Rigotto cai e Tarso cresce








Rigotto cai e Tarso cresce
PORTO ALEGRE - A diferença entre os candidatos do PMDB, Germano Rigotto, e do PT, Tarso Genro, na eleição para o governo gaúcho, caiu 8,2 pontos percentuais, segundo a pesquisa Cepa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A pesquisa foi divulgada ontem pelo jornal Zero Hora e mostra Rigotto com 54,5%, 14,8 pontos percentuais à frente de Tarso, que tem 39,7%.

O Cepa ouviu 1.763 eleitores em 49 municípios gaúchos na última terça-feira. A margem de erro é de 2,4 pontos percentuais para mais ou menos. Em relação à pesquisa do Cepa divulgada no Zero Hora uma semana antes, Rigotto perdeu 4,3 pontos percentuais. Tarso subiu 3,9 pontos. Na consulta da semana passada, Rigotto tinha 58,8% contra 35,8% de Tarso, com 1,4% de brancos/nulos e 4% de indecisos. Eram 23 pontos a mais.


Programa de TV sobe de tom
Propaganda de Serra compara Lula a um sabão escorregadio

BRASÍLIA - A propaganda eleitoral gratuita no segundo turno começou a esquentar. No rádio, o candidato tucano José Serra gerou suspense ao convocar o eleitorado para assistir na noite de domingo a um importante pronunciamento - sem dizer do que se trata. Na TV, o candidato do PSDB acusou administrações petistas, principalmente as do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, de serem responsáveis pelo aumento da violência por falta de competência. Citou a cidade de Porto Alegre como a recordista em roubos e latrocínios.

- São questões como essa que precisam ser debatidas e comparadas. Segurança pública e o desemprego são importantes demais para ficarem restritas aos programas eleitorais - diz Serra.

Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, foi comparado a um sabonete escorregadio. Uma enorme pia branca com mãos tentando agarrar o sabonete, que escapulia, foi exibida para caracterizar Lula fugindo dos debates.
- Lula só aceita um único debate na TV Globo porque lá as regras determinam que ele não pode fazer perguntas a Serra - disse o locutor.

O polêmico depoimento da atriz Regina Duarte, onde ela afirma ter medo de uma vitória do candidato do PT, não foi repetido no programa do PSDB ontem. Em substituição, foi veiculada uma fala da candidata a vice de Serra, a deputada Rita Camata (PMDB-ES), criticando o ''patrulhamento'' do PT.

- Isso é que assusta. A gente não pode falar o que pensa - protestou Rita.

Nos programas do PT no rádio e na TV as críticas foram ignoradas. Lula disse que não entrará em ''picuinhas'' contra Serra. Cenas mostraram filas de desempregados. Lula prometeu que, caso seja eleito, não deixará que a Petrobras encomende plataformas de petróleo no exterior, deixando assim de criar empregos no Brasil.


Lula colhe votos de evangélicos
Candidato do PT reage às declarações da atriz Regina Duarte e critica ''a teoria do medo''

Candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, ontem à tarde no Rio, o apoio de evangélicos de todo o país. De pé sobre a cadeira de uma churrascaria na Zona Norte da cidade, Lula indiretamente criticou o adversário José Serra, que tem buscado o voto dos religiosos.

- Eu sou um homem que crê em Deus, que durante muito tempo, quando perguntado em debates na televisão, em outras campanhas, era uma coisa sobre a qual eu evitava falar, porque sempre dizia: 'A minha fé eu Deus é uma coisa minha com Deus'. Eu não preciso ficar provando a minha fé em Deus para adversário político ou na televisão. Não sou um político de duas caras, que diz uma coisa antes e outra depois - disse o candidato.

Lula também criticou o depoimento da atriz Regina Duarte na propaganda eleitoral gratuita do PSDB, no qual ela diz que tem medo de uma possível vitória do candidato petista. Aos evangélicos, Lula lembrou que a ''teoria do medo faz lembrar Herodes, que quis matar as crianças com medo de Jesus Cristo''. Segundo o petista, ''política não se faz com rancor, com ódio''.

- Política se faz dialogando, conversando, conhecendo o território e o chão que o povo pisa. A política do medo fez esse país, em 1989, preterir o Leonel Brizola, o Mário Covas, o Lula e outras pessoas de bem - afirmou, referindo-se à disputa presidencial que perdeu para Fernando Collor.

O candidato do PT teve seu discurso interrompido por palmas no momento em que citou ''a desagregação da família brasileira''.

- A perversidade está entranhada em função da miséria, da desestruturação da família brasileira, até da própria religiosidade, que muitas vezes não é colocada em prática em muitos lugares do Brasil. A gente vê violência a cada dia, desespero e, quanto mais pobre o local, mais violência, mais desespero, exatamente porque não existe, da parte do Estado, nenhuma iniciativa de ter políticas públicas capazes de despertar na cabeça das pessoas a certeza, ou pelo menos a esperança, de construir um mundo muito melhor - disse.

No encontro com os evangélicos estavam presentes diversos pastores da Assembléia de Deus que não seguiram a decisão das duas principais convenções da igreja, a Convenção Nacional e a Convenção Geral, de apoiar o candidato José Serra. Representante do segmento que não se aliou ao candidato do governo, o pastor Silas Malafaya, da Convenção Geral das Assembléias de Deus garantiu que ''ninguém pode falar em nome da nossa Assembléia de Deus. No máximo, falam em seus próprios nomes''.

Em um momento polêmico do evento, o senador do PL Magno Malta, eleito pelo Espírito Santo, referiu-se ao projeto que trata da possibilidade de união civil entre homossexuais, um dos pontos mais delicados da aliança entre os evangélicos e o PT.

- O projeto é da Marta Suplicy, mas o relator do projeto, que também é do PT, é contra. Na realidade, isso não é um problema do presidente da República, é do Congresso. Apresentar este projeto é um direito que assiste à Marta. Mas saibam que a bancada católica do PT também é contra - afirmou Malta.


Segurança no 2º turno
TSE libera tropas federais para nove Estados

BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai determinar que tropas federais voltem a garantir a segurança dos eleitores no segundo turno. Os militares vão atuar nos mesmos Estados para os quais foram requisitados no primeiro turno. Além do Rio de Janeiro, receberão tropas os Estados do Acre, Amazonas, Bahia, Pará, Rio Grande do Norte, Roraima e Tocantins.

A diretora-geral do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, Soraya Motta Faria, enviou ofício ao TSE ratificando a necessidade das tropas federais, apesar de destacar que, no primeiro turno, ''o processo eleitoral neste Estado transcorreu com normalidade''. Não há no ofício nenhuma referência aos problemas de segurança criados no Rio pelo crime organizado.

Também ontem, o ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, solicitou ao presidente Fernando Henrique Cardoso a nomeação de 900 agentes para a Polícia Federal. São policiais já aprovados em concurso público. A primeira turma, composta de 400 agentes, delegados, peritos e escrivães, recebeu curso da Academia Nacional de Polícia. Outros 500 policiais concursados iniciaram um curso de capacitação.

A Polícia Federal tem hoje cerca de 7 mil policiais. Além das novas nomeações de policiais e delegados que passaram no concurso, o governo federal quer contratar 6 mil agentes fardados, de nível médio, que deverão ser contratados somente no próximo governo. No caso apenas da vitória do tucano José Serra, do PSDB, pois o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, é contra a idéia.

Durante solenidade no Ministério da Justiça, o ministro do Planejamento, Guilherme Dias, prometeu liberar, até o fim do ano, R$ 200 milhões para as ações do Plano Nacional de Segurança Pública. Desse total, R$ 70 milhões serão liberados ainda este mês. A liberação do dinheiro, disse o ministro, é possível devido à arrecadação positiva de setembro.


Prefeitos reclamam de descaso
BRASÍLIA - Os prefeitos estão reclamando que os candidatos à presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) só os procuram na hora de pedir votos. De acordo com o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, nenhum dos dois demonstrou, durante a campanha, preocupação com reivindicações municipais.

- Eles não se dignaram a conversar conosco. Isso é irresponsável, pois as pessoas nascem, vivem e morrem nos municípios - protesta.

Prefeito de Mariano Pimentel (RS) e filiado ao PMDB, Ziulkoski lembra que foi marcado um debate com os presidenciáveis em maio, no Hotel Glória (RJ), mas que as assessorias dos candidatos não responderam aos convites. Neste segundo turno, as coisas mudaram: Serra viajará por cinco Estados nos próximos dias conversando com os prefeitos e Lula tem se portado da mesma maneira.

- O debate tinha que ser agora. Depois de eleito, o novo presidente instala-se no Planalto com seu grupo político e esquece, mais uma vez, dos municípios - afirma.

O prefeito de Piraí (RJ), Luiz Fernando Pezão (PSB), entregou ontem uma lista de reivindicações ao candidato a vice na chapa de Lula, senador José Alencar (PL-MG). Otimista, o prefeito espera que as promessas feitas não sejam esquecidas. Serra também se reuniu com prefeitos no Rio, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

- É verdade que existem interesses eleitorais por parte dos candidatos. Mas no passado, nem perguntavam a nossa opinião - diz Pezão.

O prefeito fluminense acredita ser fundamental uma política séria e um diálogo mais aberto entre a União e os municípios.

- A estrutura atual faz com que as políticas públicas sejam empurradas goela abaixo dos prefeitos - diz.

O prefeito de Primavera do Leste (MT), Érico Piana Pinto Pereira (PTB), é bem mais incisivo. Para ele, há uma falta de consideração dos candidatos com os municípios.

- Eles devem ter sido alertados, porque passaram a se preocupar mais conosco. Resolvendo os problemas, diminuem as pressões sobre os Estados e a União - garante.


Malan e FH reagem a declarações de Lula
Ministro culpa falta de clareza do PT por turbulência

BRASÍLIA - As críticas do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, à política econômica do governo causaram mal-estar no Palácio do Planalto. Durante um ato em São Paulo, Lula havia dito que o país está subordinado à especulação, e que a política econômica do governo é cega por não enxergar que a produção é a única saída. Lula acusou a equipe econômica de ter metido o país numa ''encalacrada''.

Ontem, tanto o presidente Fernando Henrique Cardoso quanto o ministro da Fazenda Pedro Malan reagiram com indignação. Ao Jornal Nacional, Malan disse:
- Estamos atravessando um momento difícil que exige uma postura serena, responsável e de confiança no país. É a postura deste governo. E deve ser a postura daqueles que pretendem governar este país, sem voluntarismos e sem um discurso fácil de ruptura com tudo isso que aí está - disse Malan.

O ministro ainda disse que errou ao acreditar que o discurso da oposição havia mudado.

- Pelo jeito não é o caso, ouvindo as palavras do candidato da oposição quando fala de improviso sobre temas complexos. O discurso da mudança que não consegue explicar com clareza como ela será feita, isto é, para melhor, preservando conquistas já obtidas, não contribui em nada para acalmar expectativas quanto ao que pode vir a acontecer com o país. E esta é sem dúvida é uma das razões da turbulência atual. A referência a meia dúzia de especuladores lembra o insensato plebiscito sobre a dívida externa que tanto dano causou e ainda causa ao país - completou Malan.

Também ontem, o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, falou em nome de Fernando Henrique Cardoso.

- É muito ruim a atitude de colocar sapato alto antes da hora. Sobretudo sobre temas que não tem domínio pleno - disse o porta-voz.

O comentário sobre as críticas de Lula foi uma das raras respostas às declarações dos candidatos de oposição ao governo dadas por Fernando Henrique durante todo o período eleitoral. Desde o início do pleito, o presidente vem tentando estar o mais distante possível de polêmicas.


Vox: Lula tem 60% e Serra, 30%
BRASÍLIA - Pesquisa do instituto Vox Populi divulgada ontem coincide com os resultados de Ibope e Datafolha. O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, aparece com 60% das intenções de voto, contra 30% para Serra. Afirmaram que votariam nulo ou em branco 7% dos entrevistados e 3% disseram estar indecisos. Considerando-se apenas os votos válidos, Lula tem 66% contra 34% de Serra. As entrevistas foram feitas nos dias 14 e 15 deste mês e a margem de erro é de dois pontos.

A nove dias da eleição, entre os tucanos a ordem é manter o discurso de otimismo e, assim, manter a candidatura de Serra de pé. Não é fácil: as pesquisas mostram que Lula venceria hoje com a proporção de dois votos para um. O presidente do PSDB, deputado José Anibal (SP),diz que pesquisas internas mostram queda de Lula e subida de Serra.

- Estamos conseguindo desestabilizar o PT - afirma.

O prefeito de Vitória, Luiz Paulo Velloso Lucas, parece mais realista.

- Se tivéssemos tempo, ganharíamos a eleição. Mas se existir um plano B, por favor me contem - ironiza.
No comitê de Lula, reina o otimismo cauteloso. O secretário de Organização do PT, Silvio Pereira, não esconde que, na sua opinião, Serra não tem mais se recuperar. Acha que o tucano não conseguiu aglutinar forças políticas suficientes para a virada. E diz:
- Ninguém quer o Serra.

O senador eleito Aloizio Mercadante diz que os tucanos ainda deverão apelar para ''táticas desagradáveis'' antes de entregar os pontos. Mas afirma confiar na vitória de Lula.


Vereza dá apoio a Serra
Tal como fez Regina Duarte na propaganda de TV, ator também diz temer um governo Lula

A estratégia do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, de acenar com o medo para tentar evitar a vitória do adversário do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ganhou ontem mais um participante no meio artístico: Carlos Vereza. O ator declarou apoio ao tucano num ato com políticos de PSDB, PMDB, PFL e PPB na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio. O encontro foi interrompido por um protesto de mata-mosquitos demitidos durante a gestão de Serra no Ministério da Saúde e atribuído, pelo tucano, a Lula e ao PT.

Vereza repetiu o teor do depoimento da atriz Regina Duarte, que, no horário eleitoral, disse ter medo de Lula na Presidência.

- Uma parcela significativa da população tem medo, sim. E eu estou com medo. Uma biografia não pode ser reescrita em menos de seis meses. Lula pregava há seis meses contra tudo o que agora defende.

A solenidade, na qual Serra foi agraciado com a Medalha Pedro Ernesto, da Câmara Municipal do Rio, foi interrompida, logo no início, por um grupo de cerca de 10 manifestantes - a maioria dos quais, ex-mata-mosquitos - que levavam cartazes e acusavam Serra pela epidemia de dengue no país. Para se contrapor aos gritos de ''culpado'' dos agentes de endemia, o presidente da Assembléia Legislativa (Alerj), o senador eleito Sérgio Cabral (PMDB), puxou um coro em defesa de Serra.

Um grupo de cabos eleitorais, a maioria do PMDB, expulsou violentamente os mata-mosquitos do recinto. Houve agressões físicas. Um dos manifestantes, Jonas de Souza Alves, 49, disse ter sido agredido e mostrou um ferimento na perna esquerda.

- Fui expulso a pontapés e encurralado no elevado r. Temos direito de nos manifestar.

Depois do tumulto, quase todos os componentes da mesa, incluindo Sérgio Cabral, o presidente regional do PMDB, Moreira Franco, e o presidente nacional do PSDB, José Aníbal, atribuíram o protesto, direta ou indiretamente, ao candidato do PT.

- Conhecemos esses métodos de muitos anos e eles são fascistas. Mas isso teve o mérito de dizer que eles estão de um lado e nós, de outro. No primeiro turno não se viu nada disso. Era só paz, amor - disse Moreira Franco.

Em seu discurso, Serra responsabilizou o PT e Lula. Repetiu a acusação durante a assinatura de um acordo contra a corrupção, firmado com a ONG Transparência Brasil.

- O PT e Lula, em vez de debater, mandaram uma tropa de choque, inclusive com agressões físicas - acusou Serra.

Ao deixar a ABI, o carro do tucano foi cercado pelos manifestantes. Cerca de 60 policiais militares garantiram a saída.


Artigos

Definições complicadas
Newton Rodrigues

A aproximação do pleito ressalta as dificuldades das decisões, menos dos partidos envolvidos, e mais do eleitorado, cujas preferências não obedecem a rigores partidários e a ordens de lideranças. Certas definições às vezes mais confundem que orientam, como se dá no apoio de Delfim, Garotinho e ACM ao candidato petista no segundo turno. Esgarçam-se assim, cada vez mais, as posturas ideológicas, engolidas pelo pragmatismo eleitoral. O objetivo é vencer, seja lá como for. E, como o êxito costuma engolir os pecados e incongruências, ninguém tem mais escrúpulos em executar qualquer manobra que pareça prática. Isso se dá, no momento, mais com Lula do que com Serra - mantém uma maior coerência nos correligionários, mas se estivesse em primeiro lugar nas pesquisas seria o alvo desses novos amigos em busca de fatias de poder. E também cederia a eles.

O fato principal no momento é a atuação do PT que, pelo crescimento revelado no aumento de sua bancada federal para 20%, está recebendo apoios inesperados, como os referidos acima. A aproximação de Lula está vindo de setores e tendências antagônicas e contraditórias, engrossando suas possibilidades, até então quase livres de comprometimentos, mas sem dúvida dificultando a governabilidade, se for mesmo eleito, como tudo indica.

Há, portanto, novas possibilidades de vitória do petista que, se a obtiver, terá alterado o jogo em dados fundamentais. Como costuma acontecer, o avanço de um candidato reduz as resistências no eleitorado e nas cúpulas dirigentes dos diversos partidos, cujo pragmatismo não lhes permite rigidez na ação prática. No quadro atual, o PT considera-se liberto de grandes compromissos ideológicos e, por isso mesmo, habilitado a certos entendimentos antes impensáveis. O fato mais importante no momento talvez seja exatamente o seu novo status político, ainda indefinido. A relutância de Lula em participar de debates na TV pode ser esperta como estratégia, mas revela uma possível fragilidade do candidato. Comícios e passeatas não dão votos, pois quem comparece já é simpatizante. Horário eleitoral e debates, sim. Dão votos, assim como tiram. Pretender que o Brasil vá eleger um candidato que não se sabe bem o que pensa, apoiado por adversários de ontem e de sempre, pode ser um tiro na culatra. O argumento de que FHC no passado não debateu com ele não cola, pois agora o candidato é outro, e se no passado condenou essa atitude, não devia praticá-la agora.

A ação política não é um exercício de futurologia, mas não pode passar ao largo de fatos que alterem os dispositivos das forças em confronto. Está claramente em processo uma série de mudanças cujo alcance ainda é cedo para aferir, mas que não deixam de ser decisivas. Uma dela é o evidente desgaste dos partidos oriundos do período da democratização que seguiu a ditadura militar. Isso inclui até o PT que, se no momento alcança expressiva vitória, daqui a seis meses talvez amargue a terrível decepção dos seus militantes, ao ver que o paraíso não se conquista por vias eleitorais.

Aí reside um perigo. Em outros países (na França e Itália, por exemplo) a transferência dos votos do eleitorado de esquerda desiludido não se tem dado para a centro-esquerda nem para os liberais, mas sim para a direita ou a extrema direita. Pois estas, fugindo do pensamento racional, apelam também para os mesmos ingredientes exacerbados do nacionalismo e da emoção. Como essa tendência existe no Brasil, mas não tem representação partidária definida (está por todos os cantos), é de esperar que nos próximos anos mostre a sua cara e quem sabe venha a ser o fenômeno eleitoral do futuro.Que não será nada bom.


Editorial

PISTAS CLANDESTINAS

Submetido ao sofrimento de assistir às freqüentes exibições deprimentes de espetáculos do crime, com sua galeria asquerosa de canastrões do submundo fazendo pose de artistas, o cidadão brasileiro deve ter lavado a alma. Deve ter aplaudido quando a televisão mostrou como agem os verdadeiros mocinhos que, à bordo de aviões da FAB e vestindo coletes da Polícia Federal, bombardearam e destruíram duas pistas clandestinas usadas pelo tráfico de tóxicos, na serra de Acaraí, em plena floresta amazônica.

Este é um filme que tem o sabor reminiscente dos bons velhos tempos, quando bandido era bandido e herói era herói. E ver o tráfico internacional de tóxico ser atingido, no coração da selva, numa região em que parecia a salvo da longa mão da Justiça, é uma boa história de ação que merece reprise.

As pessoas de bem esperam que o episódio de Acaraí seja apenas o início de uma ofensiva real contra o crime. Que tenha continuidade na floresta e nas áreas urbanas perturbadas por marginais, que fazem de si e da sociedade uma imagem equivocada. Nem o crime tem a força e a organização que julga ter, nem a sociedade é tão desprotegida como teme ser. E o Brasil sai com a moral muito elevada deste episódio, em que assumiu a responsabilidade de combater frontalmente o tráfico de tóxico.


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10/18/2002


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