Tarso e Rigotto devem disputar 2º turno










Tarso e Rigotto devem disputar 2º turno
No debate de anteontem, peemedebista e Britto, o terceiro colocado, deixaram transparecer parceria anti-PT

As eleições gaúchas estão contrariando as expectativas iniciais e, pelo que indica pesquisa divulgada ontem, fica mais afastada a hipótese de enfrentamento no segundo turno entre Tarso Genro (PT) e Antônio Britto (PPS). Germano Rigotto (PMDB) aparece como provável adversário de Tarso no segundo turno, contrariando a polarização inicial.

De acordo com a pesquisa do jornal "Correio do Povo", Tarso oscilou positivamente de 33,8% para 34,9%; Rigotto subiu de 24,8% para 31,5%; e Britto caiu de 22,1% para 19,2%.

Como a margem de erro é de 2,2 pontos para mais ou menos, configura-se já empate técnico entre Tarso e Rigotto. Faltando três dias para as eleições, dificilmente o quadro seria modificado, apesar de o debate da "RBS-TV" ter ocorrido depois da apuração nenhum candidato ficou em evidência ou revelou novidade.
No começo da campanha, Britto atingia, segundo as pesquisas, índices próximos dos 40%. Tarso ficava um pouco atrás. Rigotto não tinha dois dígitos e era considerado "carta fora do baralho".

Enquanto Rigotto se propunha a marcar a diferença em relação aos líderes optando por um discurso sem ataques, os dois mantinham uma guerra à parte. Nesse contexto, Rigotto começou um crescimento meteórico, que pode levá-lo a surpreender todos os analistas que previam a polarização entre Tarso e Britto.

As estratégias de Tarso e Rigotto para um possível segundo turno já se desenham. No último horário gratuito de rádio e TV, Tarso, de forma discreta e sem comparações explícitas com a atuação da atual administração petista, sublinhou que "vai governar dialogando com todos os gaúchos".

Durante o processo eleitoral, ele tem se colocado como o candidato que dará continuidade ao governo de Olívio, a quem derrotou nas prévias petistas. Há, porém, reparos que ele faz à administração e que poderão pesar. A preocupação é mostrar sutilmente que há diferenças entre o seu jeito de administrar e o de Olívio, mas que seriam complementares.

A estratégia de Rigotto ficou nítida no debate de anteontem: ele e Britto já deixavam de lado a disputa pelo segundo lugar e atacavam o Tarso em uma parceria explícita. Isso deu a entender que os três vêem Rigotto como o provável candidato que reunirá as forças anti-PT no Estado.


Rigotto diz que cresce porque é conciliador
O candidato do PMDB ao governo do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, atribui seu crescimento nas pesquisas ao que classifica como "rejeição do povo gaúcho ao confronto entre petistas e brittistas".

""Quando eu assumi a candidatura tinha 3,9% nas pesquisas e todos diziam que eu havia aberto mão de uma vaga certa no Senado", afirmou o candidato à Agência Folha.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Agência Folha - O sr. já se vê no segundo turno?
Germano Rigotto - Não falo em certeza de segundo turno, pois nós temos de nos manter mobilizados até o fim. Mas é impressionante nosso crescimento.

Agência Folha - Como o sr. vê a descrença que havia em relação ao seu nome?
Rigotto - Quando assumi a candidatura tinha 3,9% nas pesquisas e todos diziam que eu havia aberto mão de uma vaga certa no Senado. Em primeiro lugar, acertamos a mão com o plano de governo. Depois, soubemos como apresentá-lo. O confronto entre o petismo e o brittismo não criava um ambiente propício. A mensagem de agregar e não dividir nos favoreceu. Eu tinha convicção de que as pessoas rejeitariam o confronto.

Agência Folha - Quando o candidato Antônio Britto deixou o PMDB e foi para o PPS, o sr. foi cogitado como um dos que o seguiriam.
Rigotto - Nunca cogitei ir para o PPS. Tínhamos discussões sobre os destinos do PMDB nacional, mas eu não iria trocar de partido.

Agência Folha - Seu crescimento reflete uma rejeição ao governo atual, do PT, e ao anterior, que era do PMDB, de Antônio Britto?
Rigotto - Não participei do governo Britto. Eu era deputado federal. Não nego seus erros. Faltou diálogo com a sociedade. Britto se isolou demais.


Parente sugere mandato mais longo sem reeleição Planalto crê em 2º turno, mas está pronto para antecipar transição, diz ministro

Sugestão "pessoal" do ministro Pedro Parente, chefe da Casa Civil e coordenador da transição, para o sucessor de Fernando Henrique Cardoso, seja quem for: instituir um mandato único maior do que os atuais quatro anos, sem a possibilidade de reeleição.

Em entrevista à Folha, ontem, em seu gabinete no Planalto, Parente não descartou a candidatura de FHC a um terceiro mandato: "O futuro a Deus pertence", disse, emblematicamente.

Depois de três dias se informando sobre a transição em Washington, Parente, 49, quase 18 deles no governo federal, disse que o Planalto e ele próprio acreditam na realização do segundo turno, mas estão preparados para "qualquer das alternativas", inclusive a vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva no domingo e o início da transição já na segunda-feira. Seguem os principais trechos da entrevista.

Folha - O sr. já recebeu todo o material dos ministérios para a "Agenda 100", da transição?
Pedro Parente - Já recebemos o material bruto dos ministérios. Ela [a agenda] tem a ver com os compromissos já existentes de agenda interna e o cronograma dos nossos compromissos internacionais.

Folha - A revisão de novembro do novo acordo com o FMI, por exemplo?
Parente - Essa não estará na "Agenda 100", que só vale a partir da posse, em janeiro. Mas o presidente eleito e a equipe que ele indicar serão convidados a participar das discussões para a revisão do acordo com o FMI em novembro.

Folha - E as questões que vão realmente definir o primeiro ano do novo governo, como a revisão do FMI, o salário mínimo, as alíquotas da CPMF para 2004?
Parente - Qualquer assunto cuja repercussão extrapole o atual governo, o presidente está aberto a discutir. Mas é preciso ficar claro que não há responsabilidade compartilhada. A responsabilidade e a decisão são de quem está ocupando o governo. O que a gente pretende é, sempre que possível, aproximar as posições.

Folha - O que seria "aproximar posições" na revisão do FMI?
Parente - Depende muito de como vão ser os primeiros passos do presidente eleito. Se ele der um sinal claro de acalmar os investidores, os mercados, de esclarecer dúvidas, não tenho dúvida de que a discussão em novembro pode ser meramente de rotina, porque estamos cumprindo resultados.

Folha - O próprio PT já admite a necessidade de um "ajuste fiscal brabo". Isso vai estar na pauta da revisão do FMI?
Parente - O Orçamento que está no Congresso foi feito para gerar o superávit de 3,75% [do PIB, Produto Interno Bruto". A questão a ser colocada, e é um tema muito mais do novo time do que nosso, é se eles quiserem fazer além do que está no Orçamento. Para manter o mesmo resultado, haverá necessidade de receitas adicionais, certo? Aí se coloca a discussão do salário mínimo, por exemplo. O Orçamento prevê recursos para o mínimo que garantem o superávit de 3,75%. Se o novo presidente quiser fazer algo maior, vai precisar discutir fontes. Ou cortar em outros lugares, daí o "ajuste brabo", ou aumentar receita.

Folha - É só impressão ou sua fala contém uma pitada de prazer diante da perspectiva de ver a oposição de hoje vivendo as dificuldades entre intenções, receitas e despesas?
Parente - O meu candidato é o [José] Serra e acho que a história ainda não acabou. Mas, admitindo que seja o PT, vai ser benéfico eles terem de lidar com as restrições verdadeiras para tomar decisões. Na oposição, é fácil. Na oposição, ninguém se preocupa com as exceções, só com a promessa, com o lado positivo, com prometer o céu, a felicidade do decreto. Agora, vem sentar aqui para ver se é fácil. Não é prazer mórbido, mas é preciso haver decisões responsáveis, com visão das restrições fiscais, financeiras, políticas. Tudo isso faz com que o país tenha de amadurecer.

Folha - Discute-se muito o papel do presidente da República num quadro assim nervoso, de tantas pressões, de um lado, e restrições, de outro. Qual é esse papel?
Parente - Quanto maior a experiência, melhor. E é por isso que, olhando o quadro de candidatos, é óbvio que o Serra tem mais experiência, mais conhecimento da máquina. Mas quem vai decidir é o povo brasileiro.

Folha - E no caso do Banco Central?
Parente - Se o Armínio [Fraga" fosse entendido como o homem do novo presidente, qualquer que seja ele, isso seria extremamente positivo, mas já está claro que, se for o PT, eles vão preferir botar outra pessoa. Então, o importante é que escolham bem essa pessoa.

Folha - O que é escolher bem?
Parente - É escolher alguém que conheça bem teoria econômica e os mecanismos de mercado e que possa, portanto, trabalhar tanto no nível estratégico e de formulação quanto entender os mecanismos de operação. E que tenha visão do país como um todo, o que inclui as questões sociais. Ver isso pelo ângulo do Banco Central, que é mantendo a inflação sob controle.

Folha - O que o governo sugere ao sucessor quanto à redução da alíquota da CPMF para 0,08% em 2004? E a compensação de receita?
Parente - Não havendo um mecanismo de substituição da CPMF, seja pela reforma tributária, seja por um mecanismo desenhado especificamente para isso, não se pode abrir mão da CPMF. Estou falando sobre a importância de manter a alíquota atual [.....].

Folha - Como o sr. imagina um governo PT mantendo a CPMF, dando um salário mínimo condizente com seu discurso histórico, fazendo uma reforma tributária consensual?
Parente - O cenário que eu vejo é: qualquer presidente eleito, seja o Lula, seja o Serra, vai se deparar com um quadro de restrições que não é desconhecido, porque o tempo todo nós fizemos referência a ele. Mas ver de fora é diferente de ter que trabalhar esse quadro de dentro. Haverá dificuldades muito grandes se quiserem fazer todas as mudanças de uma vez, atender todas as demandas de uma só vez. Governar não é só ato de vontade. Se você não tiver base sólida na economia, você não vai ter condições de alcançar seus objetivos na área social.

- A dependência externa é outra das heranças malditas dos dois mandatos FHC?
Parente - Nós enfrentamos dez crises externas e recebemos nesses oito anos US$ 150 bilhões de investimentos estrangeiros. Achar que este país vai crescer sem contar com poupança externa é restringir nossa capacidade de gerar emprego e renda. Não há como abrir mão disso.

Folha - Se tudo foi assim tão bom quanto o sr. diz, porque os candidatos de oposição estão tão bem e o candidato do governo parece empacado nas pesquisas?
Parente - O que posso dizer, e disse inclusive na minha visita a Washington, é que o país melhorou muito em todas as áreas nesses oito anos, na indústria, na agricultura, na tecnologia, na saúde, na educação.

Folha - E a miséria e a violência?
Parente - Houve uma redução importante de miseráveis e pobres com o Plano Real, depois a velocidade de redução caiu bastante, mas não houve uma volta aos patamares anteriores. E o aumento de renda por programas de transferência direta, como Bolsa-Escola, não são computados como aumento de renda. Quanto à violência, é um problema de fato. A gente só tem a lamentar.

Folha - Um dos motivos não é justamente a economia, o desemprego?
Parente - Se você olhar em volta, nos países vizinhos, por exemplo, o quadro de desemprego não é tão grave assim. Não é bom, mas não explica o problema da violência.

Folha - O sr. aconselharia o futuro presidente a manter o instituto da reeleição?
Parente - Pessoalmente, eu prefiro um mandato mais longo, sem reeleição. Mas isso é opinião pessoal.

Folha - O sr. diz isso porque o FHC seria candidato a um terceiro mandato depois do futuro governo?
Parente - Ele nunca me disse isso, mas...

Folha - Mas...
Parente - Mas o futuro a Deus pertence.


Serra sofre mais ataques que Lula no último debate na TV
Tucano é alvo dos candidatos de oposição e usa administração de Marta Suplicy para criticar petista

O candidato do PSDB, José Serra, e o governo federal foram os alvos preferenciais de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB), no debate realizado ontem à noite pela Rede Globo.

A concentração do fogo sobre Serra é explicável: é o único candidato do governo contra três de oposição e está em segundo lugar em todas as pesquisas, com chances, portanto, de ir ao segundo turno contra Lula, que, conforme as pesquisas, está próximo de vencer no primeiro turno.

A acusação mais delicada foi feita por Garotinho, ao dizer que a proposta de emenda constitucional 175, assinada por José Serra como ministro do Planejamento, prevê empréstimos compulsórios, o que "significa confisco".

Serra pediu direito de resposta, para dizer que a proposta "não tem nada a ver com confisco de nada". Lula, sempre mais sutil, na linha "Lulinha paz e amor", não deixou, no entanto, de citar, de passagem, em uma pergunta que Serra, como deputado constituinte, obtivera nota de apenas 3,5 por ter "lutado contra os trabalhadores". Serra negou de novo, alegando que a nota se devia à outras votações, não as relativas aos direitos dos trabalhadores. O tucano obteve na verdade nota 3,75.

O candidato do PSDB também buscou o ataque, obviamente contra Lula, mas, como o petista não tem experiência administrativa anterior para ser questionada, teve que recorrer a exemplos da Prefeitura de São Paulo, comandada pela petista Marta Suplicy.

Primeiro, criticou a tarifa de ônibus que seria a mais alta entre todas as capitais do país.
Depois, lamentou que o programa habitacional de Lula não esteja sendo aplicado em São Paulo.
Lula devolveu com uma ironia: "Se fosse uma disputa para prefeito, ficaria mais fácil. Se você me perguntar quanto custa em São Paulo eu não sei, porque eu moro em São Bernardo." Serra conhecia o preço da passagem: R$ 1,40.

Mas as críticas mais pesadas de todos os candidatos oposicionistas ficaram reservadas para o governo FHC. Lula disse que o legado de FHC deixou "o Brasil numa situação quase que de concordata". Ciro qualificou de "irresponsável e criminoso" o que chamou de "galope da dívida interna".

Garotinho, entre muitos outros pontos, atacou "a total omissão do governo federal" na questão da segurança pública.


Contra todos, Garotinho dilui duelo Serra-Lula Candidato do PSB arma "pegadinha" e recebe resposta errada de petista; tucano o acusa de estar no "Casseta & Planeta"

Anthony Garotinho (PSB) intrometeu-se com vigor e muita soltura em um debate (o da Rede Globo) que, supostamente, marcaria a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB), um empenhado em ganhar já no primeiro turno, e, o outro, em evitar essa hipótese para poder enfrentar o candidato petista no turno final.

Garotinho foi uma metralhadora giratória com disparos principalmente contra Serra e contra o governo federal, mas não deixou de alvejar também Lula.

Bateu primeiro no estilo "Lulinha paz e amor", ao reclamar que o petista não respondia pergunta alguma, usando como gancho o fato de Lula ter-se negado a dar uma resposta direta sobre ser ou não a favor da transposição das águas do rio São Francisco.

Foi o único momento em que Lula mostrou-se mais arrogante: lembrou o seu primeiro lugar para afirmar que, por isso, p recisava ser "mais responsável" nas respostas do que "certos candidatos".

Pegada
Depois, Garotinho armou uma "pegadinha" (na definição de Ciro Gomes) para o líder nas pesquisas: perguntou se Lula manteria a CIDE (Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico).

Lula caiu na pegada. Respondeu como se CIDE fosse um órgão público, quando, conforme Garotinho explicou depois, é uma contribuição introduzida pelo governo federal em janeiro e que cobra R$ 0,28 sobre cada litro de gasolina e R$ 0,07 no diesel.

Lula não passou recibo sobre seu equívoco, preferindo dizer, na réplica, que não é com um pequeno imposto sobre a gasolina que se vai resolver o problema das estradas.

Mas Garotinho não perdoou, na tréplica. Disse que muita gente não sabe que a contribuição está sendo cobrada. "Nem o Lula sabia", ironizou.

O candidato do PT voltou a tentar desempenhar um papel olímpico, alheio às provocações dos adversários e empenhado em citar uma penca de números para mostrar preparo para governar uma resposta indireta às freqüentes críticas sobre sua qualificação para presidir o país.

Exemplo: na pergunta a Serra sobre a crise energética, o candidato do PT lembrou que o investimento em energia, em 92/93, fora de entre R$ 12 bilhões e R$ 13 bilhões, ao passo que, em 1994, quando FHC já assumira o Ministério da Fazenda, caíra para R$ 4,7 bilhões.

Números assim, com uma ou duas casas depois da vírgula, surgiram em vários momentos das respostas ou perguntas de Lula.

O esforço de tentar colocar-se acima dos demais levou o petista até a elogiar o programa de combate à Aids que é a principal bandeira de seu adversário José Serra como ministro da Saúde.

Serra, por sua vez, sem possibilidades de intervir a todo momento para defender o governo, preferiu refugiar-se na demonstração de certeza de que estará no segundo turno com Lula.

Chegou a brincar com o petista, ao lamentar que Lula não lhe fizesse perguntas sobre saúde, dizendo de sua esperança de que, no debate do segundo turno, o tema lhe fosse apresentado por Lula. Depois, no debate com Lula sobre a crise energética, avançou: "É provável que nós dois vamos para o segundo turno".

Como o candidato do PT não exerceu jamais um cargo público executivo, Serra não podia questionar atos de Lula. Usou, então, a Prefeitura de São Paulo, em tese a grande vitrine (ou vidraça) do PT para críticas sobre a tarifa de ônibus.

A idéia do tucano era demonstrar que uma coisa é o que se diz nos programas eleitorais pela TV e, outra, a que se faz quando se assume o governo tema que já havia freqüentado o horário eleitoral de Serra.
Já Ciro Gomes buscou, uma vez mais, desmontar a imagem de truculento e irascível, que ele atribui ao que chamou de "difamação" promovida pela campanha de José Serra.

Elogio
O candidato da Frente Trabalhista fez questão de, em dois momentos, elogiar Serra. Primeiro, também pela campanha contra a Aids e, depois, por ter comparecido à cerimônia nas Nações Unidas em que Ciro, em nome do governo do Ceará, recebeu prêmio internacional pela redução da mortalidade infantil no Estado que então governava.

Como é óbvio, tanto Ciro como Garotinho usaram o bloco final para tentar desmentir que a eleição já esteja resolvida, limitando-se a dúvida a se haverá ou não segundo turno entre Lula e Serra.

Nesse momento, voltou a alfinetar Serra, criticando o fato de o tucano antecipar o resultado "antes mesmo que o povo vote".

Garotinho, de seu lado, repetiu a sua queixa freqüente de que faz uma campanha pobre, motivo pelo qual o crescimento de sua candidatura estaria sendo lento.

O debate foi dividido em quatro bloco, mais as considerações finais.

Em dois deles, os temas das perguntas que os candidatos faziam uns aos outros eram sorteados pelo moderador William Bonner. Nos dois restantes, os temas eram livres.

O formato fez com que, na maior parte do tempo, o debate se transformasse em uma espécie de horário eleitoral gratuito bis. Toda pergunta era aproveitada para que cada candidato expusesse pontos de seu programa de governo, repetindo tudo o que disseram ao longo da programação gratuita.

Mesmo as perguntas que Bonner fazia ao final de cada série de debates entre candidatos foram apenas alavancas para que os presidenciáveis falassem das propostas de governo já apresentadas.

O formato também foi desfavorável para Serra, pelo fato de estar cercado de candidatos de oposição. Quando Ciro, por exemplo, perguntava a Garotinho, os dois falavam seguidamente por bom tempo, em geral criticando o governo do qual Serra é candidato, sem que o tucano pudesse interferir.

Teria até direito de resposta se fosse ofendido, mas as críticas foram sempre factuais, fechando as portas para uma intervenção de Serra.


Por telefone, Lula tem 43% contra 48% dos adversários
Pesquisa mede a opinião de quem possui telefone; Serra tem 23%, e Garotinho, 13%

O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, oscilou um ponto para cima após pesquisa concluída anteontem- e atingiu 43% das intenções de voto para presidente no rastreamento eleitoral do Datafolha, contra 48% da soma de seus adversários.

Ou seja, se a votação fosse apenas com eleitores que têm telefone fixo em casa -ão cerca de 54% do eleitorado-, provavelmente haveria segundo turno.

De acordo Datafolha, de uma rodada para outra do rastreamento, José Serra (PSDB) também oscilou um ponto para cima. Está agora com 22% das intenções de voto.

Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) oscilaram um ponto para baixo cada um e ficaram com 13% e 12%, respectivamente. José Maria de Almeida (PSTU) manteve-se com 1%.

No rastreamento, cada rodada é uma "média móvel" (veja no quadro ao lado como isso é calculado) das últimas duas pesquisas e tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.
A taxa de 43% de Lula é, portanto, a "média móvel" de uma pesquisa feita no domingo e outra anteontem as pesquisas são feitas três vezes por semana, nos dias seguintes às exibições de horário eleitoral gratuito de presidenciáveis.

Segundo com o Datafolha, uma das utilidades do rastreamento é medir as tendências dos "com-telefone".
Nesse segmento do eleitorado, Garotinho estava com tendência de alta e agora não está mais.
Serra freou uma tendência de queda, e Lula mostra tendência de alta.


Sul pode definir realização de 2º turno
Em menos de uma semana, Lula (PT) caiu 4 pontos na Região, e Serra (PSDB) ganhou 4; petista compensou perda em MG

O Sul do país pode definir a realização ou não de segundo turno na eleição presidencial. Foi a região em que os principais candidatos registraram a maior movimentação entre a pesquisa feita dos dias 26 e 27 de setembro e a realizada em 2 de outubro.

O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, lidera no Sul com 49% dos votos válidos, mas perdeu quatro pontos percentuais na região. O tucano José Serra tem 28% dos válidos, crescimento de quatro pontos percentuais.

Para chegar aos votos válidos, o Datafolha exclui do cálculo os entrevistados que pretendem votar em branco ou nulo. Um candidato vence a eleição em primeiro turno se obtém ao menos metade mais um dos votos válidos.

Anthony Garotinho (PSB) oscilou dois pontos positivamente e está com 14% no Sul, e Ciro Gomes (PPS) oscilou negativamente um ponto e aparece com 8%.

Serra pode estar sendo beneficiado pelo crescimento do candidato Germano Rigotto (PMDB) na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul.

O peemedebista, aliado do tucano, disputa com Antonio Britto (PPS), em linha descendente segundo pesquisas locais, a segunda vaga na disputa contra o petista Tarso Genro no segundo turno estadual.
No Sudeste, Lula oscilou positivamente um ponto e atingiu 49% dos válidos. Serre repetiu os mesmos 21%. Garotinho oscilou um ponto para cima e está com 19%.

Nos três principais colégios eleitorais do país, Lula venceria já no primeiro turno em Minas Gerais, onde cresceu quatro pontos percentuais em cinco dias e está com 56% dos votos válidos.

Serra, que concentrou sua campanha no Estado na última semana, parece não se beneficiar da provável vitória já no primeiro turno do tucano Aécio Neves para governador e continua com 22%. Garotinho perdeu três pontos e tem 13%.

No Estado de São Paulo, o petista oscilou dois pontos para cima e chegou a 49% dos válidos. Serra oscilou um ponto para baixo e tem 25%. Garotinho aparece com 14%, (oscilação negativa de um ponto).

No Estado do Rio, Lula oscilou um ponto para baixo, está com 41% dos válidos e empata tecnicamente com Garotinho, ex-governador do Estado e cuja mulher, Rosinha (PSB), lidera com folga a disputa estadual. Garotinho tem 39% dos válidos, e Serra, 10%.

Nos votos válidos, a pesquisa do Datafolha, realizada anteontem em 388 municípios, mostra Lula com 49%, Serra com 22%, Garotinho com 17% e Ciro com 11%. No total de votos, o petista tem 45%; o tucano, 21%; Garotinho, 15%; e Ciro, 10%.


TSE autoriza uso de tropas federais no Rio
Tribunal atende a pedido da governadora Benedita da Silva, que temia interferência do tráfico de drogas na votação

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) autorizou ontem o envio de tropas federais para o Rio de Janeiro, pedido pela governadora Benedita da Silva (PT) com o objetivo de assegurar a tranqüilidade das eleições em razão do receio de interferência do crime organizado e do narcotráfico.

Ainda ontem o Ministério da Defesa seria informado oficialmente da decisão, segundo o TSE. A governadora e o Tribunal Regional Eleitoral do Rio também deveriam ser imediatamente avisados da deliberação. O pedido tramitou em tempo recorde, cerca de duas horas e meia, e foi aprovado em rápida sessão em que os ministros permaneceram em pé, no gabinete do presidente do TSE, Nelson Jobim.

O protocolo do TSE registrou o recebimento do comunicado enviado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio às 16h33. A autorização foi dada por volta das 19h, em encontro realizado a portas fechadas, antes do início da sessão plenária. Normalmente, esse tipo de decisão é tomada de madrugada, depois do final da sessão plenária, que é pública. Em razão da urgência, Jobim decidiu submetê-lo aos colegas no início da noite.
A decisão foi tão rápida que Jobim não chegou a apresentar aos colegas um despacho, com o teor formal da deliberação e ficou de prepará-lo em seguida, durante a sessão plenária, em que seriam analisados outros processos.

Os outros Estados que terão a presença de tropas federais são: Acre, Amazonas, Bahia, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima e Tocantins. Os motivos mais freqüentes são riscos de tumultos em aldeias indígenas e conflitos entre trabalhadores rurais e proprietários de terras.

O único pedido negado foi da Paraíba. O TRE afirmou que havia essa necessidade, mas o governo dispensou a proteção.

Defesa
À tarde, o ministro Geraldo Quintão (Defesa) havia dito que as Forças Armadas estavam à disposição da Justiça Eleitoral para garantir a proteção das eleições no Rio. A Defesa só atuaria após a decisão do TSE. Segundo o ministro, serão empregados o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Ainda não há número de soldados ou veículos envolvidos porque isso depende da dimensão solicitada pela governadora, como o número de zonas eleitorais críticas.

A coordenação ficará sob a responsabilidade do Comando Regional do Leste, no Rio. Caso haja necessidade de tropas de outros Estados, a Defesa organizará. A Folha apurou que o comando do Rio já começou a organizar a ação com base em dados do TRE.

A Polícia Federal também atuará em conjunto com o Exército, com intercâmbio de informações. A PF utilizará 300 homens, em patrulhamento ostensivo e à paisana, e 150 policiais de prontidão para eventuais emergências.

O porta-voz do Planalto, Alexandre Parola, disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso conversou com a governadora Benedita da Silva e com o presidente do TSE e que o problema da segurança pública durante a eleição no Rio já estava equacionado. Segundo o porta-voz, foram dadas todas as condições para assegurar a tranqüilidade das eleições.


Garotinho invoca Deus para ir ao 2º turno
Recebido com gritos de "aleluia", candidato volta a pedir voto útil de simpatizantes de Ciro e apela à "oposição autêntica"

Em último apelo aos principais e fiéis impulsionadores de sua candidatura os evangélicos-, o candidato à Presidência Anthony Garotinho (PSB) encerrou comício gritando, rouco, para cerca de 300 pessoas em Divinópolis, oeste de Minas Gerais, no final da noite de quarta-feira.

"Multipliquem o seu voto, espalhem entre seus amigos e parentes indecisos o 40 [número do PSB]. Vamos mostrar à mídia, aos descrentes, a essas campanhas milionárias, a esses institutos de pesquisa que Deus é mais forte do que todos eles", afirmou.

A fala de Garotinho durou 30 minutos e era insistentemente respondida pela platéia com ecos de "amém" e "aleluia".

O comício ocorreu no aeroporto, por conta do atraso na chegada em todas as cinco cidades do roteiro: Belo Horizonte, Ipatinga, Governador Valadares, Pouso Alegre e Divinópolis.

O presidenciável chegou em Divinópolis com duas horas de atraso. No jatinho, foi acompanhado de pastores de várias igrejas evangélicas mineiras, que traziam algumas pilhas de panfletos e adesivos com o número 40.
Poucas pessoas que o esperavam no aeroporto desistiram e foram embora. A animação era orquestrada por senhoras evangélicas, como Ivanise Souza, 45, que distribuía "praguinhas" com o número 40, cópias da letra do jingle de Garotinho e do salmo 40. "Esse salmo é lindo, leia. Coincidência ser o número do partido dele. E esse é o jingle mais bonito de todos, você não acha?", questionava Ivanise.

O salmo, que começa com a frase "Feliz o que cuida do desvalido e do pobre", tem trechos como: "Amaldiçoam-me os inimigos: "Quando há de extinguir-se o seu nome?" Vós, porém, Senhor, apiedai-vos de mim, levantai-me e lhes dai o que merecem".

No comício, Garotinho reafirmou sua promessa de campanha mais popular-R$ 280 de salário mínimo em maio do ano que vem, além das promessas de casas populares a prestações de R$ 1. E, como estava em Minas, repetiu as críticas que têm feito ao governo Fernando Henrique Cardoso em relação ao Estado. "Ele não deu nada a Minas por causa da briga de comadres com o governador [Itamar Franco, sem partido"".
Garotinho ficou rodeado por crianças no aeroporto durante o comício. Abraçavam o candidato, chamando-o de "molequinho", "menininho" ou "little boy", disputando bonés da campanha.

O socialista pediu votos úteis de ex-ciristas. Também fez apelo à "oposição autêntica", como chamou os descontentes do PT com a aliança com o PL, com o apoio do senador José Sarney (PMDB-AP) e de banqueiros.

O presidenciável acabou o dia com o saldo de três comícios e a voz rouca -sob a crítica de assessores, que preferiam que o candidato tivesse permanecido no Rio, estudando para o debate de ontem da TV Globo. "Tenho de buscar votos no gogó, tive tão pouco tempo de TV. E esse corpo-a-corpo dos últimos dias é essencial", disse o candidato, que pretende fazer caminhadas em São Paulo, Rio, e Minas hoje e amanhã.


Serra diz que país precisa do 2º turno em comício em Campinas
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, fez seu último comício de campanha anteontem à noite dizendo-se convencido de que vai disputar o segundo turno da eleição presidencial. "O Brasil precisa do segundo turno", dis se Serra, após discursar para uma platéia estimada em cerca de 20 mil pessoas (segundo a Polícia Militar), que compareceram ao showmício animado pelo cantor de música romântica Daniel.
Gripado, o tucano estava rouco: "O segundo turno é importante para o Brasil. É a oportunidade para analisar e aprofundar a discussão dos problemas", disse o candidato do PSDB.

Serra interpretou a subida de dois pontos percentuais na pesquisa Datafolha, uma variação dentro da margem de erro, como uma garantia de que passará para a próxima etapa da disputa presidencial. Segundo o tucano, outras pesquisas indicariam a mesma tendência. "O Brasil precisa do segundo turno para um debate político e com respeito", disse.

A campanha de Serra terminou como começou: incerta. Até o início da noite de anteontem ele ainda não havia decidido se iria ou não ao showmício de Campinas, embora o evento estivesse previsto em sua agenda há vários dias.

Atrasos, cancelamentos de última hora foram uma rotina na campanha tucana. No primeiro "supersábado" programado, ele deixou de visitar três cidades. Ele marcou um grande comício em Palmas (TO), mas cancelou porque teve de ficar em São Paulo gravando para o horário eleitoral.

Para evitar os atrasos, Serra passou a viajar na madrugada para as cidades nas quais tinha compromisso: chegava quase amanhecendo, dormia um pouco e então seguia para os eventos.

Anteontem, Serra condicionou sua ida a Campinas para o encerramento da campanha à gravação do programa de TV. Mas ao deixar a cidade, voltou para São Paulo e se trancou no estúdio para concluir os programas que foram exibidos ontem.

No curto discurso que fez em Campinas, Serra reafirmou seus compromissos com o emprego, linha-mestra da campanha do tucano, e com a segurança pública. Um discurso frio. Mas ele arrancou aplausos ao dizer: "Fui encarregado de dar uma notícia: Daniel não está chegando, ele já chegou". Mais tarde, comentou, satisfeito com o próprio desempenho: "Foi boa essa, não foi? Aprendi com o Aécio [Aécio Neves, presidente da Câmara e candidato do PSDB ao governo de Minas Gerais]".

Serra voltou mais tarde ao palco, chamado por Daniel, e atirou flores brancas para a platéia. Disse que tinha dois pedidos a fazer. O primeiro era dar um beijo em uma menina que estava na fileira da frente da platéia.
Içada ao palco, a menina, uma préadolescente, correu para abraçar e beijar o cantor Daniel.

O segundo pedido foi óbvio: "Domingo, dia 6, é dia de decisão pra gente ir para o segundo turno e o Brasil eleger o seu presidente no segundo turno". Antes de deixar o palco, pediu para Daniel cantar a música "Vida minha", mas foi embora sem saber se fora ou não atendido - não foi. A música não constava do playback.


Deputados cancelam sessões na Assembléia para fazer campanha
Casa diz que medida não prejudica produtividade

A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo suspendeu a realização de três sessões legislativas, em virtude da proximidade das eleições gerais -nas quais os deputados estaduais, em sua maioria, disputam cargos.

Na última terça-feira, os deputados Walter Feldman (PSDB), Hamilton Pereira (PT) e Dorival Braga (PTB), que compõem a Mesa da Casa, aprovaram o requerimento nº 2.359, que determinou a suspensão das sessões nos dias 2, 3 e 7 de outubro.

De acordo com a justificativa do próprio requerimento, estamos em um "peculiar período da vida política da democracia brasileira, democracia essa que pressupõe a eleição de representantes do povo para o exercício do poder".

A Folha apurou que a medida agradou aos parlamentares que disputam cargos eletivos.

Outro lado
A assessoria de imprensa do deputado Walter Feldman (PSDB), presidente da Assembléia Legislativa, afirmou que a suspensão das sessões no período pré-eleitoral não prejudica a produtividade dos deputados estaduais.

De acordo com a assessoria, a Assembléia aprovou 53 projetos de lei de autoria dos deputados nas últimas duas semanas. Também teriam sido analisadas três propostas de emenda à Constituição do Estado de São Paulo.

A Presidência da Assembléia afirma que a Casa tem maior produtividade do que a Câmara Municipal de São Paulo e do que a Câmara dos Deputados.


Artigos

O mundo não se curva, entende
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Fora do Brasil, o presidente eleito do Brasil já se chama Luiz Inácio Lula da Silva.
É impressionante como a grande mídia européia e (um pouco menos) a norte-americana trabalham com a certeza de que o candidato do PT será eleito e já no primeiro turno.

Até a revista britânica "The Economist", que costumava ser mais cautelosa, tasca uma foto de Lula na capa do número que começou a circular na noite de quinta-feira com o título "O significado de Lula" (no geral, não é bom, acha a revista, como era previsível).

Também como se poderia prever, a mídia francesa foi aos comícios de Lula em cidades operárias (Guarulhos, Osasco) para resgatar um certo ar de romantismo na vitória do "operário transformado em presidente" (pelo menos no jornalismo europeu).

Ao contrário de "The Economist", preocupada com o PT populista e gastador, os franceses vêem em Lula "um esquerdista arrependido" ("Le Point") ou alguém que se aproximou do "social-liberalismo" de Tony Blair e de Lionel Jospin.

Fazia muitíssimos anos que não via tal movimentação da mídia internacional em relação ao Brasil. Creio que nem mesmo quando o real derreteu, no início de 1999, houve tanta exposição do país.

É claro que, em grande parte, a atração é pelo lado exótico: não é todo dia que um operário vira presidente da República (se é que vai virar) em qualquer lugar do mundo.

E, nos muitos anos recentes, também não é todo dia que a esquerda tem algo a festejar.

Inusitados à parte, é forçoso reconhecer que o Brasil tornou-se algo menos esotérico para o mundo desenvolvido depois de ter dominado a superinflação.

Um candidato com o perfil de Lula continuaria a ser uma atração, mas, agora, a agenda do país é menos incompreensível.


Colunistas

PAINEL

Telefone vermelho
Os cerimoniais de quinze chefes de Estado e de governo pediram ao PT um telefone de contato para felicitar Lula ainda na noite do próximo domingo, caso ele vença as eleições no primeiro turno. Entre os interessados está Eduardo Duhalde, presidente da Argentina.

Diálogos
Nos últimos 15 dias, FHC e José Dirceu (PT) já se encontraram duas vezes sigilosamente no Palácio da Alvorada.

Salada de campanha
Na reta final da eleição, surgiu no Ceará o movimento "Lu-Lu": Lula presidente e Lúcio Alcântara (PSDB) governador. O senador tucano é o candidato de Tasso Jereissati, aliado de Ciro.

Mãos dadas
Candidato de Ciro ao governo de SP, Antônio Cabrera vai dizer a José Genoino hoje que, caso não passe para o segundo turno, torcerá pelo petista e que ele pode contar com seu apoio. Os dois programaram caminhadas "silenciosas" em Rio Preto (SP).

Saudades de Mangabeira
O programa eleitoral de Ciro exibiu um mapa com a palavra Brasil escrita com "z".

Chapa rachada
Ciro reagiu com um palavrão quando um cacique da Frente Trabalhista sugeriu a ele que renunciasse em favor de Lula.

Risco Brasil
A Polícia Federal reforçará sua equipe no Rio de Janeiro no final de semana. Há o temor de que traficantes tentem impedir a abertura de escolas onde funcionarão seções eleitorais.

Oposição carioca
De Cesar Maia (PFL), sobre o governo do Rio ter sido informado previamente de que presos planejavam fechar o comércio: "Se a Benedita (PT) não sabia de nada, deveria ter demitido o secretário da Segurança. Se sabia e não fez nada, é responsável por omissão dolosa".

Conta tucana
Antônio Lavareda, responsável pela análise das pesquisas da campanha de Serra, deu "certeza" ontem à cúpula do PSDB de que haverá segundo turno e que o tucano estará na disputa.

Até mais
Serra decidiu que, caso chegue ao segundo turno, substituirá Pimenta da Veiga da coordenação-geral de sua campanha. José Aníbal assumiria a função.

Enquanto isso
Balanço no TSE: de 24 de setembro até ontem, José Serra (PSDB) obteve 15 vitórias no tribunal, contra oito de todos os outros candidatos juntos.

Reza e santinho
Dirigentes de igrejas evangélicas estão convocando fiéis para o esquema de boca-de-urna de Garotinho. Somente em Brasília, há 600 pastores e bispos empenhados na reta final da campanha do candidato do PSB.

Ato falho
No bastidor do debate de anteontem, na TV Globo, Aloizio Mercadante disse que será eleito com Quércia (PMDB) ou Tuma (PFL). Mas Suplicy (PT) interveio: "Tem o Wagner Gomes [PC do B], Mercadante". E o candidato: "Ah, sim, claro, o Wagner. É com ele que eu vou".

Em defesa
De Tilden Santiago (PT), sobre o marqueteiro Chico Santa Rita ter dito que artistas, como Chico Buarque, não garantem votos em eleições: "Mais do que votos, Chico Buarque significa coerência, ética e credibilidade, coisas que faltam a muitos marqueteiros e artistas de aluguel".

Democracia carlista
Dias atrás, Lídice da Mata (PSB), candidata a deputada estadual na BA, viu um carro da Prefeitura de Salvador recolhendo material da campanha nas ruas da cidade. Detalhe: no veículo não havia uma única propaganda da coligação de ACM.

TIROTEIO

Do empresário Lawrence Pih (Moinho Pacífico), comentando a estimativa de que os bancos lucraram R$ 1,4 bi com o vencimento de parcelas da dívida do governo, graças à alta do dólar:
- Isso é o que eu chamo de distribuição de renda às avessas. A pergunta que eu faço é por que o Banco Central demorou tanto para agir?

CONTRAPONTO

Autoridade moral
Candidato à reeleição, o deputado federal Emerson Kapaz (PPS) circulava de madrugada de carro em SP, há duas semanas, quando viu dois homens arrancando de um poste uma faixa da sua campanha, com seu nome e fotografia. Abaixou o vidro do carro e gritou:
- Ei, por que vocês estão fazendo isso?
- Você não tem nada a ver com isso! - disse um deles.
O deputado retrucou:
- Tenho, sim. Eu sou esse candidato aí!
Os dois olharam para o motorista, para a faixa, novamente para o deputado e concluíram:
- É, pode ser. Mas nós vamos tirar para pôr outra no lugar. Do candidato Turco Lôco.
No outro dia, Kapaz telefonou para o deputado estadual Lôco (PSDB), que negou ter dado a ordem, e para um assessor:
- Tira todas as faixas do Turco Lôco e coloque as minhas...


Editorial

EPIDEMIA DE VIOLÊNCIA

O dado contraria o senso comum, mas leva a chancela da Organização Mundial de Saúde (OMS): o suicídio é a causa de morte violenta que mais mata no mundo, superando os óbitos provocados por homicídios e por guerras. Segundo a organização, do 1,6 milhão de mortes violentas registrado em 2000, o suicídio foi a causa de 815 mil, contra 520 mil homicídios e 310 mil em consequência de conflitos. Esse é um dos achados contidos no primeiro relatório sobre mortes violentas da OMS, um calhamaço de 346 páginas que foi divulgado ontem.

As maiores taxas de suicídio foram verificadas em países do Báltico, como Lituânia e Letônia. Já os maiores índices de homicídio estão em países subdesenvolvidos da África e das Américas. No Brasil, os homicídios superam largamente os suicídios. O total de assassinatos é seis vezes maior que o de pessoas que tiram a própria vida. Na Europa, na Austrália e no leste da Ásia, a taxa de suicídios é o dobro da de homicídios.
A distribuição da violência não é uniforme geográfica, econômica ou socialmente. Do total de óbitos violentos, apenas 10% se deram em países desenvolvidos. Dos homicídios, as vítimas preferenciais (mais de 75%) são homens, a maioria deles entre 15 e 29 anos.

A premissa do trabalho é a de que a violência é um problema que pode ser prevenido. Esse tipo de abordagem não é novo. Surgiu em 1983, quando os CDCs, o serviço de vigilância epidemiológica dos EUA, inauguraram um departamento de epidemiologia da violência, visando a estabelecer os padrões de ocorrência desse fenômeno.

Se os resultados estatísticos da OMS contrariam o senso comum, o mesmo não se pode dizer de suas conclusões. A organização mostra que a violência declina quando o nível educacional e a renda da população aumentam. A mensagem geral é a de que a violência não é inteiramente inevitável. Como outros males, ela pode e deve ser combatida.


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10/04/2002


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