SUPLICY QUESTIONA POLÍTICA DE COMBATE À SECA



"Embora não possamos predeterminar a periodicidade da seca, é certo que haverá novas secas depois da atual", advertiu o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ao relatar em plenário os resultados do Seminário O Nordeste além da seca, organizado pela Central Única dos Trabalhadores, no fim do mês passado. Ele criticou o governo federal por não ter tomado nenhuma medida antes de o problema atingir proporções calamitosas.

- Os programas de ação emergencial, que poderiam ter sido lançados há pelo menos seis meses, foram lançados de forma tímida e estão sendo implementados em um ritmo demasiadamente lento - observou o senador paulista.

Suplicy traçou um histórico detalhado do combate à seca no Brasil desde o século passado. Para ele, a tônica das ações governamentais se baseia em políticas emergenciais que não atacam as causas do problema. "O semi-árido nordestino necessita de soluções definitivas para seus problemas sócio-econômicos agravados pelas secas. Soluções que compreendem não apenas o aumento da capacidade de armazenar e distribuir água, mas também o processo de desenvolvimento econômico da região como um todo e da zona rural do semi-árido em especial", afirmou.

O senador criticou também o uso político das verbas públicas destinadas às regiões de seca. Suplicy considera o desvio de recursos reflexo de um esquema secular de dominação e de exclusão social. "Ele pode ser traduzido tanto pela simples permuta de votos por cestas básicas, como na troca de apoio político pela liberação de verbas orçamentárias, para obras que muitas vezes não se mostram essenciais para a população", disse. Em aparte, o senador Lauro Campos (PT-DF) concordou com Suplicy: "Quando os rios não fluem no Nordeste, o dinheiro começa a correr para os ricos e não na direção correta dos mais necessitados".

Eduardo Suplicy defendeu a adoção de medidas em diversos planos, não apenas buscando levar água às regiões atingidas. Ele citou os caminhos apontados pelo seminário da CUT realizado em Petrolina, Pernambuco. Entre eles, a aplicação imediata de recursos do FGTS em obras de combate à seca, o redirecionamento dos recursos do Fundo Constitucional do Nordeste e a desapropriação das terras onde há lençóis d'água subterrâneos para democratizar o acesso aos recursos hídricos.



09/06/1998

Agência Senado


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