A esquerda da esquerda









A esquerda da esquerda
O PCO e o PSTU são dois partidos que pretendem implantar o socialismo no Brasil. Dissidentes do PT, ambos se dizem decepcionados com a postura de Lula na campanha, mas não se entendem

No Setor Comercial Sul, a distância nem é tão grande. Menos de 200 metros separam o comitê do Partido da Causa Operária (10º andar do Edifício Márcia) do centro nervoso do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (sobreloja do Edifício Jockey Club). No campo ideológico, a distância é bem maior.

PSTU e PCO têm agitado o horário eleitoral em rádio e tevê. Breves 40 segundos para cada legenda. Tempo suficiente para José Maria de Almeida, do PSTU, e Rui Costa Pimenta, do PCO, se diferenciarem dos demais concorrentes à Presidência. O adversário deles não é Fernando Henrique Cardoso. Quer dizer, até é... Mas vão um pouquinho mais longe: o problema é o capitalismo.

Tanto o PSTU quanto o PCO se intitulam partidos revolucionários. Como tal, diferenciam-se dos partidos reformistas. Por exemplo, o Partido dos Trabalhadores (PT) seria reformista: pretende mudar a estrutura político-econômica negociando com os demais partidos.

PSTU e PCO querem mudar o Brasil agora. A idéia é implantar o socialismo em 1º de janeiro de 2003. ‘‘Sim, somos revolucionários’’, bateu no peito o companheiro Zé Maria, palestrando na Universidade de Brasília (UnB), quinta-feira. Tamanho radicalismo causou a expulsão dos militantes de ambas facções da célula-mãe PT. Apesar da origem comum e do objetivo semelhante, PCO e PSTU não se entendem. Trombam em questões que, para eles, são incontornáveis.

Nestas eleições, o PSTU pretende chamar atenção para a economia. O forró de campanha e os discursos de Zé Maria condenam o acordo assinado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O PSTU também quer o Brasil fora da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), bloco econômico defendido pelos Estados Unidos.

Estatização
Uma vez o FMI banido das finanças nacionais, declarada a moratória da dívida e a Alca para escanteio, o governo do PSTU reestatizaria as empresas públicas privatizadas na Era FHC e assumiria o comando das empresas privadas. O salário mínimo, então, seria paulatinamente elevado até a taxa de R$ 1.041 — quantia justa de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Por sua vez, o PCO defende que a questão imediata não é externa. O partido pretende elevar de uma vez o salário mínimo para R$ 1,5 mil. E reduzir a jornada de trabalho para 35 horas semanais, para abrir mais postos de trabalho. Então, tomar o controle de empresas privadas. Alca e FMI seriam secundários. ‘‘A questão salarial aglutina os trabalhadores. Alca e FMI são assuntos pontuais’’, defende Marcléo Rosseli, diretor-regional do PCO e candidato a deputado federal.

De lado a lado, certa desconfiança. ‘‘O PCO se acredita dono a verdade’’, reclama Ricardo Guillen, candidato ao Senado pelo PSTU. Orlando Cariello, candidato ao governo do DF, conta que o partido procurou outras legendas para compor uma Frente Classista para estas eleições. Foram atrás de PT, PC do B e PCB. Nada de PCO.Marcléo Rosseli não se conforma com o fato de o PSTU não ter procurado seu partido para compor a tal frente de esquerda. ‘‘O PSTU não está no passo dos trabalhadores. Alca está distante para as pessoas.’’

Veterano da campanha presidencial de 1998, Zé Maria acredita que o PSTU está emplacando. Nas eleições passadas, colheu 200 mil votos. Desta feita, espera chegar a 1% dos votos, algo em torno de um milhão de eleitores. Faz campanha entre universidades e sindicatos, esperando unir forças e formar um partido revolucionário realmente grande.

Como o ex-metalúrgico Zé Maria, o jornalista-e-professor Rui Costa Pimenta faz campanha modesta. Hospeda-se em casa de amigos e participa de acampamentos de jovens, onde professa a revolução de Che Guevara. Aproveita o pleito para abrir espaço à esquerda.

Pois PSTU e PCO concordam em outro ponto: o PT não representa mais o que pensam. Zé Maria se diz decepcionado em ver Lula, ex-companheiro de greves em São Bernardo do Campo, sentado com Fernando Henrique para discutir o acordo com o FMI. Rosseli prevê futuro nebuloso caso Lula chegue ao Planalto. Acredita que boa parte da base popular do PT se decepcionará com o partido no poder. O PCO e o PSTU esperam os descontentes de braços abertos.


PT acalma radicais
Pacto entre Lula, MST e CUT rende benefícios ao petista, mas a pressão por reforma agrária e emprego vai aumentar em 2003

Uma pequena horta de couve, cenoura e alface é o maior depósito de esperança de 220 famílias acampadas próximas ao córrego Pipiripau, a 20km de Formosa, Goiás. Do canteiro, plantado com sementes doadas por assentados do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na região do Distrito Federal e do Entorno, eles esperam tirar alguma verdura para misturar ao feijão — único alimento disponível. Faz oito meses, deixaram de receber a cesta básica do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As crianças do Pipiripau estão entre o 1% de brasileiros com menos de 5 anos que não foram vacinados contra a pólio, na última campanha. São apenas 50 crianças, mas fazem parte de uma legião de 150 mil famílias ligadas ao MST e acampadas em situação semelhante em todo o país.

A maior parte dessas pessoas espera há pelo menos dois anos por um pedaço de chão. Aguardam a reforma agrária, nas condições mais precárias possíveis. Sem banheiro, sem comida, sem salário, sem remédio, sem semente para plantar. Apesar de toda a precariedade, os sem-terra do Pipiripau estão quietos. Como a maior parte dos seus companheiros em todo o país. No início do ano, eles fizeram um pacto com o candidato à Presidência da República pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Evitariam as invasões de terra este ano para ajudar a eleição de Lula. Na vitória do petista, depositam toda a crença em uma vida melhor.

Na verdade, porém, os líderes do MST agiram como quem tampa uma panela de pressão. Eles sabem que a gente que vive em condições precárias como no acampamento do Pipiripau tem cada dia menos paciência. E, como reservam uma expectativa muito grande com relação a Lula, vão querer resultados imediatos. No caso de uma vitória do PT nas eleições de outubro, a panela de pressão pode estourar antes da hora desejada por Lula, e sem que os líderes do MST consigam mais controlá-la. ‘‘Iremos cobrar a solução para esses companheiros ainda em 2003. Independente de quem ganhe as eleições’’, afirma João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.

Desemprego
Na porta da Embraer, na quinta-feira, um grupo de metalúrgicos desempregados aguardava ansioso por um minuto de conversa com Lula. Eles estão acampados na porta da fábrica há 28 dias. São 95 trabalhadores que eram contratados da empresa Resintec. A Embraer tinha um contrato de terceirização com a empresa, que fazia para a fábrica de aviões algumas peças. Em agosto, a Embraer cancelou o contrato com a Resintec, e os metalúrgicos foram demitidos. ‘‘Lula, nós também somos trabalhadores. Cobre uma posição da Embraer sobre os acampados’’, dizia uma faixa. Mas Lula passou pela Embraer sem falar com eles. Desceu e subiu de helicóptero dentro da fábrica.

Os metalúrgicos ficaram conformados. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) apóia oficialmente a candidatura do petista. Espera que a proposta de ‘‘contrato social’’ de Lula — na verdade, um novo nome para a idéia de pacto social — gere uma nova possibilidade de negociação que coloque patrões e empregados em igualdade de condições. ‘‘Nunca fomos ouvidos por governo algum. Agora, esperamos que a situa


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