Serra cai e empata com Garotinho









Serra cai e empata com Garotinho
Ciro subiu dois pontos percentuais e Lula caiu um

SÃO PAULO - A primeira pesquisa de um dos grandes institutos realizada depois do debate de domingo na TV Bandeirantes registra um quadro de relativa estabilidade na disputa pela Presidência da República. No mais recente levantamento do Ibope, o único candidato a se movimentar fora da margem de erro foi José Serra (PSDB), que caiu de 14% para 11%.

O tucano agora está em situação de empate numérico, e não mais técnico, com Anthony Garotinho (PSB), que há três rodadas registra o mesmo percentual: 11%. Isolado em segundo lugar, Ciro Gomes (PPS) oscilou positivamente dois pontos percentuais. Está com 27%, seis pontos atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que passou de 34% para 33%.

A margem de erro do levantamento é de 2,2 pontos, para mais ou para menos. O levantamento ouviu 2.000 eleitores em todo o país de segunda-feira até ontem. Foi um campo mais longo do que os três dias habitualmente utilizados pelo instituto. O objetivo foi captar eventuais reflexos do debate, realizado na noite de domingo.

De acordo com Márcia Cavallari, diretora do Ibope Opinião, o questionário não incluiu perguntas sobre o evento. Isso não impede, segundo ela, que as repercussões do primeiro confronto televisivo entre os presidenciáveis tenham de algum modo influenciado os resultados.

A diretora do Ibope recomenda cautela na análise da movimentação de Ciro. No levantamento anterior, o candidato do PPS havia recuado um ponto depois de subir por cinco rodadas consecutivas. Para Cavallari, assim como na semana passada era prematuro falar em estagnação, agora é cedo para dizer que Ciro tenha retomado uma rota de crescimento.

Não houve mudança significativa na simulação de 2º turno. Pelos novos números, Ciro venceria Lula em eventual confronto na etapa final por 46% a 41%. Os benefícios do recuo de Serra para a situação de Ciro podem ser percebidos em alguns resultados segmentados da pesquisa. No Nordeste, onde o tucano caiu três pontos, o candidato da Frente Trabalhista subiu sete, entrando em situação de empate técnico com Lula (36% para o petista e 33% para Ciro).


Ciro critica privatizações
Candidato trabalhista pergunta onde parou o dinheiro da venda de estatais

O candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) à Presidência da República, Ciro Gomes, fez ontem, em São Gonçalo e Duque de Caxias, um discurso com bordões que arrancavam aplausos das platéias, como a pergunta sobre o paradeiro dos recursos obtidos pelo governo federal com a venda de empresas públicas. Nos dois municípios - segundo e terceiro maiores colégios eleitorais do Estado, respectivamente -, o candidato afirmou que, se vencer as eleições, vai ''tomar a Presidência dos banqueiros e entregá-la ao povo que trabalha e produz''.

Após a mesma saudação: ''brasileiro, meu irmão; brasileira, minha irmã'', Ciro Gomes passou a elogiar os prefeitos José Camilo Zito, em Caxias, e Henry Charles, em São Gonçalo, nos palanques cercados de cabos eleitorais e militantes do PPS, PDT e PTB, partidos que integram a aliança.

Ciro também não deixou de espetar José Serra (PSDB), no momento em que citou números que expõem a miséria brasileira. ''Essa gente, que manda no Brasil há oito anos, produziu 11,7 milhões de desempregados, 5.500 famílias sem teto para morar. Destruiu a infra-estrutura do país a ponto de nos deixar sem energia elétrica. Mil escândalos, tudo varrido para debaixo do tapete, e não quer responder a uma simples pergunta: para onde foi o dinheiro do povo brasileiro, nos últimos oito anos? Em vez de responderem, preferem a agressão, o insulto, a mentira.''

O carisma do candidato ao Senado pela Frente, Leonel Brizola, também ajudou a elevar a temperatura do público, a cada vez que o nome dele era citado, em Duque de Caxias e em São Gonçalo. Seu estilo bem-humorado, amparado pelo sotaque gaúcho, levou pessoas às gargalhadas quando disse que o candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, seu desafeto, ''usa o nome de Deus em vão''.

''Foram tantas mentiras, tantos pecados, que o palanque dele caiu'', disse o ex-governador, que também repercutiu a assinatura do empréstimo-ponte do Brasil com o FMI. ''É triste para o nosso país. Não vão construir fábricas ou escolas com esse dinheiro que pegaram emprestado do FMI. Este empréstimo é para fazer com que o Brasil não afunde. Se não saísse, o país estaria na falência'', acrescentou.

Coube, ainda, ao candidato pedetista ao Senado, exercer a defesa do vice de Ciro, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, diante de acusações de malversação dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Segundo Brizola, ''estão atacando o Paulinho porque ele não admite os graúdos, as grandes redes de tevê''.


PPS perde espaço para a direita
BRASÍLIA - O PPS, partido de Ciro Gomes, está incomodado com a presença da direita no palanque do presidenciável. Reunida em Brasília ontem para fazer um balanço da campanha, a Executiva do PPS foi unânime em avaliar que o PFL ocupou muito espaço - e rápido demais - nas fileiras da Frente Trabalhista. A queixa é de que o partido teria perdido a paternidade da candidatura de Ciro.

O presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), explica que a adesão da direita veio antes do esperado. ''Achávamos que seria apenas no segundo turno'', afirma. ''É legítimo que queiram apoiá-lo, assim como é legítimo que alguns de nós fiquem incomodados''.

O candidato do PPS ao governo do DF, Carlos Alberto Torres, explica que o PFL gosta do Poder. ''Eles sentem cheiro de poder, vão onde ele está'', resume. Em Brasília, Torres impediu que os pefelistas subissem em seu palanque com Ciro a tiracolo.

Alguns integrantes do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) - o ''Partidão'' de onde se originou o PPS - não escondem o incômodo ao esbarrar com pefelistas nas visitas de Ciro aos Estados. É o caso da Bahia. Adversários históricos do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, os integrantes do PPS local não buscaram Ciro no aeroporto quando ele visitou Salvador, na última semana.

O presidente do diretório da Bahia, Coubert Martins, foi à reunião ontem disposto a convencer a Executiva a ocupar os espaços na campanha. ''Existem problemas graves, mas temos de buscar soluções para disputar espaço com eles'', afirma. ''Estão ligados a Ciro por falta de opção e oportunismo''.

Segundo o candidato ao governo do Piauí, Acilino Ribeiro, o fato do PPS ser pequeno faz com que a militância não esteja a todo momento com Ciro - o que facilita a entrada de outros partidos. ''Não podemos deixar Ciro sozinho'', reclama. Ele explica que o estrago poderia ser bem pior. Se o PFL tivesse oficialmente coligado, poderia exigir a vaga de vice na chapa e ministérios em um futuro governo. ''A candidatura de Ciro seria refém da direita'', diz.

O integrante do diretório de Pernambuco, Waldemar Borges, também reclamou da adesão crescente do PFL. ''Isso não aconteceria se Ciro não estivesse com chances reais'', afirma. ''Mas quando Ciro estiver no Planalto, a hegemonia intelectual será do PPS'', acredita. De acordo com a maioria do partido, Ciro estaria com a direita apenas para chegar ao poder. ''É a primeira vez na História que a esquerda usa a direita'', afirma outro prefeito.


FH cobra apoio a José Serra
Presidente telefonou a candidatos tucanos nos Estados que querem dividir palanque
BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso interferiu pessoalmente para cobrar ordem nos palanques do candidato tucano José Serra (PSDB) invadidos por Ciro Gomes, da Frente Trabalhista. O presidente convocou ao Palácio da Alvorada o senador Sérgio Machado, candidato do PMDB ao governo do Ceará, para pedir calma. O comando tucano tenta dar uma freada nas defecções na candidatura de Serra. O presidente ajudou na operação disparando telefonemas aos candidatos do PSDB nos Estados e aos prefeitos que pressionam pela divisão dos palanques.

O presidente decidiu ontem que só gravará apoios a candidatos fiéis a Serra e que não estejam dividindo seus palanques com Ciro Gomes. O presidente já gravou depoimentos para os senadores Artur da Távola, Teotônio Vilela, Antero Paes de Barros, e para o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima. Fez o mesmo pelas candidatas a governadora Marisa Serrano (MS) e Solange Amaral, do PFL do Rio. Mas Fernando Henrique insiste que nos palanques aliados do PMDB e do PSDB só seja permitida a subida de Serra.

O primeiro êxito foi obtido no palanque da Paraíba. O candidato do PSDB ao governo do Estado, Cássio Cunha Lima, não irá hoje receber o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, que chega em João Pessoa (PB). ''Não subirei no palanque com Ciro nem me encontrarei com ele'', prometeu Cássio. Porém, liberou os candidatos do PPS, PDT e setores do PFL que o apóiam para pedir voto para Ciro em cima do seu palanque. ''Eu vou pedir voto só para o Serra. Eles podem pedir para Ciro'', disse.

Pouco antes do candidato José Serra desembarcar, ontem, para inaugurar seu comitê eleitoral, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, do PMDB, deu uma resposta desaforada ao coordenador da campanha serrista, o deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG). Ele o repreendeu por telefone pela abertura do palanque a Ciro. ''Quem cuida da minha campanha é a minha coligação'', disse Jarbas, na contramão dos esforços do presidente para conter a liberação. ''Não acho nada demais abrir palanque para Ciro'', acrescentou.

O presidente também cuidou pessoalmente do problema do Ceará. Lá, o impasse passou dos limites na avaliação de Fernando Henrique. Ele prometeu apoio à Sérgio Machado, que disputa o governo do Ceará contra o candidato do PSDB, Lúcio Alcântara que apóia abertamente o candidato Ciro Gomes.

Ontem, a situação na campanha do estado chegou a tal ponto que o ministro da Saúde, Barjas Negri, se recusou a participar da solenidade de inauguração do Hospital das Clínicas ligado à Universidade Federal do Ceará, no Palácio do Governo. Às pressas, o cerimonial montou uma festa no auditório da Federação das Indústrias do Ceará. Tudo porque o governador do Ceará, Beni Veras (PSDB), tem simpatia por Ciro.


Grampos atingem Ciro e Paulinho
Freire pede providências enérgicas do governo federal

BRASÍLIA - A Frente Trabalhista confirmou as suspeitas levantadas pelo comando de campanha de Ciro Gomes (PPS), segundo adiantou ontem o Jornal do Brasil. Uma varredura encomendada pela coligação à empresa Augusto Assessoria Técnica e Telefonia detectou a existência de grampos nos telefones do comitê de Ciro em Brasília, no comitê do vice da chapa, o líder sindical Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, e no escritório da Força em São Paulo. Paulinho disse que teme pelo que possa acontecer. ''Essa eleição está parecendo um filme de terror '', afirmou. ''Mas não vou acusar ninguém''. O presidenciável do PPS, que esteve ontem em Caxias e São Gonçalo, Baixada Fluminense, não quis comentar o caso.

O deputado Emerson Kapaz (PPS-SP) foi mais explícito. Para ele, a responsabilidade pelos grampos é do candidato do PSDB à Presidência. ''Este é o estilo de fazer política do Serra, ficar bisbilhotando a vida dos adversários'', acusou.

Segundo o deputado, os métodos do candidato tucano já atingiram o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), o ministro da Educação, Paulo Renato, e a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). Kapaz relacionou o grampo encontrado ontem com a empresa de escuta Fence, contratada pelo Ministério da Saúde na época em que Serra era ministro. ''Essa é uma prática comum para ele''. No comitê do PPS, os grampos foram detectados no térreo do prédio e nos ramais

O presidente do partido, Roberto Freire (PE), exigiu resposta enérgica do governo federal. ''Esse tipo de coisa é muito grave, a ponto de provocar a renúncia do presidente do Estados Unidos'', disse, referindo-se a Richard Nixon, a quem foi atribuída a responsabilidade por escutas telefônicas no caso Watergate. Segundo Freire, é necessário que o presidente Fernando Henrique Cardoso ponha todo o arsenal de investigação do governo para o esclarecimento do caso. ''É preciso uma resposta imediata. Isso é um atentado à democracia''.


Aníbal terá que retirar cartazes em 24h
SÃO PAULO - O juiz auxiliar do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo, Rui Stoco, concedeu liminar ontem em representação oferecida pela coligação ''Resolve São Paulo'' (PL, PPB, PSDC, PPN) para que o candidato ao Senado pela coligação ''São Paulo em boas mãos'' (PFL, PSD, PSDB) e presidente nacional do PSDB, José Aníbal, retire, em 24 horas, sua propaganda em faixas e banners das ruas da cidade.
De acordo com o TRE, a propaganda de Aníbal está ''disseminada por toda a cidade de São Paulo''. Para o tribunal, terá que ser retirada a propaganda que não contenha os nomes de seus candidatos a suplente e a legenda partidária.

As informações são da assessoria do TRE. De acordo com a legislação eleitoral, a propaganda, qualquer que seja a sua forma ou modalidade, deve sempre mencionar o nome da legenda partidária.
No caso do Senado, devem também ser mencionados os nomes dos candidatos a suplentes.


Artigos

O sonho de um país
Arnaldo Carrilho

Prosseguem as cerimônias comemorativas do centenário de Juscelino Kubitshek de Oliveira. Nunca demasiado homenagear o garoto pobre que transformaria Belo Horizonte, Minas Gerais e o Brasil. É de esperar-se que, nesta conjuntura de campanhas políticas, tais eventos induzam o eleitorado a reflexões sobre o significado de JK. Jovens sobretudo, após longas décadas de sabotagens à sua memória, são o objeto, em primeira e última análise, de cada um dos itens programados para os festejos. Contrariamente aos americanos, que tomam a história como arquivo-morto de páginas viradas - exceto nos casos de triunfos estamentários -, a do período brasileiro 1956-61 ainda oferece muito em atrativos. Isso porque ficou interrompida a obra exemplar do presidente diamantinense.

Quando, aos 30 anos, o urologista da Polícia Militar mineira descobriu a política, seu espírito deduzia que um país diferente seria possível. Era um sonho que se enriqueceria a cada passo de uma carreira pautada em hábil capacidade negociatória. Trilhava o caminho do meio com o mesmo empenho de um budista, assim, naturalmente, sem dogmatismos nem reacionarismos. Eleito em 1955 por seu povo contra a vontade da ''eterna vigilância'' conservadora, instituíu um primoroso Programa de Metas. Fundia visões estruturalistas e monetaristas, abria setores deficitários de nossa economia ao capital estrangeiro (produtivo, jamais especulativo) e tomava decisões certeiras com rapidez inédita. Era a sua missão mudar logo o país, acelerando seu crescimento (8% anuais em média) e desbravando-o mediante a construção de Brasília e de estradas em áreas consideradas inóspitas.

Graças a tudo isso, Juscelino embarcou no que chamava desenvolvimentismo, querendo um avanço de 50 anos em seu qüinqüênio. Não se tratava de criar consumidores apenas, mas de fugir de nossas misérias seculares pela via democrática. Cercando-se de artistas, escritores e arquitetos, marcou essa corrida excepcional rumo ao progresso com bonomia e senso estético. Quando Malraux elogiou as colunas do Alvorada, comparando-as às do Pártenon, incluía decerto seu anfitrião na metáfora helenizante. Eis uma forma infalível para implantar cidadania.

Há dias, no Memorial de JK, foi tudo i sso recordado, e muito mais, durante a festa, em discursos e conversas. O que mais despertou a curiosidade dos presentes foi a projeção de O menino que sonhou um país, de Silvio Tendler, que faz mais de duas décadas já se destacara com os Anos JK. Atenção, que nada foi repetido ou reiterado neste último dos sete filmes do cineasta, dedicado ao notável estadista. Tampouco se trata de mero exercício de retórica saudosista. Um foi o audacioso registro histórico realizado na vigência do regime autoritário e criticado por intelectuais bem pensantes; no de agora, imagens e narração comprovam que não foi tão fácil a saga do ''presidente Bossa Nova'', impondo-se a seus adversários com seu sorriso contagiante, os olhos apertados como os de um oriental.

Esse tipo de cinema precisa de espectadores, não de bilheterias. O seu mercado não é o das vulgaridades ou violências. A sua tensão não é fruto de neuropsicoses, porém de patriotismo. Num país em que 98% das telas estiveram, no primeiro semestre do ano, ocupados com lixos audiovisuais de Hollywood - apelidados de blockbusters (''arrasa-quarteirões''), ruins como drogas -, cuidar de nós mesmos cinematograficamente tornou-se obrigação. Tal como JK preconizava, eis mais um ato de resistência pacífica aos pesadelos, agora em perigosa escalada por toda parte.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Responsabilidade institucional
Há algum tempo é explícita, e quase consensual, a percepção de que o Brasil de anteontem não é o mesmo país de hoje, que amanhã estará também diferente. Abandonamos devagar aquela postura derrotista, segundo a qual engajamento político traduzia-se no diagnóstico permanente do apocalipse.

É um conforto aos nervos a permissão para reconhecer os avanços nacionais sem incorrer no risco da acusação da alienação abobalhada. Sem nos subtrairmos a consciência de que há ainda muitas léguas a percorrer antes de dormir, pelo menos paramos de discutir a utilidade da luz elétrica e da água encanada.
A incorporação do óbvio ao debate nacional - pré-requisito sem o qual os olhos permanecem fixos no retrovisor - ganha materialidade na campanha eleitoral em curso.

Não obstante algumas concessões à intolerância, ao deboche e ao populismo, o embate evolui no bom caminho: estreita-se o espaço da demagogia da mesma forma como se reduz a margem de êxito das pirotecnias e o índice de aceitação da repetição de velhos jargões, frases feitas e simplificação de realidades.
Emblemático desse avanço é o ambiente em que se dá a discussão sobre o acordo firmado com o FMI.

Nenhum dos candidatos cedeu à lógica fácil e inconseqüente do ''Fora FMI''. Absolutamente compreensível que os postulantes não-governistas tivessem uma reação diferenciada, mais crítica, que a do candidato oficial.
Com variações de estilo e conveniências eleitorais legítimas, todos reconheceram o imperativo do recurso ao fundo, sendo o candidato do PT o mais assertivo na necessidade de o país buscar a única fonte de dinheiro disponível ante a conjuntura.

O mérito de Lula reside exatamente no fato de seu partido estar, até muito recentemente, engajado num inútil e juvenil plebiscito a respeito do pagamento da dívida externa. Pois agora, muito mais útil que cobrar do PT posições passadas, é saudar a sua evolução para uma postura mais realista.

Os economistas da equipe de Ciro Gomes impõem alguns reparos, mas o candidato afirma que será o último a querer atrapalhar acertos que mantenham o país com a cabeça fora da água. Excelente, pois quem não atrapalha já ajuda enormemente. Inclusive a si mesmo, na medida que assegura serenidade ao ambiente e, se for eleito, um início de governo com espaço para respirar.

Se a gente pensar que não faz muito, dois ou três anos, vários dos personagens agora em destaque estavam embarcados na tolice do ''Fora FHC'', com a empolgação de secundaristas, é de se louvar ainda com mais entusiasmo o avanço.

Naquele diapasão de palavrório sem começo, meio ou fim - sem falar na ausência de pé e cabeça -, estaríamos hoje mergulhados numa desorganização institucional de conseqüências imprevisíveis. O cenário tanto poderia ser aquele de dissenso absoluto que favorece as aventuras, quanto o de terror total que leva o eleitor a votar com medo de errar e não com vontade de acertar.

Pelo rumo que escolhemos - sociedade e políticos por ela levados a posições mais responsáveis -, tornar-se menor a margem de erro. Qualquer que seja o resultado, sairemos desse processo na condição de vencedores no quesito consolidação democrática, carregando a reboque a política e os políticos sempre tão resistentes a abandonar seus velhos dogmas de ineficácia largamente comprovada.

Maluf na mira
O Ministério Público de São Paulo ainda mantém os detalhes em sigilo, mas já conseguiu encontrar um caminho para chegar ao dinheiro de Paulo Maluf depositado em contas no paraíso fiscal de Jersey.

Os procuradores descobriram a trajetória, tanto de ida - incluindo aí a origem - quanto de volta de parte do dinheiro, via empresa do candidato do PPB ao governo de São Paulo.

A idéia é formalizar uma acusação, ainda antes da eleição. Para isso, estão faltando chegar às mãos dos procuradores apenas duas informações.

Se isso acontecer de fato, antes de 6 de outubro, examina-se a possibilidade de solicitar à Justiça a cassação do registro da candidatura de Maluf. O MP começou ontem a esquadrinhar a legislação eleitoral, em busca de sustentação jurídica.

Amigos, amigos...
No dia 17 de julho, quando ainda se discutia a aliança do PPS com Fernando Collor em Alagoas, Ciro, querendo encerrar o assunto, disse que já era hora de ''superar o constrangimento'' pelo acordo e tocar a vida em frente.

No mesmo dia, Roberto Jefferson defendeu a aliança sob o argumento de que ''dez anos de cassação já permitem que Collor seja julgado pelo povo''.

Pois foi o ex-presidente abrir o voto, para o líder do PTB julgá-lo um ''canalha'', e Ciro, constrangido, recusar o apoio.


Editorial

INQUÉRITO MALUCO

É repugnante. Depois de 65 dias, os responsáveis pelo inquérito sobre o brutal assassinato de Tim Lopes concluíram que o experiente repórter correu riscos desnecessários, colaborando para o fato ''que ocasionou sua detenção e morte''. No relatório final, o inspetor Daniel Gomes chegou às raias do absurdo ao afirmar que Tim Lopes ''não vislumbrou a diferença da emoção para a razão''. Indignada, a governadora Benedita da Silva agiu com firmeza: exonerou o delegado Sérgio Falante, responsável pelo inquérito, e determinou o imediato afastamento do malfadado inspetor.

Em nota oficial, Benedita ressaltou que as conclusões de Gomes de maneira alguma traduzem a posição da Secretaria de Segurança. Lamentou as opiniões pessoais incluídas no inquérito e reconheceu ''o grau de corrosão e deterioração em que se encontra parte do aparelho policial do Estado do Rio''.

A nota oficial é histórica. O Estado admite, enfim, a podridão da polícia que aí está. Enquanto não houver limpeza radical, a segurança dos cidadãos continuará entregue a inspetores incompetentes, que só se preocupam com a carreira e promoções. Com material humano desqualificado e estrutura que vem dos anos 50, a polícia fluminense está condenada ao fracasso. Em lugar de instruir inquéritos, habilita-se no máximo a emitir opiniões insensatas. E não prende Elias Maluco.


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08/09/2002


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