Esquerda francesa aplaude FH







Esquerda francesa aplaude FH
Aplaudido de pé por parlamentares e ministros franceses ao discursar na Assembléia Nacional francesa, o presidente Fernando Henrique, o primeiro chefe de Estado a falar no Parlamento da França, apresentou propostas polêmicas para mudar a ordem mundial, como a adoção da Taxa Tobin — uma espécie de CPMF mundial, que seria usada para ajudar países pobres ou em dificuldades econômicas — e a redução, pelos países ricos, das dívidas dos países pobres. E disse que o Brasil já fez isso com países da África e da América Latina. Agradando a parlamentares da esquerda e da direita, fez críticas indiretas aos Estados Unidos, sem mencionar aquele país. Disse, por exemplo, que “a barbárie não é somente a covardia do terrorismo, mas também a intolerância ou a imposição de políticas unilaterais em escala planetária”.

— Se acreditamos de fato no livre comércio, cabe ao Mercosul e à União Européia a adoção de medidas efetivas contra o protecionismo. Mas o preço não deveria ser pago apenas pela França, uma vez que outros países mais poderosos continuam a subsidiar fortemente seus produtos agrícolas — disse, discursando em francês.

Fernando Henrique voltou a defender a criação do Estado palestino.

— Lutemos por uma nova ordem mundial que reflita um contrato entre nações realmente livres, e não apenas o predomínio de uns Estados sobre outros — afirmou.

FH defende propostas criticadas pelos EUA

O presidente defendeu ainda o fortalecimento do Conselho de Segurança da ONU — do qual o Brasil luta para ser membro efetivo — o cumprimento do Protocolo de Kioto — compromisso para redução de gases poluentes — e a criação do Tribunal Penal Internacional. Essas propostas são vistas com restrições pelos Estados Unidos.

Tendo na platéia o primeiro-ministro francês, Lionel Jospin, Fernando Henrique foi aplaudido pela primeira vez ao afirmar que é preciso reagir com determinação ao terrorismo e, ao mesmo tempo, enfrentar problemas como a desigualdade. Em seguida, foi aplaudido ao falar no Estado palestino e no Protocolo de Kioto, quando disse que o mundo não pode ser dominado pela lógica do medo.

Entusiasmado com os aplausos, Fernando Henrique agradeceu, no fim do discurso.

— Vive la France! — disse, sendo abraçado por Jospin.

Fernando Henrique chegou pontualmente às 15h (12h no Brasil). Foi recebido pelo presidente da Assembléia, o socialista Raymond Forni. Lado a lado, deram uma rápida entrevista, na qual Fernando Henrique falou às vezes em português, às vezes em francês. Ele lembrou o período em que viveu na França, como professor. Na platéia, além de parlamentares, havia intelectuais, amigos e integrantes do governo.

Presidente condena supremacia de países

Durante entrevista após o discurso, Fernando Henrique disse que os Estados Unidos devem fazer uma revisão do seu papel na ordem mundial. Para o presidente, não deve haver supremacia de um país sobre outros. O presidente fez uma dura crítica ao protecionismo dos americanos, que adotam barreiras alfandegárias e não-alfandegárias para dificultar a entrada de produtos brasileiros. Pouco antes de discursar, Fernando Henrique disse que os Estados Unidos eram mais protecionistas que a própria França, que resiste à abertura do mercado da União Européia aos produtos agrícolas brasileiros e do Mercosul.

— Não é questão de crítica aos Estados Unidos. É de encorajamento para que façam uma revisão. Este é o momento de virar a página (da ordem mundial) — disse.

Representantes do Mercosul e da União Européia estão em Bruxelas tentando fechar um acordo sobre a abertura do mercado europeu os produtos do bloco sul-americano. O presidente avisou que o Brasil vai lutar na reunião da Organização Mundial do Comércio, em Doha (Qatar), entre os dias 9 e 14, contra o protecionismo dos Estados Unidos.

— Seria injusto imaginar que essa política agrícola injusta é (somente) francesa. Não é. Hoje, os maiores subsídios são americanos. Temos que aproveitar a reunião para colocar isso de uma forma que não seja míope, que não seja reduzida a uma questão entre França e Mercosul. Diante de possíveis resistências, sejam elas francesas ou não, estaremos do outro lado — avisou.


Presidente da Assembléia chama política social de FH de ambiciosa
PARIS. No discurso de recepção ao presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente da Assembléia Nacional, o socialista Raymond Forni, disse que o governo brasileiro tem uma política social ambiciosa e está empenhado nas reformas estruturais e no controle da hiperinflação. Forni disse ainda que o governo de Fernando Henrique é “moderno na política ambiental” e fez outros elogios, mas, no fim, cometeu uma gafe:

— A opinião pública mundial, que teve Porto Alegre como um dos locais de nascimento, em janeiro, impele-nos a tomar medidas para uma globalização solidária, que beneficie todos os homens e o Homem como um todo — disse o deputado socialista, aparentemente sem saber que estava falando de uma iniciativa, o Fórum de Porto Alegre, dos opositores do governo.

Deputado ressalta identidades políticas

Forni buscou identidades políticas entre a França e o Brasil, sobretudo num dos pontos defendidos pelo presidente, o do desenvolvimento de uma globalização humanizada.

— Os dramáticos acontecimentos que vivemos desde 11 de setembro fazem lembrar a urgente necessidade de eqüidade e solidariedade, da elaboração de regras comuns — disse, para em seguida afirmar: — Precisamos organizar a abertura comercial para que ela se faça nos dois sentidos e sem gerar dramas sociais.

Forni ressaltou que o lema da bandeira brasileira, “Ordem e progresso”, inspirado no pensador francês Augusto Comte, “corresponde ao programa que nossos países desejam ver aplicado às relações internacionais e à globalização”. Favorável a uma maior ligação entre Mercosul e União Européia, Forni apóia a reivindicação brasileira de cancelar a dívida de países pobres:

— A França não se opõe a que seja criado um desconto específico sobre certos fluxos financeiros para financiar transferências de capital para os países mais pobres.


Relator defende mínimo de R$ 194,40
BRASÍLIA. Por exigência constitucional, o salário-mínimo poderá chegar a R$ 194,40 em abril do ano que vem. O relator-geral do Orçamento, deputado Sampaio Dória (PSDB-SP), reconheceu ontem que será necessário destinar recursos adicionais, concedendo um reajuste maior ao mínimo para cobrir as perdas provocadas pela inflação. Na proposta original do governo — elaborada antes do agravamento da crise na Argentina e dos atentados terroristas em Nova Iorque e Washington — a previsão de aumento do mínimo é de 5%, o que elevaria seu valor de R$ 180 para apenas R$ 189. Mas, pelas projeções mais recentes, a inflação chegará a 8% até abril de 2002.

— Vamos ter de deixar uma abertura no Orçamento para cobrir esse resíduo — disse o relator, referindo-se à diferença entre a inflação estimada pelo governo e a que terá se realizado até abril de 2002.

Aumento de R$ 6 no mínimo significa gasto de R$ 1 bilhão

Mantidas as projeções do mercado, o governo terá de aumentar o mínimo em três pontos percentuais a mais do que o previsto originalmente pela equipe econômica, o que equivale a R$ 6. Esse extra representaria um gasto adicional de R$ 1,3 bilhão no ano que vem (para cada real de aumento, a estimativa de despesa sobe em R$ 220 milhões). O difícil será encontrar fonte de receita para garantir o aumento.

Segundo Sampaio Dória, o ideal seria a aprovação da contribuição dos inativos — com receita calculada em R$ 1,4 bilhão — para assegurar um maior reajuste do mínimo. Mas não há a menor chance de a proposta ser aprovada este ano, às vésperas das eleições. Além disso, o deputado está preocupado com a demanda de recursos para o ano que vem, especialmente as verbas reivindicadas para o fim da greve dos servidores das universidades federais.

O deputado tem reclamado que as exigências para se dar fim ao movimento já somam cerca de R$ 500 milhões, o que acabará comprometendo o atendimento de emendas (R$ 38,4 bilhões) em 2002.

— Se depender de mim, o reajuste do mínimo será bem maior. Mas as limitações são grandes e temos de atender às emendas, aos servidores, ao mínimo e a outras propostas — disse ele.

Martus diz que é cedo para falar em aumento do mínimo

O ministro do Planejamento, Martus Tavares, por sua vez, tem repetido que é prematuro falar em um reajuste maior do salário mínimo antes de concretizada a estimativa de inflação acima do que foi previsto pelo governo. Ele lembra ainda que o governo tem adotado medidas para conter a inflação.

— O Banco Central está adotando políticas para manter a inflação dentro dos limites previstos anteriormente — disse Martus.


Presidente diz que 68 foi movimento pró, não contra
PARIS. As críticas seguidas do presidente Fernando Henrique Cardoso à oposição chamaram a atenção dos jornalistas do jornal francês “Le Monde” que o entrevistaram. Na entrevista, publicada ontem, Fernando Henrique praticamente repetiu os termos do discurso feito na Assembléia Nacional francesa sobre a importância de se criar uma nova ordem mundial e se de abrir os mercados da União Européia aos produtos do Mercosul, principalmente os agrícolas. Mas foi surpreendido com uma pergunta sobre a diferença entre os jovens que protestavam em 1968 na França e os protestos de hoje contra a globalização. Naquela época, o presidente morava na França e era professor em Nanterre.

— É o contrário. O movimento de 1968 foi um movimento para, e não contra. Era um movimento pela liberdade, e eu sempre pensei que deveria haver uma sociedade civil muito ativa. Não sou favorável ao estatismo. No Brasil, aqueles que são antiglobalização são a favor de uma burocracia estatal — respondeu Fernando Henrique, voltando a criticar a visão da esquerda brasileira: — O pensamento progressista não pode ser um pensamento negativo. Tem que ser positivo e dizer do que é a favor.

O jornal “Le Monde”, junto com a entrevista, ainda publicou um amplo perfil sobre o presidente Fernando Henrique. O texto mostra que sua popularidade foi afetada por várias crises econômicas e pelo desgaste natural de sete anos de governo.


Aécio diz que só aceita acusações com provas
BRASÍLIA. Citados na agenda do lobista Alexandre Paes Santos, os deputados Carlos Mosconi (PSDB-MG), Luciano Pizzato (PFL-PR), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e Zulaiê Cobra (PSDB-SP) receberam ontem apoio do presidente da Câmara. Aécio Neves (PSDB-MG) disse que não permitirá a condenação de colegas sem que haja provas.

— A presidência não permitirá que uma simples menção do nome A ou B numa suposta agenda de quem quer que seja transforme-se a priori numa condenação política — disse.

Segundo reportagem da revista “Época”, Zulaiê tem 20 referências na agenda do lobista. A deputada contratou o advogado Márcio Thomaz Bastos e ofereceu ao corregedor Barbosa Neto (PMDB-GO) a quebra de seu sigilo bancário e telefônico.

Barbosa disse que vai ouvir todos os deputados citados na reportagem da “Época”.

— Vou perguntar se gostariam de depor. Mas a atitude dos que já se adiantaram dizendo que estão à disposição para qualquer esclarecimento me parece muito positiva — afirmou.


Tasso acusa Assembléia de pagar propinas
FORTALEZA. A briga do governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), com a Assembléia Legislativa por causa da CPI do Banco do Estado atingiu o ponto máximo ontem, quando Tasso denunciou um esquema de pagamento de propinas a jornalistas do estado. O presidente da Assembléia, Wellington Landim (PSB), que deixou recentemente o PSDB, mostrou relatórios sobre a chamada Folha 8, que, segundo ele, existe há mais de 12 anos para o pagamento de prestadores de serviços. A folha, segundo os documentos, custa R$ 400 mil, e não R$ 1,5 milhão, como disse Tasso.

— Querem atingir o Legislativo para desviar a atenção da CPI que vai apurar denúncias de irregularidades na administração do banco do estado — disse Landim.

O deputado João Alfredo (PT) afirmou que o governador sempre foi contra a criação da CPI e sempre tentou impedir a instalação.

— A máscara do governo vai cair e ele terá que explicar por que o Ceará ocupa hoje o terceiro pior lugar em distribuição de renda e índice de desenvolvimento humano — acrescentou.

Três deputados deixaram o PSDB e foram para o PSB. Além disso, a base do governo foi enfraquecida pela saída de parlamentares do PTB para o PMDB; e pela adesão à oposição de deputados sem partido. A Assembléia tem 46 deputados, dos quais apenas 18 apóiam o governo.


Nova fita contra Olívio será entregue hoje à CPI
PORTO ALEGRE e BRASÍLIA. Uma nova fita que pode ser comprometedora para o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, chega hoje à CPI da Segurança Pública. Quem promete entregá-la é o delegado Wilson Müller, o mesmo que enviou à Assembléia Legislativa a primeira fita, na semana passada, na qual o coordenador eleitoral da campanha de Olívio Dutra, Diógenes de Oliveira, pedia ao então chefe de polícia, Luiz Fernando Tubino, que não reprimisse o jogo do bicho.

Segundo Müller, a segunda fita contém diálogos entre altos integrantes da Secretaria de Segurança. As conversas, de acordo com o delegado, podem ajudar a CPI a investigar as relações do PT com o jogo do bicho. Müller disse ainda que tem mais quatro fitas, que revelariam irregularidades na área de segurança pública.

A direção estadual do PT só decidirá daqui a 40 dias se vai ou não excluir Diógenes de seus quadros. Depois que a primeira fita foi divulgada, ele disse que usara o nome do governador indevidamente. Setores do partido defendem sua exclusão, mas os 17 integrantes da Executiva do PT gaúcho criaram uma comissão de ética que submeterá o resultado da investigação a um conselho político. Diógenes pode receber advertência verbal, suspensão ou ser expulso.

O presidente estadual do PT, Júlio Quadros, disse que serão levadas em consideração todas as circunstâncias que cercaram a conversa de Diógenes com Tubino.

Tarso defende rompimento com clube de Diógenes

O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, afirmou que o PT “não tem anjinhos, como qualquer grupamento humano”. Ele também defendeu um aprofundamento nas discussões sobre a conduta de seus filiados, mas inocentou o governador.

— Olívio não tem envolvimento com esse episódio e isso está claro para todos nós do partido — disse.

Tasso sugeriu que o partido rompa relações com o Clube de Seguros da Cidadania, presidido por Diógenes e ligado ao PT. Segundo Tarso, a revelação da fita foi um duro golpe e prejudicará a campanha do partido no ano que vem.

Tarso O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que sente um forte cheiro de armação contra o governador. Segundo ele, se fosse feito um exame de integridade moral nos 170 milhões de brasileiros e escolhidos os dez melhores, Dutra seria um deles. Lula afirmou esperar que ônus da prova fique para o acusador e não para o governador.

— É preciso pensar quantas pessoas tentam achacar, tirar dinheiro em nome de políticos — disse Lula.

Sobre o possível envolvimento de outros integrantes do PT no caso, o presidente de honra do PT disse que o partido não tem como vigia r seus milhares de filiados.

— Não tenho nem como vigiar meu filho quando ele sai à noite — ironizou.

A cúpula do PT acredita que a denúncia contra Olívio é apenas o primeiro golpe articulado pelos que querem derrubar a candidatura de Lula à Presidência. Ontem, as bancadas do partido no Congresso se reuniram para discutir o caso e resolveram prestar solidariedade total a Olívio.

— Essa foi apenas a primeira de uma série de denúncias que vão querer lançar para tentar desmoralizar nossos prefeitos e governadores — acusou o líder do bloco de oposição no Senado, José Eduardo Dutra (PT-SE).

Parlamentares aceitarão punição de Diógenes

O presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), que participou da reunião, disse que os parlamentares petistas concordam com uma possível punição contra Diógenes. Mas farão de tudo para evitar que o governador seja atingido.

— Temos posição clara contra o narcotráfico, o contrabando e o jogo do bicho. E o governador sempre mereceu a confiança do partido — afirmou Dirceu.




Juíza libera exercício do jornalismo sem diploma

SÃO PAULO. A juíza substituta da 16 Vara Federal em São Paulo, Carla Abrantkoski, concedeu ontem liminar suspendendo em todo o país a obrigatoriedade de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão.

Segundo a juíza, o decreto 972/69, que estabelece a obrigatoriedade do diploma para obtenção do registro profissional de jornalista, fere a Constituição e também uma convenção internacional ratificada em 1992 pelo Brasil.

“Leitura e prática no trabalho levam à cultura”

“O jornalista deve possuir formação cultural sólida e diversificada, o que não se adquire apenas com a freqüência a uma faculdade (muito embora seja forçoso reconhecer que aquele que o faz poderá vir a enriquecer tal formação cultural), mas sim pelo hábito da leitura e pelo próprio exercício da prática profissional”, disse a juíza no despacho.

Ação foi proposta pelo Ministério Público Federal

A liminar foi concedida em ação civil pública, com pedido de tutela antecipada, impetrada pelo procurador da República André Ramos. A tutela antecipada garante a validade imediata da decisão até o julgamento do mérito da ação civil pública, apresentada pelo Ministério Público Federal contra a União para garantir direitos constitucionais sociais e coletivos.

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) já anunciou que vai recorrer.


Nicolau volta para a cadeia mas fica no porão
SÃO PAULO. O juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto está preso novamente na Casa de Custódia da Polícia Federal, em São Paulo. O Tribunal Regional Federal (TRF) acolheu ontem um recurso do Ministério Público Federal pedindo a suspensão da prisão domiciliar de que ele usufruía desde 29 de junho para tratamento de saúde.

Nicolau chegou à Polícia Federal às 18h50m e foi levado para uma cela comum, no porão, ocupada por mais cinco presos e sem as regalias de que desfrutava nos seis meses e meio em que lá ficou.

Desde que se entregara à Polícia Federal, em 8 de dezembro do ano passado, Nicolau ocupou sozinho uma sala adaptada como cela especial no andar superior do casarão da PF. Tinha direito a cama, televisão, banho quente e usava o mesmo banheiro dos agentes federais. Também recebia visitas diárias das filhas e da mulher, que levavam suas refeições.

Juiz determinou fim das regalias para Nicolau

A decisão de cortar as regalias foi do juiz da 1 Vara Criminal Federal, Casem Mazloum, responsável pelo processo sobre o desvio de R$ 169 milhões das obras de construção do Fórum Trabalhista de São Paulo e pela decretação da prisão preventiva de Nicolau. Mazloum também havia autorizado a prisão domiciliar.

Ao ser notificado sobre a decisão do Tribunal Regional Federal, Mazloum determinou seu cumprimento e comunicou o fim das regalias com base na nova redação do artigo do Código de Processo Penal que define a prisão especial.

Pelo texto, a prisão especial consiste no recolhimento em local distinto da cadeia comum. De acordo com a PF, Nicolau está numa cela comum, ocupada por presos com curso superior ou estrangeiros em processo de extradição.

O xadrez fica no porão do casarão, tem cerca de 30 metros quadrados, colchonetes, um banheiro de uso comum, chuveiro com água quente e uma janela. Não há televisão.

Banho de sol apenas duas vezes por semana

O juiz aposentado só poderá receber visitas às quintas-feiras e terá direito apenas às mesmas refeições dos outros presos. O banho de sol acontecerá somente duas vezes por semana.

— Ele terá o mesmo tratamento dos outros presos, sem nenhuma regalia — afirmou o porta-voz da Polícia Federal, delegado Gilberto Tadeu Vieira Cezar.

O juiz aposentado terá como companheiros de cela um médico envolvido em fraudes da Legião Brasileira de Assistência (LBA), um fraudador do INSS e dois americanos e um cubano em processo de extradição. Nicolau receberá tratamento médico semelhante ao dispensado aos demais presos da Polícia Federal.


Artigos

A hora de ser humano
EMERSON KAPAZ e ODED GRAJEW

Aguerra no Afeganistão e o terrorismo bacteriológico desbancaram do noticiário um fato igualmente assustador: o ovo da serpente do racismo e da intolerância religiosa eclodiu novamente. Meses atrás, no encontro de Durban, destilava-se ódio contra americanos e israelenses.

Na seqüência, após o hediondo atentado terrorista aos Estados Unidos, começou uma onda de discriminação contra afegãos, árabes e muçulmanos.

Infelizmente, nada leva a crer que o aumento da intolerância tenha arrefecido. Ao contrário, ele volta a se manifestar diariamente nas entrelinhas das declarações de chefes de Estado; no desconforto dos passageiros dos aviões quando alguém com outra cor de pele se senta ao lado deles; no recrudescimento da violência e das repressões no Oriente Médio; e por aí afora.

Abominável e injustificável, o recrudescimento do preconceito tem razões que merecem uma reflexão mais profunda. Historicamente, ele se nutre de um fenômeno comum: o enfraquecimento da valorização do ser humano.

Tanto no sistema de valores do fundamentalismo fanatizado como na sofisticação tecnológica a que se chegou no mundo ocidental, a vida humana perde importância. Isto é visível na criança que aparece portando armas ou é obrigada a trabalhar, no adolescente destituído de ideais e utopias sadias e no adulto que sofre com os modelos econômicos que alargam a distância entre o Primeiro Mundo e o restante da Humanidade, aumentando o fosso entre ricos e pobres, separando o Ocidente do Oriente.

É neste quadro que ganha força o traficante idolatrado por garotos da periferia, o terrorista amado pelos meninos miseráveis que já nasceram excluídos de uma existência digna, o político que prega a expulsão dos imigrantes ou o governante que lança seu país a conflitos étnicos.

A satanização do diferente, impingindo-lhe toda a culpa pelo sofrimento humano, encontra um terreno igualmente fértil entre os filhos da opulência e da miséria.

Assim, o ser humano, o grande artífice da civilização e que deveria ser o maior beneficiário do processo de desenvolvimento sustentável e dos avanços na qualidade de vida, está se perdendo.

De um lado, mais de seis mil pessoas de 62 nacionalidades foram assassinadas no World Trade Center porque duas dezenas de terroristas preencheram o vazio de suas existências com uma ideologia carregada de ódio e preconceito.

De outro, tentam obrigar-nos a engolir um discurso pseudo-salvacionista e igualmente preconceituoso, dotado de um maniqueísmo primitivo do tipo “quem não está conosco, está contra nós”, e que só levará a uma ampliação da violência mundial.

É o momento de resistir, a partir de uma profunda reflexão sobre o que está ocorrendo. Independente de crença, raça, cor, sexo, tradições, objetivos econômicos e políticos, qual é a responsabilidade comum a toda a humanidade? Qual é o modelo de inserção social, de aumento da qualidade de vida que devemos perseguir, tendo o ser humano como pressuposto e fim, e não o sobe-e-desce de ações, moedas e patrimônios materiais?

O que temos a oferecer como novas propostas ideológicas contra o fanatismo e o obscurantismo, que hoje parecem ainda mais fortes, apesar de terem dizimado mais de cem milhões de pessoas no século passado?

É perfeitamente possível construir caminhos comuns, respeitando crenças e individualidades. Dos autores deste artigo, um é descendente de árabes, outro de judeus; um milita no PPS, outro no PT. O que não impediu que já fizéssemos várias coisas em conjunto, com a esperança em uma sociedade menos desigual.

Trata-se de um mero exemplo de como é possível se opor a preconceitos e construir projetos de renovação social. É disso que o mundo de hoje mais precisa, e não de ações que aumentem a degradação da Humanidade.

O maior desafio que o homem tem pela frente é como ser humano, em todos os sentidos, reconstruindo o mundo para torná-lo habitável e digno para nós e nossos filhos. Caso contrário, nada valerá a pena.


Colunistas

PANORAM POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL

Outros jogos eleitorais

Enquanto o presidente FH condenava na França o protecionismo agrícola europeu, seus ministros davam início aqui a uma nova renegociação da dívida dos agricultores, que alcança R$ 18 bilhões e já foi renegociada outras duas vezes. A estação pré-eleitoral e a votação do Orçamento desencadearão agora um outro tipo de pressões e alianças, que, não sendo partidárias, também terão efeitos na eleição.

Já na eleição municipal do ano passado, foi bem registrado o crescimento do PT e da oposição num setor no qual não penetravam, o dos pequenos e médios produtores agrícolas. Isso ajuda a explicar o esforço para reconquistar o apoio da bancada ruralista, embora na prática a renegociação traduza um tipo de protecionismo tardio e pouco eficiente, ao contrário do europeu e do americano, que estimula os produtores antes do plantio. Aqui, o socorro é aos que se endividaram e contempla apenas um número reduzido de grandes produtores que têm poder de fogo no Congresso por intermédio da bancada ruralista. Eles têm sua importância político-eleitoral, não só como financiadores de campanha, mas como indutores de voto no interior.

Pelo acordo encaminhado, os produtores terão agora 25 anos para pagar suas dívidas de R$ 18 bilhões com o Banco do Brasil, com juros reduzidos e sem correção monetária. Será a terceira renegociação desses débitos no atual governo. Na última, conseguiram prazo de oito anos e juros menores que os acertados nos contratos.

Já em relação à correção da tabela do Imposto de Renda, houve ontem um endurecimento do governo, embora isso não tenha alterado a disposição do Congresso de modificá-la, como assegurou o próprio presidente tucano da Câmara, Aécio Neves.

A benevolência eleitoral entretanto não tem bafejado os grevistas do INSS nem os professores das universidades federais. Talvez porque daí o governo não espere votos mesmo. Mas o teste definitivo entre a lógica fiscal e o impulso eleitoral do Congresso será a correção do salário-mínimo, que deve ser um dos últimos pontos a serem acertados no Orçamento.De Aloizio Mercadante sobre FH na Europa: “Lá fora, fala o sociólogo FH, que aqui militaria na oposição. Mas o presidente o desincorpora ao voltar, quando entra no avião”.Aplausos do mundo

Pelo incômodo da oposição, vê-se que o presidente FH está colhendo o que esperava de sua viagem à Europa. Colocou-se entre os grandes do mundo, falando dos temas que hoje incomodam o planeta, ainda que haja o descompasso entre discurso e prática que a oposição inteira apontava ontem. Sua estratégia com a viagem era obter o eco interno e revalorizar sua figura e seu governo nestas preliminares da sucessão. Tanto que só do governo, e não de candidaturas, tratará o próximo programa do PSDB. FH ainda falará no palco maior, a Assembléia-Geral da ONU.Votos de Minas

Parece que o presidente do PMDB, Michel Temer, volta da viagem com FH disposto a enfrentar Itamar Franco nas prévias do PMDB. Os votos de Minas, segundo colégio eleitoral do país, movem as disputas entre governistas e também na oposição. Ontem, pela primeira vez, o prefeito de Belo Horizonte, Celio de Castro, admitiu ser o vice de Lula. Outro muito cotado é o senador mineiro José de Alencar. No domingo, no Rio, Itamar Franco avisava:

— Ninguém deve fazer investidas agressivas em Minas para garantir a unidade pelo menos no segundo turno.

Um aviso ao PT.Operação Antígona

Antígona enfrentou a ira de Creonte, rei de Tebas, para dar sepultura a seu irmão Polínice, tombado em combate. Por isso o batismo, com este nome, da operação coordenada pelo deputado Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP) para localizar os corpos dos guerrilheiros mortos no Araguaia entre 1972 e 1974. Emocionado, ele voltou ontem ao Congresso depois de 15 dias na Amazônia, ao lado de militares, antropólogos, legistas e outros parlamentares. Não descobriu a vala grande da Serra das Andorinhas, para onde, em maio passado, o coronel da Aeronáutica Pedro Correa Cabral contou-lhe ter transportado muitos corpos em janeiro de 1975, depois de tudo acabado. Mas trouxe para o IML de Brasília cinco ossadas achadas no cemitério de Xambioá. Depois de identificados, serão o direito humano, como disse Antígona. Direito este que convenceu o ministro Geraldo Quintão a oferecer helicópteros e apoio do Exército à operação, que será retomada. Para bem fechar as feridas do passado.OS PETISTAS levantaram barricadas para defender o governador Olívio Dutra, acusado de proteger o jogo do bicho. Coisas da sucessão, diziam, lembrando que o auxiliar que pediu clemência à polícia confessou ter agido por conta própria. Os tucanos fizeram o mesmo para evitar que o ministro José Serra fosse chamado a falar sobre o lobista Alexandre Santos. Um absurdo, dizia o líder Jutahy, lembrando que Serra foi o primeiro a denunciar o lobista. Se tudo isso é coisa da sucessão, ainda teremos muito barulho.

A CPMF, decidiu ontem o relator Delfim Netto, será prorrogada só até o fim de 2003. Depois disso, o próximo presidente que promova a reforma tributária, seja ele quem for.


Editorial

Na vida real

Agravação de uma conversa telefônica entre um assessor e um chefe de polícia deflagrou grave crise na ante-sala do governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra. Pilhado por um grampo enquanto conversava, em março de 1999, com o delegado Luiz Fernando Tubino, Diógenes de Oliveira, coordenador da campanha eleitoral de Olivio, armou de artilharia pesada a oposição. No telefonema, Diógenes pedia à polícia para deixar em paz os bicheiros, por eles terem supostamente financiado o partido nas eleições. O assessor dizia falar em nome de Olívio Dutra.

O enredo do escândalo é semelhante ao de outros. A diferença é que este envolve um partido conhecido por trabalhar cuidadosamente a imagem de uma organização política séria e ética.

Não é o primeiro caso a atingir o PT. Mas deve-se reconhecer que o partido costuma ser rápido nas investigações internas. O deputado José Dirceu, presidente da legenda, inocenta Olívio Dutra e admite ser grave a denúncia.

O PT pode amadurecer nessa crise. Acostumado a atirar pedras sobre o telhado alheio, o partido, ao conquistar postos executivos, tem vivido a experiência de ser vidraça. É saudável para ele despir-se do manto do fundamentalismo ético. Legendas que, no passado, resumiram-se a tentar ser o paradigma da honestidade costumavam cair com freqüência em tentações autoritárias.

O poder ajuda a calibrar os nervos e a dosar o coração nos embates políticos. Por acontecer às portas de um ano eleitoral em que o partido desponta como favorito, o escândalo gaúcho pode ser de grande valia pedagógica.


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10/31/2001


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