TSE desmonta todo processo eleitoral









TSE desmonta todo processo eleitoral
Atordoados, candidatos avaliam conseqüências da verticalização das coligações

A resolução do TSE (Tribunal Regional Eleitoral) que uniformiza as coligações a partir da aliança feita para a disputa presidencial altera todo o quadro político brasileiro e terá conseqüências que, por enquanto, ninguém consegue divisar com clareza. A julgar pelo que informaram ao DIARIO políticos pernambucanos, ela pode ter acelerado a tendência de o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) desincompatibilizar-se em 6 de abril próximo. Com certeza influirá também nas eleições proporcionais e na sobrevivência dos chamados partidos nanicos.

Embora todos os partidos já estejam contabilizando perdas e ganhos, não é possível ainda identificar o impacto eleitoral que a medida - anunciada na última terça-feira - vai causar. Na opinião do cientista politico Joanildo Burity todos os candidatos, num primeiro momento, "vão perder". Outro cientista político, Michel Zaidan, considera que os partidos mais frágeis podem confluir para os candidatos mais fortes, levando a uma polarização.

A frieza da análise dos professores tem um rebatimento acalorado no meio político - onde estão os principais atingidos pela resolução. "É um terremoto", classificou o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). "Deixou tudo de pernas para o ar", analisou o pré-candidato do PSDB, José Serra. "Estamos todos perplexos e atordoados", admitiu a líder do Governo na Assembléia, Teresa Duere.

No geral, há um consenso que a resolução é positiva, na medida que obriga os partidos a ter coerência política, impedindo que adversários no plano nacional sejam aliados no plano estadual e vice-versa. Outro consenso - este, negativo - é que a medida chega às vésperas das eleições, quando todos já estavam lidando com a legislação que vigorou no pleito de 1998. O ideal, dizem os políticos, é que a nova regra passasse a valer para as próximas eleições, em 2006.

Partidos e candidatos mobilizam-se para tentar reverter a resolução, tarefa que, a julgar pelo que dizem especialistas em questões semelhantes, dificilmente será bem sucedida. Ao que tudo indica, as eleições de outubro próximo estarão mesmo submetidas ao que está sendo chamado de verticalização das coligações.


Candidatos esperam por flexibilização
Uma dúvida existente na decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) traz um fio de esperança para os pré-candidatos: há possibilidade de um partido que não formalizar aliança alguma para a disputa presidencial coligar-se livremente nos estados? Como há posições divergentes dentro do próprio TSE, os postulantes a cargos eletivos agarram-se a este questionamento para tentar manter o otimismo. A expectativa é que as coligações sejam viáveis.

A resposta definitiva para essa "pendência" está prevista para ser divulgada na próxima terça-feira. Neste dia termina o prazo para que as normas das eleições de outubro sejam fixadas pelo Tribunal. Até lá, os ministros do TSE ainda terão de se entender sobre o assunto.

Na última quinta-feira, o vice-presidente do Tribunal Eleitoral, Sepúlveda Pertence, que votou contra a verticalização, revelou que entendia que os candidatos de um partido que não formalizar aliança nacional também não poderia fazer coligação nos estados. Ocorre que Pertence foi voto vencido na terça-feira passada, quando se aprovou a verticalização. E poderá perder de novo nisso que seria uma flexibilização da medida.

E os primeiros sinais de outra derrota já estão sendo dados. O ministro Fernando Neves, que foi favorável à uniformização das alianças, posicionou-se exatamente de forma contrária a Pertence. "Quem não lançar candidato próprio terá a liberdade de coligar-se a quaisquer partidos nos estados e até mesmo fazer alianças diferentes em cada estado", observou.

O texto da decisão divulgada na última terça-feira passada é curto e pouco detalhado. Diz apenas: "Os partidos políticos que ajustarem coligação para eleição de presidente da República não poderão formar coligações para eleição de governador/a de estado ou do Distrito Federal, senador/a, deputado/a federal e deputado/a estadual ou distrital com outros partidos políticos que tenham, isoladamente ou em aliança diversa, lançado candidato/a à eleição presidencial".

PMDB - Como Pertence tende a ser voto vencido (na decisão de terça passada sóele e o ministro Sálvio Figueiredo votaram contra - os outros cinco votaram a favor), a determinação que deverá constar nas regras do TSE será baseada no pensamento do ministro Neves. Diante disso, a situação do PMDB, por exemplo, pode não ficar tão complicada. Caso o partido não faça aliança nacional, poderá disputar os governos estaduais aliados a outras siglas.

O futuro do PMDB interessa de forma particular à aliança existente hoje em Pernambuco, na qual o governador peemedebista Jarbas Vasconcelos (PMDB) é o nome mais forte para concorrer ao Governo do Estado (ele tentaria a reeleição). Ligados a Jarbas estão PFL, PSDB e PPB. Sem candidato à Presidência imposto pelo partido, o governador ficaria livre para coligar-se ou com os pefelistas ou com os tucanos.

Embora Jarbas já tenha expressado ser favorável à pré-candidatura do ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB) à Presidência, os pefelistas apostam que o governador terá que apoiá-los. Isso porque, acreditam, o PMDB, sem candidato para presidente, acabaria coligando-se nacionalmente com eles. Tal pensamento, já disseminado entre a cúpula do PFL pernambucano, é explicado pelas dificuldades de alianças do PMDB com o PSDB em vários estados do país.

A partir da avaliação dos pefelistas, a situação da aliança governista na eleição ficaria assim: Jarbas candidato a governador, tendo como vice José Mendonça Filho (PFL), receberia votos do PMDB, PFL e PSDB e ficaria livre para apoiar Serra através de coligação branca.


Sem opção, Jarbas prepara saída do cargo em 6 de abril
As alterações provocadas pela resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e as indefinições do cenário político nacional já teriam provocado pelo menos uma decisão, segundo parlamentares governistas ouvidos pelo DIARIO: o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) deve desincompatibilizar-se em 6 de abril, data-limite para que os governantes interessados em disputar as eleições deixem os cargos que ocupam. A campanha publicitária para isso já estaria sendo preparada, informou um destacado integrante da aliança.

No caso de permanecer no cargo, Jarbas Vasconcelos só poderá disputar a reeleição. Saindo, ele pode concorrer a qualquer cargo - inclusive ao Governo. Agindo assim ele também ganha mais tempo para esperar que o quadro nacional se torne mais nítido. De acordo com a legislação eleitoral, até 30 de junho os partidos poderão fazer as convenções em que escolherão seus candidatos.

A expectativa do governador - e, de resto, de todos os políticos - era que em março/abril o quadro já estivesse mais definido, com a formação (ou, pelo menos, a idealização) das chapas majoritárias. A resolução do TSE - que obriga as coligações estaduais a seguirem a coligação nacional - altera tudo e traz mais indefinição. "Vão estar todos pisando num terreno meio desconhecido na prática eleitoral brasileira", analisa o cientista política Joanildo Burity, da UFPE. Para Jarbas, as novas regras são "um terremoto". Durante audiência com o prefeito de Petrolina, Fernando Bezerra Coelho, na última quinta-feira, no Palácio do Campo das Princesas, ele disse que já estava com um cenário na cabeça mas que agora teria que lidar com um outro, inteiramente novo.

CONSTRANGIMENTO - Ninguém é capaz de prever ainda, por exemplo, como ficará a rearrumação eleitoral que deve ser provocada pela verticalização das coligações. Roseana Sarney, a pré-candidata do PFL, manterá a candidatura presidencial? O virtual candidato do PSDB, José Serra, conseguirá o apoio do PMDB? E o próprio PMDB, lança ou não candidato próprio? Para Jarbas, se os três partidos não se unirem, o PMDB "não fecha com ninguém" - ou seja, a aliança hoje existente pode fragmentar-se, e aí já se terá um dado novo a ser levado em conta. O governador entende também que, mantido o quadro atual, o PMDB não deve ter candidatura própria à Presidência.

Aliada a estas questões conjunturais, existe outra, de ordem pessoal, que justifica o desejo de Jarbas em desincompatibilizar-se: desde o final do mês passado ele vem dizendo que, embora isso seja permitido pela legislação, se sentiria "constrangido" em disputar a reeleição mantendo-se no cargo. "Imagine que eu vá a Caruaru participar de algum ato e você me pergunta se eu estou ali como candidato ou como governador - eu vou ficar embaraçado em responder", disse ele em conversa com a reportagem do DIARIO, semanas antes da decisão do TSE.

Em seu estilo de nunca antecipar decisões, Jarbas Vasconcelos negou - na última sexta-feira, ao participar da inauguração de um matadouro público em São Vicente Férrer - que já tivesse se decidido sobre a desincompatibilização.


Oposição deve sair com três palanques contra governistas
A decisão do TSE deixou também os partidos de oposição atordoados. Mas passados os primeiros momentos de turbulência, um novo cenário começa a ser traçado no Estado. Mantida a verticalização, três possíveis palanques devem ser firmados em Pernambuco. Um deles será formado pelo PSB, um outro pela coligação PT/PCdoB/PCB e um terceiro palanque pela aliança PPS/PDT/PTB.

O novo mapeamento eleitoral em Pernambuco ficará dividido da seguinte forma: a aliança PT/PCdoB/PCB disputará o governo do Estado com o secretário de Saúde do Recife, Humberto Costa. O problema é encontrar nomes fortes para compor as duas vagas ao Senado. Já o PSB levará adiante o projeto do deputado Eduardo Campos de ser candidato ao Palácio das Princesas. A terceira via será composta pelo deputado José Queiroz, provável candidato ao Governo do Estado. Uma das vagas do Senado será disputada pelo senador Roberto Freire (PPS) e a outra pelo senador Carlos Wilson (PTB).

Parte dos partidos de oposição resistia até então ao lançamento de mais de uma candidatura. A preocupação central era o enfraquecimento na disputa com o candidato da aliança PFL/PSDB/PMDB. Todos defendiam a unidade política, mas ninguém na prática abria mão da cabeça de chapa. A decisão do TSE, no entanto, colocou a esquerda, pelo mesmo em tese, na mesma rota de raciocínio político.

Já que estão impedidos de montar aliança local por causa da chapa nacional, eles trabalharão separados, mas tendo como alvo central o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). "Com a decisão do TSE tudo fica enrijecido. Mas se a oposição se unir, o tiro dos governistas pode sair pela culatra", acredita o presidente da Câmara do Recife, vereador Dilson Peixoto.

De acordo com ele, diante do novo quadro, o PT lançará o Secretário de Saúde do Recife como o candidato ao Governo do Estado. "Nessa situação, Humberto é candidato. O PT não vai correr da raia", disse. Para o presidente regional do PT, Paulo Santana, a unidade política não impede a diversidade de palanques. "Temos como adversários Jarbas e sua aliança", disse.

Na avaliação do deputado Eduardo Campos, a unidade política é possível entre a esquerda apesar das divergências entre as legendas. "É preciso ter o mínimo de critério político entre nós. A unidade política é possível", disse o parlamentar. De acordo com ele, o PSB tem se somado a todos os partidos para anular o que foi decidido pelo TSE. Vamos esperar a publicação da resolução para avaliar a situação nos estados", disse.


Esquerda quer negociar pacto de não-agressão
A decisão do TSE em verticalizar as coligações está produzindo um efeito político semelhante ao ocorrido na eleição de 2000. Na época, os partidos de esquerda firmaram um pacto de não-agressão entre si. As críticas passaram a ser direcionadas para um único candidato. O ex-prefeito do Recife Roberto Magalhães (PSDB) foi bombardeado de todos os lados pelos demais candidatos. A estratégia deu certo. As legendas de esquerda mantiveram a unidade política, que resultou na vitória do atual prefeito do Recife, João Paulo (PT).

Com a mudança do jogo eleitoral imposta pelo TSE, a oposição em Pernambuco poderá repetir a fórmula adotada na campanha de João Paulo. Sem conseguir até agora a unidade eleitoral, a esquerda tentará driblar o golpe dado pelo TSE, buscando a unidade política. Dessa vez, o alvo será o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), junto com a aliança PMDB/PFL/PSDB.

Para o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), as novas regras eleitorais criam a possibilidade da unidade da oposição. "Se conseguirmos juntar o apoio no plano nacional, a tese da unidade não será prejudicada. Vamos namorar mesmo que o pai da moça resolva acabar o casamento", brincou Siqueira, fazendo uma alusão ao TSE como sendo o pai da noiva.

O presidente da Câmara do Recife, Dilson Peixoto (PT), fez um alerta sobre a capacidade de arrumação política da direita diante das maiores adversidades. "A direita e o centro têm grande capacidade de negociação. O PFL pode facilmente se juntar ao PSDB. Em vez de ficarmos trocando farpas precisamos primeiro nos unir e desenvolver uma estratégia para combater os adversários", disse.

Para o presidente regional do PT e prefeito de Camaragibe, Paulo Santana, independente da decisão do TSE, os partidos de esquerda precisam consolidar um entendimento. "Temos que trabalhar a possibilidade de estarmos juntos no segundo turno. Temos um adversário comum que é Fernando Henrique Cardoso e seus aliados. Esse diagnóstico será aprofundado nos debates. Nesse momento, mais do que nunca precisamos buscar a unidade nacional", previu.

ESTRATÉGIA - Segundo Paulo Santana, se não for possível a construção de um palanque único, a esquerda deve repetir a estratégia adotada contra o ex-prefeito Roberto Magalhães. Segundo o deputado federal Eduardo Campos (PSB), a unidade política não será inviável. "Sempre defendemos a unidade da oposição. Se não for possível a criação de um palanque único, ter o mínimo de articulação política entre nós é totalmente viável", afirmou. Nas últimas semanas, inclusive, Campos chegou a abrir mão de sua pré-candidatura a governador em nome da unidade.


Partidos nanicos comemoram
O efeito da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em obrigar que as coligações nacionais sejam seguidas nos estados não foi tão devastador para os pequenos partidos, os chamados nanicos, comparado aos transtornos causados às grandes legendas. Essa, pelo menos, é a avaliação de alguns representantes desses partidos, que consideram a medida correta do ponto de vista legal, uma vez que, segundo eles, os ministros do TSE estão dando, agora, a interpretação correta da lei, criada em 97. "A decisão fortalece a democracia. As coligações partidárias eram meros arranjos eleitorais para atender os interesses de grupos políticos", disparou o vereador Sílvio Costa, presidente estadual do PSD.

Na avaliação do parlamentar, as alterações impostas pelo TSE vão ajudar o eleitor a fazer a diferenciação ideológica das candidaturas majoritárias. "Imagine o Partido dos Trabalhadores (PT), que tem uma proposta socialista, fazer uma coligação com o Partido Liberal (PL). O que Lula queria, na verdade, era o apoio das forçasque estão por trás do PL", disse Costa. Segundo ele, os nanicos nunca participaram dos debates na hora de definir as composições das chapas majoritárias. "Com e ssa decisão, o presidente nacional do nosso partido (Nabi Chedid) já começa a analisar a geografia política de Pernambuco, pensando em futuras coligações", comemora Costa.

PREJUÍZO - Sílvio Costa garantiu também que a determinação do Tribunal Superior Eleitoral em verticalizar as coligações federais nos estados não vai causar prejuízos para os candidatos do PSD na eleição proporcional. "O quadro continua o mesmo. Vamos eleger cinco deputados estaduais. O que andam dizendo sobre uma possível intervenção no PSD local é pura conversa. Essa decisão do Tribunal foi um prêmio para os pequenos partidos", ressaltou o vereador.

Para o presidente estadual do Partido Verde (PV), o deputado estadual João Braga, a medida é correta do ponto de vista legal e político. "O Congresso Nacional votou essa lei, mas ela não foi interpretada como devia. Havia necessidadede acabar com a bagunça política que havia no País. A decisão não foi intempestiva. Espero que o TSE seja mais rigoroso nas demais pontos da lei que ainda estão obscuros", concluiu.


Artigos

Sociedade violenta
Clóvis Cavalcanti

Muito se tem falado - com justificadas razões - a propósito do bárbaro e estranho assassinato do prefeito da cidade paulista de Santo André, Celso Daniel, no dia 19 de janeiro último. Por um lado, assinala-se a intolerável onda de crescente violência que vem castigando o País; por outro, dá-se importância ao fato de o Partido dos Trabalhadores estar sendo vítima de sucessivas agressões, que tomaram vulto especialmente depois do trucidamento do prefeito Antônio de Costa Santos (Toninho), da cidade de Campinas, no dia 10 de setembro de 2001. Diga-se, aliás, que o crime em Campinas, de incomum gravidade, ficou completamente ofuscado pelos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. O jornal Folha de S. Paulo ainda conseguiu noticiá-lo em pequena nota de primeira página no dia 11 (o crime foi na noite anterior, sem tempo para noticiário mais extenso na manhã seguinte). Daí por diante, só deu World Trade Center. No entanto, não se pode minimizar o significado dessa morte, e muito menos deixar que se banalize a situação de enorme apreensão em que estamos vivendo no Brasil. Há alguma coisa apodrecida em nosso meio que permite que a violência prospere tanto e assuma proporções inusitadas.

Antes de mais nada, é necessário que se procure examinar os motivos por que se chegou ao ponto de tremenda insegurança pessoal que carateriza a vida no País atualmente. Não basta apontar culpados inequívocos - como a situação de extrema pobreza e desigualdade indecente que todos os estudiosos lastimam no caso brasileiro. Muito mais do que isso parece estar em jogo, especialmente com relação a um Estado fraco, incapaz de coibir manifestações de violência que vão gerando clima propício para ainda mais violência. No meu entender, um fator sério que merece atenção é a maneira incivil com que se move a sociedade brasileira. Somos o País do desrespeito a tudo quanto é lei e, mais que isso, das práticas que exprimem desprezo a regras de convivência civilizada. Incomoda à consciência ver, por exemplo, como, no trânsito, é comum o abuso da velocidade, a não obediência ao sinal vermelho ou à faixa de pedestres, o descaso quanto aos ciclistas. Quem tem carro, no Brasil, se comporta como se fosse superior às regras do trânsito - embora, quando em países como os Estados Unidos ou a Suíça, saiba muito bem se comportar educadamente (pois não ignora o que o espera, se não agir com civilidade)

No Brasil, qualquer um deforma impunemente paisagens belas (como fizeram em Suape), põe abaixo árvores centenárias, destrói ecossistemas únicos (e ainda há quem reclame dos talibãs, por destruírem os Budas de Bamiyan, no Afeganistão, em março de 2001). Para que maior evidência de comportamento violento do que a sistemática sonegação de impostos no País, a qual permite a acumulação rápida de riqueza por aqueles que agem inescrupulosamente? No entanto, deixar de recolher os tributos devidos, quando isso é possível ao contribuinte, é uma prática nacional da qual escapa apenas quem teima em ser íntegro. A corrução no governo, em todos os seus níveis, representa elemento de definição de uma sociedade que traz dentro de si o germe da violência, pois essa mesma corrução é que vai permitir o conluio entre a gestão da coisa pública e os interesses privados de minorias privilegiadas, entre as quais termina tomando posição o tráfico de drogas. Notável nesse aspecto é a situação de países como o México, particularmente na região de Tijuana, Colômbia, Jamaica. No Brasil, a situação parece encaminhar-se para um quadro semelhante, com as maquinações, entre si, de traficantes, ladrões de carga e elites (as classes subalternas sendo usadas como massa de manobra de escalões muito altos).

Para que prospere o clima de brutalidade que leva aos seqüestros, ao verdadeiro terrorismo ou clima de guerra civil que está imperando no País, o fato de a sociedade brasileira agir acentuadamente de forma incivil tem enorme significado. Na verdade, como o ilustre filósofo social inglês Thomas Hobbes (1588-1679), na sua conhecida obra Leviathan, sugere, a razão de ser de um governo forte é a necessidade de controlar desejos e interesses individuais conflitantes numa sociedade. Quando o Estado se retrai, ou deixa que certos interesses prevaleçam na condução dos negócios coletivos, o resultado é uma situação de desrespeito ao bem-estar coletivo. Não faz sentido numa sociedade conduzida de forma civilizada, em que a violência seja contida em seus níveis mínimos, que, por exemplo, o patrimônio público seja depredado; que se atire lixo da janela de um carro no meio da rua ou no terreno do vizinho; que se escute música em tons ensurdecedores invadindo o espaço privado de terceiros; que se tratem os subalternos aos gritos ou desrespeitosamente; que se descrumpam as ordens da Justiça. Ora, tudo isso se faz cada vez mais descaradamente no Brasil (em Olinda, no Carnaval, há disc-jockeys que dizem que não podem deixar de impor seu som na rua porque, assim, não vão ganhar dinheiro!). Francamente, há necessidade de uma revolução de valores, de nova ética, de reeducação do País, para que se consiga deter a onda de violência abjeta que desgraça a todos nós.


Colunistas

DIÁRIO POLÍTICO - Divane Carvalho

Um aliado incômodo
Fernando Ferro (PT-PE) acha que é uma grande jogada do PSDB convidar Jarbas Vasconcelos para vice de José Serra porque o partido do presidente FHC há tempo quer se afastar do PFL e se aproximar de uma matiz mais progressista, o PMDB, por exemplo. Para o deputado, se isso acontecer ninguém pode negar que a união seria de centro-esquerda, jamais de direita, e todos ficariam bem não fosse a candidatura de Roseana Sarney (PFL) que pode atrapalhar as pretensões tucanas. Mesmo que ela desista mais na frente da candidatura, quando sentir que seu crescimento nas pesquisas não é eleitoral, apenas um trabalho de marketing, na opinião do deputado, pois o PFL é um aliado incômodo. O petista entende que essa movimentação nacional deve ser observada como paciência pelos partidos da oposição de Pernambuco, que se precipitam quando admitem vários palanques e o certo seria aguardar para saber como ficam as articulações dos presidenciáveis pois para ele, a eleição para presidente vai comandar o pleito nosEstados. E como todo bom petista, diz que, no final, a disputa pelo Palácio do Planalto será entre o PT e máquina, isto é, o candidato governista, garantindo que dessa vez Luiz Inácio Lula da Silva não será derrotado porque além de experiência, terá marqueteiro para fazer uma campanha profissional e a rejeição ao nome dele diminuiu, como mostram as pesquisas. Sem contar que o partido chegou ao poder em algumas cidades o que ajudará muito, afirma Ferro, num otimismo de fazer inveja a muita gente.

João Paulo conseguiu arranjar um tempo na sua extensa agenda e está aprendendo a sambar. O prefeito diz que não quer fazer feio no sambódromo, no Rio de Janeiro, onde desfilará pela Mangueira num dos dias do Carnaval carioca

Lanches 1
Ninguém imagina que custa caro alimentar Marco Maciel: estão orçados em R$ 10 mil, esse ano, os lanches do vice-presidente em viagens nos aviões da FAB, conforma contrato publicado no Diário Oficial da União dia 28 de janeiro.

Lanches 2
A contratada é a Comissaria Aérea Brasília Ltda e seu cardápio de 122 itens tem desde um simples sanduíche de queijo e presunto a caviar, além de balas, chicletes, frutas, doces, café, chá, leite, água mineral e refrigerantes.

Lanche 3
Bebidas alcoólicas não estão na lista e é importante dizer que os custos foram calculados para atender até seis pessoas nos aviões oficiais do Governo. Mas os pratos preferidos pelo vice-presidente não foram revelados.

Presidente 1
Eu também sou candidato! é o tema do Nóis Sofre Mas Nóis Goza, esse ano e as camisas do bloco, que sai no Sábado de Zé Pereira da Sete de Setembro, terão charge de Laílson representando todos os presidenciáveis.

Presidente 2
O candidato tem o topete de Itamar Franco (PMDB), um tucano de José Serra (PSDB), barba de Lula (PT), sapatos altos de Roseana Sarney, cachimbo de Raul Jungmann, bochechas de Anthony Garotinho e orelhas de Ciro Gomes (PPS).

Eleição 1
Renan Calheiros, do PMDB, andou confidenciando a alguns amigos do PSB que logo depois do Carnaval vai procurar o governador do Rio de Janeiro e pré-candidato socialista a presidente, Anthony Garotinho.

Eleição 2
O senador alagoano, que já conversou bastante com Roseana Sarney (PFL-MA), diz que deseja trocar idéias com Garotinho porque seu objetivo é escolher o melhor caminho para o PMDB na corrida presidencial.

Encontro
Arraes (PSB) e Roberto Freire, do PPS, vão se encontrar nessa semana pré-carnavalesca que está começando. Segunda-feira, os socialistas definem o dia da reunião que está dependendo apenas de alguns acertos na agenda do presidente do PSB.


Editorial

CENTRO DA TACARUNA

Restaurar uma edificação como a da antiga fábrica textil da Tacaruna é apontar para o futuro. E, destinar seu prédio remodelado aos serviços da Cultura, é ligar o futuro do sítio a uma clara vocação pernambucana historicamente reconhecida.

Na verdade, trata-se de iniciativa abrangente. O projeto para recuperar o sítio da Tacaruna envolve quatro aspectos relevantes. O primeiro se refere à revalorização urbana da área onde se ele situa. O objetivo é articular aquele espaço com novos investimentos imobiliários. Trata-se de estimular os empreendedores da construção civil para redescobrir as oportunidades residenciais e comerciais em bairros como Campo Grande e Encruzilhada. É uma chance para se expandir o ramo imobiliário.

O segundo aspecto diz respeito à promoção econômica do Estado. O propósito é fortalecer atividades modernas, como as do comércio da arte, da visitação de museus, da hospedagem de exposições, vinculando-as ao setor terciário da economia. Pernambuco é polo de serviços especializados de saúde, de informática, de publicidade. E de Cultura. A qualificação de pessoal em gestão cultural e a subsequente formação de especialistas nos tipos de tarefa a ela relacionadas, enquadradas no terciário moderno, são perfeitamente coerentes com o destino produtivo do Estado.

O terceiro aspecto relevante do projeto do Tacaruna é alargar a oferta de serviços turísticos aos visitantes. No horizonte do turismo, Pernambuco não é exclusivamente natureza, praias, aberturas fluviais e resort ecológico. São também os valores da Cultura, popular e erudita, artesanato agrestino e barroco religioso, tradições e capacidade de criar, museus e espaços estéticos para pintura e escultura. Nesse sentido, o Centro da Tacaruna qualificará o perfil do produto turístico estadual, não só na integração das visões sociais que o compõem, como na recepção de acervos notáveis como o de Marcantônio Vilaça.

O quarto aspecto é a contribuição que o Tacaruna dará à guarda da memória coletiva, acentuando expressões dos fazeres pernambucanos, tanto aqueles inspirados no azul do litoral atlanticamente abençoado, quanto os baseados na profissão de fé sertaneja. Nesse ponto, o aprofundamento e a produção de conhecimento sobre o desenvolvimento regional encontrará aqui acolhimento natural. O debate de questões relacionadas ao futuro e que são do interesse público poderão ser discutidas no âmbito de um Instituto do Terceiro Milênio.

A instalação e operação de um Centro com as características do Tacaruna é obra a ser compartilhada entre o setor público e a inciativa privada. Certamente os módulos nos quais o empreendimento se estrutura necessitarão da participação de empresas com aptidão para essa associação.


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03/03/2002


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