Távola, em resposta a Sarney: Brasil não aguenta mais as oligarquias
O líder do governo no Senado, Artur da Távola (PSDB-RJ), disse nesta quarta-feira (20) que o país está assistindo ao fim das oligarquias políticas estaduais. A afirmação foi feita em resposta a discurso do senador José Sarney (PMDB-AP), que acusou o governo de estar por trás de uma ação destinada a inviabilizar a candidatura a presidente da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), filha do senador pelo Amapá.
Falando logo após o pronunciamento de Sarney, Artur da Távola leu o título de matéria do jornal O Estado de S. Paulo , do último dia 6, sob o título "Cunhado de Roseana faz acusações à família Sarney". Na matéria, Ricardo Murad fala de um dossiê que preparou "para mostrar que o grupo acumulou fortuna inexplicável". Ele frisou que não pretendia fazer "qualquer comentário ou insinuação" sobre detalhes do dossiê do cunhado de Roseana, mas não podia deixar de registrar que o Brasil está vendo "o fim do ciclo das oligarquias estaduais", entre outras coisas por seus próprios erros.
- Até porque o país já não agüenta mais oligarquias políticas, que se mantiveram nos anos da ditadura conseguindo benefícios ligados a emissoras de rádio e televisão, contatos empresariais que lhes deram uma posição de elite permanentemente e de domínio completo da política em seus estados.
Neste momento, o senador João Alberto Souza (PMDB-MA) pediu aparte, mas Artur da Távola solicitou que ele só se manifestasse no final. João Alberto chegou a afirmar que o líder governista estava fazendo "um discurso de baixarias", e que chamava de oligarquias os grupos estaduais que antes eram aliados. O senador do Maranhão observou que estes grupos são chamados de oligarquias "porque não estão do lado do governo". O presidente do Senado, Ramez Tebet, disse que Artur da Távola falava como líder e, neste caso, não se permitem apartes.
Para o líder do governo, o senador pelo Amapá, não apresentou ao Congresso "provas concretas", mas sim "recortes de jornais" e insinuações contra o presidente Fernando Henrique Cardoso.
- Saiu da montanha um pequeno rato, com acusações soltas, levianas, sem nenhuma prova ou argumento, não há nada concreto como um bolo de dinheiro sobre uma mesa - disse o líder do governo, em referência à quantia encontrada pela Polícia Federal na empresa Lunus, de propriedade de Roseana e seu marido, Jorge Murad.
O presidente Fernando Henrique - garantiu - não cometeu qualquer ato irregular nesse processo. Teria cometido se tivesse interferido na apreensão e busca determinada pela Justiça. "Aí sim, ele teria cometido crime e poderia ser até mesmo submetido a impeachment ", sustentou Artur da Távola.
Para ele, foi tentado, "mas não se conseguiu", fazer com que a contra-informação fosse mais forte que a informação. "Qual é a informação? Ela pode ser sintetizada em 1 milhão e 340 mil reais em cima de uma mesa. A contra-informação é dizer que são vítimas de um governo solerte." Acrescentou que o senador José Sarney adotou a "velha prática da política brasileira de jogar sobre os outros as culpas que cabem a alguns".
Conforme Artur da Távola, as investigações de fraudes na Sudam, em vários estados, já motivaram 70 diligências de busca e apreensão de documentos em empresas e residências. Observou que a governadora Roseana Sarney não estava sob investigação, e sim uma empresa. Mais: o juiz determinou que a busca fosse feita pela Polícia Federal, como consta do processo.
Depois de afirmar que o discurso de Sarney "foi uma brilhante peça de oratória", Artur da Távola disse que a vítima do episódio envolvendo a empresa Lunus "não foi Roseana, e sim o PFL". O partido, acrescentou, "está pagando o preço de sua lealdade à governadora, correndo o risco de isolamento político".
- O senador Sarney não pode dizer que o presidente da República está por trás maquinando para destruir alguma candidatura. Não que lhe falte sinceridade ou méritos, mas falta-lhe história para falar de homens que vieram do exílio, da luta política, da prisão, da tortura. Estes, sim, têm história para falar em tempos de democracia - continuou, referindo-se a Fernando Henrique e ao candidato do governo à Presidência, o senador e ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB-SP).
As afirmações do senador José Sarney sobre os "grampos" telefônicos e a ação a que José Serra responde na Justiça, na opinião do líder do governo, "foram pequenas e irrisórias". Disse que a ação pública contra Serra pede ressarcimento pelo que ele recebeu de salários, junto com outros senadores, mesmo tendo faltado a sessões do Senado. Afirmou que o senador Sarney também é réu na mesma ação.
Ao justificar a contratação de uma empresa para fazer varredura nos telefones do Ministério da Saúde, Artur da Távola lembrou que o então ministro José Serra contrariou "grandes interesses" de empresas multinacionais, por conta de sua campanha contra os cigarros, pela regulamentação dos planos de saúde, pela implantação dos remédios genéricos no Brasil e pela exigência de redução de preços de medicamentos usados contra a Aids. Ponderou que o Ministério da Saúde faz grandes compras de medicamentos e tem a obrigação de se defender contra espionagem eletrônica, pois suas licitações envolvem milhões de reais.
20/03/2002
Agência Senado
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