Suassuna defende-se de acusações e pede explicação para quebra de sigilo



Enfatizando sua indignação e tristeza, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) negou que esteja envolvido nos episódios de transferência irregular de recursos para o exterior, como aponta matéria publicada no Correio Braziliense desta quinta-feira (11), intitulada "Os dólares do senador". Ele enumerou o que considerou "maldades" da reportagem e cobrou o fato de dados que estariam de posse da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Banestado terem sido divulgados, caracterizando quebra de sigilo.

De acordo com a matéria, o nome do senador consta em cerca de cem documentos guardados em uma pasta sanfonada marrom, depositada em sala secreta da CPI, que comprovariam que ele teria movimentado, entre 1998 e 2003, cerca de US$ 3 milhões na conta particular Key West (nome de localidade da Flórida) no Delta Bank de Miami. De acordo com a reportagem, os recursos foram enviados por meio de uma rede de doleiros.

Suassuna afirmou que detém contas no Banco do Brasil e no Delta Bank, que possui um apartamento há mais de 20 anos em Miami e também que já foi proprietário de uma escola no lugar. Mas contestou qualquer irregularidade em suas contas e disse que todas as suas movimentações bancárias são conhecidas pelo Banco Central (BC).

- Eu estou em meu segundo mandato nesta Casa e todos sabem que sou empresário do Colégio Anglo-Americano, que é uma rede de ensino a distância que possui alunos espalhados por 48 países. Mas a matéria não fala que eu estou afastado da gerência da escola há oito anos. Eu não tenho nada a esconder, minha vida é muito transparente - disse o senador.

Ele contou que, exatamente pelas características da escola, o pagamento das mensalidades dos alunos é feito por via bancária. Sobre esse aspecto, aliás, reclamou ele, existe uma "maldade" na matéria. Segundo Suassuna, a resposta a ele atribuída na matéria, de que "não saberia de onde o dinheiro vem", estava inserida, na verdade, no contexto do pagamento das mensalidades, e não no do dinheiro que possui.

- Eu me surpreendi por ver as notícias do Correio Braziliense, pois não existe jabuti em árvore que não tenha sido colocado ali - disse o senador, vinculando a matéria em que figura com outra noticiada pelo mesmo jornal, dando conta da existência de uma possível crise em seu partido, o PMDB.

Após o discurso, ao ser perguntado pela imprensa se ele achava que as notícias contra ele estariam sendo utilizadas para pressionar o PMDB,  Suassuna respondeu:

- Não sei. A ênfase é tanta que a gente desconfia.

Outra perversidade da notícia, a seu ver, é uma das frases do texto, segundo a qual os documentos foram entregues ao "relator e representante do governo, José Mentor (PT-SP)". Em resposta aos jornalistas, o senador disse que já está começando a duvidar que a divulgação dos dados esteja relacionada com Mentor.

- Está tão jogado para ele (Mentor) que a gente começa a duvidar. É como aquele negócio de novela. Quando todos os indícios voltam para um, às vezes não é ele. Então eu vou matutar sobre o assunto.

 Um terceiro equívoco, considerado proposital pelo orador, é o fato de a matéria não deixar clara a diferença entre o que é saldo e o que é movimentação em uma conta, pois, conforme detalhou, um mesmo valor pode "entrar e sair" várias vezes de uma conta e, portanto, não significar que o saldo foi elevado.

- Se for preciso, eu trarei documentos para mostrar isso.

Suassuna estranhou, no entanto, que o jornalista do Correio tenha narrado com tantas minúcias os fatos relacionados com repasse de dólares e com os documentos da CPI.

- Como pode ser isso? Será que acompanhou minha vida e meus passos para poder descrever essas coisas? Eu quero clareza e fico impressionado com a descrição do repórter sobre a sala, que diz que é secreta, mas que ele pôde ver, mas eu nunca entrei e até os outros membros da CPI não podem. Os detalhes são tão evidentes que a gente começa a duvidar que quem falou que deu, deu mesmo. Eu estou à disposição da CPI, mas quero saber dessa quebra de sigilo, porque isso é um crime - enfatizou Suassuna, lembrando ainda que foi fiscalizado durante todo o ano passado pela Receita Federal, por denúncias relacionadas a desvios nas cidades de Cacoal e Ji-Paraná (RO) e nada contra ele foi provado.

- Do jeito como estão essas coisas, eu só posso concluir que esta CPI está enodoando o Congresso Nacional.

> Renan presta apoio a Suassuna. Simon e Heráclito exigem abertura de dados da CPI do Banestado

> Antero diz que documentos publicados pelo "Correio" não foram ainda autuados por ele na CPI



11/11/2004

Agência Senado


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