria de produtos culturais
Projeto impõe maior controle às pesquisas
A proposta prevê penas como detenção e multa em caso de fraude
A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado aprovou ontem projeto do senador José Eduardo Dutra (PT-SE) que impõe maior controle sobre a produção e divulgação de pesquisas eleitorais.
Como foi aprovada em caráter terminativo, a proposta é dispensada de ser submetida a plenário.
Pela proposta, relatada pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), a identificação de fraude nesse processo sujeita os responsáveis pelo instituto de pesquisa às seguintes sanções: pena de detenção de seis meses a um ano, multa de 50 mil a 100 mil Unidades Fiscais de Referências (Ufirs) e a cassação de registro de funcionamento da empresa.
A matéria segue agora para exame na Câmara dos Deputados, se não houver recurso.
Na Câmara, tramita projeto determinando que toda pesquisa estatística, de opinião pública ou mercadológica deverá estar sob responsabilidade de um estatístico profissional. De autoria do deputado José Carlos Coutinho (PFL-RJ), o projeto foi encaminhado para a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, onde aguarda parecer do relator.
O texto obriga ainda todas as empresas que realizam essas pesquisas a se registrarem nos respectivos conselhos regionais de estatística. Caberá ao Conselho Federal baixar normas regulamentadoras das diversas modalidades de pesquisas, que deverão incluir os parâmetros técnicos referentes a seus erros e níveis de confiança e a divulgação de seus financiadores.
O Conselho de Estatística também deverá auditar as empresas privadas e os institutos públicos. Para isso, os prestadores do serviço deverão pagar ao Conselho Federal de Estatística 0,5% do preço cobrado por seus trabalhos. O projeto também será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Redação da Câmara dos Deputados, sem necessidade de passar pelo Plenário para ir ao Senado.
Entretanto, antes das eleições do dia 6 de outubro, dificilmente o Congresso aprovará algum projeto importante. A expectativa dos próprios líderes governistas é que nada mais será votado de relevante até o fim do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Isso significa que também ficará para o próximo governo a tentativa de aprovar a chamada minirreforma tributária e com o fim da cobrança em cascata do Pis/Pasep.
Força faz ato de apoio a Paulinho
Um ato de mobilização de sindicatos por reajustes salariais na sede da Força Sindical, ontem, em São Paulo, transformou-se em uma manifestação de apoio ao candidato a vice-presidente de Ciro Gomes (PPS), o sindicalista Paulo Pereira da Silva (PTB), o Paulinho.
Segundo os organizadores, cerca de 5 mil trabalhadores fizeram claque de comício, em troca de um dia de folga e um lanche. Espalhados pelo auditório estavam cartazes com as seguintes frases “A verdade é filha do tempo” e “O Paraná não vai permitir a difamação de seu filho”. Paulinho é nascido em Porecatu, no norte do Estado.
No ato, que durou duas horas, pouco se falou de campanha salarial. Cerca de 20 dirigentes sindicais fizeram discurso de apoio a Paulinho, como o presidente da Força do Paraná, Clementino Tomaz Vieira.
– Se Paulinho sair da chapa, os trabalhadores não vão mais apoiar a Frente Trabalhista – disse Vieira.
Paulinho atacou o governo.
– O presidente Fernando Henrique Cardoso escolheu um candidato que esfacelou a base governista e não sabe distinguir uma vaca de um boi – ironizou.
Preço do gás pode cair ainda nesta semana
Setor prevê redução antes de intervenção da ANP
A ofensiva do governo para conter a alta do preço do gás de botijão (GLP) pode começar a surtir efeito nesta semana.
Na avaliação de representantes dos segmentos de distribuição e revenda, o preço do gás deve cair antes que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) intervenha. Nenhuma das entidades aceitou projetar, porém, de quanto será essa redução e nem como será feita.
Tanto os representantes do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás (Sindigás) quanto os da Federação Nacional dos Revendedores de Gás (Fergás) dizem que suas margens de lucro já estão muito comprimidas e será difícil cortá-las.
O presidente da Petrobras, Francisco Gros, não quis comentar a decisão do governo de dar poderes à ANP para intervir nos preços dos combustíveis, particularmente no gás de cozinha. Questionado sobre as declarações do ministro de Minas e Energia, Francisco Gomide, de que a empresa deveria entender a resolução como uma recomendação de uma política mais conservadora de reajustes de combustíveis, Gros limitou-se a afirmar que a Petrobras seguirá as determinações do órgão regulador.
O superintendente de relações institucionais do Sindigás, Agostinho Simões, disse que as distribuidoras estão dispostas a colabor ar “desde que cada elo da cadeia produtiva faça sua parte”.
– A Petrobras poderia esticar os prazos entre os reajustes. Só isso já faria o preço baixar – afirmou.
Simões destacou que é necessária a colaboração dos Estados, reduzindo o valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A exemplo do que ocorre no setor de combustíveis líquidos, o ICMS é cobrado antecipadamente, sobre um valor presumido de venda do produto. No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual da Fazenda informou que não há qualquer previsão para redução das margens de cálculo sobre o ICMS.
Para Álvaro Chagas, da Fergás, o governo deveria criar medidas para aumentar a competição, o que contribuiria para reduzir o preço. Segundo ele, os revendedores só podem vender botijões de uma distribuidora e ficam presos a um único preço. Mas o Sindigás avalia que o fim da fidelidade do revendedor pode comprometer a segurança do consumidor.
Petrobras encontra reservas
A Petrobras anunciou ontem a descoberta de reservas de gás e petróleo na Argentina, a primeira feita pela estatal brasileira no país vizinho. As reservas foram encontradas na Bacia de Neuquén, na região Sul do país.
O primeiro poço perfurado no campo detectou potencial de produção de 240 mil metros cúbicos de gás natural e 82 metros cúbicos de condensado (espécie de petróleo extremamente leve, produzido com o gás). A empresa não informou quanto investirá para continuar a exploração na região.
Em nota à imprensa, a estatal afirmou que a descoberta é importante “para tornar a Petrobras uma empresa integrada na indústria petrolífera argentina”. A Petrobras participa de outros três blocos exploratórios na Argentina e tem operações nas áreas de refino e distribuição de combustíveis.
Preço do gás pode cair ainda nesta semana
Setor prevê redução antes de intervenção da ANP
A ofensiva do governo para conter a alta do preço do gás de botijão (GLP) pode começar a surtir efeito nesta semana.
Na avaliação de representantes dos segmentos de distribuição e revenda, o preço do gás deve cair antes que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) intervenha. Nenhuma das entidades aceitou projetar, porém, de quanto será essa redução e nem como será feita.
Tanto os representantes do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás (Sindigás) quanto os da Federação Nacional dos Revendedores de Gás (Fergás) dizem que suas margens de lucro já estão muito comprimidas e será difícil cortá-las.
O presidente da Petrobras, Francisco Gros, não quis comentar a decisão do governo de dar poderes à ANP para intervir nos preços dos combustíveis, particularmente no gás de cozinha. Questionado sobre as declarações do ministro de Minas e Energia, Francisco Gomide, de que a empresa deveria entender a resolução como uma recomendação de uma política mais conservadora de reajustes de combustíveis, Gros limitou-se a afirmar que a Petrobras seguirá as determinações do órgão regulador.
O superintendente de relações institucionais do Sindigás, Agostinho Simões, disse que as distribuidoras estão dispostas a colaborar “desde que cada elo da cadeia produtiva faça sua parte”.
– A Petrobras poderia esticar os prazos entre os reajustes. Só isso já faria o preço baixar – afirmou.
Simões destacou que é necessária a colaboração dos Estados, reduzindo o valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A exemplo do que ocorre no setor de combustíveis líquidos, o ICMS é cobrado antecipadamente, sobre um valor presumido de venda do produto. No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual da Fazenda informou que não há qualquer previsão para redução das margens de cálculo sobre o ICMS.
Para Álvaro Chagas, da Fergás, o governo deveria criar medidas para aumentar a competição, o que contribuiria para reduzir o preço. Segundo ele, os revendedores só podem vender botijões de uma distribuidora e ficam presos a um único preço. Mas o Sindigás avalia que o fim da fidelidade do revendedor pode comprometer a segurança do consumidor.
Petrobras encontra reservas
A Petrobras anunciou ontem a descoberta de reservas de gás e petróleo na Argentina, a primeira feita pela estatal brasileira no país vizinho. As reservas foram encontradas na Bacia de Neuquén, na região Sul do país.
O primeiro poço perfurado no campo detectou potencial de produção de 240 mil metros cúbicos de gás natural e 82 metros cúbicos de condensado (espécie de petróleo extremamente leve, produzido com o gás). A empresa não informou quanto investirá para continuar a exploração na região.
Em nota à imprensa, a estatal afirmou que a descoberta é importante “para tornar a Petrobras uma empresa integrada na indústria petrolífera argentina”. A Petrobras participa de outros três blocos exploratórios na Argentina e tem operações nas áreas de refino e distribuição de combustíveis.
Artigos
Um serviço social
Péricles da Cunha
A escassez de recursos provocou a dispensa antecipada de milhares de jovens que prestavam o serviço militar. É paradoxal e cruel, mas na hora em que se discutem verbas para o combate à violência, o presidente da República faz um corte no orçamento das Forças Armadas provocando, entre outras coisas, a interrupção do serviço militar obrigatório de milhares de jovens que vislumbravam nos quartéis uma das raras oportunidades de promoção social. Amanhã, o dinheiro economizado com o soldo para 10 recrutas será insuficiente para manter encarcerados dois ou três bandidos.
O serviço militar funciona como um grande amortecedor social, evitando que uma parcela dessa massa de jovens que anualmente chega aos 18 anos acabe caindo nas malhas da contravenção pela falta de perspectivas de empregos. Trata-se, na realidade, de um serviço social da maior relevância que deveria ser protegido da insensibilidade de tecnocratas que não passam da fria gestão orçamentária, de políticos que estão mais preocupados com os seus interesses e daqueles que acreditam ser o serviço militar incompatível com o exército profissional que eles sonham.
Ou se gasta agora para formar cidadãos ou se prepara para custear,
depois, os estragos
Ao contrário do que foi feito, o serviço militar deveria ser revitalizado para absorver um contingente muito mais amplo de jovens, com recursos da área social, para não sobrecarregar as já magras verbas do Ministério da Defesa. Existe aplicação mais adequada para os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que anualmente são desperdiçados em falcatruas, do que o encaminhamento desses jovens para o setor produtivo, evitando que a desesperança os jogue nos braços da contravenção ou do desemprego? Ou se gasta agora para formar cidadãos, ou se prepara para custear, depois, os estragos. Presídios, reformatórios de menores, verdadeiras usinas de bandidos, com custo altíssimo para o contribuinte.
É uma missão apropriada aos militares nesse esforço para combater a miséria. Para evitar que amanhã sejam convocados para reprimir os pobres, no papel de polícia, para o qual não estão preparados. Não se trata de mudar o papel dos militares, mas de empregá-los, também, em outras missões para as quais eles sempre deram demonstrações de eficiência.
“Jovem reservista, mantém no coração a memória desse precioso tempo”, conclamou o comandante do Exército em sua mensagem aos recrutas dispensados. Nem precisaria, o reservista sempre leva boas recordações e bons ensinamentos do tempo passado na caserna.
E não é de hoje essa influência sobre o indivíduo. Ésquilo, um dos maiores poetas de todos os tempos, morto em Gela, Sicília, deixou escrito o seu epi táfio: “Esta tumba encerra Ésquilo, filho de Euforião, ateniense, que morreu na fértil Gela. Da sua coragem podem testemunhar o bosque de Maratona e os medos de largas cabeleiras que têm razão para recordá-lo”. Para a posteridade, deixou de lado sua gigantesca obra para lembrar o jovem combatente de Maratona que derrotou os persas juntamente com outros 9 mil atenienses. O orgulho de ter evitado que o Império Persa destruísse Atenas e a cultura grega.
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Prioridade à exportação
Foi preciso uma crise financeira para as lideranças políticas do país descobrirem o que, nas décadas dos 70/80, o então ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, pregava como saída para o crescimento econômico. “A saída é a exportação”, insistia o quase primeiro-ministro de dois governos militares, sob protestos das esquerdas, que insistiam em fortalecer o mercado interno. Com a globalização, o comércio exterior se impôs como condição essencial para qualquer país que queira promover desenvolvimento interno em índices razoáveis de 5% a 7% ao ano e não ter de aceitar os índices medíocres de hoje, cuja conseqüência é desemprego e salário achatado.
A crise financeira que fez o dólar valer, na semana passada, R$ 3,61 mostrou que o único caminho que o Brasil tem para crescer e para gerar reservas cambiais e, assim, ficar vacinado contra ataques especulativos e volatilidade dos capitais é através da exportação. A economia mais forte da União Européia, a Alemanha, tem na exportação 70% de seu Produto Interno Bruto. A Coréia do Sul, com 48 milhões de habitantes, exporta o equivalente a US$ 150 bilhões/ano. O Brasil, com uma população três vezes maior, não exporta US$ 100 bilhões. O diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Langoni, disse ontem, na entrevista à Rádio Gaúcha, que o país precisa ter uma política agressiva de exportação e para isso precisa preparar pessoal nesse setor, para não ficar na dependência da burocracia do Ministério das Relações Exteriores.
O embaixador da República Federal da Alemanha, Uwe Kaestner, que conhece bem a situação do comércio internacional, acha que o Brasil precisa fazer uma promoção mais ativa de seus produtos, não só para o mercado alemão, mas também europeu e tratar de fazer propaganda da qualidade dos produtos brasileiros. Lembrou, a propósito, que praticamente todo o suco de laranja consumido na Alemanha é brasileiro, mas nenhum consumidor alemão sabe disso porque na embalagem não há referência à procedência do produto.
Essa tem sido a pregação do ministro Pratini de Moraes, da Agricultura. Nem sempre suas críticas à falta de agressividade dos exportadores são bem recebidas. Menos mal que, agora, todos os presidenciáveis deram à exportação prioridade absoluta em seus planos de governo.
JOSÉ BARRIONUEVO
PDT caminha para um acordo com Britto
Leonel Brizola chega amanhã ao Estado disposto a definir o apoio a Antônio Britto já no primeiro turno, desde que haja um acordo em cima de um programa de governo que dê prioridade a bandeiras históricas dos trabalhistas. Dentro deste objetivo, houve a primeira sinalização em direção ao ex-governador, que nega a existência de qualquer tipo de sondagem. É certo que já há um entendimento prévio entre Brizola e Ciro, diante de metas que devem ter o aval do governo federal para sua execução no Estado, na hipótese de vitória.
• Com Brizola – O presidente do PPS, deputado Nelson Proença, foi ontem ao encontro de Ciro Gomes, numa primeira conversa sobre a parceria em gestação. Também ontem, o deputado Paulo Odone, que é casado com uma sobrinha de Brizola, foi ao encontro do líder maior do PDT no Rio, para um contato preliminar. Esta informação será desmentida.
• Palestra – A palestra de Britto na Federação Israelita do RS, ontem, foi prestigiada pelo vereador Isaac Ainhorn, do PDT, junto com Mathias Nagelstein, Ricardo Russowski e Ricardo Sondermann. A reunião foi presidida por Leônidas Isdra, presidente da entidade, que promove um rodízio de palestras com os candidatos.
Britto comenta pela primeira vez
Durante entrevista coletiva em Venâncio Aires, ontem, Britto falou pela primeira vez na aproximação com o PDT dizendo que “a estrada do entendimento está sempre desobstruída”. Destacou que não há registro de uma só palavra sua de “agressão pessoal ou política ao PDT e a seus líderes” e lembrou que, ao decidir lançar candidatura própria a governador, tomou o cuidado de dizer que “aquele não era um adeus, mas um até logo a Brizola e ao PDT gaúcho”.
Ao mesmo tempo, o candidato do PPS disse que procurou manter uma atitude de respeito ao PDT, “que tem tradição, história e quadros, e não precisa que ninguém se meta nos seus assuntos internos e em decisões sobre seu futuro”.
Na entrevista, Britto negou que esteja mantendo contato com líderes pedetistas para articular apoio a sua candidatura: “Por respeito ao partido, nossa atitude é de aguardar a decisão, que só cabe ao próprio PDT.”
Lembrou ainda que, apesar das divergências no passado, houve sempre uma relação respeitosa: “Os prefeitos do PDT, por exemplo, mereceram, no nosso governo – mesmo na oposição – atenção e parceria, que não tiveram no governo do PT, do qual o PDT fez parte”.
Tarso intensifica campanha
Uma caminhada da cultura, sexta, bandeiraço em 50 pontos da cidade, sábado, e um jogo de futebol, domingo pela manhã, no Parque Marinha do Brasil, com lançamento das metas para o esporte e lazer, são atos programados para intensificar a campanha de Tarso em Porto Alegre.
Ontem, o candidato do PT esteve em Lajeado, acompanhado da filha Luciana. Presidente do Cpers, Juçara Dutra representou Paulo Pimenta e Estilac Xavier na caminhada, carregando no peito adesivos dos dois candidatos, que, com apoio de Tarso, deverão estar entre os mais votados.
TJE absolve cientista político processado pelo PT
A 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado rejeitou recurso do diretório estadual do PT contra o cientista político José Antônio Giusti Tavares, professor universitário. O PT havia apelado contra decisão da juíza da 9ª Vara Criminal, que havia rejeitado a queixa oferecida contra o professor. Alegavam os autores da ação que, em entrevista concedida a Zero Hora, Tavares fizera análises depreciativas contra o PT.
Ao fundamentar seu voto, o relator, desembargador Amilton Bueno de Carvalho, entendeu inadmissível tentar reduzir os cidadãos ao silêncio, sob ameaça de procedimento criminal.
Lembrando Voltaire, o relator disse que é possível discordar das opiniões divergentes do professor, mas é necessário envidar o máximo do esforço para assegurar-lhe o direito de proferi-las. Recriminou ainda os que pretendem resolver todas as pendências pelo uso abusivo do Código Penal.
O voto foi acompanhado pelo presidente da Câmara, desembargador Paulo Moacir Aguiar Vieira, e pelo desembargador Aramis Nassif.
O advogado Paulo do Couto e Silva fez a sustentação oral.
Ciro vem dia 24
Com a decisão a ser tomada pelo PDT amanhã, fica livre o caminho para a visita de Ciro Gomes ao Estado, sem ruídos. O presidenciável acompanha Brizola na visita ao túmulo de Getúlio, no 48º aniversário da morte do ex-presidente. Na carreata de São Borja a Uruguaiana, Ciro pretende estar acompanhado de todos os apoiadores de sua candidatura no Rio Grande do Sul.
Acordo – Até ontem à noite, o PDT continuava dividido entre uma candidatura e o apoio formal a Britto no primeiro turno. Brizola pretende evitar dissidências, embora não acredite que algum prefeito vá apoiar Tarso.
Rita no Estado
Presidente do Instituto Teotônio Villela e ex- presidente do PSDB Mulher, Yeda Crusius organizou nos detalhes a primeira visita de Rita Camata a Porto Alegre, quarta-feira. Na segunda-feira, Yeda estará ao lado de Ruth Cardoso e da candidata a vice em comício em São Paulo.
ROSANE DE OLIVEIRA
Um aval difícil de dar e de negar
Do jeito que o governo amarrou o acordo com o Fundo Monetário Internacional, ficou difícil para os candidatos de oposição se recusarem a dar o aval exigido para a liberação do US$ 30 bilhões previstos. Quem terá coragem de, às vésperas da eleição, desafiar a lógica do mercado, não se comprometer e ser acusado por um eventual colapso da economia?
Ruim com o FMI, pior sem ele, como descobriram os candidatos com chances de se eleger, embora alguns se recusem a admitir isso em público. Ainda é o dinheiro mais barato da praça. O problema é que o credor exige do país endividado políticas incompatíveis com discurso simpático de campanha. O acordo pode não ser o sonho dos candidatos, mas é garantia de um primeiro ano de governo com rede de proteção. Seu oposto, uma incógnita.
O anúncio do acordo com o fundo ofuscou o lançamento do plano de governo do tucano José Serra – um programa excessivamente otimista, que prevê a criação de 8 milhões de empregos e crescimento médio da economia de 4,5% ao ano. O candidato nem reclamou. Foi o único a demonstrar entusiasmo com o acordo, num dia que começou com os assessores econômicos dos candidatos deixando aberta a porta para algum grau de comprometimento.
A condição seria que não se exijam compromissos que sacrifiquem a meta de crescimento da economia. Que não sejam obrigados a manter os juros altos, por exemplo. O FMI até não pede especificamente isso, mas exige superávit de 3,75% do PIB, o que, trocando em miúdos, equivale a arrocho fiscal.
Ciro Gomes, o que mais resiste a ser fiador de um acordo firmado pelo governo que está saindo, não quis fazer comentários depois do anúncio oficial do acerto. O senador Roberto Freire, porém, passou o dia garantindo que o candidato do PPS não dará seu aval a acordo algum antes de ser eleito. Como Freire anda em baixa na campanha, e suas opiniões têm peso relativo, é possível que seja desmentido nos próximos dias.
Luiz Inácio Lula da Silva foi cauteloso, mas o apoio do vice, José Alencar, é um indicativo de que Lula assinará o acordo, embora sustente que até 31 de dezembro o presidente é Fernando Henrique Cardoso e ele deve decidir o que é melhor para o Brasil.
Editorial
O ACORDO COM O FMI
Aguardado com expectativa como precondição para o fim das tensões no cenário econômico e político, o novo acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi finalmente anunciado ontem, em Washington. O comportamento do mercado financeiro, que desde a véspera já reagia ao avanço das negociações com a recuperação das bolsas de valores e do câmbio, dá uma idéia da importância do acerto, que deve assegurar cerca US$ 30 bilhões para o país num período de 15 meses. Certamente, uma operação dessas dimensões não tem como poupar a população de um ônus adicional, nem como deixar de contar com o apoio dos candidatos mais cotados à Presidência da República, já expresso de forma clara pelos principais pretendentes ao cargo. Diante da rápida deterioração da situação financeira, porém, não havia outra saída, já que estava em jogo não apenas o futuro do país, mas o da própria América Latina.
Originárias inicialmente no setor público, que passou a se ver em crescentes dificuldades para continuar financiando seu déficit com investimentos externos a partir da campanha eleitoral, as dificuldades transbordaram rapidamente para o setor privado. Os aumentos continuados no Risco Brasil, elevando o dólar a mais de R$ 3 e derrubando sistematicamente os mercados acionários, incorporaram o nervosismo primeiro ao cotidiano do setor financeiro e, em seguida, também ao da área produtiva. Num fato inédito, que não havia sido registrado nem mesmo na moratória externa de 1987, a indústria brasileira viu secar de um momento para outro linhas de crédito sem as quais torna-se inviável qualquer exportação. E, particularmente em momentos de crise, o comércio externo constitui-se na válvula de escape para países como o Brasil, que precisam de um volume crescente de divisas para reconquistar credibilidade externa.
O país só assegurou apoio externo porque soube persistir na austeridade fiscal mesmo diante das dificuldades
A conjugação entre dificuldades financeiras e transição política no cenário interno, aliada a um ambiente externo de adversidades e de escassez de recursos, fez com que as preocupações em relação ao Brasil se estendessem aos principais mercados mundiais. Nesse cenário, a reaproximação do país com os Estados Unidos, consolidada a partir da visita do secretário do Tesouro norte-americano, Paul O’Neill, reforçou a perspectiva de que a ajuda era iminente, particularmente a partir do momento em que também o Uruguai acabou sendo socorrido.
O Brasil só assegurou apoio externo, porém, porque soube persistir na austeridade fiscal mesmo diante das dificuldades crescentes, que impuseram um custo elevado para os setores público e privado e para a população de maneira geral. Infelizmente, mais uma vez, o país se verá diante da necessidade de aprofundar ajustes e retardar o crescimento. Por isso, seria importante que este terceiro acordo desde o firmado em 1998 pudesse levar finalmente a uma guinada para o crescimento em bases sólidas e definitivas, contribuindo para atenuar também tensões sociais em níveis cada vez mais inquietantes.
Topo da página
08/08/2002
Artigos Relacionados
Serra promete criar 8 milhões de empregos
Serra promete criar Ministério da Segurança
Paulo Bernardo promete criar em janeiro a Secretaria de Inclusão Digital
Serra promete ser bom negociador
Serra promete ofensiva à violência
Serra se lança e promete realizar o que FHC não fez