Simon registra migração de gaúchos para os estados da Amazônia



O senador Pedro Simon (PMDB-RS), em discurso nesta segunda-feira (15), deu continuidade à sua série de discursos a respeito do que classificou de "diáspora" dos gaúchos em direção a outros estados brasileiros, a partir dos anos 1970. Desta vez, ele registrou a migração dos gaúchos em direção à Região Norte. Na semana passada, o parlamentar falou de Mato Grosso.

O senador lembrou que diáspora significa "dispersão de um povo, em conseqüência de preconceito ou perseguição política, religiosa ou étnica". Ele explicou que, no caso dos gaúchos, o motivo que levou os agricultores à dispersão forçada foi econômico, por falta de terras para cultivo, causada pelo excessivo fracionamento das propriedades dos colonos pioneiros.

O parlamentar iniciou o relato da trajetória dos gaúchos na Região Norte pela migração para o Acre, lembrando que o estado "tem forte vínculo com o Rio Grande do Sul por ter sido incorporado ao Brasil por um jovem idealista gaúcho", Plácido de Castro, comandante da revolução contra as forças bolivianas e que se tornou, posteriormente, governador do estado. De acordo com números citados pelo senador, há pelo menos 30 mil sulistas no estado, concentrados especialmente na capital, Rio Branco, e nos municípios de Acrelândia, Plácido de Castro e Senador Guiomard.

Simon mencionou ainda, em especial, dois gaúchos que vivem no Acre e o ajudaram a obter dados para o pronunciamento: o deputado estadual José Luis Schafer, mais conhecido como Tchê, e o desembargador Pedro Ranzi.

Em uma década, mais de 100 mil sulistas migraram para Rondônia, segundo o senador, entre eles descendentes de gaúchos que passaram a viver em Santa Catarina ou Paraná, os "gaúchos cansados", como explicou. Esse é o caso do ex-senador Amir Lando, que nasceu em Santa Catarina, e cuja família é originária de Bento Gonçalves. A maioria dos sulistas vive nos municípios de Viena e Ji-Paraná plantando soja, já que as terras planas propiciam a mecanização da lavoura e, em Porto Velho, onde há um grande número de profissionais liberais e funcionários públicos federais e estaduais vindos do Sul.

No Pará, Pedro Simon registrou o trabalho de Valdir Ganzer, secretário de Transporte do estado que migrou com sua família aos 16 anos para uma agrovila às margens da Rodovia Transamazônia, na altura do hoje município de Rurópolis. Segundo o pesquisador Pedro Celestino, citado por Simon, os gaúchos estão concentrados em Medicilândia, município a cerca de 90 quilômetros de Altamira. Além de cacau e café, há quem plante cana-de-açúcar na região porque o solo é parecido com o do Paraná. Altamira é a cidade com a maior concentração de gaúchos, e Paragominas e Santarém também se destacam.

No estado do Amazonas, disse Simon, a cidade mais gaúcha é Apuí, no extremo sul do estado. O município tem 20 mil habitantes e nasceu da migração gaúcha, nos anos 1970. Lá, os agricultores catarinenses e paranaenses também descendem de gaúchos, caso do atual prefeito da cidade, Antonio Roque Longo. A principal atividade econômica da cidade é a criação de gado, com rebanho de 150 mil cabeças, sendo que os maiores fazendeiros têm entre 5 mil e 7 mil cabeças. O café e o gado são vendidos para Manaus. Há ainda produção de cacau, arroz e milho.

Pedro Simon lamentou a falta de meios de transporte para ligar a cidade à capital e registrou que o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) tem grande afinidade com os gaúchos da região - a maioria produtores de arroz que estão envolvidos com a polêmica da demarcação da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol. É a terceira maior colônia de Roraima depois dos maranhenses e dos cearenses, entre 10 mil e 15 mil, numa população total de 400 mil habitantes. O senador também destacou a atuação do deputado estadual Erci de Moraes e o trabalho feito pelo brigadeiro Ottomar Pinto, governador do estado falecido em 2007, para promover a colonização do estado.

No Amapá, o parlamentar lembrou-se do magistrado e líder político gaúcho Germano Bonow Filho, nomeado para trabalhar naquele estado, e de seu filho, o deputado Germano Mostardeiro Bonow. Segundo Simon, nos últimos anos, as restrições do governo do estado ao plantio de soja e à criação de gado fizeram a produção diminuir. Assim, alguns produtores gaúchos preferiram seguir para o Pará ou para Tocantins. O senador afirmou ter "orgulho dos gaúchos migrantes".

- São pessoas que enfrentaram grandes desafios, que tiveram que se adaptar a um meio totalmente estranho e que, mesmo assim, alcançaram sucesso. Amam a sua nova terra, mas ainda guardam um cantinho do coração para o seu torrão natal. A essa brava gente brasileira, quero deixar aqui a minha saudação - declarou.

Pedro Simon informou que pretende escrever um livro sobre a história dos gaúchos na vida brasileira.



15/12/2008

Agência Senado


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